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4 COMPREENDENDO O COMPORTAMENTO DE CONSUMO ALIMENTAR

4.3 Papéis nas decisões de consumo alimentar infantil

Segundo Karsaklian (2000), para as compras relativamente complexas pode haver até cinco funções simplificadas dentro de uma decisão de compra: iniciador, influenciador, decisor, comprador e utilizador. O iniciador é aquele que tem a ideia. O influenciador é toda a pessoa que direta ou indiretamente influencia a decisão de compra. O decisor é quem avalia as informações e determina as diferentes modalidades de compra: marca, modelo, local, momento, entre outros. O comprador é quem realiza a transação comercial propriamente dita. O utilizador é aquele que utiliza o produto para obter o desempenho correspondente às suas funções. Em alguns casos todas essas funções são realizadas pela mesma pessoa.

Os hábitos alimentares podem ser influenciados por inúmeros fatores de origem sensorial, fisiológica, genética, temperamental, social (familiares, pares), culturais, ambientais e de aprendizagem (GIBSON et al., 2012). De acordo com os dados obtidos com a pesquisa, as crianças desenvolveram seus hábitos alimentares por meio do que aprenderam com seus pais, em sua maioria, e outros familiares. O aluno 5 exclamou: “meus pais, a baixo do laço!”; conforme o aluno 1: “meu irmão, meu pai e minha mãe, tem que comer esse aqui [alimentos in natura e minimamente processados]”. De um modo geral, os pais parecem ser os maiores influenciadores das decisões de consumo alimentar das crianças.

Emley, Taylor e Musher-Eizenman (2017) examinaram a relação entre alimentação consciente dos pais e comportamentos alimentares da criança e IMC. Os autores identificaram que a alimentação consciente dos pais foi associada a comportamentos alimentares saudáveis das crianças. Especificamente, a presença mental e emocional dos pais durante a alimentação das crianças previa maior ingestão de frutas e vegetais e menor consumo de açúcar entre as crianças. Alguns mecanismos podem explicar esses relacionamentos, tais como a maior probabilidade de remover eletrônicos e outros estímulos que causam distrações durante as refeições, uma maior atenção dos pais à saciedade dos filhos e a uma alimentação orientada para a saúde (EMLEY; TAYLOR; MUSHER-EIZENMAN, 2017).

Ao serem questionadas a respeito de quais alimentos as crianças costumam comer durante o dia-a-dia, foram citados: salgadinhos; arroz e feijão; pão com mel; pão com geleia; pão com nata; frutas; legumes; omelete; leite com Nescau e café. Nas Etapas 1 e 2 da pesquisa foram identificados alimentos que habitualmente as crianças consomem, tais como frutas; alimentos in natura e minimamente processados comumente consumidos no almoço, tais como arroz, feijão, carne, legumes e saladas; e alimentos ultraprocessados (batata-frita, hambúrguer, sorvete, refrigerante, entre outros). O aluno 8 afirmou: “eu como pão em praticamente todas as refeições, só no almoço que não”. O aluno 9 falou, com afeto, a respeito do omelete feito pelo pai dele: “o omelete que meu pai faz é muito bom, ele bota queijo de botar na massa, pega salame e começa a misturar”. O aluno 9 afirmou que os seus alimentos preferidos são pizza, hambúrguer, lasanha e açaí, mencionando, para este último, a marca Degusta. O aluno 8 mencionou queijo, estrogonofe, pizza, sorvete e lasanha e o aluno 3 mencionou que os alimentos de que mais gosta são lasanha, massa, estrogonofe e milk-shake. O aluno 7 afirmou gostar muito de alimentos que fazem bem à saúde: “esse daqui são as comidas que eu gosto, no almoço eu gosto muito de comer arroz e feijão e é bem saudável, brócolis eu adoro comer na sopa[...] e também a cenoura, batata”.

As crianças gostam, portanto, tanto de alimentos in natura e minimamente processados como de alimentos ultraprocessados. As crianças afirmam que costumam escolher o que comem, isto é, possuem autonomia na tomada de decisão do seu consumo alimentar. Porém, têm algumas refeições escolhidas pelos pais e algumas restrições da escola.

