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Características e estímulos influenciadores do consumo alimentar das crianças

4 COMPREENDENDO O COMPORTAMENTO DE CONSUMO ALIMENTAR

4.1 Características e estímulos influenciadores do consumo alimentar das crianças

Esta primeira parte contempla os resultados obtidos com as etapas 1 (Imagens que expressam a alimentação) e 3 (Construção de desenhos). Na Figura 3 podem ser visualizados alguns exemplos de figuras que foram disponibilizadas às crianças. O total das imagens pode ser visualizado no Anexo D.

Figura 3 – exemplos das imagens à disposição das crianças

Fonte: Revista Superinteressante (acervo pessoal).

O Quadro 6 apresenta o perfil das crianças participantes da pesquisa. Os sujeitos foram 10 crianças, sendo 8 meninos e duas meninas. As idades variaram de 9 a 12 anos. Das 10 crianças, quatro eram do 5º ano e 6 eram do 4ª ano.

Quadro 6 - Perfil dos participantes da pesquisa

Nome Idade Sexo Série

Aluno 1 12 F 5ª Aluno 2 9 F 4ª Aluno 3 10 M 5ª Aluno 4 9 M 4ª Aluno 5 10 M 4ª Aluno 6 9 M 4ª Aluno 7 9 M 4ª Aluno 8 10 M 5ª Aluno 9 11 M 5ª Aluno 10 11 M 4ª

Fonte: dados da pesquisa (2019).

O aluno 1 construiu seu desenho (Figura 4) a partir de colagem de duas figuras disponibilizadas pela pesquisadora. Uma delas referiu-se a um prato com alimentos in natura e minimamente processados (arroz, feijão, purê de batatas e saladas) e o outro foi um tipo de café gourmet. A menina mencionou que costuma comer esses alimentos diariamente: “na janta arroz e feijão; é assim, arroz, carne, saladas e feijão”. Estes alimentos, portanto, fazem parte do seu hábito alimentar. Para Ramos e Stein (2000), o hábito alimentar pode ser compreendido como um padrão de comportamento no qual alimentos são consumidos rotineiramente e repetidamente no cotidiano das pessoas, não necessariamente sendo seus alimentos preferidos. No caso da alimentação infantil, os hábitos são determinados pelas preferências das crianças, e estas se manifestam, em geral, por alimentos ricos em gordura e açúcar (VIANA; SANTOS; GUIMARÃES, 2008). Estas preferências se originam da socialização alimentar da criança e dependem, em grande parte, dos padrões de cultura alimentar que ela aprendeu (RAMOS; STEIN, 2000). A preferência pelos sabores doces e salgados, provavelmente inata, tende a declinar se a criança tiver menor contato e experiência com alimentos com essas características (VIANA; SANTOS; GUIMARÃES, 2008). Dessa forma, destaca-se o papel da família como primeiro responsável pela formação do comportamento alimentar da criança pela aprendizagem social da cultura alimentar (RAMOS; STEIN, 2008). As crianças em idade escolar também adquirem ou desenvolvem preferências alimentares por meio da observação de outras crianças (VIANA; SANTOS; GUIMARÃES, 2008).

Figura 4 - Desenho do aluno 1

Fonte: dados da pesquisa (2019).

Na etapa 1 (Imagens que expressam a alimentação), o aluno 1 escolheu duas figuras de pratos com alimentos in natura ou minimamente processados (arroz, feijão, saladas, carne e verduras), mencionando que geralmente costuma comer esses alimentos na janta e no almoço. Estas imagens podem ser visualizadas na Figura 5. De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014), os alimentos in natura são aqueles obtidos de plantas ou animais e que não sofrem processamento. Já os alimentos minimamente processados são alimentos in natura que sofreram alterações mínimas na indústria, tais como moagem, secagem e pasteurização. A alimentação da menina reflete o comportamento de repetição, “automático”, característico do hábito. Nas refeições maiores do dia, é possível perceber a presença de nutrientes essenciais para a saúde. No estudo de Silva (2014), o almoço teve representação significativa nos relatos de adolescentes acerca dos seus hábitos alimentares, sendo realizado de forma assídua mesmo entre aqueles que revelaram não realizar outras refeições, tais como o café da manhã e as jantas.

