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Características-chave dos Profissionais Brasileiros e Alemães das Gerações baby

Este subcapítulo objetivou apresentar cada uma das quatro empresas pesquisadas e analisadas nesta Dissertação. Duas delas são brasileiras e outras duas estão situadas na Alemanha. De acordo com os dados coletados foram evidenciados número de funcionários, gênero e geração destes, bem como a escolaridade dos mesmos. Nestas quatro organizações foi percebida a presença das três gerações de profissionais presentes atualmente no mercado de trabalho – baby boomers, X e Y, as quais terão suas principais características manifestadas no próximo subcapítulo.

4.5 Características-chave dos profissionais brasileiros e alemães das gerações Baby boomers, X e Y

Esta parte dedica-se a apresentar as características-chave dos profissionais brasileiros e alemães das diferentes gerações presentes atualmente no mercado de trabalho.

Vale destacar que os traços culturais brasileiros e alemães constituem variáveis dinâmicas, que sofrem influência dos seus meios socioinstitucionais e, por sua vez, interferem nas características-chave dos profissionais de cada uma das gerações nos dois países.

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Primeiramente destaca-se a geração baby boomer brasileira, a qual tem seu período de nascimento compreendido entre os anos de 1946 e 1965. Foi a partir desta geração que, mesmo timidamente, as mulheres passaram a ingressar no mercado de trabalho.

Os integrantes desta geração viveram tempos melhores do que seus pais, que presenciaram as duas Guerras Mundiais. Eles são os bebês da guerra, e tiveram o dever de, mesmo indiretamente, reconstruir o mundo.

Os tempos de calmaria, todavia, não duraram muito tempo, pois os jovens baby boomers brasileiros viveram nos anos 70 os “anos rebeldes”, quando revoluções políticas e contestação às famílias e aos valores e instituições foram evidenciados em manifestações que tomaram as ruas do país.

Um dos fatos marcantes desta geração foi a chegada do homem à Lua. Esta é uma geração que respeita os valores familiares e que se dedica profissionalmente a fim de buscar adquirir e preservar bens materiais.

O Quadro 10 destaca as principais características dos baby boomers brasileiros no que diz respeito aos fatos que marcaram a vida desta geração, suas principais características pessoais e profissionais.

Quadro 10 – O ambiente de trabalho brasileiro e os baby boomers

Geração e Fatos marcantes A vida da geração O que esperam os baby boomers

Ano de no trabalho

Nascimento

Baby – Homem pisa na Lua. – Materialistas. – Disciplina no estudo e trabalho. boomers – Início Guerra Vietnã. – Respeito aos valores – Materialistas.

1946-1964 – Euforia do “pós- guerra”. familiares.

– Anos rebeldes.

Fonte: Dados da pesquisa.

Os profissionais baby boomers brasileiros “vestem a camisa”, são dedicados e disciplinados e respeitam sem questionar as hierarquias organizacionais. Duas frases podem ser citadas como lema desta geração no Brasil: “primeiro o dever, depois o lazer” e “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Também na Alemanha esta geração tem grande importância para o mundo dos negócios. Evidenciada como “espinha dorsal da força de trabalho alemão” por Oertel (2014, p. 12), a geração baby boomer ocupa a maioria dos postos de liderança política e econômica

no país, determinando muito da vida social, econômica e política do país. Neste mesmo contexto, muita publicidade é feita para atingir esta geração que nasceu entre 1946 e 1962.

Eles foram os primeiros a receber investimentos do Estado em Universidades, oportunizando, assim, ensino superior para baby boomers alemães, fazendo com que nos anos 1970 e 1980 a sua média de escolaridade fosse respectivamente de 7,1 e 8,2 anos. Comparando com os baby boomers brasileiros, percebe-se que nestes mesmos 20 anos o período de estudo foi amplamente inferior – 2,8 anos apenas (BARRO; LEE, 2013).

Esta geração foi a primeira a ter aparelhos de televisão em casa. Nestes, eles acompanharam o primeiro homem que pisou na Lua entre outros fatos marcantes. O Quadro 11 mostra as principais características pessoais e profissionais dos baby boomers alemães e os fatos que marcaram suas vidas.

