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2.2 SISTEMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

2.2.2 Princípios (critérios) gerais dos Juizados Especiais

Os princípios introduzidos no ordenamento jurídico, sejam eles de ordem material ou processual, possuem função fundamental de orientar e sustentar todo o regramento de direito e, do mesmo modo, ou até de maneira mais acentuada, ocorre nos Juizados Especiais. Isto porque a Lei n. 9.099/95, a qual é aplicada subsidiária e supletivamente a todo o Sistema, estabelece critérios - os quais entende-se também como princípios próprios - de aplicação no procedimento sumariíssimo que, quando interligados, manifestam o ideal deste microssistema e são utilizados, antes de qualquer outra norma, como fonte própria de interpretação, diferenciando-se do processo tradicional.

Veja-se a disposição desta Lei: “Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.” (BRASIL, 1995) (grifou-se).

Contudo, é de extrema importância relembrar que existem princípios que são inerentes ao Direito Processual e aplicáveis a todo e qualquer processo judicial para que se garanta o objetivo maior da função jurídica do Estado-Juiz. Cita-se como exemplo, dentre outros, o devido processo legal, a isonomia, o contraditório e ampla defesa, a imparcialidade do juiz, o duplo grau de jurisdição, os quais

têm aplicação cogente aos Juizados Especiais, não apenas pela determinação constitucional, mas também pela imposição lógica do ordenamento jurídico. O que ocorre é que os princípios arrolados no art. 2º formam um filtro que, envolvendo o sistema, permitem a passagem do que é compatível com seus institutos, dentro de uma lógica de ponderação de valores. A estrutura dos Juizados, portanto, não é simplesmente preenchida pelas demais normas processuais, mas por elas integrada. A regra hermenêutica aplicável, nesse caso, não é apenas a especialidade, mas também a compatibilidade teleológica (NEGRÃO, 1997, p. 989; CÂMARA, p. 11 apud ROCHA, 2017, p. 28).

Deste modo, o conjunto de garantias do devido processo legal deve estar em concordância com princípios do microssistema, por melhores que sejam seus propósitos. Rossato (2012, p. 18) comenta que, “mesmo na ânsia de celeridade e simplicidade procedimental, deve-se respeitar o núcleo duro do due process of law, sem o que não se garante a Justiça.” O que se visa é sempre efetivar a tutela de direitos da melhor forma, independente do procedimento em prática.

2.2.2.1 Princípio do devido processo legal

Partindo-se do pressuposto que o direito à jurisdição e o direito ao processo são meios indispensáveis à realização da Justiça e, portanto, garantias individuais constitucionalmente reconhecidas, tem-se que o julgamento de conflitos só será alcançada de forma justa quando prestada a tutela jurisdicional dentro das normas processuais traçadas pelo Direito Processual Civil (THEODORO JÚNIOR, 2015, p. 98).

Assim, é através do princípio do devido processo legal que se permite a discussão sobre a afetação de bens (materiais e não materiais) de um indivíduo, servindo de garantia contra a face arbitrária do Estado (DUARTE; OLIVEIRA JUNIOR, 2012, p. 35).

Vale anotar que essa a garantia do devido processo legal, não exige somente a observância das da legislação para a tramitação das causas em juízo, devendo haver a observância da garantia do juiz natural (CF, art. 5º, XXXVII) e do juiz competente (CF, art. 5º, LIII), bem como da garantia de acesso à Justiça (CF, art. 5º, XXXV), da ampla defesa e contraditório (CF, art. 5º, LV) e, ainda, a de fundamentação de todas as decisões judiciais (art. 93, IX) (THEODORO JUNIOR, 2015, p. 98).

Ademais, Theodoro Júnior (2015, p. 98) menciona que “a Carta brasileira foi emendada para explicitar que a garantia do devido processo legal (processo justo) deve assegurar “a razoável duração do processo” e os meios que proporcionem “a celeridade de sua tramitação” (CF, art. 5º, inc. LXXVIII, acrescentado pela Emenda Constitucional nº 45, de 30.12.2004).”

Nesse ponto, tem-se que o devido processo legal exige que os processos tramitem dentro do regramento que lhe é aplicável, uma vez que “é na legislação infraconstitucional que se estabelece a sucessão dos atos procedimentais, os ônus, os direitos, as garantias, os deveres etc., que deverão ser observados pelos litigantes e pelo órgão público, a fim de que o efetivo devido processo não seja maculado.” (DUARTE; OLIVEIRA JUNIOR, 2012, p. 36).

Por fim, sem rodeios, Duarte e Oliveira Júnior (2012, p. 36) concluem que o princípio do devido processo legal impõe a aplicação de regramentos legais aos diversos

procedimentos, “[...] adequando-se aos apanágios do devido processo legal em sentido instrumental (contraditório, ampla defesa, juiz natural, motivação, publicidade etc.), bem como ao aspecto substancial do último (proporcionalidade/razoabilidade).”

2.2.2.2 Princípio da oralidade

No procedimento dos Juizados, díspar do sistema cível tradicional, os atos processuais serão, sempre que possível, praticados à luz do princípio da oralidade, prezando-se pelo uso da palavra não escrita, “faculdade essa que, ainda assim, pode ser dispensada pelas partes, quando lhes for conveniente, ou pelo juiz, quando julgar necessário e seguro. Em algumas situações pontuais, entretanto, a oralidade é imperativa, para permitir o funcionamento do procedimento especial.” (ROCHA, 2017, p. 29).

O objetivo deste princípio é facilitar a comunicação, inclusive sendo possibilitado às partes oferecerem a petição inicial oral na Secretaria dos Juizados Especiais, reduzindo-se a escrito (art. 14, §3º, Lei n. 9.099/95), bem como oferecer defesa ou embargos declaratórios oralmente em audiência, etc. (ROSSATO, 2012, p. 18).

