• Nenhum resultado encontrado

2.3 Diversidade de Gerações nas Organizações

2.3.1 Diversidade de Gerações nas Organizações Brasileiras

A precedência norte-americana no estudo sobre gerações fez com que muitos países utilizassem seu esquema de divisão de gerações; entre estes países encontra-se o Brasil. Destarte, a classificação geracional brasileira é representada de acordo com a seguinte ordem cronológica: integram os baby boomers aqueles que nasceram entre os anos 1946 e 1964, a geração X é composta pelos nascidos entre 1965 e 1979, e, subsequentemente, a geração Y corresponde às pessoas que nasceram entre 1980 e 1995.

Um estado da arte sobre o tema gerações foi realizado por este estudo. Para tal utilizou-se como banco de dados o portal eletrônico de eventos da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Anpad). As palavras-chave, objetos das buscas, foram os termos “geração” e “gerações”. Como resultado, encontrou-se 15 artigos que foram apresentados, entre os anos de 2006 e 2013, nos encontros da Anpad e também nos eventos de áreas específicas organizados pela Associação. O Quadro 5 faz referências a estes trabalhos, seus enfoques, autores e anos de apresentação.

35

Quadro 5 – Estado da arte dos termos “geração” e “gerações” na Anpad

Autores Enfoque Ano

Campos, Suarez e Casotti Marketing 2006

Veloso, Dutra e Nakata Percepções de carreiras nas diferentes gerações 2008

Vasconcelos, Merhi, A geração Y e suas âncoras de carreira 2009

Lopes e Silva

Cavazotte, Lemos e Viana Relações de trabalho e expectativas das novas gerações 2010

Walther Consumo de produtos cosméticos e eróticos 2010

Barreto et al. As tendências e os desafios até 2015 para a área de gestão de pessoas 2010

Oliveira, Piccinini e (Re)Situar as discussões acadêmica especificamente sobre a geração Y 2011

Bitencourt no país

Pinho, Martens e Leite Uma meta-análise sobre a produção científica pautada na geração Y 2011 entre 2002 e 2011

Veloso, Silva e Dutra Carreira nas diferentes gerações 2011

Faria e Bruning Os conflitos entre as diferentes gerações em uma montadora de 2011 automóveis

Collistochi et al. O processo da aprendizagem nas diferentes gerações em uma 2011 organização bancária

Alves e Palma A consciência ambiental da geração digital dos estudantes de nível 2013 médio e superior tecnólogo em uma instituição gaúcha.

Wincker, Alperstedt e O que pensam os gestores de empresas do polo tecnológico de 2013 Cunha Florianópolis sobre a geração Y

Cordeiro e Albuquerque Perfis de carreira da geração Y 2013

Oro, Santana e Rausch Os saberes do “bom professor” de ciências contábeis na compreensão da 2013 geração Y

Fonte: Elaborado pela autora.

O produto destes estudos sugere que é necessário evitar generalizações, nos âmbitos social, econômico e comportamental, no que concerne ao grupo de integrantes da geração Y (OLIVEIRA; PICCININI; BITENCOURT, 2011), e entre as tendências e os desafios até 2015, na área de gestão de pessoas, encontra-se como principal desafio demográfico “a entrada da geração Y no mercado de trabalho, e a forma como a gestão de pessoas terá que integrá-los dentro de suas empresas” (BARRETO et al., 2010, p. 1) e que, na concepção de

Pinho, Martens e Leite (2011, p. 1), “existe um campo ainda maior de pesquisas que podem ser realizadas, especialmente para que os dados levantados no meio internacional possam ser nacionalizados ou ajustados à realidade do país”.

Além destas considerações a respeito dos estudos pesquisados pelo estado da arte dos termos “geração” e “gerações”, é possível perceber uma ênfase para os estudos a respeito da geração Y, que passou a integrar as equipes de trabalho a partir da virada deste século (21) e é responsável por muitos dos novos anseios pessoais e profissionais com que os gestores de pessoas estão tendo de conviver. Vale destacar que a origem de muitas destas novas expectativas e necessidades está curiosamente ligada às gerações anteriores, dos pais ou avós dos Y, os baby boomers e X, pois a convivência entre as gerações deixa marcas umas nas outras, como se salienta a seguir.

O período após 1945 foi mundialmente marcado pela euforia diante do pós-guerra. Viu-se um grande número de nascimento de crianças, uma vez que estas poderiam usufruir um tempo muito melhor do que o experimentado por seus pais. Este foi o evento que batizou esta geração, hoje presente nas empresas, de geração baby boomers, a qual aprendeu desde cedo a respeitar os valores familiares e a disciplina nos estudos e trabalho.