De acordo com o aluno 2: “No café eu escolho o que eu quero comer, no almoço [...]minha mãe faz a comida daí eu escolho o que tem de comida lá na mesa e no jantar eu escolho também o que eu quero comer. E no lanche eu escolho também”. Considerando as restrições da escola, eles afirmam não poderem comer salgadinhos e doces, isto é, alimentos ultraprocessados. Apesar disso, o aluno 2 comenta trazer alimentos não permitidos: “é meio que eu trago algumas coisas não muito saudáveis, tipo, eu trago wafer, de vez em quando eu também trago um chocolatinho”. O aluno 3 comentou: “refrigerante, essas coisas, só compramos no RU [restaurante da universidade/escola]”.

O estudo de Pelsmaeker, Schouteten e Gellynck (2013) identificou que nutrição e saúde são importantes motivos para a escolha de alimentos pelas crianças, porém o apelo sensorial é também importante na seleção de alimentos. Os alimentos ultraprocessados, devido ao seu sabor realçado, ainda têm grande preferência pelas crianças. Somado a isso, tem importante influência o afeto relacionado a esses alimentos, pois geralmente são consumidos em momentos de lazer e confraternização com familiares e/ou amigos. A associação afetiva com alimentos

diz respeito ao elo entre a representação mental de um comportamento (ingestão de um alimento específico) e um estado afetivo (satisfação, repulsa) (WALSH; KIVINIEMI, 2014).

Ao examinar como associações afetivas positivas ou negativas manipuladas experimentalmente com um comportamento em saúde influenciam a prática comportamental subsequente, Walsh e Kiviniemi (2014) descobriram uma relação causal entre associações afetivas criadas por laboratório (ou alteradas) e escolha comportamental. Nesse sentido, uma sugestão importante seria criar contextos de afeto com alimentos saudáveis dentro do núcleo da família, principalmente considerando a influência dos pais no comportamento de consumo das crianças.

As crianças costumam tanto trazer lanches de casa para a escola como também alguns poucos alunos mencionaram comprar na cantina. Elas compreendem que os alimentos que consomem no dia a dia fazem bem e também mal para a saúde. Considerando aqueles que fazem mal à saúde, elas afirmam consumir mesmo assim devido a serem “gostosos”. O aluno 2 afirma que às vezes come mesmo sem sentir fome, apenas “porque é gostoso”. Este achado corrobora com o estudo de Chan et al. (2016), que identificaram que adolescentes chineses compreendem o que significa um alimento ser saudável ou não, porém consomem, mesmo assim, alimentos ultraprocessados devido ao seu sabor mais forte e realçado em relação aos alimentos naturais.

As crianças afirmam ficar com mais ou menos energia conforme o alimento consumido. O aluno 2, por exemplo, afirmou que nas férias comia mais alimentos ultraprocessados e ficava com menos energia. O aluno 5 afirmou: “nas férias eu não saia do sofá”. O aluno 9 mencionou: “hambúrguer é quando deixa cansado e estrogonofe me deixa com energia”.

As crianças diferem em suas opiniões sobre vegetais, mas a maioria não gosta muito desse tipo de alimento. Alguns vegetais mencionados pelas crianças como de bom sabor foram o brócolis e o tomate. Questionadas a respeito de que se os vegetais tivessem uma textura diferente, maior crocância, por exemplo, algumas crianças afirmaram que experimentariam vegetais diferentes, e o aluno 7 afirmou que gosta do brócolis justamente pela sua crocância. Eles afirmaram também que experimentariam se tivesse um sabor diferente. O aluno 7 afirmou, na Etapa 3, que adora comer brócolis na sopa de legumes e também gosta muito de cenoura e batata. O aluno 2 afirmou que não costuma comer vegetais, apenas em sopas (cenoura e batata).

Algumas das crianças afirmam ter vontade de comer quando têm algumas emoções, como tristeza, tédio e felicidade, bem como fazer uso das telas e da comida simultaneamente. Conforme o aluno 2: “quando eu tô com muito tédio eu quero ir lá, ligar a TV e comer alguma coisa junto”. O aluno 10, quando tem tédio, solicita à mãe para ver um filme na TV e come junto um picolé. Outros alimentos mencionados consumidos junto às telas foram pipoca e

nuggets. Os três meninos da quinta série afirmaram não ter vontade de comer por conta de emoções.

Considerando alimentos que as crianças não costumam comer nem experimentar, elas afirmam serem barreiras aspectos sensoriais, como paladar, cheiro e visão. Segundo Lindstrom (2012) uma marca precisa transformar-se numa experiência sensorial e, mais do que qualquer outra pessoa, as crianças parecem se vincular com maior profundidade a marcas sensoriais de verdade, que envolvam som, toque, cheiro e sensação. Destaca-se que os sentidos de uma criança são aproximadamente 200% mais potentes do que os de um adulto.