Quadro 11 – O ambiente de trabalho alemão e os baby boomers

Geração e Fatos marcantes A vida da geração O que esperam os baby

Ano de boomers no trabalho

Nascimento

Baby boomers – Ver pela TV o primeiro – Famílias não mais tão – emprego seguro. 1946-1962 homem pisar na Lua. autoritárias. – boa renda, não só para

“espinha – Desemprego incipiente, – Progresso técnico. agora, também depois, na dorsal da força corrida política e crise – Aumento no lazer. aposentadoria.

de trabalho petróleo. – Possibilidade de fazer turismo. – formar equipes com alemão” – Aumento nos direitos – Aumento no número de mães gestores competentes. (KLAFFKE, dos trabalhadores e no no mercado de trabalho: mais – ter boa comunicação. 2014a, p. 12). número de divórcios. investimento nas crianças: – fornecer feedback. creches e ginásios de esporte.

Fonte: Dados da pesquisa.

Esta geração foi criada em famílias menos autoritárias do que seus pais e avós e alguns privilegiados baby boomers realizaram as primeiras viagens de turismo. Também foi esta geração alemã que viveu o aumento da força feminina no mercado de trabalho, realidade que trouxe mais investimentos nas crianças; como exemplos destacam-se as creches e os ginásios de esportes.

Em resumo, o típico baby boomer alemão pode ser caracterizado da seguinte forma: uma criança desejada que cresceu sob condições ambientais relativamente sólidas, estas muito boas para o desenvolvimento de uma forte autoconsciência. Tiveram apoio de muitas instalações no sistema de ensino técnico, de formação profissional, de Graduação e Pós- Graduação, as quais foram especialmente desenvolvidas para o seu grupo. Por todos estes fatores de estímulo e por causa do seu grande número, esta geração está em uma equilibrada competição com os seus pares geracionais que se encontram no mercado de trabalho.

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No Brasil, o surgimento da TV, por sua vez, foi fato marcante apenas para a geração X, que no país Americano nasceu entre 1965 e 1979. Eles cresceram acompanhando os apelos das propagandas televisivas que procuravam interessados por seus produtos. A realidade imposta na época, por volta dos anos 70 e 80, contudo, não favorecia muitas famílias que socializavam a vida dentro de casa dividindo telefone, aparelho de televisão, quartos e até banheiros.

Este jeito de viver fez com que muitos integrantes da geração X se propusessem a buscar melhores condições de vida visando à possibilidade de eles mesmos ou então ao menos seus filhos – integrantes da geração Y –, usar individualmente aparelhos, bens ou mesmo espaços em casa. Para isso tornaram-se profissionais altamente competitivos e muitos até viciados em trabalho, e também se propuseram a ter menos filhos do que seus pais baby boomers.

O Quadro 12 faz conhecer as principais características nos âmbitos pessoal e profissional dos profissionais integrantes da geração X no Brasil, bem como os fatos marcantes essenciais na vida deles.

Quadro 12 – O ambiente de trabalho brasileiro e os X

Geração e Fatos marcantes A vida da geração O que esperam os X no trabalho

Ano de

Nascimento

Geração X – Epidemia AIDS. – Autoconfiança. – Workaholic. 1965-1979 – Fim Guerra Vietnã. – Timidamente buscam – Competitivos.

– Movimentos hippies e o equilíbrio entre a – Céticos em relação aos seus rebeliões estudantis. vida pessoal e gestores.

– Surgimento TV. profissional. Fonte: Dados da pesquisa.

Foram fundamentalmente as mães integrantes desta geração que passaram a buscar uma vaga no mercado de trabalho, objetivando melhores condições financeiras para suprir os desejos que começavam a surgir, motivados, principalmente, pelos chamamentos e apelos televisivos que passaram a compor os ambientes familiares. Os horários de convívio em família também foram influenciados pela televisão. Procurava-se organizar as refeições durante ou então antes do jornal de notícias ou da novela.

A geração X alemã, por sua vez, é considerada por Oertel (2014) como a prole desejada que teve ótimo apoio educacional, financeiro e social e viu o aumento das meninas nas escolas. Seu período de nascimento compreende os anos de 1963 a 1980.

Por ter pais e mães mais tempo dedicados ao trabalho, tiveram grande parte do seu tempo livre organizado por estes preocupados pais que programaram atividades esportivas, programas de televisão e jogos comerciais em detrimento das atividades livres na rua com amigos e vizinhos.