Figura 5 - Imagens escolhidas pelo aluno 1 (Etapa 1)

Fonte: dados da pesquisa (2019).

A alimentação equilibrada é indispensável ao crescimento e desenvolvimento das crianças (NOVAES; FRANCESCHINI; PRIORE, 2007). O Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014) estabelece que os alimentos in natura ou minimamente processados devem ser a base da alimentação das pessoas. A alimentação diz respeito à ingestão de nutrientes, aos alimentos que contém e fornecem os nutrientes, ao modo como os alimentos são combinados entre si e preparados, às características do modo de comer e às dimensões culturais e sociais das práticas alimentares. Todos esses aspectos influenciam a saúde (BRASIL, 2014). Novaes, Franceschini e Priore (2007) identificaram em um estudo realizado com escolares em Viçosa/MG, que hábitos alimentares foram semelhantes entre crianças eutróficas (com boa nutrição) e com sobrepeso, ou seja, grande parte dos alimentos consumidos era similar entre os dois grupos. No entanto, as crianças com sobrepeso apresentaram uma ingestão significativamente superior em relação àquelas com peso saudável.

Portanto, o estudo evidencia a importância da reeducação alimentar tanto para as crianças eutróficas quanto para as com sobrepeso, a fim de obter uma alimentação saudável e variada, além da importância de trabalhar o tamanho das porções de alimentos ingeridas pelas crianças. Ramos e Stein (2000) constataram que a preocupação dos pais está centrada na quantidade de alimentos ingeridos pelas crianças, e não no desenvolvimento de hábitos e atitudes convergentes a uma alimentação mais adequada do ponto de vista qualitativo.

O aluno 2 fez uma linha divisória em seu desenho (Figura 6) e apresentou, de um lado, alimentos que, em sua concepção, não são saudáveis, e, de outro, alimentos saudáveis. O desenho da menina foi, provavelmente, inspirado na Atividade 2 da presente pesquisa

(Identificação de imagens de alimentos saudáveis e não saudáveis). Segundo a explicação da menina: “as comidas que não são saudáveis eu botei: pipoca, picolé e bolo de aniversário, mas também depende se é um bolo de chocolate ou de cenoura, depende. Já das comidas saudáveis eu só botei uma uva e uma cenoura”. Ela utilizou-se das figuras para compor o seu desenho. Apesar de ter escolhido uma figura que representa amigos vendo filme e pipoca e uma figura envolvendo uma comemoração de aniversário, ela deu destaque aos alimentos presentes nas figuras, fazendo um círculo e apontando setas na direção da explicação da categoria dos alimentos. No entanto, na Etapa 1 da pesquisa (Imagens que expressam a alimentação), a menina também escolheu a figura dos meninos vendo filme comendo pipoca, como será explicado adiante.

A menina demonstrou compreender que, na medida em que um alimento tende a ser menos natural, ele faz menos bem à saúde. Porém, também compreende que alguns alimentos, mesmo sendo processados, podem ser menos nocivos à saúde, a exemplo do bolo de cenoura em comparação com o bolo de chocolate. A presença da cenoura torna o bolo mais saudável do que se fosse feito com o chocolate, que é industrializado. De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014), o tipo de processamento sofrido pelos alimentos interfere em seu sabor e qualidade nutricional. Nesse sentido, os alimentos podem ser classificados em quatro categorias: alimentos in natura ou minimamente processados; óleos, gorduras, sal e açúcar; alimentos processados e alimentos ultraprocessados.

