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Para a realização da pesquisa com os diversos atores envolvidos no processo da terceirização, foram elaborados três instrumentos de coleta de dados. Primeiramente, para dar suporte ao processo de elaboração do instrumento que seria aplicado com os trabalhadores terceirizados, foi realizado um grupo focal em uma das IES envolvidas na pesquisa.

1 Na IES C, por escolha dos próprios gestores, a entrevista foi realizada coletivamente na presença dos três

Mynaio (1994) apresenta o grupo focal como uma entrevista em grupo, que atende a fins específicos em dada investigação. Para Kind (2004), os grupos focais utilizam a interação grupal para produzir dados e insights que seriam dificilmente conseguidos fora do grupo. Os dados obtidos devem considerar o processo do grupo, entendendo este como maior do que a soma dos sentimentos e pontos de vista individuais.

O objetivo central do grupo focal é identificar percepções, sentimentos, atitudes e ideias dos participantes a respeito de um determinado tema. Dias (2000) afirma que seus objetivos específicos variam de acordo com a abordagem de pesquisa. Em pesquisas exploratórias, como esta, o propósito do uso de grupo focal como técnica de coleta é gerar novas ideias ou hipóteses e estimular o pensamento do pesquisador.

Essa técnica pode ser utilizada como ferramenta de coleta de dados em diferentes situações de pesquisa. Para Dias (2000), uma aplicação bastante comum é a exploração de novas áreas do conhecimento ou de uma nova população, quando o pesquisador desconhece a linguagem mais adequada a ser utilizada ou o contexto do universo pesquisado. “Nessa abordagem exploratória, o grupo focal é útil no planejamento de pesquisas quantitativas e na elaboração de questionários.” (DIAS, 2000, p. 8).

O objetivo da realização do grupo focal nesta pesquisa foi discutir com os trabalhadores terceirizados o tema da Qualidade de Vida no Trabalho de uma forma mais aberta e reconhecendo a sua realidade em um contexto de terceirização. Tal processo, que permitiu uma aproximação maior à dinâmica de trabalho dos participantes, contribuiu para elucidar pontos a serem explorados quando da elaboração dos instrumentos de coleta de dados a ser aplicado, no segundo momento, com toda a população de pesquisa. O grupo focal teve a participação de treze trabalhadores terceirizados e ocorreu em um encontro, com duração aproximada de uma hora e meia; igualmente contou com a presença de um observador, que, para Kind (2004), é fundamental para validar a investigação, e a pesquisadora como coordenadora do grupo.

A reunião do grupo focal foi realizada a partir de uma atividade de aquecimento proposta pela pesquisadora, que possibilitou a descontração, a integração e criou uma atmosfera favorável para a participação dos integrantes do grupo. Durante a entrevista coletiva, muitos aspectos relacionados à realidade vivida no cotidiano do trabalho terceirizado foram debatidos. Os participantes se sentiram à vontade para colocar seus questionamentos, aflições, reclamações e sugestões. Foi um encontro rico, que contribuiu muito para a familiarização da pesquisadora com o tema a ser pesquisado.

Com base nas percepções levantadas no grupo focal, então, foi elaborado um roteiro de entrevista a ser aplicado com os trabalhadores terceirizados. Para garantir a confiabilidade e fidedignidade deste instrumento, foi construído um roteiro piloto, pré-testado com cinco trabalhadores terceirizados de uma empresa da rede de relacionamentos da pesquisadora, seguindo todos os procedimentos éticos. Verificou-se a necessidade de algumas mudanças2 no roteiro de entrevista, de forma a torná-lo mais claro e atendendo aos objetivos propostos na pesquisa. A segunda versão do instrumento foi construída e novamente testada para legitimar sua validade, sendo então aplicado aos participantes do estudo (Apêndice A).

Vale destacar que o instrumento de coleta de dados elaborado a partir do grupo focal serviu de base também para a adequação do roteiro de entrevista aplicado com os gestores das IES e das empresas de terceirização de serviços. No caso, utilizaram-se como instrumento de coleta de dados entrevistas semiestruturadas (Apêndices B e C), pautadas em roteiros flexíveis. Ressalta-se que o roteiro dessas entrevistas também foi avaliado previamente, segundo procedimentos éticos.