O Quadro 13 mostra os principais fatos que marcaram a vida dos profissionais X alemães e ainda as características pessoais e profissionais desta geração.

Quadro 13 – O ambiente de trabalho alemão e os X

Geração e Fatos marcantes A vida da geração O que esperam os X no

Ano de trabalho

Nascimento

Geração X – Desastre Chernobyl. – Internacionalização e variedade – Segurança.

1965-1979 – Buraco na camada de de ambientes: incentivo ao – Qualidade de vida com prole ozônio; aprendizado de outros idiomas. equilíbrio entre vida desejada – Aids. – TV alemã invadida por pessoal e profissional. (OERTEL, – Drogas. programas norte-americanos. – Contatos sociais.

2014). – Reunificação das duas – Revolução da mídia: – Líderes competentes. Alemanhas. computadores, microondas,

videocassete.

Fonte: Dados da pesquisa.

Esta geração viu a reunificação das Alemanhas e passou a dedicar tempo para a busca de soluções de problemas ambientais e sociais que presenciaram, como o acidente na usina nuclear de Chernobyl, buraco na camada de ozônio, surgimento da Aids, entre outros.

Foi também esta geração que presenciou a revolução da mídia com o surgimento do micro-ondas e dos atualmente extintos videocassete e walkman. Os computadores e celulares que surgiram timidamente nesta geração os acompanharam na sua inserção no mercado de trabalho.

As crianças troféus, designadas por Alsop (2008) como os hoje jovens Y, nasceram no Brasil entre os anos 1980 e 1995, cresceram e estão chegando agora na fase adulta e, igualmente, ao mercado de trabalho, onde estão interferindo de maneira mais direta nos destinos da sociedade e das empresas (HUNTLEY, 2006; ALSOP, 2008; LIPKIN; PERRYMORE, 2010; TAPSCOTT, 2010; OLIVEIRA, 2010, 2011; LANCASTER; STILLMAN, 2011). A chegada desses jovens ao mundo das empresas tem alterado os princípios e a ética profissional até antes vigentes e muito bem-aceitos nas organizações; isso porque, no entendimento de Tapscott (2010, p. 185), não há só um choque geracional no

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mercado de trabalho a partir da inserção da geração Y, mas um choque entre “ideias de trabalho”.

Tem-se, portanto, novos valores profissionais baseados nas características desta geração e nos fatos marcantes vividos pelos Y, destacando-se o terrorismo, muito mais do que os ataques de 11 de setembro de 2001, e tantos outros eventos aleatórios e inexplicáveis de violência (HUNTLEY, 2006; ALONSO, 2012). Huntley (2006) revela que estas diferenças não são apenas referentes à música que esses jovens escutam ou às roupas que usam. As maiores diferenças são em relação às atitudes e expectativas sobre assuntos como: amizade, família, trabalho, política, tecnologia e futuro.

As principais características pessoais e profissionais dos integrantes da geração Y são expostos no Quadro 14, que contempla também os fatos que marcaram esta geração no Brasil e no mundo.

Quadro 14 – O ambiente de trabalho brasileiro e os Y

Geração e Fatos marcantes A vida da geração O que esperam os Y no

Ano de trabalho

Nascimento

Geração Y – Ataques terroristas de 11 – Pais-helicópteros. – Desejam receber

1980-1995 de setembro. – Nativos digitais. muitos feedbacks. Crianças – Furacão Katrina; – Equilíbrio entre vida pessoal e – Buscam por horários

troféu – Internet. profissional. flexíveis.

(ALSOP, – Computadores. – Mesclam trabalho e – Procuram significado e 2008) – Inovações nas formas de entretenimento. motivos para seu pesquisa e comunicação. – Sócio e ambientalmente trabalho.

responsáveis. – Querem desafios.

– Valorizam relações – Querem decidir.

interpessoais.

Fonte: Dados da pesquisa.

