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2. O MÚTUO BANCÁRIO

2.1 PRINCÍPIOS APLICADOS AOS CONTRATOS BANCÁRIOS

2.1.7 Princípio do dever de informar

O dever de informar, além de encontrar respaldo constitucional – art. 5º, XXXIII177 –, se arrima, no âmbito do CDC, nos artigos 6º, II178, 31179 e 37, caput180.

175 CUNHA, op. cit., p. 464.

176 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no AREsp 300550/SP – Relator ministro Raul Araújo, DJe

24/06/2013. Disponível em:

http://www.stj.jus.br/webstj/processo/Justica/detalhe.asp?numreg=201300457409&pv=010000000000&tp=51. Acesso em: 24 de out. de 2013.

177 “Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e

aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; [...].” BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. CASA CIVIL. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 25 de out. de 2013.

178 “Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: [...] II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos

produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; [...].” BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. CASA CIVIL. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Acesso em: 25 de out. de 2013.

179 “Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras,

Trata-se, segundo palavras de José Geraldo Brito Filomeno, do dever de prestar informações claras aos consumidores sobre as características “importantes de produtos e serviços, para que aquele possa adquirir produtos, ou contratar serviços, sabendo exatamente o que poderá esperar deles”181.

Tal dever se constitui em um dos pilares do direito do consumidor, competindo a todos – entidades privadas de defesa ou proteção do consumidor, órgãos públicos, empresas e o próprio Estado – velar por ele182.

Paulo Luiz Netto Lôbo, nesse contexto, afirma que

“Os efeitos do direito à informação não estão contidos, apenas, no âmbito da legislação infraconstitucional, pois as constituições mais recentes elevaram-no ao nível dos direitos fundamentais. Portanto, não diz respeito apenas à ordem privada dos sujeitos, mas irradia-se na consideração pública do campo indisponível da cidadania ativa, segundo a concepção contemporânea que não a vê apenas no exercício do direito oponível ao poder político, mas em face do poder econômico.”183

Lembre-se, demais, que o dever de informar, tanto como princípio ou como norma, garante o direito à informação enquanto “direito à prestação positiva oponível a todo aquele que fornece produtos e serviços no mercado de consumo”184, o que permite seu enquadramento como uma espécie do gênero direitos fundamentais185.

preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.” BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. CASA CIVIL. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Acesso em: 25 de out. de 2013.

180 “Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.” BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.

CASA CIVIL. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Acesso em: 25 de out. de 2013.

181 FILOMENO, op. cit., 2007, p. 146. 182 Idem, ibidem, p. 79.

183 LÔBO, Paulo Luiz Netto. A informação como direito fundamental do consumidor. In: Obrigações e contratos: contratos: princípios e limites. Organizadores Gustavo Tepedino e Luiz Edson Fachin. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. V. III. p. 596.

184 Idem, ibidem, p. 598. 185 Idem, ibidem, p. 598.

No que diz respeito aos contratos de mútuo bancário e demais operações de crédito, Bruno Miragem afirma que

“a natureza preventiva do direito do consumidor se apresenta pela exigência do cumprimento dos deveres de informação e esclarecimento, especialmente na fase pré-contratual da concessão do crédito, cumprindo os deveres de clareza e objetividade (esclarecimento), apontados no art. 31 do CDC, assim como prestação adequada das informações específicas exigidas nos contratos de concessão de crédito e financiamento previsto no art. 52 do CDC, que estabelece o dever de informar prévia e adequadamente ao consumidor sobre o preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; o montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; os acréscimos legalmente previstos; o número e a periodicidade das prestações; e a soma total a pagar, com e sem financiamento”186.

Miragem adverte, entretanto, para o fato de que a norma do artigo 52 do CDC, muito embora estabeleça que a informação deve ser prévia, não declara abertamente o momento exato em que se deve exigir o cumprimento do dever de informar, o que pode causar dificuldade para aferir se a exigência legal foi cumprida187.

No âmbito do STJ, a jurisprudência tem diretriz no sentido de que a informação, o dever de informar, é fundamental e se constitui em direito básico do consumidor; uma vez caracterizada a relação de consumo, nasce para o fornecedor o dever de informar plenamente o consumidor acerca do serviço prestado188.

186 MIRAGEM, Bruno. Mercado, fidúcia e banca. In: Direito do Consumidor: contratos de consumo.

Coordenadores Claudia Lima Marques e Bruno Miragem. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. V. 4. p. 648.

187 Idem, ibidem, p. 649.

188

“[...] 4. Dentre os princípios consagrados na Lei Consumerista, encontra-se a necessidade de transparência, ou seja, o dever de prestar informações adequadas, claras e precisas acerca do produto ou serviço fornecido (artigo 6º, inciso III, 20, 31, 35 e 54, §5º). Sobre o tema, lecionam Cláudia Lima Marques, Antonio Herman Benjamin e Bruno Miragem: ‘O direito à informação assegurado no art. 6º, III, corresponde ao dever de informar imposto pelo CDC nos arts. 12, 14, 18 e 20, nos arts. 30 e 31, nos arts. 46 e 54 ao fornecedor. Este dever de prestar informação não se restringe à fase pré-contratual, da publicidade, práticas comerciais ou oferta (art. 30, 31, 34, 35, 40 e 52), mas inclui o dever de informar através do contrato (arts. 46, 48, 52 e 54) e de informar durante o transcorrer da relação (a contrario, art. 51, I, IV, XIII, c/c art.6, III), especialmente no momento da cobrança da dívida’ (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, editora Revista dos Tribunais, 1ª edição, 2004, p.150). No caso dos autos, sendo incontroverso que o autor é correntista do banco réu, está caracterizada a relação de consumo e, por conseguinte, o dever do fornecedor de informar plenamente o consumidor acerca do serviço prestado. Ademais, a exibição incidental de documento, em nosso sistema jurídico, submete-se a procedimento específico (arts. 355-363 do CPC), que não enseja a fixação de multa cominatória, mas prevê solução adequada à questão probatória, com eventual admissão da veracidade dos fatos que, por meio do documento, a parte pretendia provar (art. 359). Segundo o disposto no artigo 358, incisos I e III do CPC, o magistrado não poderá admitir a recusa na exibição documental, pois a instituição financeira tem obrigação legal de exibir o contrato de abertura de crédito em virtude de ser documento comum às partes. Certamente, ilegítima