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Características botânicas

No documento Is Bn 9788539301874 (páginas 70-78)

a figueira pertence à ordem Urticales, família Moraceae, subfa-

mília Hamamelidae e subgênero Eusyce. a família da figueira contém

cerca de 61 gêneros, compostos de mais de 2 mil espécies. o maior gênero dessa família é o gênero Ficus, abrangendo aproximadamente

750 espécies (pereira, 1981; pereira & nachtigal, 1999; alvarenga et al., 2007).

a figueira é chamada botanicamente de Ficus carica (L.) e per-

tence à família das moráceas. nessa família predominam indivíduos com hábito de crescimento arbóreo ou arbustivo, sendo rara a pre- sença de herbáceas. Quase todas as espécies apresentam látex. esse látex é composto por uma substância conhecida como ficcina, enzima proteolítica com propriedade hidrolisante da proteína, que pode cau- sar dermatite entre os colhedores e mesmo consumidores da fruta.

o gênero Ficus contém espécies conhecidas como figueiras

no Brasil, sendo as mais populares a gameleira (Ficus gomelleira),

a hera miúda (Ficus pumila) – muito utilizada em paisagismo no

revestimento de paredes – a figueira-do-pantanal (Ficus elliotiana),

a guaxinguba-preta (Ficus maxima), a lombrigueira (Ficus obtu- siuscula), a figueira-roxa (Ficus tomentella) e a famosa beringan ou

figueira-benjamim (Ficus benjamina), extensamente utilizada na

arborização urbana. as espécies de maior importância no Brasil são a seringueira (Ficus elastica) e o figo (Ficus carica) (maiorano et al.,

1997; Carauta & Diaz, 2002).

a espécie Ficus carica é diploide, com número de cromossomos

igual a 26. a figueira chega a atingir de 3 a 7 metros de altura, sendo considerada uma árvore de médio a grande porte, mesmo em regiões

de climas semiáridos e solos pobres e locais com inverno rigoroso, principalmente da europa. no Brasil, em virtude das técnicas culturais utilizadas, especialmente as podas anuais de frutificação realizadas no inverno, seguidas de desbrotas que condicionam o desenvolvimento de um número determinado de ramos por ano, a planta adquire um porte arbustivo, que diminui sua longevidade econômica (pereira & nachtigal, 1999).

o sistema radicular da figueira comum é do tipo fibroso, no geral pouco profundo, podendo estender-se a grandes distâncias do tronco quando encontra condições favoráveis (ibidem). esse tipo de sis- tema radicular é característico do sistema de propagação vegetativa das figueiras. De acordo com maiorano et al. (1997), plantas dessa natureza exigem práticas de manejo adequadas para que não ocorra estresse causado por deficiências hídricas, ou mesmo pelo excesso de máquinas no pomar.

a figueira é considerada planta de folhas caducas. as folhas são típicas e bastante recorrentes para identificação de variedades, apre- sentam cinco lóbulos maiores e dois menores, margem crenada e de cor verde-claro quando não completamente expandidas e cor escura quando em sua completa expansão (rigitano, 1964).

as flores do figo são pequenas, pediceladas, hipóginas e unis- sexuais, com perianto simples pentapartido. existem três tipos de flores: as pistiladas (femininas) com estilo curto, as pistiladas (femininas) com estilo longo e as estaminadas (masculinas). ambas as flores pistiladas são simples, carpeladas e com estigma bífido. as flores pistiladas de estilo curto apresentam um ovário globoso e um estilo com cerca de 0,7 mm de comprimento, sendo adaptadas à ovoposição da vespinha-do-figo (Blastophaga psenes). as flores

de estilo longo apresentam um ovário mais ou menos ovoide ou elipsoide e o estilo com 1,75 mm de comprimento, não adaptado à ovoposição da vespinha.

as flores pistiladas são férteis e após a polinização e singamia, desenvolvem o fruto verdadeiro do figo. as flores estaminadas são mais longo-pediceladas que as flores pistiladas e apresentam perianto pentapartido, cinco estames e vestígios pistilares.