No que diz respeito a influências de propagandas de alimentos no consumo alimentar, as crianças afirmam que depende o tipo de exposição. Exposições de mercado ou propagandas de ofertas de mercado na televisão não costumam chamar a atenção. Porém imagens em redes sociais e alguns anúncios de rádio foram citados pelas crianças, como a propaganda da marca Sabor da Serra. Considerando ter brinquedos juntos aos alimentos ou embalagens com super- heróis e outros personagens, as opiniões diferem. Alguns têm vontade de comprar devido ao brinde, sendo mencionado o brinde do Homem Aranha no Mc Donalds e brindes no Cereal Matinal Sucrilhos (Batman x Superman). O aluno 8 comentou: “se tivesse o Dragon Mania dentro do fandangos eu ia comprar todos os fandangos”.

No que diz respeito a ter vontade de comer os mesmos lanches que os colegas ou amigos estão comendo no momento, as crianças afiram que depende o tipo de alimento. Segundo o aluno 2: “se alguém tem, tipo, um sanduíche com tomate, salada e essas coisas, daí não dá vontade de comer, mas se tipo alguém tem marshmallow daí sim dá vontade de comer”.

Em uma concepção geral, considerando os papéis desempenhados no consumo, a criança desempenha o papel de iniciador quando tem a ideia de consumo do alimento, tem como maiores influenciadores os seus pais e também as restrições da escola, exerce o papel de decisor quando escolhe o que vai comer nas suas refeições ou quando realiza compras na cantina da escola ou outro estabelecimento, exerce o papel de comprador quando realiza a transação comercial nas compras e é o utilizador em todas as suas decisões de consumo alimentar.

A Figura 40 apresenta, em síntese, as relações que se observaram entre os alimentos consumidos pelas crianças, os hábitos das crianças e os pensamentos e sentimentos associados. Os alimentos naturais e os alimentos ultraprocessados são apreciados pelas crianças, mas estão associados a contextos diferentes. Enquanto os alimentos naturais aparecem relacionados a objetivos como ter saúde, manter o peso, ter forças para jogar futebol e está associado ao bem- estar pós-consumo, os alimentos ultraprocessados emergem em contextos sociais de lazer,

comemorações, e estão associados a momentos de tédio e/ou que as crianças estão utilizando aparelhos eletrônicos, seja sendo vídeos ou assistindo a filmes.

Após o consumo dos alimentos ultraprocessados, as crianças tendem a ter mais preguiça, sentir-se com menos energia. Uma oportunidade que emerge seria a construção de novos hábitos nas famílias, pois as crianças aprendem principalmente com as orientações e hábitos dos pais. Da mesma forma, as crianças, quando aprendem novos hábitos, ensinam aos pais e promovem mudanças nas famílias. Nesse sentido, construir novos hábitos de consumo alimentar e mesmo de atividades físicas, para que novas associações de afeto com alimentos sejam feitas pelas crianças com os alimentos in natura e minimamente processados e aos contextos sociais associados.

Alimentos saudáveis podem fazer parte de bons momentos experimentados pelas crianças e assim boas memórias podem ser construídas, as quais irão auxiliá-las na busca interna de informações quando elas tomarem futuras decisões de consumo alimentar. Da mesma forma, é necessário tornar claro às crianças que o modo de preparo dos alimentos pode tornar um alimento saudável, como a batata inglesa em alimento prejudicial à saúde, como a batata-frita e colocar os alimentos ultraprocessados em uma posição de consumo eventual para todas as pessoas da família.

Fonte: elaboração da pesquisadora.

Este capítulo apresentou os resultados obtidos com a pesquisa. Em síntese, identificaram-se os principais influenciadores do consumo alimentar infantil, hábitos e preferências das crianças, a compreensão das crianças a respeito da salubridade dos alimentos e os papéis no consumo alimentar infantil. O próximo tópico apresenta as considerações finais da pesquisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A má nutrição é uma preocupação em nível mundial, que ameaça o desenvolvimento de crianças, adolescentes, economias e nações (UNICEF, 2019a). O número de crianças e adolescentes (de cinco a 19 anos) obesos em todo o mundo aumentou dez vezes nas últimas quatro décadas. Caso as tendências atuais continuem, haverá mais crianças e adolescentes com obesidade do que com desnutrição moderada e grave até 2022 (IMPERIAL COLLEGE LONDON; OMS BRASIL, 2017).