As entrevistas foram agendadas e realizadas entre os meses de novembro de 2010 a janeiro de 2011. Os agendamentos foram feitos via telefone e e-mail com todos os gestores envolvidos. Todas as entrevistas foram realizadas no local de trabalho dos sujeitos da pesquisa. Buscou-se, dentro do possível, uma sala tranquila, com iluminação adequada, sem ruídos e sem interrupções, para assim garantir o sigilo deixando os sujeitos de pesquisa à vontade para participar da entrevista.

A pesquisa também se fundamentou em fontes secundárias, cujos dados foram analisados com base no estudo documental, com a sistematização das informações e descrição daquelas necessárias para responder aos objetivos do estudo. Para complementar as informações sobre as organizações envolvidas na pesquisa, uma análise das páginas eletrônicas de cada organização igualmente foi realizada.

Para a análise e interpretação dos dados, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo. Segundo Bardin (2004), por meio da análise de conteúdo, procuram-se insights, em que situações, imagens e significados são tópicos-chave. O processo envolve a codificação simultânea de dados brutos e a construção de categorias que capturam características pertinentes do conteúdo do documento. A autora divide a análise de conteúdo em três fases distintas, chamadas também de polos cronológicos. A primeira corresponde à pré-análise,

2 Houve a necessidade de se incluir a questão 11. “O que é ter Qualidade de Vida para você?” (Apêndice A),

com a finalidade de introduzir o tema da qualidade de vida no trabalho, visto que, sem essa introdução/pergunta, a resposta para a questão 12. “O que é Qualidade de Vida no Trabalho para você?” (Apêndice A), ficava fortemente vinculada à qualidade/desempenho no trabalho.

seguida pela exploração do material e finalmente pelo tratamento dos resultados, em que ocorre a inferência e a interpretação.

Especificando-se cada etapa: (1) A pré-análise consiste no primeiro contato com o material, quando os documentos são escolhidos, os pressupostos levantados, os indicadores elaborados e o material preparado. Nesta etapa, as entrevistas foram escutadas e transcritas. (2) A exploração do material é realizada mediante a organização do material, respeitando regras previamente definidas. Aqui, o material coletado na pesquisa foi organizado, separando-se o conteúdo de acordo com cada objetivo específico proposto, de forma a facilitar a análise. (3) A fase do tratamento dos resultados, da inferência e da interpretação, consiste no momento em que os resultados brutos são tratados de maneira a serem interpretados, em que os dados são condensados e as informações importantes colocadas em evidência. São feitas inferências a respeito do conteúdo e as informações coletadas são analisadas tendo por base uma vinculação com os objetivos e com os aportes e fundamentos teóricos que sustentam a proposta da pesquisa. Nesta etapa, quadros com as categorias analíticas foram elaborados de forma a sintetizar as informações e facilitar a visualização. Minayo (1994, p. 70) conceitua a palavra categoria, como algo que “abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si [...], trabalhar com elas significa agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso”.

As categorias de análise foram definidas com base no problema da pesquisa e de acordo com os objetivos propostos. Para cada categoria, foram definidos os indicadores, agrupando-se conteúdos semelhantes. Esses indicadores de análise foram constituídos a posteriori.

Os dados provenientes das questões fechadas da entrevista estruturada foram tabulados. No que se refere às questões abertas, fez-se análise de conteúdo de tipo classificatório (BARDIN, 2004), agrupando os conteúdos semelhantes, com o intuito de estabelecer indicadores para as categorias. Dessa forma, as categorias foram formadas com base nos objetivos, ou seja, a priori, e os indicadores foram formados com base na análise dos dados coletados, isto é, foram estabelecidas a posteriori.

Num segundo momento, buscou-se o estabelecimento de relações entre os dados obtidos a partir das entrevistas com gestores e com os trabalhadores terceirizados, com a finalidade de levantar os aspectos correlacionados e divergentes com relação à QVT.