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2.3 A FAZENDA PÚBLICA NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

2.3.2 O Juizado Especial Federal Cível

A atuação na Fazenda Pública em juízo foi consideravelmente modificada no ano de 2001, quando editou-se a Lei n. 10.259/2001, a qual instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal, permitindo o processamento, a conciliação e o julgamento de causas com valoração de até 60 (sessenta) salários mínimos em que a União,

suas autarquias, fundações e empresas públicas federais forem interessadas na condição de rés e como autores, as pessoas naturais e as microempresas e empresas de pequeno porte.17

Sob olhar sociológico, Bochenek e Nascimento (2011, p. 8) creem que “A instalação dos juizados especiais federais contribuiu significativamente para a alteração de concepção das tarefas realizadas pela justiça federal.” Isso porque os JEFs abreviaram a distância que os fatores econômicos, sociais e culturais criaram entre pessoas menos favorecidas e o judiciário: “Elimina-se, assim, a pecha de que a justiça federal é elitista. Ao contrário, ela julga causas que interessam diretamente a todo o povo brasileiro e principalmente aquelas demandas de pessoas menos favorecidas.”

No mais, visto a relevante função do Juizado Especial Federal no Sistema Judiciário em âmbito Nacional e na sociedade, aliada às suas peculiaridades típicas do Sistema dos Juizados, tratar-se-á da competência jurisdicional absoluta - que ainda é pauta em debate pelos intérpretes da norma desde a vigência da Lei que determinou a implantação - para a compreensão com êxito do objeto deste estudo.

2.3.2.1 A competência absoluta do Juizado Federal

Os Juizados Especiais Federais são absolutamente competentes para julgar as ações de baixo valor econômico e de menor complexidade, razão pela qual o §1º do artigo 3º da Lei n. 10.259/01 exclui expressamente algumas causas deste juízo (CUNHA, 2018, p. 745).

Na exegese de Bochenek e Nascimento (2011, p. 14), o motivo de o legislador ter fixado como absoluta a competência dos Juizados Especiais se dá pelo procedimento especial empregado que não possui autorização constitucional nem infraconstitucional para ser substituído por outro. Ademais, a lei ao fazer previsão de um rito à determinadas ações, o considerou o mais adequado para tornar eficiente a prestação jurisdicional e priorizar o interesse de ordem pública, seja pela natureza da matéria ou da celeridade processual.

Em regra, a competência absoluta é fixada conforme a natureza material e funcional da ação (ALVIM, 1976, p. 35 apud CUNHA, 2019, p. 847). Assim, a Lei que institui os JEFs fixa a competência absoluta desse juízo em razão da atribuição de seus órgãos para julgamento

17 “Art. 6º Podem ser partes no Juizado Especial Federal Cível:

de determinadas causas (critério funcional)18 e, excepcionalmente, em razão do valor da causa,

por previsão expressa da Lei n. 10.253/2001:

Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas

de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.

[...]

§3º No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta. (BRASIL, 2001).

Nesse diapasão, é uniforme a interpretação doutrinária ao pontuar que a competência do juízo é absoluta diante da existência efetiva da vara do Juizado Especial da Fazenda Pública na seção judiciária, na literalidade do dispositivo legal, consignando-se que, caso contrário, serão julgados pela vara federal comum, aplicando-se o rito ordinário (MENDES, 2013; CUNHA, 2018, p. 699; RODRIGUES, 2016, p. 309).

Outrora, utilizando-se como parâmetro, a jurisprudência da Turma de Recursos de Santa Catarina do Tribunal Regional Federal da 4ª Região se manifesta de forma unânime quanto à aplicação do procedimento aplicado no Juizado Especial Federal por força da competência absoluta, não sendo mencionado a necessidade de instalação de fato do Juizado.19

Essas considerações jurisprudenciais sobre a obrigatoriedade de aplicação do rito especial dos Juizados Especiais (Federais e Fazendários) têm relevância ímpar para a conclusão da pesquisa em tela, pois é certo que a submissão da ação ao rito especial é incumbência do juízo que recebeu a petição inicial, e não da parte demandante, que deve apenas indicar o foro corretamente. Deste modo, o particular não poderá sofrer prejuízos por conta de erro procedimental do Judiciário, já que, nesses casos, a incompetência absoluta teria sua origem no equívoco de procedimento do processo, e não pela indicação errônea de juízo.

Quanto ao quesito de menor complexidade, a doutrina não possui entendimento padrão. Tem-se em vista que a Lei n. 10.259/01 não aludiu categoricamente a necessidade de as causas exigirem instrução mais simples, no entanto, Bochenek e Nascimento (2011, p. 14)

18 “A competência de juízo em relação aos Juizados Especiais está condicionada ao requisito da menor

complexidade, disposta na Constituição e definida em lei, primordialmente para as causas de reduzido valor econômico, ou seja, o critério valorativo é secundário para a verificação do critério funcional da competência de juízo” (BOCHENEK; NASCIMENTO, 2011, p. 27).

19 “ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO. VALOR DA CAUSA, INDIVIDUALIZADO, INFERIOR A 60

SALÁRIOS MÍNIMOS. COMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL CÍVEL. 1 - A competência dos Juizados Especiais Federais é absoluta e sua fixação tem como parâmetro o valor da causa, e não a sua complexidade (artigo 3º da Lei nº 10.259/2001); 2 - É impositiva a aplicação da norma legal que dispõe sobre a competência dos Juizados Especiais Federais e, consequentemente, o rito processual a ser observado na demanda; [...].” (SANTA CATARINA, 2018a).

aduzem que a interpretação conjunta da CF (art. 98, I c/c §1º) com o microssistema, a competência dos Juizados Federais é definida com base na menor complexidade da causa.

Na exegese de Cunha (2019, p. 847), em sintonia com entendimento firmado pelo Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais20, “mesmo que o valor seja inferior a 60

(sessenta) salários mínimos, a causa será excluída da competência do Juizado Especial Cível Federal quando houver complexidade, ou melhor, quando houver uma prova técnica mais complexa ou demorada.” Portanto, para o doutrinador, a produção de provas mais complexas expressaria contradição ao rito célere dos Juizados Especiais Federais.

Em corrente antagônica, parte da doutrina infere que, se a competência fosse fixada devido à complexidade da causa, somente as questões fáticas taxativamente definidas nos incisos do §1º do art. 3º, da Lei em exame, somadas ao valor dado à causa, é que seriam classificadas como maior complexidade e, portanto, qualquer outra matéria seria de competência dos Juizados Especiais Federais (SANTOS; CHIMENTI, 2018, p. 3; CÂMARA, 2008, p. 210 e 211 apud BOCHENEK; NASCIMENTO, 2011, p. 15).