Os baby boomers, ou “bebês da guerra”, também vivenciaram fatos que marcaram suas vidas. Entre eles sobressaem, no ano de 1963, o assassinato de John Kennedy, a guerra do Vietnã entre 1946 e 1975, e a chegada do primeiro homem à Lua em 1969. Os profissionais dessa geração são extremamente dedicados. Essa característica tem levado os profissionais a viciar-se em trabalho, tanto que esta é a geração dos workaholic (LOMBARDÍA; STEIN; PIN, 2008).

Nenhum jovem dessa geração deveria contestar qualquer autoridade estabelecida (OLIVEIRA, 2010). Mesmo diante da situação de comportamento imposta pelos pais e chefes, esta condição de obediência não durou muito tempo, movida principalmente pela euforia do pós-guerra. Surgiram então as principais manifestações desta geração: o rock and roll, embalado por Elvis Presley, Beatles e Rolling Stone. Eram os “Anos Dourados”, que davam os ares de suas graças revelando jovens rebeldes e contestadores que desenvolveram comportamentos como fumar, usar cabelos compridos e roupas mais justas e curtas; todas estas manifestações eram facilmente vistas nas ruas.

Os integrantes da geração baby boomers são profissionalmente muito competitivos e materialistas, mas a lealdade que também os acompanha não é tão determinante quanto era para os veteranos, uma vez que muitos dos baby boomers, durante as crises econômicas

37

setoriais, foram demitidos de seus empregos, para os quais dedicaram excessivas horas e que, muitas vezes, até foram priorizados em relação à família (ALSOP, 2008).

Em relação a ser presença na vida dos filhos, os pais baby boomers, por sua vez, foram mais presentes na vida de herdeiros integrantes da geração X. Lancaster e Stillman (2011) ressalvam que a sociedade já apresentava novas regras para criar filhos, e com as famílias menores foi possível dar mais atenção às crianças da geração X. Também estudos psicológicos mostravam a importância de os pais assumirem um papel mais ativo na educação dos filhos.

As principais características da geração X são explanadas por Alsop (2008), o qual salienta a epidemia da Aids e a queda do Muro de Berlim. Os profissionais X, na sua maioria, não acreditam na autoridade de seus gestores e têm altos índices de autoconfiança. Por verem as demissões em massa de seus pais, que tanto se dedicaram às empresas, procuram, mesmo que mais timidamente, construir uma carreira que promova o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional.

Os assassinatos de diversos líderes políticos importantes, como Martin Luther King e Malcolm X, cujo nome foi usado para batizar essa geração, associados, ainda, à controvérsia da Guerra do Vietnã, ajudaram a formar opiniões dos jovens desta geração, a segunda presente nos ambientes das organizações.

Os movimentos hippies e as rebeliões de estudantes passaram a fazer parte dos cenários de quase todo o mundo. A música ficou mais barulhenta ainda, as roupas mais coloridas e as experiências mais intensas; tudo acontecia em excesso. Esta geração foi marcada pelo surgimento da TV, que afetou de forma significativa as rotinas e os horários das famílias – que estruturaram suas refeições e seus horários de descanso conforme os programas oferecidos pelos canais de televisão e também se beneficiavam dela para auxiliar na educação de seus filhos. Os jovens da geração X, conforme esclarece Conger (1997), especializaram-se em Administração e Ecologia, diferentemente das gerações anteriores, que se especializaram em Ciência Política e Psicologia.

As mulheres dessa geração tiveram mais opções do que suas mães. Elas puderam trabalhar, mas muitas encontraram dificuldades em conciliar tempo para os filhos e para o trabalho. Assim, as tecnologias da informação têm beneficiado muitas mães da geração X, que podem sair mais cedo para levar o filho, geração Y, para o treinamento do futebol, contanto que se conecte mais tarde às redes do trabalho (LANCASTER; STILLMAN, 2011).

As crianças troféus, designadas por Alsop (2008) como os hoje jovens Y, cresceram e estão chegando agora na fase adulta e, consequentemente, ao mercado de trabalho, interferindo de maneira mais direta nos destinos da sociedade e das empresas (HUNTLEY, 2006; ALSOP, 2008; LOMBARDÍA; STEIN; PIN, 2008; LIPKIN; PERRYMORE, 2010; ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010; OLIVEIRA, 2010, 2011; LANCASTER; STILLMAN, 2011). A chegada desses jovens ao mundo das empresas tem alterado os princípios e a ética profissional até antes vigentes e muito bem-aceitos nas organizações.

