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2.4 A TERCEIRIZAÇÃO DO TRABALHO

2.4.3 Características da terceirização

A terceirização é uma resposta da necessidade de adequação das empresas ao mercado, globalizado e extremamente competitivo, que exige, dentre outros, processos de fabricação complexos, sistemas de qualidade minuciosos, fluxos de informações eficientes e

funcionários bem treinados e motivados. Nesse contexto, torna-se necessária a capacidade de adaptação em tempo hábil e ótimo, ou seja, ser flexível e ter “a capacidade de adaptação de produtos, processos, equipamentos, funções e forma de gestão”. (HERNANDEZ, 2003, p. 38- 39)

Segundo Hernandez (2003, p. 40-41), a terceirização de atividades gera vantagens competitivas para a empresa, dentre as quais, a possibilidade de tornar a estrutura organizacional mais enxuta, com menos níveis hierárquicos, ganhando em especialização e qualidade. A autora destaca ainda que há uma maior facilidade em inovar produtos por intermédio de subcontratados, que os riscos são divididos entre a empresa contratante com a subcontratada, que ocorre a redução de custos por meio de uma estrutura menor e mais simples e, principalmente, que há a redução de custos trabalhistas.

Os serviços mais comumente terceirizados são aqueles relacionados à infraestrutura de apoio: alimentação, limpeza, segurança, manutenção, transportes, apoio administrativo (distribuição de documentos, recepção, atendimento telefônico e digitação). Em algumas empresas, são terceirizados os serviços mais diretamente ligados às atividades- fim, como detalhes de operações, processamento de dados, serviços de engenharia, assessoria jurídica e serviços de gestão de pessoal (QUEIROZ, 1992 apud PINTO, 2009). Há, ainda, as chamadas organizações virtuais, que terceirizam também grande parte das operações e até mesmo a distribuição, concentrando-se na função de coordenação de uma rede de empresas (TOLEDO; LOURES, 2006 apud PINTO, 2009).

Assim, existem três tipos básicos de contratação de serviços terceirizados: a contratação por mão de obra; a contratação por serviços; e a contratação por resultados.

A contratação por mão de obra representa hoje, aproximadamente, 65% dos casos de terceirização (KARDEC; CARVALHO, 2002). Trata-se da forma mais antiga de contratação e, ao mesmo tempo, a mais incorreta. O maior objetivo desse tipo de contratação é se eximir das responsabilidades trabalhistas, utilizando-se uma empresa intermediária. Em muitos casos, existe uma estreita e forte relação de trabalho entre as supervisões da contratante com a mão de obra da contratada, não raro sendo a própria contratante a supervisionar os serviços da contratada.

Esse tipo de contratação pode gerar consequências negativas, como por exemplo, uma baixa na produtividade, devido à falta compromisso da contratada com os resultados da contratante. Outro aspecto importante diz respeito ao menor comprometimento dos empregados, pois, ocorre a falta de identidade com qualquer uma das empresas envolvidas

(contratante e contratada). Ao mesmo tempo, ambas as empresas não têm comprometimento com o empregado (CORCETTI; BEHR, 2009).

Kardec e Carvalho (2002) afirmam que esse tipo de contratação é de alto risco empresarial e trabalhista e que não deve ser praticado por empresas que queriam sobreviver no mercado por longo prazo. É uma relação de crescimento unilateral, na qual o que acontece é a política do “perde-ganha” em curto prazo, e a política do “perde-perde” em longo prazo.

O segundo tipo de contratação, denominado contratação por serviço, representa aproximadamente 30% dos casos de terceirização e é um grande avanço quando comparado com a contratação de mão de obra. Neste caso, a mão de obra possui uma melhor qualificação, a produtividade também aumenta, já que a contratada está envolvida com os resultados, visto que ela é a responsável técnica pela execução dos serviços. Porém, ainda falta o estabelecimento de uma real parceria entre contratada e contratante.

A relação de parceria entre a empresa contratante e a empresa contratada só vai existir no terceiro tipo, a contratação por resultados. Esse tipo de contratação representa apenas 5% dos casos, e a contratante possui como meta fundamental a maior disponibilidade, com menor demanda de serviços, menor custo, maior segurança e confiabilidade. Nesse caso, a responsabilidade técnica é 100% da empresa contratada, que busca um alinhamento com a contratante e consegue uma maior lucratividade, pois, mesmo com uma demanda menor de serviços, reparte as despesas entre as partes.