Oliveira Junior (2011 apud DUARTE; OLIVEIRA JUNIOR, 2012, p. 90), em estudo aprofundando ao princípio da oralidade, chamou atenção as cinco características desse regramento, definidas como o “quinteto da oralidade”, que, pela lógica, também impõem observância no âmbito dos Juizados Especiais, quais sejam:

i) prevalência da palavra como forma de expressão combinada com o uso de meios escritos para preparação e de documentação; ii) imediação na relação entre o juiz e os sujeitos processuais; iii) permanência subjetiva do juiz na condução do processo; iv) concentração do procedimento; v) irrecorribilidade das decisões interlocutórias em separado da decisão principal.

Então, o “[...] processo verdadeiramente oral deve dar preferência à comunicação oral entre os sujeitos do processo, exercendo a escrita o papel de preparação dos debates e como documentação.” (DUARTE; OLIVEIRA JUNIOR, 2012, p. 90).

Pode-se constar que o princípio da oralidade é oriundo da Carta Maior de direitos, quando disciplina os direitos fundamentais, em seu artigo 5º: “LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.” Essa é uma previsão constitucional sobre o processo judicial que se materializou de forma exitosa nos Juizados Especiais.

À vista disso, depreende-se que a Lei n. 9.099/95, que inaugurou o Sistema, se consagra pioneira em encampar o diálogo entre os litigantes e ao meio probatório, efetivando o

objetivo de economia processual ao predominar-se a verbalização em face dos atos escritos em todo o procedimento cognitivo (ROCHA, 2017, p. 29; ROSSATO, 2012, p. 18).

2.2.2.3 Princípio da simplicidade e da informalidade

Pode-se afirmar que esses princípios estão interligados entre si, visto que possuem regramentos em comum nas leis, assim, se fazendo presentes nos mesmos atos processuais.

Em síntese, o princípio da simplicidade “significa a dispensa de formas rígidas dos atos processuais, não devendo o processo dar ensejo a incidentes processuais.” (SOUZA, 2010). Ainda, para Chimenti e Santos (2018, p. 53), “o processo tem de apresentar resultados, como de resto toda prestação de serviços públicos”. Esta afirmação destaca a importância dos Juizados Especiais Federais e da Fazenda Pública, pois, sendo órgãos competentes para conciliar e julgar determinadas causas cíveis de interesse dos entes públicos federados - os quais têm como finalidade maior efetivar os direitos sociais fundamentais à toda população, através da prestação de serviços de ordem pública -, se os litígios judicializados tramitarem de forma célere nestes juízos, eventuais obrigações de direitos, reconhecidos em desfavor da Fazenda Pública em face de outrem, também serão efetivados de forma célere.

Em complemento, Rocha (2017, p. 32) sustenta que o princípio da simplicidade seria “um corolário do princípio democrático, buscando aproximar a população e os jurisdicionados da atividade judicial”, facilitando, por exemplo, às pessoas que necessitam de tratamento medicamentoso/cirúrgico quando não obtém o fornecimento pela via administrativa - através do requerimento aos entes públicos - pois podem efetuar o requerimento judicialmente nos JEFs e JEFPs, evitando o perecimento do direito constitucional à saúde.

O critério da informalidade requer a realização dos atos processuais de forma mais ágil, de forma que o ato seja o instrumento para concretização do direito e não uma finalidade do processo (CHIMENTI; SANTOS, 2018, p. 55). 14

No entanto, cabe ressaltar que a informalidade preconiza a eliminação somente das formas não essenciais dos atos, que seriam as circunstâncias destes e não o conteúdo em si, sob pena de comprometer a validade do ato (ROCHA, 2017, p.33). O doutrinador ainda conclui

14 Tem-se como exemplo a intimação de testemunhas por telefone, constando nos autos a certificação: Enunciado n. 73: “A intimação telefônica, desde que realizada diretamente com a parte e devidamente certificada pelo servidor responsável, atende plenamente aos princípios constitucionais aplicáveis à comunicação dos atos processuais.” (FONAJEF, 2018).

que, “despido de formalidades, o ato se torna mais simples, econômico e efetivo”, razão de ser do Sistema dos Juizados.

2.2.2.4 Princípio da economia processual

A respeito da economia processual, reduz-se ao entendimento de que o julgador deve ser pragmático sempre que assim for exequível na condução do processo, de forma a evitar repetição desnecessária dos atos (CHIMENTI; SANTOS, 2018, p. 56), que acabam por obstar a celeridade prevista no rito sumaríssimo (ver item 2.2.2.5 infra).

Ainda, inclui-se como economia processual a regra de isenção às partes quanto ao pagamento de custas, taxas ou despesas da propositura da ação até o julgamento pelo juiz singular, com exceção da condenação de custas ao vencido ou honorários advocatícios na hipótese de litigância de má-fé, nos termos dos artigos. 54 e 55 da Lei n. 9.099/95 (CHIMENTI; SANTOS, 2018, p. 56).

2.2.2.5 Princípio da celeridade

A celeridade como princípio que alcança êxito de efetividade no rito dos Juizados Especiais em face do rito processual tradicional. Isto porque, o procedimento, por seu próprio termo, é sumaríssimo, possuindo dispositivos que proporcionam a agilização dos processos (SANTOS; CHIMENTI, 2018, p. 59).

Rossato (2012, p. 21) aperfeiçoa o conceito do princípio quando afirma que “essa é a lógica dos Juizados. O procedimento é condizente com a pequena complexidade das demandas. A própria informalidade e a simplicidade já conduzem, naturalmente, à celeridade.”