O estudo de Barcelos, Rauber e Vitolo (2014) identificou que o consumo de produtos alimentícios processados e ultraprocessados representou 48,6% da energia diária consumida por crianças de baixa condição socioeconômica, sugerindo risco de desenvolvimento de obesidade e doenças associadas. Um estudo realizado pela Nestlé em parceria com o IBOPE Inteligência identificou que 44% das crianças paulistanas estão acima do peso e que 45% daquelas que têm de 10 a 12 anos são sedentárias (IBOPE INTELIGÊNCIA, 2016a). Outra pesquisa realizada pelo IBOPE Inteligência identificou a preferência de crianças por videogame a brincadeiras e práticas de esportes (IBOPE INTELIGÊNCIA, 2016b).

Figura 6 - Desenho do aluno 2

Fonte: dados da pesquisa (2019).

Na Etapa 1 (Imagens que expressam a alimentação), a menina escolheu seis figuras que representam a sua alimentação: um copo com água, três meninos vendo filme comendo pipoca, uma sala de aula, um prato com alimentos in natura e minimamente processados, personagens de filme e frutas, conforme Figura 7.

Figura 7 - Imagens escolhidas pelo aluno 2

Fonte: dados da pesquisa (2019).

De acordo com a explicação da menina, a imagem da sala de aula e do copo de água foi escolhida porque ela costuma beber muita água durante as aulas, “quase o tempo todo”. A imagem dos meninos comendo pipoca e a imagem dos personagens de filmes a lembra de que,

quando ela assiste a filmes ou desenhos animados, ela tem vontade de comer alguma coisa, “mais ou menos me lembra como cinema”. Estudos apontam que a permanência em frente à televisão influencia crianças e adolescentes a desenvolverem hábitos alimentares menos saudáveis e também reduz o tempo dedicado à atividade física, o que pode provocar o sobrepeso e a obesidade (ROSSI et al., 2010). Cabe ressaltar também o uso de outros aparelhos eletrônicos pelas crianças, tais como smartphones, tablets, Xbox e iPod. As crianças utilizam esses aparelhos para brincar com jogos, assistir vídeos, ouvir músicas, conversar com amigos e navegar em sites diferentes, dispensando grande parte do seu tempo a essas atividades (SUNDUS, 2018).

A imagem do prato de alimentos in natura e minimamente processados foi escolhida porque a menina costuma se alimentar de forma saudável no almoço. A imagem das frutas foi escolhida porque ela gosta desse alimento: “de vez em quando de tardezinha me dá vontade de ir comer frutas, ou de café da manhã quando está perto do almoço, eu acabo muito rápido com as frutas”. O estudo de Pelsmaeker, Schouteten e Gellynck (2013) identificou que nutrição e saúde são importantes motivos para a escolha de alimentos pelas crianças, porém o apelo sensorial é também importante na seleção de alimentos. No caso do aluno 2, além de importar- se com a saúde, também há o apelo sensorial do paladar no caso das frutas, a influência das telas no consumo alimentar, o afeto e o contexto social associado ao cinema. De forma semelhante, Viana, Santos e Guimarães (2008), identificaram que os principais fatores de comportamento e hábitos alimentares de crianças e adolescentes são as experiências com diversos alimentos e sabores, incentivadas por aspectos de ordem afetiva e social.

Entre as influências mais importantes das escolhas de crianças e adolescentes pode-se destacar o nível de satisfação com o corpo, o tempo dispendido em frente à televisão e a publicidade (VIANA; SANTOS; GUIMARÃES, 2008). Para Ramos e Stein (2000), as escolhas alimentares, a quantidade das porções e os intervalos entre as refeições são estabelecidos por grupos sociais. O ato de comer, portanto, engloba determinados contextos em que a alimentação é associada, como no caso do cinema, mencionado pelo aluno 2.

O aluno 3 desenhou uma lasanha e um milk-shake na parte superior da folha, conforme Figura 8. Em sua explicação, pôde-se perceber o afeto, o contexto social e o apelo sensorial presentes, quando ele menciona que gosta da lasanha que sua mãe faz e de tomar milk-shake quando sai com ela. Segundo o menino: “eu desenhei a lasanha e o milk-shake porque eu gosto muito de comer a lasanha que a minha mãe faz, e quando eu vou no centro passear com a minha mãe eu gosto de tomar milk-shake”.

