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CARACTERÍSTICAS IMUNOLÓGICAS DAS DOENÇAS AUTOIMUNES

No documento Hematologia e Imunologia Básica (páginas 174-178)

TÓPICO 2 – HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

2.1 CARACTERÍSTICAS IMUNOLÓGICAS DAS DOENÇAS AUTOIMUNES

uma predominância maior em mulheres (COSTA; SILVA; JUNIOR; PINHEIRO, 2019). No Quadro 5, apresentamos alguns tipos de doenças autoimunes, relacionando o sistema biológico afetado e os efeitos principais.

QUADRO 5 – DOENÇAS AUTOIMUNES

Sistema Biológico afetado Doença Efeitos principais

Tireoide Tireoide de Hashimoto Destruição e mau

funcionamento da tireoide

Tireoide Doença de Grave Estimulação e funcionamento

excessivo da tireoide Ilhotas de Langerhans

(pâncreas) Diabetes mellitus

dependente da insulina Destruição das células β (células produtoras de insulina) Glândula adrenal Doença de Addison Insuficiência renal

Células vermelhas

(hemácias) Anemia hemolítica

autoimune Anemia

Plaquetas Trombocitopenia

autoimune Sangramento anormal

Sistema nervoso central Esclerose múltipla Paralisia progressiva

Junção neuromuscular Miastenia grave Fraqueza muscular progressiva

Sinóvia Artrite reumatoide Destruição progressiva

Os tipos de respostas imunes em doenças autoimunes não são diferentes das respostas imunes montadas para combater os micro-organismos. Durante uma resposta autoimune o sistema imunológico também produz células efetoras e moléculas que atacam partes do nosso organismo. Dentro dessas células efetoras podemos incluir células TCD4+ e TCD8+ (WOOD, 2013).

As doenças autoimunes apresentam diversas características gerais que são importantes para a definição de seus mecanismos implícitos:

• As doenças autoimunes podem ser sistêmicas (envolve vários órgãos) ou órgão-específicos, dependendo da distribuição dos autoantígenos que são

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reconhecidos; como ocorre no caso do lúpus eritematoso sistêmico, que é uma doença que pode afetar vários locais do corpo. Ao contrário da diabetes do Tipo 1 que afeta apenas as células do pâncreas.

• Vários são os mecanismos efetores responsáveis pela lesão do tecido em diferentes doenças autoimunes. Esses mecanismos incluem a formação de complexos imunológicos (antígeno-anticorpos), autoanticorpos pré-existentes circulantes e linfócitos T autorreativos. Abordaremos no decorrer desse tópico sobre cada mecanismo.

• As doenças autoimunes tendem a ser crônicas, progressivas e de autoperpetuação (torna-se contínuo). As razões para essa autoperpetuação podem ser devido: (1) aos autoantígenos que disparam essas reações são persistentes e, uma vez que a resposta imunológica se inicia, muitos mecanismos amplificadores que são ativados perpetuam essa resposta; (2) uma resposta iniciada contra um autoantígeno que lesiona tecidos pode resultar na liberação e alteração de outros antígenos teciduais, na ativação de linfócitos específicos para esses outros antígenos e na exacerbação da doença (ABBAS, 2015).

Fatores genéticos e ambientais podem contribuir para o desenvolvimento de doenças autoimunes. Por ter componentes genéticos elas tendem a ser mais comuns entre indivíduos de uma família, logo se um membro da família tem uma doença autoimune, existe uma probabilidade de outro membro da família ter a mesma doença. Uma resposta autoimune também pode ser iniciada por um evento ambiental e causar um dano tecidual muitos anos antes da pessoa começar a desenvolver os sintomas clínicos. Os principais tipos de fatores ambientais associados às doenças autoimunes são: agentes infecciosos, drogas, toxinas e poluentes (WOOD, 2013).

Afinal, acadêmico, como ocorre uma doença autoimune? Podemos dizer que a doença autoimune ocorre quando há uma falha dos mecanismos normais de tolerância imunológica que resultam em reações contra as células e tecidos do próprio organismo. Podemos definir tolerância imunológica quando o organismo não deve reagir contra antígenos do próprio indivíduo (não responsividade a antígenos próprios – autotolerância), definimos também que quando um antígeno induz tolerância é chamado de tolerógeno (ABBAS, 2015).