os frutos verdadeiros das figueiras são os aquênios, pois se desenvolvem a partir do ovário depois da fecundação. os aquê- nios normais, também conhecidos como grainhas, apresentam um embrião desenvolvido pelo endosperma e pelo tegumento. os figos, quando não polinizados, apresentam-se com ovário escle- rificado, porém oco. a parte suculenta do figo comestível consiste, principalmente, de tecido parenquimatoso dos órgãos florais, cujas células se tornam maiores e armazenam substâncias de reserva (Joly, 1993). os figos são de formato piriforme, com 5 cm a 8 cm de com- primento, com tonalidades variando desde suavemente esverdeadas à violáceo-escuras.

Quando ocorre a formação de sementes, estas apresentam tamanho de 1,5 mm a 2 mm e forma esférica, podendo encontrar-se até 2 mil sementes por fruto em alguns cultivares (pereira & nachtigal, 1999).

a figueira cultivada no Brasil caracteriza-se por apresentar flores no interior de um receptáculo suculento, pomologicamente denominado sicônio, que nada mais é do que o próprio figo, e essas inflorescências têm origem nas axilas das folhas (rigitano, 1964; pereira, 1981).

em sentido botânico, o figo não é propriamente um fruto, mas uma infrutescência derivada de uma inflorescência tipo capítulo denominada sicônio, com receptáculo côncavo, oco e perfurado na extremidade. para pereira (1981), pode adotar-se a designação comum de fruta para as inflorescências da figueira. De acordo com Ferreira (1986), fruta é a designação comum aos frutos, pseudofrutos e infrutescências comestíveis e adocicadas.

De acordo com pereira & nachtigal (1999), a espécie Ficus carica

é ginodioica, havendo duas distintas formas de plantas: o caprifigo, que é monoico, e o figo, que é dioico. os mesmos autores descre- vem que as gemas frutíferas e vegetativas aparecem nos ramos, junto às axilas das folhas, durante a estação de crescimento. no estado de São paulo, nos ramos formados na estação de crescimento anterior, normalmente nota-se uma gema vegetativa bem desenvol- vida por nó, entretanto gemas adjacentes encontram-se em número variável, próximas à gema desenvolvida.

os primórdios florais formam-se tipicamente na axila de cada folha, onde uma gema central vegetativa é acompanhada por duas gemas florais. algumas variedades desenvolvem somente um figo por axila, enquanto outras desenvolvem frutas de ambas as gemas, mas em épocas distintas.

assim, existem três camadas de figo (miranda, 1909; Brito, 1944; maia de Souza, 1988):

• figos lampos – também conhecidos como “brebas” em países de língua espanhola e “fiori” no de língua italiana. iniciam sua formação no outono, mas por causa do frio, ficam em hibernação durante o inverno. na primavera seguinte, esses pequenos gomos que se encontram na extremidade dos ramos desenvolvem-se, amadurecendo no início do verão, sendo assim popularmente conhecidos como camada de verão. a colheita dos figos lampos é conhecida como “profichi”; • figos vindimos – desenvolvem-se nos ramos do ano em vege-

tação, na axila das folhas. iniciam sua formação na primavera e amadurecem do verão ao outono, sendo conhecidos como camada de outono. a colheita dos figos vindimos é conhecida como “mammoni”;

• figos boloitos – ocorrem somente nas figueiras baforeiras (selvagens). iniciam seu desenvolvimento no outono, ficam em hibernação durante o inverno e amadurecem na prima- vera. São conhecidos como camada de primavera, no entanto, os figos não são comestíveis. a colheita dos figos boloitos é conhecida como “mamme”.

Figura 1 – Figo boloito (a), boloito maduro e lampos em desenvolvimento (B), figos lampos (C), figos lampos e vindimos em desenvolvimento (D) e figos vindimos (e).

as figueiras baforeiras, conhecidas como selvagens ou caprifi- gos, são o único grupo que apresenta as três camadas de figo, ou seja, com sicônios em fase de desenvolvimento ao longo de todo o ano. os sicônios também são os únicos que apresentam as flores estamina- das, localizadas dentro do sicônio, ao redor do ostíolo.