Figura 8 - Desenho do aluno 3

Fonte: dados da pesquisa (2019).

Recentemente, alguns pesquisadores se concentraram nas emoções das crianças para fornecer informações além do gosto do produto e prever melhor o comportamento do consumidor (GALLO; SWANEY- STUEVE; CHAMBERS, 2017). Os sentimentos que são associados a determinados alimentos podem desempenhar um papel importante nas escolhas do consumidor (WALSH; KIVINIEMI, 2014). Assim, é mais provável que uma criança consuma alimentos reconfortantes para ela, pois estão associados a sentimentos positivos (WALSH; KIVINIEMI, 2014).

As figuras escolhidas pelo aluno 3 na Etapa 1 (Imagens que expressam a alimentação) foram uma propaganda de refrigerante (guaraná), um prato com alimentos in natura e minimamente processados e uma imagem que simboliza futebol com bonecos de lego, como pode ser observado na Figura 9. Conforme a explicação do menino, ele gosta muito de tomar refrigerante e costuma comer arroz, feijão e carne. Identifica-se a influência do apelo sensorial, principalmente no que se refere ao refrigerante. O consumo de refrigerante constitui em um fator de risco relevante associado ao sobrepeso e à obesidade em crianças (LOPES; PRADO; COLOMBO, 2010).

Além de serem desbalanceados nutricionalmente e terem calorias em excesso (BRASIL, 2014), os alimentos ultraprocessados, por terem a característica de serem “alimentos prontos”, são comumente consumidos isoladamente ou acompanhados de alimentos da mesma categoria (MONTEIRO; CASTRO, 2009). Sparrenberger et al. (2015), ao avaliar a contribuição de alimentos processados no consumo alimentar de crianças do Sul do Brasil, identificaram que esta é expressiva na alimentação infantil. A idade da criança mostrou-se como fator associado

mais importante para o consumo desses produtos, que pode ser explicado pelo fato de elas geralmente terem maior autonomia nas escolhas alimentares (SPARRENBERGER et al., 2015).

Giesta et al. (2019), ao verificar a associação entre fatores maternos e antropométricos e o consumo de alimentos ultraprocessados em crianças de 4 a 24 meses de idade, constataram que, dentre o total de 300 crianças analisadas, apenas 21% ainda não haviam recebido nenhum tipo de alimento ultraprocessado, sendo que 56,5% recebeu algum tipo desse alimento antes dos seis meses. O Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014) estabelece que alimentos ultraprocessados, como o refrigerante, são nutricionalmente desbalanceados e, por conta de sua formulação e apresentação, tendem a ser consumidos em excesso e a substituir alimentos in natura e minimamente processados. Os alimentos ultraprocessados são definidos como formulações industriais feitas inteiramente ou majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido, proteínas), derivadas de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou sintetizadas em laboratório (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e outros aditivos químicos, usados para tornar o produto sensorialmente atraente) (BRASIL, 2014).

Figura 9 - Imagens escolhidas pelo aluno 3

Fonte: dados da pesquisa (2019).

Semelhante ao relatado pelo aluno 2, o aluno 3 associa alimento às telas, mais especificamente, jogos: “e [eu escolhi] esse porque eu me lembro, quando eu tô olhando vídeo de manhã, que daí eu sempre tomo um iogurte”. As transmissões de jogos de futebol pelo Youtube e exibições de futebol em cinemas demonstram o quanto o futebol faz parte da cultura global, a qual está voltada para o entretenimento e o consumo (ROCCO JUNIOR, 2011).

