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2. O MÚTUO BANCÁRIO

2.7 CARACTERÍSTICAS DO MÚTUO BANCÁRIO

O mútuo bancário é um contrato real, unilateral e oneroso224. É real porque “se aperfeiçoa com a entrega, pelo banco mutuante ao cliente mutuário, do dinheiro objeto do empréstimo”225. Como se vê, não existe grande diferença no que tange à classificação dada ao mútuo civil, a não ser pela existência, no mútuo civil, da possibilidade de o mútuo ser gratuito. Por essa razão, não se fará, aqui, menção à onerosidade ou à unilateralidade – por já terem sido analisadas no capítulo primeiro –, passando-se, assim, a perscrutar as demais características que o distinguem do seu similar na seara cível.

2.7.1 Partes

Um contrato de mútuo bancário terá, de um lado, e necessariamente, uma instituição financeira e, no outro, pessoas físicas ou jurídicas em geral. O termo instituição financeira abrange as instituições bancárias e não bancárias; em alguns casos, a instituição financeira não atua isoladamente em uma operação de mútuo, mas sim em conjunto, geralmente por envolver valores elevados. A essas operações se dá o nome de empréstimos sindicalizados.

223 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial nº 917459/RS – Relator

Ministro Aldir Passarinho Junior. Data da Publicação 02/06/2008. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink=ATC&sSeq=3915644&sReg=20070010285 7&sData=20080602&sTipo=5&formato=PDF. Acesso em: 30 de out. de 2013.

224 PAULIN, op. cit., 1.147. 225 COELHO, op. cit., 2008, p. 452.

Atualmente o mútuo bancário se tornou uma rotina na vida das pessoas físicas e jurídicas, pois não existe restrição no acesso delas às operações de mútuo bancário, desde que se apresentem capazes para os atos da vida civil, quando não que estejam devidamente representadas ou assistidas.

Anote-se, ainda, que a instituição financeira, de um lado, e as pessoas físicas ou jurídicas, de outro, dentro de uma relação contratual, podem se caracterizar como fornecedora e consumidora, respectivamente. Para que se dê essa caracterização, é necessário que essa relação seja considerada de consumo, com incidência do CDC. A Jurisprudência é pacífica no sentido de que “O Código do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”, conforme dispõe a Súmula nº 297 do STJ. No que diz respeito à caracterização da pessoa física ou jurídica como consumidora, a interpretação é que dirá se é o caso ou não. Atualmente duas posições doutrinárias – maximalista e finalista –, têm dividido opiniões, todavia prevalece, na jurisprudência e na doutrina, majoritariamente, a corrente finalista, que dá interpretação restritiva ao artigo 2º do CDC, entendendo consumidor como alguém que utiliza ou adquire produto como destinatário final; ao passo que a teoria maximalista é mais branda, e sempre teleológica, aceitando a possibilidade de o Judiciário, reconhecendo a vulnerabilidade de uma pequena empresa ou de um profissional, considerá-lo como consumidor, conferido-lhe a proteção que o CDC faculta por entendê-los mais fracos na relação de consumo226.

2.7.2 Juros

Ao definir e conceituar o mútuo bancário, item 2.3, adiantou-se o que pode ser considerado como uma das principais diferenças entre o mútuo civil e o mútuo bancário. E a diferença não está no fato de que este pode ser oneroso, pois aquele também pode; ela está, sim, no aspecto remuneratório, já que para o mútuo civil existe limitação à sua incidência e, como dito, se os valores forem fixados em patamares maiores do que a lei permite, poderá caracterizar-se ofensa à Lei da

Usura e o fato ser tipificado, consequentemente, como crime contra a economia popular.

Para o mútuo bancário, não vigora a priori nenhuma limitação legal, entretanto a taxa é regulada pelo Conselho Monetário Nacional que, via de regra, não estabelece nenhuma limitação, deixando-a variar conforme o humor do mercado.

Os juros, vale lembrar, podem ter caráter moratório ou compensatório. Serão compensatórios

“aqueles devidos regularmente pelo mutuário, em retribuição à cessão transitória de recursos. Estes serão livremente pactuados entre as partes e constarão obrigatoriamente do instrumento de contrato. As partes podem acordar que estes encargos serão liquidados em parcelas ou em uma única ocasião. Optando pela liquidação em uma só vez, invariavelmente, os juros são satisfeitos, juntamente com o principal, ao final do prazo contratual”227.

Já os juros moratórios “são aqueles devidos em função do cumprimento a destempo da obrigação de pagar”228.

A jurisprudência do STJ é ampla no sentido de apreciar a incidência de juros. A título exemplificativo, cite-se o Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial nº 39.138/RS, que teve como relator o Ministro João Otávio de Noronha, para quem “a alteração da taxa de juros remuneratórios pactuada em mútuo bancário depende da demonstração cabal de sua abusividade em relação à taxa média do mercado”229.

2.7.3 Garantias

Ao praticarem operações de mútuo, as instituições financeiras o fazem de maneira profissional. Visando garantir a integridade de seus ativos, tornam-se extremamente rigorosos na análise e viabilização de um crédito. Assim, a garantia se torna de

227 PAULIN, op. cit., 1.153 e 1.154. 228 PAULIN, op. cit., 1.155.

229 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. STJ. Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial nº

39.138/RS. Relator ministro João Otávio de Noronha. Data da Publicação DJe 19/08/2013.

Disponível em:

https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink=ATC&sSeq=30319978&sReg=2011011778 06&sData=20130819&sTipo=5&formato=PDF. Acesso em: 30 de out. de 2013.

relevância ímpar. De tal sorte que, quanto maior o montante a ser mutuado, mais rigorosas são as análises das garantias, que se tornam variáveis conforme o caso concreto; algumas instituições financeiras priorizam garantias mais robustas, enquanto outras preferem garantias mais líquidas230.

Ressalte-se, nesse contexto, que “na concessão de crédito original, se a instituição financeira não se julgar confortável com a garantia oferecida, pode simplesmente não aprovar a operação, sem com isto criar nenhum risco a seus ativos”231, muito embora o crédito possa ser concedido sem garantias ou com garantias meramente simbólicas.

A garantia pode ser pessoal ou real. Dentre as garantias pessoais tem-se o aval e a fiança, sendo esta a mais usual em contratos de mútuo bancário, até mesmo pela relativa simplicidade de sua constituição.

Em linhas gerais, e em reduzida síntese, essas são as considerações que se julgou pertinente apresentar aqui, mais para assinalá-las, pois que o assunto comportaria extenso estudo e, apesar de relevante, ele não seria abordável, exaustivamente, nesta ocasião.

2.7.4 Prazo

Se o prazo do mútuo bancário for firmado por tempo determinado, chegando este ao seu final, cabe ao mutuário, impositivamente, liquidar a obrigação anteriormente assumida. Na maioria das vezes, o contrato fixa a data do vencimento e os valores devidos. Caso o devedor não cumpra a obrigação, incorrerá em mora, sujeitando-se, ipso facto, às consequências de seu ato232. O devedor, anote-se, poderá liquidar suas obrigações antecipadamente, conforme dispõe o art. 52, § 2º do Código de Defesa do Consumidor. Aliás, esse artigo estabelece uma série de obrigações a

230 PAULIN, op. cit., 1.155 e 1.156. 231 Idem, ibidem, p. 1.157.

serem observadas pelo fornecedor, destinando-se inclusive ao fornecedor de mútuo bancário233.