Durante o florescimento dos caprifigos ocorre dicogamia bastante pronunciada, o pólen apresenta viabilidade de seis a oito semanas antes que os estigmas das flores femininas estejam receptí- veis à fecundação pelo pólen. assim sendo, em geral não se verifica autofecundação, a não ser quando os figos da mesma planta mostram estágios diferentes de desenvolvimento. também é o único grupo que contém as flores pistiladas de estilo curto, sendo os demais grupos apenas dotados de flores com estilo longo.

Caprificação

o inseto polinizador da figueira é a vespa Blastophaga psenes,

e como a polinização e singamia ocorrem nos caprifigos, o pro- cesso é comumente chamado de caprificação. os caprifigos são o único grupo que contém as flores pistiladas de estilo curto, sendo os demais grupos dotados apenas de flores com estilo longo. o estilo curto é fundamental para que ocorra a ovoposição da vespa

à família Agaonidae. a Blastophaga psenes é minúscula, com compri-

mento de 2,5 mm, asa anterior com veia estigmal orientada a quase 90° em relação à margem costal e praticamente do mesmo tamanho da veia marginal, pernas médias com fêmures, tíbias frontais mais estreitas que as das outras pernas e um ovipositor curto externali- zado, denominado oviscapto. os machos são ápteros (braquípteros), com mandíbulas desenvolvidas (maia de Souza, 1988).

a relação entre o caprifigo e a Blastophaga psenes é um fenômeno

biológico dos mais curiosos no que se refere à mútua adaptação entre um vegetal e um inseto. É sabido que a Blastophaga psenes não vive

por muito tempo a não ser no interior dos sicônios e, por outro lado, os sicônios do caprifigo e de alguns grupos de figo não chegam a amadurecer se não houver estímulo provocado a partir da poliniza- ção pela Blastophaga psenes.

a Blastophaga psenes passa o inverno no interior dos figos boloi-

tos, sob a forma de larva, dentro das grainhas, alimentando-se do embrião da semente. as vespas masculinas, que são cegas e ápteras, completam seu ciclo primeiro que as vespas femininas. eles deixam a grainha, rastejam na escuridão e de alguma forma encontram uma grainha que contém uma fêmea, realizando o cruzamento.

no início da primavera, quando os figos boloitos amadurecem, as fêmeas saem pelo ostíolo, mas não perdem as asas, pois as escamas das flores masculinas estão viradas em direção ao orifício de saída. as flores masculinas se encontram próximo ao ostíolo, ocupando aproximadamente um terço do sicônio. assim, ao passar pelas flores masculinas do figo boloito, a Blastophaga psenes fica com o corpo

recoberto por pólen. ela entra em um figo lampo da mesma planta e, ao entrar, perde as asas. Durante seu passeio no interior do sicônio sobre as flores femininas, realiza a caprificação. Faz a postura de seus ovos por meio do oviscapto, dentro do ovário da flor, que nesse caso é de estilo curto. É apenas depositado um ovo por ovário e normal- mente apenas uma única Blastophaga psenes entra no sicônio. após

Figura 2 – Figo boloito com grainha (fruto verdadeiro).

a segunda geração de Blastophaga psenes sai dos figos lampos,

no início do verão, das figueiras baforeiras quando estão maduros e se direcionam para os figos vindimos das figueiras baforeiras e domésticas, que possuem flores pistiladas de estilo curto. algumas variedades de figueiras domésticas necessitam da caprificação para que os frutos se fixem. ao final do outono, a terceira geração

de Blastophaga psenes se desloca para os boloitos, começando um

novo ciclo.

em regiões onde a vespa polinizadora ocorre, a caprificação se dá natural ou artificialmente. no segundo caso há interferência do homem, o qual introduz no pomar frutas com a vespa por duas vezes a intervalos de oito a dez dias, processo conhecido como “figo toque”.

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