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Fatores considerados no manejo da irrigação

No documento Is Bn 9788539301874 (páginas 187-191)

para manejar a irrigação em pomares de figueiras deve-se bus- car proporcionar à planta condições de disponibilidade hídrica que permitam a expressão de seu potencial genético de produtividade. Logo, é fundamental identificar o momento certo de aplicação da água (quando irrigar) e quantificar o volume a ser aplicado (quanto irrigar), evitando que as plantas sejam submetidas a condições de estresse ou excesso hídrico.

no correto manejo da água na cultura da figueira devem ser con- siderados fatores de clima (precipitação pluviométrica e a demanda evapotranspiratória do ambiente), do solo (capacidade de armaze- namento de água no solo, textura, profundidade, além da presença de impedimentos físicos ou mecânicos) e características específicas da figueira que se está irrigando (eficiência de uso de água, profun- didade do sistema radicular, períodos críticos à falta de água, entre outros). as características da planta variam de acordo com o manejo empregado, a idade e sua adaptação ao ambiente. nas literaturas específicas sobre irrigação são apresentadas várias possibilidades de manejo do conteúdo de água disponível às plantas (Barreto et al., 2004; Bernardo et al., 2006; albuquerque; Durães, 2008). Serão abordadas apenas as considerações específicas e importantes para o manejo da irrigação em lavouras de figueira.

a distribuição do sistema radicular pode ser influenciada pelo tipo e regime hídrico do solo, combinações utilizadas de copa/porta- -enxerto, idade da cultura e manejo da irrigação. para fins de manejo da irrigação, interessa conhecer a profundidade efetiva do sistema radicular, que é aquela em que se concentram, aproximadamente, 80% das raízes. esse conhecimento é utilizado tanto para a definição do volume de água a aplicar como para a do local de instalação dos emissores (em irrigação localizada) e dos sensores de umidade utili- zados para o monitoramento da irrigação. De modo geral, o sistema radicular da figueira, nas condições de manejo adotadas no Sudeste brasileiro, se mostra pouco profundo; o desenvolvimento das raízes ocorre nos primeiros 0,2 m a 0,45 m de profundidade e até 1,2 m a 2 m de distância do caule (Dominguez, 1990). esse desenvolvimento pouco acentuado é influenciado pelas podas anuais de fruticação a que as plantas são submetidas, existindo assim a formação de ramos produtivos a cada ano. todavia, o mesmo comportamento não é verificado nas condições de cultivo europeias, em que o sistema radicular da figueira pode chegar até a 8 m de profundidade, pois a prática da poda não é realizada.

Damatto Júnior et al. (2006) realizaram experimento com o objetivo de avaliar a distribuição do sistema radicular da figueira

roxo-de-valinhos em Botucatu (Sp) em função do uso da irrigação por gotejamento sob copa. os tratamentos corresponderam a distân- cia entre as raízes e o tronco, com e sem irrigação (t1: 0-20 cm, sem irrigação; t2: 20-40 cm, sem irrigação; t3: 0-20 cm, com irrigação; t4: 20-40 cm, com irrigação). as avaliações realizadas evidencia- ram que houve diferenças entre tratamentos quanto à massa seca do sistema radicular, e o uso da irrigação promoveu as maiores quanti- dades de massa seca de raízes nas plantas, especialmente na distância de 20-40 cm do tronco (19,81 g), e a menor massa seca de raízes foi observada em plantas não irrigadas com a distância de 20-40 cm do tronco (5,39 g). Conclui-se que o uso da irrigação é importante para o aumento de massa de raízes e também para o distanciamento do sistema radicular do tronco das figueiras.

