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3.1- Abordagem

Depois de encontrar um tema motivador e que desperta paixões entre os jovens e os menos jovens, o desporto, foi feita uma análise detalhada do programa de Física fornecido pelo Ministério da Educação (M.E., 2004). Desta forma, foi possível verificar quais as competências essenciais, os temas organizadores e a avaliação esperada para o 12º ano. Antes de se proceder à elaboração de todo o material didático para o presente estudo, foi necessário fazer a pesquisa sobre os conceitos científicos envolvidos.

De facto, o desporto adequa-se muito bem ao programa do 12º ano, pois toda a unidade 1 trata de assuntos relacionados com a mecânica. É impossível falar de desporto sem referir situações estáticas e dinâmicas, bem como a relação entre sistemas ligados por forças. Engloba também um leque alargado de itens desde o próprio movimento humano ao movimento de objetos tais como bolas.

A turma de intervenção incluía alunos que jogam futebol a nível federado, praticantes de Karaté medalhados e praticantes de atletismo, pelo que a aposta no desporto como contexto só saiu reforçada.

A unidade 1- Mecânica do programa do 12º ano, é lecionada durante o primeiro período escolar e se necessário uma porção muito curta do 2º período, logo em termos temporais desde meados de setembro a meados de Janeiro do ano seguinte. Deste modo, o trabalho de organização desta intervenção teve de ser posto em prática desde o primeiro dia de aulas.

Para enveredar pelo tema da Física no desporto, foi muito enriquecedor que os professores de Educação Física aceitassem associar-se ao estudo, por um lado permitindo usar parte das suas aulas para desenvolver a componente experimental desta abordagem e por outro, para que as suas observações aumentassem o interesse e a profundidade da análise a certos movimentos e situações.

Assim as tarefas executadas estiveram quase sempre ordenadas em 5 etapas:

Etapas da metodologia usada na intervenção

1. Discussão de um tópico de Física na generalidade, particularizando a sua aplicação a algo relacionado com desporto, para demonstrar a aplicação objetiva dos conceitos.

2. Filmagem das situações determinadas na discussão do ponto 1, preferencialmente na aula de Educação Física e com discussões na altura sobre os aspetos desportivos e Físicos da situação em estudo. Nesta fase, assim como na fase 1, foi também muito importante definir o controlo de variáveis a efetuar de forma a que os resultados e as filmagens realizadas fossem motivadoras. 3. Análise visual na aula de partes dos vídeos realizados.

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4. Tratamento analítico do vídeo usando o software Tracker Physics . Neste tratamento foi feita, sempre que possível, uma análise qualitativa e quantitativa de dados, sendo aqueles retirados para posterior tratamento gráfico e/ou estatístico, usando uma folha de cálculo.

5. Apresentação da análise à turma e discussão conjunta das conclusões.

Tabela 13- Etapas da intervenção

Nota: Nas etapas 3 e 4, nem todos os alunos fizeram exatamente as mesmas análises. Por vezes analisavam assuntos distintos, mas que seriam discutidos com toda a turma na etapa 5.

Um dos pilares desta intervenção em todas as fases é a conversa com e entre os alunos sobre os temas em estudo. Vários investigadores, Arons, Mazur, Mcdermott, Olenick, Redish, etc (Briosa, 2011), propõem o diálogo entre professores e alunos como uma ferramenta imprescindível no ensino e aprendizagem da Física. Mas para levar os alunos a uma mudança concetual e ao conhecimento efetivo é necessário que este tenha um envolvimento ativo, na construção e desconstrução de novas ideias em linha com os modelos científicos aceites (Olenick, 2005). Só se forem promovidas verdadeiras experiências de compreensão, se pode conseguir a “ressonância”, que corresponde a experiências emocionais de referência que reforçam os novos modelos e consolidam aprendizagens (Olenick, 2005). Os alunos devem refletir sobre os conceitos em estudo, discutir entre eles e argumentar a favor das suas respostas, mas com o espirito aberto a aceitar opiniões que respondam corretamente a um maior número de factos do que as deles.

