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2.3 A FAZENDA PÚBLICA NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

2.3.3 O Juizado Especial Fazendário Estadual Cível

Esse Juizado foi implantado no âmbito dos Estados no ano de 2009 com a vigência da Lei n. 12.153/09, propiciando celeridade na efetivação de direitos dos particulares em face da Fazenda Pública, cabendo ao Tribunal de Justiça de cada Unidade Federativa organizá-los para que estivessem aptos a receber número considerável de ações (ROSSATO, 2012, p. 72).

Assim como os Juizados Especiais Federais, a introdução do procedimento sumaríssimo nos litígios contendo a Fazenda Pública Estadual, Distrital e Municipal acrescentou mudanças significativas não só no desafogamento do Judiciário, mas também na concretização de direitos pela via judicial:

Não se pode olvidar de que com o advento da Lei n. 12.153/2009, mais do que se verificava precedentemente, a procura pela jurisdição fazendária haverá de ser sensivelmente acrescida, à medida que o novo sistema dá azo à liberação do que se convencionou chamar de litigiosidade contida, porquanto ampliada não só a via de acesso aos tribunais, como também o escoamento muito mais fluente das demandas ajuizadas em virtude da tramitação sumária ancorada num procedimento mais “enxuto” (sumaríssimo), o qual atende basicamente aos critérios da oralidade e seus subprincípios. (...) estamos diante de um processo especialíssimo de origem e fundamento constitucional (FIGUEIRA JÚNIOR, 2017, p. 44).

20 Enunciado n. 91 do Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais: Os Juizados Especiais Federais são

incompetentes para julgar causas que demandem perícias complexas ou onerosas que não se enquadrem no conceito de exame técnico (art. 12 da lei n. 10.259/2001).

Portanto, mostra-se proveitoso investigar a posição de doutrinadores e aplicadores do direito sobre quem e o que deve ser parte/objeto no juízo especial da Fazenda Pública, uma vez que a competência é absoluta, mas ainda se discute sobre sua extensão e critérios de seleção das causas.

2.3.3.1 Competência absoluta do Juizado Fazendário

Os Juizados Fazendários são absolutamente competentes para processar, conciliar a julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos (art. 2º, Lei n. 12.153/09). Ainda, o inciso II, do artigo 5º desta lei, inclui neste rol as autarquias, fundações e empresas públicas a eles vinculadas.

Cabe a ressalva de que a Fazenda Pública só poderá ser litigante neste juízo quando possuir a condição de ré21, bem como que somente as ações de baixo valor econômico e de

menor complexidade poderão ser passíveis de julgamento por este juízo22, motivo que a Lei em

comento excluiu taxativamente determinados tipos de pleitos de sua competência (art. 2º, §1º, Lei n. 12.153/2009).

Com relação à classificação da competência como absoluta, urge o adendo feito quanto necessidade ou não de instalação desses Juizados para configurar a competência absoluta do juízo: a doutrina inclina-se na lógica expressa do artigo da lei, mencionando-se que a competência se torna absoluta quando houver a instalação de fato dos Juizados no respectivo foro (RODRIGUES, 2016, p. 308; CUNHA, 2019, p. 892). Souza (2010, p. 85) ainda destaca: “Caso não sejam instalados Juizados Especiais ou adjuntos na localidade (art. 14, parágrafo único), deverá ser competente o Juizado mais próximo dos definidos conforme as regras do art. 4º da LJE.”

Em contradição, a jurisprudência majoritária das Turmas Recursais de Santa Catarina se assentou na esteira de que, independentemente de o JEFP estar instalado na

21 “Art. 5º Podem ser partes no Juizado Especial da Fazenda Pública:

II – como réus, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios, bem como autarquias, fundações e empresas públicas a eles vinculadas.” (BRASIL, 2009).

22 “Art. 2º É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar, conciliar e julgar causas cíveis

de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos.” (BRASIL, 2009)

respectiva comarca de circunscrição, o juízo tem competência absoluta, haja vista determina-se a aplicação do rito processual especial, e não propriamente a tramitação no Juizado Especial.23

Ressalta-se que problemática deste estudo tem ocorrido com frequência na prática após este assentamento da jurisprudência no âmbito federal e estadual, em Santa Catarina, da mesma forma como demonstrado no tópico 2.3.2.1 supra.

Portanto, independente do momento processual ou grau hierárquico em que o processo se encontre, se a demanda judicial contemple os requisitos exigidos pela Lei do JEF ou do JEFP, e estiver erroneamente tramitando em qualquer outro juízo ou rito processual, deverá ser declarada a incompetência absoluta, declinando da competência ao Juizado em primeiro grau ou às Turmas Recursais (art. 64, §3º do CPC) - a depender do grau do último ato realizado -, quando não resultar na extinção do processo sem resolução do mérito.

No tocante ao critério de determinação da competência da causa, Cunha (2018, p. 778) e Figueira Júnior (2017, p. 88) afirmam, em congruência com a doutrina majoritária, que esta será excluída da competência do Juizado Estadual da Fazenda Pública quando for causa de natureza cognitiva complexa, ainda que o valor seja ínfero a 60 (sessenta) salários mínimos.24

Corroborando este posicionamento doutrinário, Theodoro Junior (2010, p. 6) elenca o pequeno valor da causa, definido no artigo 2º da Lei dos JEFPs, como condicionante geral da competência, pois em seu §1º houve exclusão rationae materiae de causas, entendendo-se, assim, que o rito deve ser empregado nas demandas menos complexas e de baixo valor econômico, cumulativamente.

23 “Sendo a competência absoluta, o rito procedimental a ser observado, mesmo na hipótese em que não tenha sido

instalada a unidade especial do Juizado, será o da Lei nº 12.153/2009, caso em que a competência recursal será da Turma de Recursos.” (SANTA CATARINA, 2019a).

24 Enunciado n. 11As causas de maior complexidade probatória, por imporem dificuldades para assegurar o

contraditório e a ampla defesa, afastam a competência do Juizado da Fazenda Pública.” (FONAJE, 2018). Enunciado n. 54 “A menor complexidade da causa para a fixação da competência é aferida pelo objeto da prova e não em face do direito material.” (FONAJE, 2018).

3 ATOS DECISÓRIOS E AS TUTELAS PROVISÓRIAS NO PROCESSO CIVIL

Ao traçar os atos que compõem e perfazem o processo civil, o Diploma Processual Cível, bem como legislações esparsas – aqui refere-se às Leis que disciplinam os Juizados Especiais – fez alusão às decisões interlocutórias e ao instituto das tutelas provisórias, integrando-as as tutelas antecipadas ou incidentais e as de urgência e de evidência, a serem concedidas ou não durante a tramitação do processo por meio das decisões interlocutórias em caráter liminar, a fim de efetivar ou resguardar os direitos dos litigantes.

Com efeito, a compreensão destes instrumentos processuais no processo civil, notadamente na legislação especial dos Juizados Especiais Federais e da Fazenda Pública, dentro do contexto em que objetiva do estudo vertente, deve ocorrer em conjunto, porquanto o magistrado/desembargador relator se manifesta sobre o pedido de deferimento da tutela de urgência antecipada por meio de decisão monocrática, que possui natureza de decisão interlocutória liminar.

Didier Junior, Braga e Oliveira (2015, p. 304) entendem que os atos decisórios - ou decisões lato sensu - englobam somente as sentenças e as decisões interlocutórias, pois os despachos não possuem conteúdo decisório. Ademais, afirma que tais pronunciamentos judiciais podem ser emitidos pelo juiz singular e por um órgão colegiado (nos tribunais ou turmas recursais).