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4. A seleção de conteúdos

4.1 Capa, projeto gráfico e imagens

4.1.2 Capas FTD

Capas mercado

A observação das capas pode nos levar a detectar mais um elemento da estratégia editorial. No caso da Editora Ática, podemos perceber que todos os livros de EJA se apresentam num mesmo projeto gráfico, o que nos leva a crer que se pensou em criar uma identidade visual para essa coleção. De fato, se consultarmos o site dessa Editora, verificaremos que a classificação “EJA” é usada para identificar uma coleção de obras, o que não ocorre com os livros da Editora FTD.

A 4ª capa de qualquer obra da coleção EJA da Editora Ática expõe as capas dos títulos desta coleção lançados em 2003.

A uniformidade do projeto gráfico se estende ao miolo dos livros: isso pode ser constatado tanto pela leitura da página de créditos (há uma mesma equipe de profissionais envolvidos na elaboração da parte gráfica e de Arte) quanto pela observação interna, página por página. Isso também não se verifica nos livros da Editora FTD, cuja estrutura das equipes editoriais difere da existente na outra Editora. Como se pode detectar pela leitura da página de créditos dos livros da Editora FTD, cada obra foi desenvolvida por uma equipe editorial específica (Exatas, Ciências Humanas, Língua Portuguesa, Ciências Biológicas), que, por sua vez, agrega sua própria equipe de Arte.

EJA — Língua Portuguesa 3º ciclo, páginas 152-3 e 156. (Ática)

Na página 153 vemos uma abertura de uma das 20 unidades que compõem o livro. Nela podemos observar a aplicação de uma tarja superior em tom

alaranjado150, da mesma família da cor aplicada no algarismo que representa a

unidade, da tarja no pé da página e do fio de boxes (ver página 152). A mesma cor foi usada em intertítulos.

150

A discriminação expressa das cores aqui se presta a eventual esclarecimento que se fizer necessário em função do desvirtuamento da impressão e reprodução gráfica deste trabalho.

EJA — Ciências 4º ciclo, páginas 36-7 e 40. (Ática)

Na página 36 vemos a abertura de um capítulo (o livro tem 29 capítulos). Observe-se que a cor escolhida para a disciplina de Ciências foi o verde (ver capa também). Na parte superior da página há uma tarja na cor verde-

acinzentada sobre banda verde-musgo, também utilizada na representação do algarismo, do texto no pé da página, dos intertítulos e do fundo do boxe que recobre a seção de atividades no final dos capítulos.

EJA — Geografia 4º ciclo, páginas 42-3. (Ática)

Nessas páginas podemos perceber mais um exemplo de aplicação de

elementos do projeto gráfico: tarja superior em tom ocre sobre banda marrom, cores que se repetem em intertítulos e em boxe de seção de atividades no final do capítulo.

Esses três exemplos selecionados anteriormente nos permitem identificar a opção por uma identidade visual para a coleção de EJA. Por sua vez, os exemplos selecionados a seguir (além da observação já realizada das respectivas capas), da outra Editora, nos comprovam o contrário:

EJA — Matemática, 3ª etapa, páginas 154 e 155. (FTD)

A observação desses três casos colhidos aleatoriamente nos revela que não houve nessas edições a busca de uma identidade visual comum para as obras de EJA. O tratamento dado à abertura de capítulo ou tema estudado, atividades, intertítulos, margens, numeração das páginas, tipologia, entre outros elementos, difere nas obras anteriormente expostas. No que se refere ao aspecto visual, podemos notar uma semelhança, sim, entre o livro de EJA Geografia e sua versão para o mercado, o que reforça nossa idéia de reaproveitamento. Veja-se um exemplo a seguir:

Geografia, 6ª série, páginas 200 e 201. (FTD)151

A comparação dessas páginas da versão de mercado com as de EJA

anteriormente expostas revela semelhança entre elementos do projeto gráfico: tipologia, cores de intertítulos e fundo de boxes, ícones são iguais.

151

Independentemente da estrutura da empresa, pois uma configuração funcional pode ser criada ou adaptada mesmo que provisoriamente para atender determinado projeto, nota- se que uma Editora optou por lançar seus produtos dentro de uma coleção e a outra as publicou de forma avulsa, independentes entre si. Isso não quer dizer que a coleção que tenha uma única programação visual tenha sido de fato estruturada para refletir concepções pedagógicas e conteúdos específicos para alunos de EJA. Aspectos como o conteúdo selecionado, os tipos de atividade e de proposição ao professor podem ser mais expressivos dessas opções. Tampouco a identidade visual é um critério que serve para avaliar o uso efetivo que o leitor faz do produto, o grau de apreensão dos conteúdos, a legitimação e o contentamento usufruído do aprendizado. Mas, em ambos os casos analisados, é um item que pode ser encarado como elemento revelador da concepção e idealização do produto e que insinua possíveis diálogos entre os sujeitos envolvidos — editor, diretor de arte, programador visual, autor, diretor editorial, diretor comercial.

O aspecto iconográfico se revela pelo reaproveitamento de material constante na versão de mercado ou MEC. A dissecação detalhada do material disponível permite-nos generalizar essa afirmação para todas as obras analisadas das duas Editoras. Selecionamos a seguir apenas alguns exemplos, pois a exposição de todos os casos seria extensa demais, além de desnecessária. Escolhemos mostrar primeiro situações praticadas em livros de Geografia, pois trata-se de uma disciplina que costuma implicar o uso de variados elementos iconográficos, a saber: mapas, tabelas, esquemas, fotos. Isso será feito com o título da Editora FTD, cujos autores são Sonia Castellar e Valter Maestro e cujos exemplares analisados tanto da versão mercado quanto na versão de EJA são de 2001. Indicaremos cada um por meio de intertítulo específico com o objetivo de manter certa organização na exposição de dados, sempre iniciando a enumeração com o exemplar que acreditamos ser o original, ou seja, o livro de onde a imagem foi extraída (juntamente com o texto). É oportuno notar que, conforme se estenda a exposição de situações características da operação de reaproveitamento de material iconográfico, também se explicita a estratégia de reaproveitamento e enxugamento de conteúdos conceituais e estruturas da organização textual, os quais configuram a edição de texto propriamente dita.