O aluno 4 fez uma divisão da folha ao meio, desenhando, do lado esquerdo, alimentos considerados bons para ele e, do lado direito, alimentos considerados ruins (Figura 10). Semelhante ao aluno 2, o aluno 4 pareceu ter se inspirado também na Etapa 2 da presente pesquisa. No lado referente aos alimentos bons, ele desenhou uma maçã e uma porção de batata- frita com embalagem vermelha e letra M, fazendo menção à marca Mc Donalds. Percebe-se a influência de marcas no comportamento de consumo do menino. No lado “ruim”, o aluno desenhou um sorvete e um chocolate, com a palavra Matrix escrita. De acordo com a explicação do aluno 4: “eu botei a batata-frita no bom porque, tipo, ela não contém muito sal é uma batata; e a maçã no saudável, porque é doce e é uma maçã. Eu também botei o sorvete no ruim porque eu não sei por que, e o chocolate no ruim também porque é excesso de açúcar”. Este participante da pesquisa percebe a batata-frita não como um alimento processado, mas como saudável, por associar à batata inglesa natural, que faz bem à saúde. A orientação à saúde também está presente entre os fatores que influenciam o consumo alimentar do menino. Apesar de ter considerado o sorvete e o chocolate como “ruins”, o menino afirmou gostar de consumi- los.

Justifica-se, portanto, a influência do apelo sensorial do paladar no comportamento de consumo do menino. O paladar é o mais íntimo de todos os sentidos e também um dos sentidos mais complexos: nenhum outro requer o complemento da totalidade dos demais sentidos para cumprir sua função (MANZANO et al., 2012). Assim, a integração do gosto como significado produz experiências multissensoriais capazes de gerar as emoções mais ricas e completas (MANZANO et al., 2012).

O estudo de Silva (2014) identificou que, dentre os principais fatores interferentes à adesão a uma alimentação saudável por adolescentes, está a maior preferência pelo sabor dos alimentos nutricionalmente inadequados. Demais fatores identificados no estudo de Silva (2014) foram a influência de pares, condições econômicas desfavoráveis, facilidade de acesso a alimentos não saudáveis e disponibilidade de dinheiro.

Figura 10 - Desenho do aluno 4

Fonte: dados da pesquisa (2019).

Na Etapa 1 (Imagens que expressam a alimentação), o menino escolheu cinco imagens (Figura 11): duas imagens com pratos com alimentos in natura e minimamente processados, uma imagem de aparelho eletrônico (tablet), uma imagem de batatas-fritas e uma imagem que simboliza futebol com bonecos de lego, que foi escolhida também pelo aluno 3. Essas imagens podem ser visualizadas na Figura 12. De acordo com a explicação do menino, as imagens representam como ele costuma se alimentar para poder ter força para jogar futebol: “porque eu consigo comer no dia a dia, eu como elas pra depois jogar futebol, daí, é por isso que eu como, para ficar saudável e jogar futebol depois”. Pode-se compreender, então, a alimentação orientada à saúde, e, mais especificamente, com vistas a ter força para jogar futebol.

A prática regular de atividade física proporciona benefícios físicos e psicológicos em curto e longo prazo para a saúde, tais como a prevenção de doenças como obesidade, distúrbios do sono, osteoporose, doenças cardiovasculares e melhora da saúde mental (SILVA; COSTA JR., 2011). Em relação às crianças, os exercícios físicos desempenham papel fundamental sobre a sua condição física, psicológica e mental, sendo importante o suporte fornecido pela família como variável mantenedora da prática de exercícios físicos (SILVA; COSTA JR., 2011).

Entre as imagens, o menino escolheu o tablet, o que demonstra a influência também das telas no comportamento de consumo. De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil (NIC.BR / CETIC.BR, 2018), em 2018, 86% da população brasileira entre 9 e 17 anos era usuária de internet, o que equivale a 24,3 milhões de pessoas conectadas. Considerando os dispositivos utilizados para acessar a internet, desde 2014 o telefone celular tem sido o mais utilizado por crianças e adolescentes; o tablet apresentou menores proporções de uso em

comparação com os demais dispositivos investigados pela pesquisa, porém, entre seus usuários, a sua utilização é mais intensa entre as crianças mais novas (9 a 10 anos), o que pode estar associado ao maior aproveitamento do dispositivo para jogos, exibição de filmes e fotos e disponibilidade de modelos específicos para crianças (NIC.BR / CETIC.BR, 2018).

