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Resposta da figueira à irrigação

No documento Is Bn 9788539301874 (páginas 179-185)

a cultura da figueira (Ficus carica L.) apresentava em 2003, em

todo o Brasil, uma área cultivada de 3.130 ha, produzindo 25.586 t. apesar de ser, no ranking brasileiro de 2003, a 12ª fruta em valor

exportado – US$ 1,673 milhões –, seu mercado principal é o interno. Comparativamente de menor expressão que outras fruteiras, a figueira apresenta algumas vantagens, como rápido início de produ- ção, pois os frutos são produzidos nos ramos do ano de crescimento, propiciando rápido retorno econômico dos recursos investidos na introdução dos pomares. Um ano após a instalação do pomar já é possível colher acima de 1,5 t de frutos verdes em pomares com 2.600 plantas/ha (Hellwing et al., 2007).

a tabela 1 apresenta a necessidade hídrica anual de algumas fru- teiras e sua distribuição espacial e temporal na adoção de um sistema de irrigação por gotejamento; a vazão total necessária é dependente do número de plantas a serem irrigadas.

a figueira prospera nos mais diversos tipos de solos, desde que eles sejam bem drenados, apresentando o nível do lençol freático abaixo de 1,5 m.

Quando atendidas todas as necessidades da cultura da figueira com relação às demais variáveis que possam interferir na produção, não existindo déficit ou excesso de umidade, a planta não apresenta desequilíbrio energético, o que permite seu desenvolvimento vegeta- tivo e/ou produtivo. Figueiras que se desenvolvem em solos com baixo teor de água, durante o período de desenvolvimento e maturação dos frutos, apresentam, com frequência, frutos fendilhados (Simão, 1998).

nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, normalmente ocorrem preci- pitações em torno de 1.200 mm a 1.500 mm, entretanto, nem sempre existe uma boa distribuição destas durante o ano, sendo comuns as estiagens nos meses de dezembro e janeiro, na região Sul, e nos meses de inverno, na região Sudeste. a falta de umidade do solo nesses períodos pode ocasionar perdas nas colheitas e danos aos frutos, além da absorção de nutrientes do solo (Fachinello et al., 1996). nas con- dições do estado de São paulo, de maneira geral, as precipitações são suficientes para o desenvolvimento da figueira, visto que na época da maturação, que se prolonga do final de dezembro até maio, as chuvas são frequentes e a umidade atmosférica é elevada. todavia, essas condições são favoráveis à deterioração dos figos maduros.

Tabela 1 – necessidade hídrica da algumas fruteiras.

Cultura Necessidade anual de água (mm) Necessidade diária de água por m² (gotejamento)

abacate 1.300 1,51 litro/m²

abacaxi 1.200 1,39 litro/m²

acerola 1.400 1,33 litro/m²

Cultura Necessidade anual de água (mm) Necessidade diária de água por m² (gotejamento) Caqui 900 1,03 litro/m² Figo 1.200 1,39 litro/m² goiaba 1.500 1,58 litro/m² Kiwi 1.200 1,39 litro/m² manga 1.400 1,33 litro/m²

Fonte: adaptado de agrojet (2008)

Sobre as necessidades hídricas para a cultura, pereira (1981) informa sobre as maiores demandas no período de crescimento vegetativo e reprodutivo, com destaque para o estado de São paulo, no intervalo entre outubro a março. o déficit de água pode provocar a queda acentuada de folhas e paralisar o crescimento das figueiras, tendo como consequência uma diminuição da produtividade e do período de frutificação.

Caetano et al. (2006) afirmam que a figueira é uma planta bas- tante exigente em água durante o ciclo produtivo, e a introdução da irrigação permite a realização de podas precoces ou fora de época, com antecipação da produção nas regiões de clima quente. nesse sentido, amaro & Harder (2000) citaram que o estudo de técnicas agronômicas que antecipem ou retardem a maturação do figo, prin- cipalmente com o uso de irrigação, é fundamental para a obtenção de melhores preços, saindo do período de oferta abundante (janeiro a março). norberto et al. (2001) evidenciaram que a irrigação promo- veu tanto o aumento no número de frutos/ramo como possibilitou a antecipação da colheita em épocas de poda precoces (de 15 de abril a 30 de maio) para figueiras roxo-de-valinhos em Lavras (mg).

el-Kassas (1975) detectou maior diâmetro de ramos, número e comprimento de internódios, sem obter diferença na produção de novos ramos, em plantas de figueiras sultani irrigadas, quando com- paradas com plantas não irrigadas. abdel-rasik & el-Darier (1991), nas condições edafoclimáticas desérticas no egito, verificaram um coeficiente de transpiração para a figueira de 326 g H2o DW-1, o que

indicou um eficiente uso da água pela planta, salientando a neces- sidade de irrigação suplementar em anos com precipitações abaixo da média. D’andria et al. (1996), nas condições de Cilento, itália, não especificaram a variedade estudada, porém verificaram uma antecipação da colheita em plantas com irrigação, não diferindo entre plantas submetidas à reposição de 50% e 100% da evapotranspiração da cultura, e, ainda, o número de frutos/planta foi o componente mais afetado pela irrigação, enquanto o peso médio dos frutos não variou.

os principais trabalhos encontrados na literatura que estudaram os efeitos da irrigação em figueira se baseiam na reposição de água com base nas necessidades da planta ou nas necessidades do solo. alguns autores adotaram quantidades e frequências de aplicação preestabelecidas.

nas condições brasileiras, um dos primeiros estudos foi desen- volvido por olitta et al. (1979), que executaram um experimento de irrigação por gotejamento em cultura de figueira em piracicaba (Sp), salientando os seguintes pontos: em condições de irrigação suple- mentar, a técnica proporcionou, em média, um aumento de 10,6% na produção em peso e de 3,2% no número de frutos por ha; a relação entre a produção e o fator K de evaporação do tanque Classe a seguiu uma relação linear dentro da faixa de K = 0,4 a 1,2, indicando que o estudo deveria ter sido realizado com uma amplitude maior de variação nesse fator. os resultados obtidos nos dois primeiros anos na produção de figo sugerem o fator K de evaporação entre 0,4 e 0,8 para quaisquer das frequências de irrigação estudadas, seja três ou uma vezes por semana. Contudo, salientou-se no experimento o tratamento utilizando K = 0,4 e a frequência de irrigação de uma vez por semana, que ampliaram e anteciparam o período produtivo das plantas.