Tem-se, portanto, novos valores profissionais baseados nas características desta geração e nos fatos marcantes vividos pelos Y, destacando-se o terrorismo muito mais do que os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, e tantos outros eventos aleatórios e inexplicáveis de violência (HUNTLEY, 2006; ALONSO, 2012). Huntley (2006) revela que estas diferenças não são apenas referentes à música que esses jovens escutam ou às roupas que usam. As maiores diferenças são em relação às atitudes e expectativas sobre assuntos como amizade, família, trabalho, política, tecnologia e futuro.

Quanto à relação destes novos profissionais com as novas tecnologias, os Y são classificados como nativos digitais, que mesclam, com facilidade, trabalho e entretenimento, enquanto para as gerações anteriores, principalmente veteranos e baby boomers, trabalho e entretenimento são coisas distintas e cada uma deve merecer seu momento (LOMBARDÍA; STEIN; PIN, 2008; SMITH, 2009). Os computadores e os telefones celulares são, para os Y, o que foi a máquina de escrever e os telefones sem fio para as gerações anteriores.

Os Y desejam receber feedbacks diários ou pelo menos semanais, pois isto é fundamental para os jovens desta geração, uma vez que eles receberam reconhecimento diário primeiramente de seus pais, apenas, muitas vezes, por terem feito a lição de casa (ALSOP, 2008; OLIVEIRA, 2011; LAFUENTE, 2009). Essa é uma geração de resultados, não de processos (LOMBARDÍA; STEIN; PIN, 2008; LIPKIN; PERRYMORE, 2010), por isso querem seus trabalhos avaliados pela qualidade e quantidade, sem precisar ficar horas fixas no ambiente de trabalho, ou seja, ter um horário flexível (ALSOP, 2008).

Os trabalhadores Y também buscam o significado e o motivo para a realização de seu trabalho e querem trabalhar no que gostam (ALSOP, 2008; LAFUENTE, 2009; ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010). Eles ainda dão grande valor aos relacionamentos, aprendem por meio de interações pessoais (ALONSO, 2012) e têm forte senso de trabalho voluntário e social; mantêm laços com comunidades de pessoas carentes e sentem-se amplamente responsáveis por ajudar a reduzir os problemas que atingem o planeta, como o aquecimento global e a pobreza (ALSOP, 2008; LAFUENTE, 2009; LIPKIN; PERRYMORE, 2010).

39

Os pais desta geração são, de acordo com Alsop (2008), pais-helicópteros, pois estão presentes no centro das vidas de seus filhos. São muitos deles, por exemplo, que reivindicam melhorias salariais para seus filhos Y. O equilíbrio entre vida pessoal e profissional para estes profissionais é fundamental, pois esta é a primeira geração a rejeitar o termo workaholic. Nesse contexto, muitas organizações estão oferecendo flexibilização em vista da retenção e motivação dos profissionais Y, que não veem o tempo de trabalho e o tempo pessoal separados (ALSOP, 2008; LOMBARDÍA; STEIN; PIN, 2008; TAPSCOTT, 2010; LAFUENTE, 2009; LIPKIN; PERRYMORE, 2010).

Essas inovações e flexibilizações nas empresas estão proporcionando modelos de gestão que, segundo Priosta (2009 apud CATTELAN et al., 2011), contribui para a retenção dos Y, profissionais que, na visão de Alsop (2008, p. 32), “sempre tem um pé na porta, olhando ao redor para a próxima grande mudança na sua carreira”, assim como destaca Tapscott (2010), quando apresenta que 35% dos Y brasileiros querem trabalhar em várias empresas, enquanto os outros 65% em uma ou duas. Deste modo, o mais difícil do que contratar um jovem Y é mantê-lo nas empresas, pois eles querem um trabalho desafiador, no qual possam aprender, conhecer pessoas interessantes, fazer um trabalho cativante e se divertir (TAPSCOTT, 2010).

Os profissionais Y precisam encontrar sentido na realização de suas tarefas. Eles não querem ser vistos apenas como funcionários; querem ser valorizados e não querem apenas ter um chefe, mas um mentor; e quando se identificam com este mentor são extremamente leais (LIPKIN; PERRYMORE, 2010). Os jovens Y estão, portanto, procurando mentores que gerenciem mais pela persuasão eficaz do que pelo comando, criando um ambiente agradável e participativo (CONGER, 1997), que os façam sentirem-se conectados e participantes na organização (ALSOP, 2008).

Enfim, Tapscott (2010) explica que para os Y os termos trabalho, colaboração, aprendizado e diversão têm o mesmo significado e, logo, são de igual importância na vida profissional.

Esse subtópico destacou as características das gerações de profissionais presentes nas organizações brasileiras; em sequencia serão evidenciadas essas características dos profissionais da Alemanha.