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O Caderno Processual Civil traz em seu texto princípios (também tidos como regramentos) próprios e fundamentais ao regime recursal, que servem de diretriz a outros ordenamentos. “Podemos averbar como princípios recursais o duplo grau de jurisdição, a taxatividade, a singularidade, a fungibilidade recursal, a voluntariedade, a dialeticidade, o non reformatio in pejus e a irrecorribilidade das interlocutórias em separado da decisão principal.” (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2018b, p. 892).

De importância ímpar, Bueno (2018, p. 55) descreve que o duplo grau de jurisdição assevera a possibilidade de revisão das decisões judiciais por outros magistrados, situados em nível hierárquico distinto do juiz prolator.

Desta feita, para serem processados, os recursos são submetidos a duas análises: dos requisitos de admissibilidade e de mérito.

Preliminarmente, realiza-se o exame de requisitos de admissibilidade, condicionando seu enfrentamento, sem influir no julgamento de mérito do recurso. Portanto, o recurso pode ser (não) conhecido quando feito o exame sobre a presença dos requisitos de admissibilidade (arts. 938, 997, §2º, III) (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2018b, p. 905).

Equiparam-se tais requisitos às condições da ação e dos pressupostos, porém, em âmbito recursal. “Intrínsecos são o cabimento, a legitimidade para recorrer, o interesse recursal e a inexistência de fato impeditivo ou extintivo ao poder de recorrer, enquanto extrínsecos a tempestividade, a regularidade formal e o preparo.” (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2018b, p. 906).

Didier Junior e Theodoro Junior (2016, p. 105) lecionam que o juízo de admissibilidade determina a aptidão de um procedimento ter o objeto litigioso examinado. Ainda, intrinsecamente à admissibilidade, tem-se o cabimento do recurso, que deve ser examinado sob dois aspectos: a recorribilidade da decisão recorrida (previsão legal); e o cabimento de recurso para impugnar a decisão (adequação).

Enunciado n. 464, FPPC: “(arts. 932 e 1.021; Lei 9.099/1995; Lei 10.259/2001; Lei 12.153/2009) A decisão unipessoal (monocrática) do relator em Turma Recursal é impugnável por agravo interno. (Grupo: Impacto nos Juizados e nos procedimentos especiais da legislação extravagante).”

Lado outro, deve-se sempre compreender que “há pretensão recursal quando a lei predispõe recurso para impugnação de decisão, atribuindo-lhe eficácia reformativa.”38

(PONTES DE MIRANDA, 2002, p. 1 apud OLIVEIRA JUNIOR, 2018b, p. 921). Portanto, as decisões passíveis de recurso estão determinadas pelam lei em um rol taxativo, o que se denomina como taxatividade (DIDIER JUNIOR; CUNHA, 2016, p. 208).

Tratando-se da situação processual ora em pauta, o cabimento recursal merece ser enfatizado, uma vez que o foco da questão discutida está no cabimento ou não do recurso de agravo de instrumento pelas Turmas Recursais no âmbito Federal ou Estadual. A razão se dá ante a postura normativa das Leis 10.259/2001 e 12.253/2009, que abrem margem a interpretações quanto à recorribilidade ou não da decisão interlocutória que indefere a concessão das tutelas provisórias nos Juizados Especiais Federais e Fazendários e, por corolário, a adequação do recurso (vide tópico 4.3.1 infra).

Assim, “no juízo de inadmissibilidade temos uma decisão terminativa do recurso, com forte carga declaratória da ocorrência de tal inadmissibilidade, reportando-se ao momento em que o recurso se apresentou como inadmissível (ex tunc).” (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2018b, p. 905)39.

Com efeito, somente o recurso admitido passa a ter o mérito julgado, “pelo que pode ser provido (acolhido) ou rejeitado (negado provimento)” (art. 932, IV e V, 995, 1.012, § 4º, 1.026, § 1º). Na análise de mérito do recurso verifica-se o fundamento da pretensão recursal, se existem razões para a anulação (error in procedendo) ou modificação (error in iudicando) da decisão impugnada. (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2018b, p. 905, 911).