Kunsch (2014) alerta para o uso em excesso de dispositivos eletrônicos por crianças, que pode acarretar prejuízos em termos de atividades físicas, implicar no risco de desenvolvimento de transtornos alimentares, causar tédio, prejudicar o convívio social com outras crianças e o desenvolvimento da criatividade. Nesse sentido, as crianças devem ser orientadas ao tempo de uso dos aparelhos eletrônicos e não deixar de brincar livremente, pois, por meio do brincar e das relações de troca, podem expandir a sua capacidade criativa, aspecto de suma importância para seu o desenvolvimento (KUNSCH, 2014).

Figura 11 – Imagens escolhidas pelo aluno 4

Fonte: dados da pesquisa (2019).

Semelhante ao aluno 2 e ao aluno 4, o aluno 5 dividiu a folha do seu desenho ao meio, contemplando, no lado esquerdo, alimentos considerados bons (maçã, pão integral e banana), e, no lado direito, alimentos considerados ruins (batata-frita, refrigerante e chocolate), como pode ser visualizado na Figura 12. O aluno demonstra compreender as influências dos alimentos em sua saúde. Nas suas palavras: “eu fiz uma linha reta e dividi entre os alimentos bons e ruins, como Pepsi tá no ruim, e a maçã está no bom”. Compreende-se, dessa forma, a influência da orientação para saúde. O menino utilizou algumas das figuras disponibilizadas pela pesquisadora para compor o seu desenho. Segundo Harris (2008), muitos fatores afetam a

aceitação das crianças por alimentos saudáveis, tendo destaque aqueles que permitem a exposição precoce a alimentos culturalmente apropriados.

Figura 12 - Desenho do aluno 5

Fonte: dados da pesquisa (2019).

O aluno 5 escolheu quatro imagens na Etapa 1 (Imagens que expressam a alimentação): uma imagem de uma rua em meio a uma cidade, uma imagem de porção de batata-frita, a imagem escolhida anteriormente pelo aluno 3 e pelo aluno 4 acerca do futebol com os bonecos de lego, e uma imagem de marca de refrigerante de cola, conforme Figura 13.

Figura 13 – Imagens escolhidas pelo aluno 5

De acordo com a explicação do menino, ele gosta de comer quando está viajando de carro e quando está brincando. Ele também afirmou gostar muito de batata-frita e de refrigerante: “eu gosto muito de comer quanto eu tô no carro viajando, escolhi essa daqui porque eu gosto muito de batata frita, e esse porque eu gosto de comer enquanto eu tô brincando com meus brinquedos e esse porque eu gosto muito de guaraná”. Percebe-se, neste caso, a influência de fatores sociais (brincar e viajar com a família) e aspectos sensoriais (paladar) no comportamento de consumo do menino. As imagens escolhidas por ele representaram alimentos ultraprocessados. O estudo de Melo et al. (2019) identificou que os alimentos ultraprocessados estão fortemente inseridos no consumo alimentar de crianças em idade escolar e que a mídia exerce grande influência na escolha desses alimentos.

O aluno 6 dividiu a folha ao meio e desenhou, de um lado, um alimento (um tipo de salada) que representa uma pessoa forte (com o símbolo de um braço forte), e, de outro, um alimento (um pote de doce da marca Nutella) que representa uma pessoa acima do peso, que está com uma expressão triste. Nas palavras do menino: “eu tenho um lado que representa o bom e o ruim, tem uma Nutella que representa o ruim que é uma pessoa gorda, e daí a salada representa uma pessoa forte”. O menino demonstra compreender o efeito dos alimentos na sua saúde. O desenho do aluno 6 pode ser visualizado na Figura 14.

Figura 14 - Desenho do aluno 6

Fonte: dados da pesquisa (2019).

Na Etapa 1 (Imagens que expressam a alimentação), o aluno 6 escolheu quatro imagens: um prato com alimentos in natura e minimamente processados, um copo de água, a imagem escolhida anteriormente pelo aluno 3, pelo aluno 4 e pelo aluno 5 acerca do futebol com os