outro fator da planta importante no manejo da irrigação se refere ao coeficiente de cultivo (Kc), que expressa a relação entre a evapotranspiração da cultura em qualquer fase de desenvolvimento e a evapotranspiração de referência. a evapotranspiração potencial da cultura (etpc) para uma determinada fase do ciclo vegetativo varia com o clima, o espaçamento entre plantas, a adubação, o método e a frequência de irrigação, o método de cultivo, a idade das plantas, a condução das plantas e os tratos fitossanitários (tubelis, 2001). assim, os valores de Kc também sofrem modificações com o desenvolvimento vegetativo (diretamente proporcional ao índice de área foliar) e reprodutivo da planta. o ideal é que esses valores sejam determinados em pesquisas locais, pois também são depen- dentes das condições edafoclimáticas do local. todavia, na ausência de dados para as diferentes fases de desenvolvimento da planta, recomenda-se o emprego da estimativa proposta na equação 2. olitta et al. (1979) encontraram valores de Kc em torno de 0,47 para a figueira irrigada por gotejamento.

em culturas perenes, em virtude do contínuo crescimento das plantas, os valores de coeficiente de cultivo se apresentam crescentes durante os anos que precedem a maturidade, e daí em diante perma- necem praticamente constantes, com pequenas variações sazonais em consequência da variação do índice de área foliar. todavia, como

no Brasil é praticado o manejo de poda em praticamente todas as regiões produtoras de figo, a planta tem a formação de um novo dossel a cada ano, permitindo uma tendência de similaridade da variação do índice de área foliar (iaF) encontrada nas plantas anuais.

Caetano (2004) apresentou um modelo matemático (equação 1) que possibilita a estimativa da área de uma folha de figueira com a medida em cada folha ao longo da nervura principal, distância compreendida entre a base da folha (no ponto de inserção do pecíolo) até o ápice do lóbulo central, sendo o comprimento em cm. esse conhecimento se torna interessante, pois quanto maior a área foliar da planta, maior será a superfície exposta ao processo de transpira- ção, aumentando assim a possibilidade de perda de água pela planta.

AF = 0,8414 X C2

(equação 1)

a estimativa de valores de Kc proposta pela Fao (Food and Agriculture Organization) (allen et al., 1998) preconiza que a cul-

tura de ciclo anual tem sua evolução dividida em quatro fases do ciclo fenológico, que compreendem a germinação-estabelecimento, crescimento vegetativo, florescimento e enchimento de grãos e a maturação. entretanto, para a figueira cultivada nas condições bra- sileiras podem ser estabelecidos claramente apenas três estágios, em função da realização das podas:

• Estágio 1 – corresponde ao início do crescimento das brota- ções após a poda (cobertura do solo < 10%).

• Estágio 2 – corresponde ao desenvolvimento vegetativo, compreendendo de 10% a 80% da formação do dossel. • Estágio 3 – nesta fase a planta continua com a formação da

copa, conjuntamente com a frutificação, visto que a figueira não apresenta a fase de florescimento e também não ocorre a maturação de todos os frutos no mesmo momento (sendo a cobertura do solo dependente diretamente do espaçamento adotado).

as estimativas do valor de Kc podem ser dadas por sua variação em função da cobertura do solo. Sabe-se que o valor de Kc varia normalmente entre 0 a 1,20 para culturas anuais, então a seguinte relação empírica se torna válida:

Kc = 1,20 X % Cobertura do solo

100

(equação 2)

por exemplo, se a lavoura de figo apresenta em média uma cober- tura de 70% do terreno, o Kc = 1,20 *(70/100) = 0,84.

a porcentagem de sombreamento pode ser obtida pelo cociente entre a área da projeção da copa da planta e área total que uma planta pode abranger (multiplicação do espaçamento entre linhas e entre plantas).

Quanto ao potencial matricial da água no solo, a figueira exige uma reposição do conteúdo de água no solo em potenciais entre -30 Kpa e -60 Kpa, cujo volume reposto dependerá da curva de retenção de cada solo. porém, recomenda-se que as medidas, independente- mente dos instrumentos de medição do potencial ou conteúdo de água no solo, sejam feitas em, pelo menos, três ou quatro pontos representativos da área e no mínimo a duas profundidades, uma na zona de máxima atividade radicular e outra nas proximida- des da parte inferior da zona radicular (conforme mencionado anteriormente).

No documento Is Bn 9788539301874 (páginas 187-191)