4.1.1 Breves considerações sobre o recurso de agravo de instrumento

Trata-se de recurso cabível contra as decisões interlocutórias previstas no artigo 1.01540 do CPC e na legislação extravagante. “Somente são impugnadas por agravo de

38 Sobre o efeito substitutivo dos recursos: “Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso.” (BRASIL, 2015).

39 Contudo, Oliveira Junior et al (2018b, p. 905) salientam que “Em qualquer hipótese, o relator antes de considerar inadmissível o recurso deve permitir à parte a possibilidade de sua correção ou suprimento de eventual falta.” (art. 932, parágrafo único, CPC).

40 “Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias;

II - mérito do processo;

instrumento as decisões interlocutórias relacionadas no referido dispositivo.” (DIDIER JUNIOR; CUNHA, 2016, p. 206 e 208).

Adentrando-se ao tema trabalhado neste ensaio, em que se questiona a possibilidade de impugnação das decisões interlocutórias que versem sobre tutela provisória no âmbito dos Juizado Especiais Federais e da Fazenda Pública, adianta-se que as Leis em pesquisa não mencionam expressamente a denominação agravo de instrumento, apenas o recurso inominado, contudo, pela natureza de ambos, conclui-se que são o mesmo tipo recursal.41

Ante este enquadramento, é necessário inteirar-se as decisões arroladas pelo Codex que podem ser atacadas por meio de agravo de instrumento (art. 1.015, I, CPC):

Desde que a decisão interlocutória enfrente o tema da tutela provisória, independentemente da consequência, viável a interposição do recurso de agravo de instrumento. Sem a pretensão de exaurimento, podemos lembrar das decisões que: deferem o pedido de tutela provisória; rejeitem o pedido de tutela provisória; determinem medidas para efetivação da tutela provisória; modifiquem a tutela provisória antes concedida; revoguem a tutela provisória anteriormente deferida; determinem a conversão do rito antecedente de cautelar para antecipação de tutela ou vice-versa; [...] (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2018b, p. 1030).

Além disso, Roque et al (2016 apud OLIVEIRA JUNIOR et al., 2018b, p. 1027) ensinam que o Código desponta dois regimes preclusivos às decisões interlocutórias:

a) para aquelas que comportam agravo de instrumento, a parte interessada deve interpor imediatamente o recurso, sob pena de preclusão imediata; b) para as que não admitem o agravo, não haverá preclusão de imediato, mas a parte interessada deverá rediscutir a matéria, sob pena de preclusão, na apelação ou em suas contrarrazões à apelação (art. 1.009, §§ 1º e 2º).

O segundo caso remonta à denominada “preclusão elástica” (OLIVEIRA JUNIOR, 2011 apud OLIVEIRA JUNIOR et al., 2018b, p. 1029). Portanto, na hipótese de o órgão judicante concluir pelo não cabimento de impugnação da decisão que denega a tutela provisória no âmbito dos JEFs e JEFPs, o ato decisório não irá precluir imediatamente, podendo ser objeto de reforma no recurso inominado (apelação).

Finalmente, urge ressaltar que não há restrições de conteúdo ao agravo de instrumento previsto expressamente por outras leis, podendo ser manejado livremente (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2018b). Portanto, em que pese o Código Processual Cível arrolar as decisões passíveis de impugnação por agravo de instrumento, salienta-se que a o regramento dos Juizados Especiais, por prever expressamente o recurso inominado da decisão que dispõe

41 “O legislador não nomeou esse recurso, muito menos estabeleceu o procedimento a ser seguido. Em face da

semelhança com o agravo de instrumento do processo civil tradicional, comparados em sua essência e natureza, há quem defenda que são aplicáveis subsidiariamente as disposições que regem a matéria.” (BOCHENEK, 2010, p. 104).

sobre concessão de tutela provisória, se sobressai, impondo obediência ao disposto nos artigos 5º, da Lei n. 10.259/2001 e 4º, da Lei n. 12.153/2009.