• Nenhum resultado encontrado

CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE PROPRIEDADE.

No documento O DIREITO DE PROPRIEDADE (páginas 123-128)

5. DIREITO DE PROPRIEDADE NO CÓDIGO CIVIL.

5.3. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE PROPRIEDADE.

A doutrina tem se posicionado, de forma mais ou menos uniforme, quanto aos caracteres de que se reveste o direito de propriedade, sob a ótica do direito civil.

O artigo 1.231 do Código Civil em vigor evidencia duas destas características, ao estabelecer presunção juris tantum de que a propriedade se presume plena e exclusiva.168

A plenitude, segundo ensina MARCO AURÉLIO S. VIANA169 refere-se às

faculdades que estão englobadas, nas mãos do proprietário, que pode, na linguagem analítica do artigo 1.228 do Código Civil, usar, gozar e dispor da coisa.

A plenitude permite afirmar que também é característica do direito de propriedade, a independência, no sentido de que, enquanto os demais direitos reais pressupõem a existência da propriedade, a propriedade não pressupõe a existência de qualquer outro direito sobre a coisa.

A exclusividade, por sua vez, é conseqüência da unicidade do direito de propriedade, no sentido de que, não podendo, a mesma coisa, pertencer, por inteiro,

168 O Artigo 527 do Código Civil de 1916 estabelecia que a mesma presunção, porém, empregava o termo ilimitada, em lugar de plena. Neste sentido, parece-nos adequada a mudança engendrada, uma vez que a idéia de direito ilimitado não nos parece compatível com o atual perfil do direito de propriedade.

A característica da exclusividade é atribuída no sentido, bem esclarecido por LAFFAYETTE RODRIGUES PEREIRA170, de impossibilidade de existência de

domínios contrapostos, pois nesta hipótese, o domínio de um titular, excluiria o domínio do outro.

Essa idéia de contraposição entre domínios é essencial para que não se cometa o equívoco de entender que o Condomínio não se reveste da característica da exclusividade.

No condomínio, a propriedade da coisa pro indiviso é uma só, mas pertence em comum a diversos titulares, aos quais se atribui uma parte ideal, de forma que não há uma contraposição entre as propriedades de um e de outro proprietário.

Da característica de exclusividade, resulta o caráter absoluto do direito de propriedade, que não deve ser interpretado sob a ótica dos ideais liberalistas, mas sim, sob o ponto de vista jurídico, fundado na diferenciação entre direitos relativos e direitos absolutos.

EDMUNDO GATTI esclarece que:

“Direitos absolutos são aqueles que existem em relação a todos (erga omnes), ou seja, aqueles em que ao poder ou à faculdade do titular do direito corresponde um dever de abstenção de todos os demais. Ao contrário, são direitos relativos, aqueles que outorgam ao seu titular um determinado comportamento de pessoa ou pessoas determinadas, podendo esse comportamento consistir não somente em uma abstenção, senão que, também (e, principalmente) em uma ação ou fato positivo”.171

Portanto, diz-se que, como todo direito real, o direito de propriedade é absoluto, não no sentido de que seja ilimitado, mas sim porque as prerrogativas do proprietário, gera em relação todos os membros da coletividade, um correlato dever de abstenção, ou, em outras palavras, o direito de propriedade tem eficácia e validade é oponível a todos (erga omnes).

Retornando ao teor do artigo 1.231 do Código Civil, percebe-se o legislador estabeleceu uma presunção relativa, o que decorre de outra característica que se pode atribuir ao direito de propriedade.

Como vimos, o direito de propriedade concentra nas mãos do proprietário as faculdades de usar, gozar e dispor da coisa, daí dizer-se que a propriedade e plena e exclusiva. No entanto, a plenitude e exclusividade podem sofrer modificações, pois, conforme esclarece WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO172, é possível o desmembramento de certas parcelas da propriedade e sua constituição em direitos separados, a favor de terceiros.

171 Op. Cit., pg. 15. 172 Op. Cit., p. 84.

torna-se ele limitado174, ou menos pleno”.

Portanto, o proprietário poderá constituir sobre a coisa outros direitos reais em favor de terceiros, tais como ocorre, por exemplo, na hipótese de usufruto, em que o proprietário transfere as faculdades de uso e gozo da coisa ao usufrutuário, conservando em seu poder apenas a prerrogativa de disposição.

No entanto, a cessação dos direitos sobre a coisa, constituídos em favor de terceiros, implica na restauração da plenitude do direito, com a consolidação, nas mãos do proprietário, das faculdades constituídas em favor de terceiros.

A esta característica, que tem o direito de propriedade, de se desmembrar, por meio da constituição de direitos reais concorrentes e, com a extinção destes, restabelecer, imediatamente, a plenitude de seu conteúdo, dá-se a denominação de elasticidade.

Outra característica do direito de propriedade, muito lembrada no campo doutrinário, é a perpetuidade, que se revela pela ausência de limite temporal do direito de propriedade.

Trata-se de um elemento distintivo entre o direito de propriedade e os demais direitos reais, pois estes estão sujeitos à extinção com o transcurso do

tempo, oportunidade em que a propriedade que, repisamos, tende a ser perpétua, se revigora.

A característica da perpetuidade se fundamenta, portanto, na tendência, que tem o direito de propriedade de não se extinguir pelo tempo, o que não significa que tal extinção não possa ocorrer, pela vontade do próprio proprietário (Artigo 1.275, I a III do Código Civil), pelo perecimento do objeto (Art. 1.275, inciso IV do Código Civil), ou pela desapropriação mediante indenização (Art. 1.275, inciso V do Código Civil).

Por fim, resta esclarecer que, assim como os demais direitos reais, o direito de propriedade se reveste de tipicidade, na medida em que o seu conteúdo, isto é, a descrição de suas características ou elementos fundamentais, é prevista por normas de ordem pública, que não podem ser afastadas pela vontade das partes175.

174 Além dos direitos reais de uso e gozo, nos casos de propriedade resolúvel se diz que a propriedade é limitada.

175 Cumpre ressalvar que não se deve confundir a tipicidade com a taxatividade dos direitos reais, embora ambas signifiquem limite à autonomia da vontade. Enquanto aquele se refere à impossibilidade das partes alterarem o conteúdo dos direitos reais previsto pela lei, esta diz respeito à exclusividade da lei como meio idôneo à criação de direitos reais e, conseqüentemente, à impossibilidade de criação de novos direitos reais pela vontade das partes.

No documento O DIREITO DE PROPRIEDADE (páginas 123-128)