Brighenti (apud norberto et al., 2001), em pelotas (rS), irrigou figueiras roxo-de-valinhos e observou aumentos de 21,3%, 30,5% e 19,4% no número, peso total e peso médio dos frutos das plantas mantidas com um mínimo de 60% de água disponível no solo, respectivamente, em relação às plantas que não foram irrigadas. nesse mesmo contexto, pedrotti et al. (1983), no rio grande do

Sul, empregaram níveis de irrigação correspondentes a 12,5%, 25%, 37,5% e 50% da evaporação do tanque Classe a (eCa), por meio da irrigação por gotejamento, e evidenciaram não haver diferenças significativas entre os níveis de irrigação nas características de cres- cimento (comprimento e diâmetro dos ramos primários, secundários e terciários) da figueira roxo-de-valinhos.

Hernandez et al. (1994), estudando o efeito de seis lâminas hídricas e seis níveis de nitrogênio na produtividade da figueira roxo-de-valinhos, verificaram que somente as lâminas hídricas influenciaram negativamente a produtividade de frutos maduros, evidenciando uma tendência de diminuição na produtividade com o aumento das lâminas hídricas. porém, com o emprego do tratamento de 50% da evaporação do tanque Classe a (eCa), observaram aumentos de 10,8% e 11% sobre a produção de frutos maduros, a produtividade total e o número de frutos maduros/ planta, respectivamente, quando comparado com o tratamento sem irrigação. posteriormente, Hernandez et al. (1996), estudando as mesmas variáveis, com irrigação por microaspersão, verificaram que a produtividade de frutos maduros foi influenciada pelas lâminas de água (tabela 2), sendo o ponto máximo (14,2 ton/ha-1) atingido com lâmina total aplicada de 1.787 mm (738 mm de precipitação pluviométrica), valendo ressaltar que a região de ilha Solteira apre- senta uma das mais elevadas demandas evapotranspirométricas do estado de São paulo (média de 5,1 mm/dia-1). norberto et al. (2001) reportaram incremento de 28% no número de frutos e de 38% no comprimento de ramos com o uso da irrigação.

Tabela 2 – produtividade de frutos de figueira em função da lâmina efetiva aplicada em ilha Solteira (Sp).

Lâmina aplicada (mm/ano-1) Frutos maduros (kg/ha-1) Frutos verdes (kg/ha-1) Total (kg/ha-1) 738 mm – Somente chuvas 1.149,31 2.433,46 3.582,77 979 mm – 0,25% eCa 10.101,41 2.965,87 13.067,28 1.461 mm – 0,5% eCa 14.069,47 2.714,13 16.783,60 1.702 mm – 0,75% eCa 15.402,09 1.759,27 17.161,36

Lâmina aplicada (mm/ano-1) Frutos maduros (kg/ha-1) Frutos verdes (kg/ha-1) Total (kg/ha-1) 1.946 mm – eCa 12.879,89 2.271,42 15.151,31 2.193 mm – 1,25% eCa 13.138,92 2.948,51 16.087,43 Fonte: Hernandez (1999)

Fronza & gnocato (2006), em Santa maria (rS), encontraram um rendimento 63% superior em figos maduros quando a figueira foi submetida à irrigação, sendo verificada como melhor lâmina de irrigação a reposição de 75% da evaporação do tanque Classe a.

recentemente, Caetano et al., (2006), em Campos dos goytacazes (rJ), aplicaram 0,4%, 80% e 120% da evapotranspiração de referência (eto) pelo método do tanque Classe a e não verifi- caram diferenças significativas para o comprimento e diâmetro de ramos, e a lâmina aplicada de 976 (80 eto – tCa + precipitação) foi o melhor tratamento, com produtividade de 8,116 ton/ha-1. Já Leonel & tecchio (2008) verificaram que o uso da irrigação com- plementar propiciou incrementos significativos no número médio de frutos/planta em dois ciclos agrícolas (2004/2005 e 2005/2006), com incrementos de 29% e 35%, respectivamente. todavia, o peso médio dos frutos não apresentou diferenças significativas em vir- tude do uso da irrigação no primeiro ciclo. entretanto, no segundo ciclo, frutos das plantas irrigadas apresentaram maiores pesos médios (48,7 g) quando comparados àqueles que não dispuseram de irrigação (46,4 g). por conseguinte, o diâmetro médio dos frutos apresentou o mesmo comportamento citado. Quanto à qualidade dos frutos, a irrigação complementar proporcionou maiores teores de acidez dos frutos, enquanto a ausência de irrigação proporcionou maiores teores de açúcares (sólidos solúveis). em geral, os mesmos autores evidenciaram para os dois ciclos agrícolas que a irrigação aumentou em 12% e 71,6% a produção de frutos por planta, com um maior período de produção de frutos e número de colheitas, mos- trando uma melhor distribuição da produção no período de safra.

No documento Is Bn 9788539301874 (páginas 179-185)