A tolerância central ocorre na maturação dos linfócitos no qual o encontro com o antígeno pode levar à morte celular ou à substituição de um receptor de antígeno autorreativo por outro que não apresente esta condição. Isso ocorre nos órgãos geradores (por exemplo: timo). Esses órgãos contêm autoantígenos e antígenos internos. A tolerância periférica desencadeia-se quando linfócitos maduros reconhecem autoantígenos e morrem por apoptose ou quando se tornam incapazes de serem ativados pela reexposição àquele antígeno, como podemos observar na Figura 11 e 12 (ABBAS, 2015).

A autotolerância necessita que o sistema imune esteja apto para diferenciar linfócitos autorreativos de não autorreativos. O sistema imune utiliza marcadores de “próprio” e “estranho” para identificar linfócitos T autorreativos, porém

UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

FIGURA 11 – MECANISMOS DA TOLERÂNCIA CENTRAL E PERIFÉRICA

FONTE: Abbas (2015, p. 729)

FIGURA 12 – MECANISMO DE TOLERÂNCIA PERIFÉRICA DAS CÉLULAS T

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

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A autoimunidade resulta da combinação de algumas das três anormalidades imunológicas principais (Figura 13):

Tolerância ou regulação defeituosas – a falha dos mecanismos de autotolerância em células T ou B leva ao desequilíbrio entre ativação e controle de linfócitos.

É a causa subjacente de todas as doenças autoimunes (Figura 13); a perda da autotolerância pode ocorrer quando linfócitos autorreativos não foram deletados ou inativados, durante ou após a sua maturação.

Apresentação anormal de autoantígenos – essas anormalidades podem incluir expressão aumentada e persistência de autoantígenos que são normalmente degradados ou alterações estruturais nesses antígenos, resultantes de modificações enzimáticas ou de estresse ou lesão celular; isso resulta em apresentações de epítopos antigênicos que normalmente não estão presentes.

Assim, o sistema imune não pode ser tolerante a esses epítopos, desenvolvendo autorrespostas.

Inflamação ou resposta imunológica inata inicial – conforme já abordado, a resposta imunológica inata é um forte estímulo para a ativação subsequente de linfócitos e para a geração de respostas imunológicas adaptativas. Infecções ou danos às células podem suscitar reações imunológicas inatas locais com inflamação. Essas reações podem contribuir para o desenvolvimento de doença autoimune, talvez pela ativação de APCs, que se sobrepõem aos mecanismos regulatórios, resultando em ativação excessiva de células T (ABBAS, 2015).

FIGURA 13 – ANORMALIDADES IMUNOLÓGICAS QUE LEVAM À AUTOIMUNIDADE

FONTE: A autora (2019)

UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

Os tratamentos atuais das doenças autoimunes têm como objetivo reduzir a ativação imune e as consequências prejudiciais da reação autoimune. Os agentes farmacológicos incluem aqueles que bloqueiam a inflamação, tais como anticorpos contra citocinas e integrinas, e aqueles que bloqueiam a ativação de linfócitos ou os destroem. Um futuro objetivo da terapia é inibir as respostas de linfócitos específicos para antígenos próprios e induzir a tolerância dessas células (ABBAS, 2015).

3 HIPERSENSIBILIDADES: MECANISMOS E CLASSIFICAÇÕES

O termo hipersensibilidade surgiu da definição clínica de imunidade como uma sensibilidade. O conceito de sensibilidade baseia-se na observação de que um indivíduo que tenha sido exposto a um antígeno exibe uma reação detectável, ou torna-se sensível a encontros subsequentes com esse antígeno (memória imunológica) (ABBAS, 2015).

Em situações normais as respostas imunes eliminam os agentes infecciosos sem provocar graves lesões aos tecidos do hospedeiro. Porém, essas respostas são, algumas vezes, controladas de maneira inadequada, inapropriadamente direcionadas aos tecidos do hospedeiro ou desencadeadas por micro-organismos comensais ou antígenos ambientais, os quais geralmente são inofensivos (ABBAS, 2015). Por exemplo, embora os anticorpos possam oferecer proteção contra algumas doenças, há situações em que a produção excessiva de anticorpos contra antígenos inofensivos acaba resultando em patologias. Esse fenômeno é conhecido como hipersensibilidade.

Existem quatro tipos de hipersensibilidades: a hipersensibilidade do Tipo I é a mais comum e também é conhecida como alergia; a hipersensibilidade do Tipo II é causada por anticorpos citotóxicos contra componentes do tecido normal; a hipersensibilidade do Tipo III é causada pela deposição de complexos antígenos-anticorpos em vasos sanguíneos de vários tecidos; e a hipersensibilidade do Tipo IV é uma resposta imunológica tardia e não envolve anticorpos, mas sim células T (WOOD, 2013). Em seguida, abordaremos, de maneira detalhada, cada um desses tipos de hipersensibilidade.

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