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Fig. 3- Situação de apresentação e discussão de resultados

A motivação e interesse dos alunos foram sempre bastante elevados no intervalo de tempo em que decorreu esta intervenção, pois foram encontrando sempre pontos de interesse e formulando hipóteses, ou verificando pormenores que nunca tinham notado, mesmo dentro dos seus desportos de eleição. A motivação dada pelos professores de Educação Física também foi bastante importante, pois incutiram o interesse no conhecimento em termos da Física com a finalidade de aumentar as suas performances desportivas.

Em situações pontuais, também ocorreram conversas e pedidos de colaboração com a professora de Biologia para desenvolver melhor alguns assuntos relacionados com consumos energéticos e processos aeróbios e anaeróbios durante um exercício.

Como já foi indicado no ponto 1.7 desta dissertação, o ensino da Física é, pelas orientações da tutela, bastante contextualizado, mercê da abordagem CTSA defendida, contudo o tema do desporto apesar da sua riqueza em termos de Física e da motivação intrínseca que encerra só muito raramente é utilizado. Pela análise que foi feita aos manuais no mercado (Maciel, et al., 2009; Ventura et al,. 2009; Martins et al., 2005; Caldeira et al., 2009), só em casos muito pontuais é que algo relacionado com desporto é mencionado e na maioria dos casos simples lançamentos de uma bola ou saltos de uma prancha para a água, sempre considerando todas as condições como ideais e sem intervenção de qualquer força externa exceto o peso. Referências ao movimento humano são inexistentes.

Sendo esta a primeira vez que uma abordagem deste tipo foi implementada, o professor tornou-se também um aprendiz com os seus alunos e muitas vezes aconteceu alterar planificações e estratégias previamente definidas, tanto em termos de focos de filmagem, como dos pormenores a analisar nos vídeos produzidos. Foi incutido sempre o espírito crítico aos alunos e a tentativa de que estes comparassem a realidade com os modelos teóricos conhecidos que tentam descrever essa realidade, analisando a validade das simplificações quase sempre adotadas nesses modelos.

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Mercê da metodologia usada, não foram utilizados protocolos experimentais à priori definidos, eles foram criados em conjunto com os alunos no decorrer das fases do processo. Com efeito, muitas vezes, o facto de fornecer protocolos experimentais com todos os passos completamente definidos, leva muitos alunos a seguir esses passos acriticamente acabando por não tirar todo o partido da atividade que está a realizar. Contudo, para que se percebam todas as tarefas, foram elaborados os protocolos experimentais que se apresentam em anexo (anexo B).

Deve salientar-se que o ensino ministrado ao grupo de alunos de intervenção não assentou exclusivamente na abordagem aqui mencionada, ou seja esta atuação serviu de complemento a um plano de ação dito mais tradicional, mas que o substituiu em muitos pontos. Isto explica-se, por um lado, pela convicção de que os alunos ficarão a ganhar quando se usam várias estratégias de forma complementar, pois a sociedade é também ela complexa e é necessário ter discernimento para mudar de “tática” sempre que tal se mostre vantajoso; por outro lado, há planificações de Grupo Disciplinar e timings que é necessário respeitar, a que acresce a necessária e útil colaboração com os restantes colegas. Estando o estudo da mecânica mais confinado ao primeiro período escolar, algumas das filmagens e análises aqui efetuadas foram feitas quando já estavam a ser lecionados outros conteúdos da Unidade 2 e até 3. Felizmente isso não constituiu um elemento de perturbação, bem pelo contrário, serviu para ajudar a amadurecer as ideias dos alunos e ir alternando conteúdos de diferente natureza durante as aulas, o que ajudava a diminuir a saturação que certos assuntos lhes pudessem causar.

De salientar que muitas análises foram feitas pelos alunos em casa, tirando assim proveito das potencialidades informáticas dos recursos didáticos e rentabilizando as atividades de sala de aula.