Para enfrentar o problema da obesidade infantil torna-se necessário influenciar o indivíduo e o seu comportamento, bem como olhar para respostas sistêmicas envolvendo a indústria de alimentos, a alimentação proposta nas escolas, a publicidade infantil e o acesso à informação (UNICEF, 2019). Nesse sentido, a temática de estudo do consumo alimentar infantil está diretamente relacionada à promoção da saúde e do desenvolvimento humano. Por outro lado, as crianças também representam um mercado primário, futuro e de influência (McNEAL, 2000), sendo importante conhecer o comportamento de consumo dessas crianças.

Os hábitos alimentares podem ser influenciados por inúmeros fatores de origem sensorial, fisiológica, genética, temperamental, social (familiares, pares), culturais, ambientais e de aprendizagem (GIBSON et al., 2012). Este estudo teve como objetivo compreender quais os fatores que influenciam o comportamento de consumo alimentar de crianças de 8 a 12 anos do município de Ijuí/RS. Para atingir esse objetivo, este estudo utilizou-se de uma adaptação de uma ferramenta de pesquisa pouco utilizada nos estudos sobre consumo alimentar infantil, denominada ZMET (Zaltman Metaphor Elicitation Technique), e que busca evocar metáforas que representam os pensamentos e os sentimentos dos consumidores (KRAFT; NIQUE, 2002). Definiram-se três etapas para a realização da ferramenta: 1) Imagens que expressam a alimentação, na qual foram escolhidas figuras pelas crianças que representassem os seus hábitos alimentares; 2) Identificação de imagens de alimentos saudáveis e não saudáveis, que solicitou às crianças a escolha de figuras que representassem alimentos saudáveis e não saudáveis na concepção das crianças; 3) Construção de desenhos, em que foram feitos desenhos pelas crianças, que representassem os hábitos alimentares e a atividades realizadas nos grupos, e 4) Questões no grupo, conversa com as crianças, no grupo, buscando verificar nuances do comportamento de consumo infantil e papeis no consumo. Os resultados foram apresentados em três capítulos: Características e estímulos influenciadores do consumo alimentar das crianças, Consumo saudável e não saudável e Papéis nas decisões de consumo alimentar infantil.

A primeira parte, Características e estímulos influenciadores do consumo alimentar das crianças, contempla os resultados obtidos com as etapas 1 (Imagens que expressam a alimentação) e 3 (Construção de desenhos). Dê um modo geral, a partir dos dados da pesquisa, observa-se que as crianças são influenciadas em sua alimentação por fatores sensoriais, principalmente o paladar, por preocupações com a saúde (seja ela pensada de uma forma geral ou mais especificamente, em alguns casos, para ser jogador de futebol, por parte de alguns meninos), por influências familiares, influência de telas (aparelhos eletrônicos), pelo afeto com os alimentos e com algumas marcas específicas de alimentos ultraprocessados e contextos sociais associadas aos alimentos. As crianças demonstram preferência tanto por alimentos in natura e minimamente processados, consumidos geralmente no almoço e para alguns, também nas jantas, como por alimentos ultraprocessados, como hambúrgueres, sorvetes e batatas-fritas.

Na segunda parte, Consumo saudável e não saudável, foram trazidos os resultados referentes à Etapa 2 da pesquisa (Identificação de imagens de alimentos saudáveis e não saudáveis). Identificou-se que oito das 10 crianças participantes da pesquisa apresentam compreensão a respeito do que seja uma alimentação saudável e uma alimentação não saudável, os componentes de alimentos não saudáveis (gordura, açúcar, sal em excesso) bem como dos efeitos dos alimentos em sua saúde, como aumento de colesterol e obesidade. Apenas duas crianças tiveram dificuldade na identificação de alimentos que causam malefícios ao corpo humano.

A terceira parte, Papéis nas decisões de consumo alimentar infantil, diz respeito aos resultados obtidos com a etapa 4 (Questões no grupo). Nesta parte abordou-se que as crianças consomem no seu dia a dia, tanto alimentos in natura e minimamente processados, como também processados e ultraprocessados. As crianças desenvolveram seus hábitos alimentares por meio do que aprenderam com seus pais, em sua maioria, e outros familiares. As crianças mencionaram que costumam escolher o que comem, isto é, possuem autonomia na tomada de decisão do seu consumo alimentar. Porém, têm algumas refeições escolhidas pelos pais e algumas restrições da escola.