Quanto à relação destes novos profissionais com as novas tecnologias, os Y são classificados como nativos digitais, que mesclam com facilidade trabalho, aprendizado, diversão, colaboração e entretenimento. Eles também buscam o significado e o motivo para a realização de seu trabalho e querem trabalhar no que gostam (ALSOP, 2008; LAFUENTE, 2009; ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010). Esses profissionais, alerta Tapscott (2010, p. 197), querem que o próprio trabalho seja agradável e em um ambiente de colaboração, onde possam “fazer algo com outras pessoas (...) e não dizer a um bando de gente para seguir as suas ordens”.

Eles ainda dão grande valor aos relacionamentos, aprendem por meio de interações pessoais e têm forte senso de trabalho voluntário e social; mantêm laços com comunidades de pessoas carentes e sentem-se amplamente responsáveis por ajudar a reduzir os problemas que atingem o planeta, como o aquecimento global e a pobreza (ALSOP, 2008; LAFUENTE, 2009; LIPKIN; PERRYMORE, 2010). Os profissionais Y precisam encontrar sentido na realização de suas tarefas. Eles não querem ser vistos apenas como funcionários; querem ser valorizados e não apenas ter um chefe, mas um mentor; e quando se identificam com este mentor são extremamente leais (LIPKIN; PERRYMORE, 2010). Os jovens Y estão, portanto, procurando mentores que gerenciem mais pela persuasão eficaz do que pelo comando, criando um ambiente agradável e participativo (CONGER, 1997), que os façam se sentirem conectados e participantes na organização (ALSOP, 2008).

A geração Y alemã, por sua vez, vive em uma sociedade multiopção e globalizada. Foi criada em famílias organizadas em novos arranjos, com pais ou mães solteiros ou do mesmo gênero. Com amizade, parceira de confiança e boa vida familiar como valores centrais da vida, esta geração busca a felicidade ao invés da carreira, ideal que tem assustado gestores de empresas.

O naufrágio do Estônia, o massacre de Erfurt e outros desastres como os ataques terroristas de 11 de setembro, foram fatos que marcaram a vida dos Y alemães. Estas crises sociais fazem com que esta geração, no âmbito profissional, não goste de executar atividades repetitivas e sem sentido, buscando sempre por ambientes amigáveis que propiciem bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

O Quadro 15 expressa os anseios pessoais e profissionais desta geração alemã e destaca, ainda, os fatos que marcaram esta mais nova geração integrante do mercado de trabalho.

Quadro 15 – O ambiente de trabalho alemão e os Y

Geração e Fatos A vida da geração O que esperam os Y no trabalho

Ano de marcantes

Nascimento

Geração Y – Naufrágio do – Desenvolvimento da – Ambiente de trabalho amigável. 1981-1995 Estônia. internet. – Bom equilíbrio entre vida e trabalho. Buscam – Massacre de – Digitalização das – Cultura corporativa com forte respeito pela felicidade ao Erfurt. relações pessoais através individualidade de cada empregado.

invés da – Ataques das redes sociais. – Patrocínio de formação profissional e carreira terroristas de 11 – Novos arranjos desenvolvimento.

(KLAFFKE, de Setembro familiares – Atividade desafiante. 2014). – Oportunidades de liderança.

– Condições de trabalho flexível.

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A forte relação dos Y alemães com as redes sociais – que propicia receber e oferecer feedback como o “curtir” do Facebook – faz com que eles esperem também no ambiente de trabalho receber constantes retornos a respeito do andamento das atividades. Ainda quanto à vida profissional dos Y, percebe-se que eles querem líderes mentores que atuem como guias e buscam por organizações comprometidas com valores sociais e ambientais.

Empresas que propiciem o desenvolvimento e a autorrealização destes profissionais serão as escolhidas por estes que, na sua grande maioria – 80% – pretendem trabalhar em uma ou duas organizações em toda sua carreira profissional (THOM; HUBSCHMID, 2012).

Este subcapítulo procurou expressar as principais características pessoais e profissionais das três gerações que compõem o mercado de trabalho alemão e brasileiro – baby boomers, X e Y – elas nasceram em épocas distintas e também cresceram e se desenvolveram em países diferentes, com realidades econômicas, sociais, culturais e políticas diversas. Logo, pensam de maneira diferenciada; atualmente trabalham juntas em organizações públicas e privadas e precisam encontrar pontos comuns favoráveis ao alcance dos objetivos e sucessos destas organizações, fazendo com que suas especificidades unidas sejam o combustível para as vidas organizacionais, como se exibe na sequência.