Nesse tipo de contrato, a mão de obra precisa ser especializada, adequadamente remunerada, com direitos trabalhistas respeitados, atuando motivada, com qualidade e produtividade, subordinada exclusivamente à empresa contratada. (KARDEC; CARVALHO, 2002).

De acordo com Campos Pereira (2003), em um processo de terceirização de uma empresa, pode haver ou não o aproveitamento dos empregados. Os empregados que fazem parte da área a ser terceirizada podem cessar seus contratos com a empresa e passar a serem contratados pela empresa prestadora de serviços. Em casos mais recentes, também há a possibilidade da criação de cooperativas por esses empregados. Em outras situações, pode ocorrer a terceirização sem o aproveitamento dos empregados.

Fontanella, Tavares e Leiria (1994) afirmam existir dois “lados” da terceirização: o lado humano e o lado desumano. O lado humano seria aquele que efetivamente eleva a dimensão e a importância da terceirização, que é o fato de ela ter como base relações de parceria. Mediante a parceria torna-se possível realizar mudanças positivas no ambiente de trabalho.

Os diversos autores que discorrem sobre a terceirização apresentam vantagens e desvantagens ao se estabelecer esse tipo de processo, como se pode observar no Quadro 10. (LEIRIA, 1993; KARDEC; CARVALHO 2002; CAMPOS PEREIRA, 2003; BRITO; MARRA, 2010).

Vantagens Desvantagens

Aumento da qualidade. Redução de custos.

Transferência de processos suplementares a quem os tenham como atividade-fim.

Aumento da especialização.

Redução de estoques quando se contrata com fornecimento de material.

Flexibilidade organizacional.

Foco renovado no negócio do núcleo.

Melhor administração do tempo para gestão do negócio.

Diminuição do desperdício. Redução de áreas ocupadas.

A satisfação do cliente melhorada com os processos melhorados pela nova cultura ou da experiência da empresa.

Melhor atendimento. Maior flexibilidade. Maior dinamicidade.

Os custos das mudanças na fase inicial da implantação do processo.

As mudanças na estrutura de poder. Aumento da dependência de terceiros.

Aumento de custos quando simplesmente se empreiteiriza.

Aumento do risco empresarial pela possibilidade de queda na qualidade.

Redução da especialização própria. Aumento do risco de acidentes pessoais.

Aumento do risco de passivo trabalhista, dependendo da qualidade da contratação.

Quadro 10 – Vantagens e Desvantagens da terceirização

Fonte: Elaborado com base nos autores Kardec e Carvalho, 2002; Campos Pereira, 2003; Brito e Marra, 2010; Leiria, 1993.

Brito e Marra (2010) percebem as vantagens da terceirização como estando vinculadas à empresa contratante, e as desvantagens, por sua vez, referem-se ao grupo de trabalhadores. Para as empresas, observa-se claramente a diminuição de custos, impostos, taxas e encargos sociais. Para os trabalhadores, verifica-se a intensificação e o aumento da jornada de trabalho, a instabilidade no emprego e a redução dos direitos trabalhistas (ANTUNES, 2005).

Além das desvantagens mais facilmente observáveis, Reimann (2002 apud BRITO; MARRA, 2010 p. 6) aponta ainda a terceirização como “responsável pela perda da identidade coletiva e o desmantelamento da cidadania, tendo em vista a centralidade do trabalho na vida dos indivíduos.” O autor acrescenta que essa perda, ao gerar uma dificuldade na manutenção do equilíbrio na vida, causado pela instabilidade no trabalho, pode constituir um problema para a integridade física, social e emocional do trabalhador.

A verdade é que a terceirização também possui então outra face, a da antiparceria, voltada quase que exclusivamente ao ganho econômico de curto prazo, com uso de poder, de

forma predatória, causando danos concretos ao clima e à estrutura organizacional e social – o lado desumano da terceirização. (FONTANELLA; TAVARES; LEIRIA, 1994). Assim, são muitos os aspectos críticos relacionados à terceirização.