As crianças costumam trazer lanches de casa para a escola como também alguns poucos alunos mencionaram comprar na cantina. Elas compreendem que os alimentos que consomem no dia a dia fazem bem e também mal para a saúde. Considerando aqueles que fazem mal à saúde, elas afirmam consumir mesmo assim devido a serem “gostosos”. As crianças afirmam ter energia ou cansaço após as refeições a depender do tipo de alimento consumido. Os alimentos in natura e minimamente processados os dão energia enquanto que os alimentos

ultraprocessados os deixam mais cansados ou preguiçosos, principalmente no período de férias escolares, em que as crianças relataram consumir mais desse tipo de alimento.

As crianças diferem em suas opiniões sobre vegetais, mas a maioria não gosta muito desse tipo de alimento. Alguns vegetais mencionados pelas crianças como de bom sabor foram o brócolis e o tomate. Questionadas a respeito de que se os vegetais tivessem uma textura diferente, maior crocância, por exemplo, algumas crianças afirmaram que experimentariam vegetais diferentes. Algumas crianças afirmaram gostar muito de sopa de legumes e esse prato inclusive apareceu nos desenhos. Considerando alimentos que as crianças não costumam comer nem experimentar, elas afirmam serem barreiras aspectos sensoriais, como o paladar, o cheiro e a visão.

Algumas das crianças afirmam ter vontade de comer quando têm algumas emoções, como tristeza, tédio e felicidade, bem como fazer uso das telas e da comida simultaneamente. Alimentos citados pelas crianças que costumam comer junto às telas foram: picolé, pipoca e nuggets de frango. Considerando a influência da publicidade no consumo alimentar das crianças, elas afirmaram que exposições de produtos no mercado ou propagandas de ofertas de mercado na televisão não costumam chamar a atenção delas. Porém, elas citaram imagens em redes sociais e alguns anúncios de rádio que despertaram a vontade de consumir aqueles produtos, que, na ocasião, eram alimentos ultraprocessados (sorvete e pizza).

Considerando vir brinquedos como brindes juntos aos alimentos ou embalagens com super-heróis e outros personagens, as opiniões diferem. Alguns têm vontade de comprar devido ao brinde, sendo mencionado o brinde do Homem Aranha no Mc Donalds e brindes no Cereal Matinal Sucrilhos (Batman x Superman). Outras marcas lembradas pelas crianças ao longo da pesquisa foram: Sabor da Serra Pizzaria, Degusta Açaí e Senhor Frederico, relativas a estabelecimentos do município de Ijuí. No que diz respeito a ter vontade de comer os mesmos lanches que os colegas ou amigos estão comendo no momento, as crianças afiram que depende o tipo de alimento, tendo maior vontade quando se trata de alimentos ultraprocessados.

De um modo geral, foi possível perceber vários nuances acerca do comportamento de consumo alimentar das crianças. Destaca-se como principais influenciadores deste comportamento: a orientação para a saúde, provavelmente aprendida com os pais e reforçada pelas mídias constantemente; o apelo sensorial, em especial o paladar, mas também a visão e o olfato, que impedem muitas vezes de novos alimentos serem experimentados pelas crianças; os pais, com suas orientações, restrições e exemplos; o afeto, principalmente relacionado às refeições em família ou com amigos; as telas, que parecem fazer uma combinação “perfeita” para as crianças dissociarem-se do tédio ou outras emoções. e algumas marcas de alimentos

e/ou restaurantes; e a maioria das crianças compreende o que significa uma alimentação saudável e não saudável e seus efeitos em sua saúde, bem como conhece os componentes que, em excesso, tornam os alimentos não saudáveis.

No que diz respeito aos papéis desempenhados no consumo, a criança desempenha o papel de iniciador quando tem a ideia de consumo do alimento, tem como maiores influenciadores os seus pais e também as restrições da escola, exerce o papel de decisor quando escolhe o que vai comer nas suas refeições ou quando realiza compras na cantina da escola ou outro estabelecimento, exerce o papel de comprador quando realiza a transação comercial nas compras e é o utilizador em todas as suas decisões de consumo alimentar.