Caracterização da atividade produtiva de caprinocultura de leite no município de Monteiro (PB)

Devido à fácil adaptabilidade dos ovinos e caprinos às mais diversas características botânicas e edafo-climáticas, a ovinocaprinocultura tornou-se uma atividade secular, explorada mundialmente. Em poucos países, porém, a atividade apresenta expressão econômica, sendo desenvolvida, predominantemente, de forma extensiva e com baixos níveis tecnológicos (BANCO DO BRASIL, 2006).

O Brasil desfruta de potencialidades edafo-climáticas semelhantes às dos países líderes na produção econômica da atividade (Nova Zelândia e Austrália), mas dados de 2004 estimam que o Brasil detém somente 3,3% do rebanho mundial (BANCO DO BRASIL, 2006).

A partir da década de 1990, autoridades governamentais, técnicos e produtores intensificaram o debate e as pesquisas de desenvolvimento da cadeia produtiva da ovinocaprinocultura, concluindo-se pela sua viabilidade econômica, se for administrada com profissionalismo, elevação do padrão tecnológico e integração agroindustrial. (BANCO DO BRASIL, 2006).

A importância estratégica da ovinocaprinocultura para o desenvolvimento rural é evidenciada pela insuficiente oferta para atender à demanda de carne e de leite. Estima-se que o Brasil produz 7,9 milhões de litros de leite de cabra por ano, equivalente a 50% da demanda anual, levando o país a importar uma parcela de leite de cabra e seus derivados para consumo interno. A região Nordeste é responsável por 45,4% e o Sudeste por 54,6% da produção nacional. Nesta última região constata-se maior organização da cadeia produtiva, processamento industrial e a garantia de comercialização do leite e de seus derivados, assegurando maior competitividade do setor. O leite de cabra e seus derivados vêm ampliando a conquista do mercado no Brasil. Os produtos lácteos caprinos mais consumidos são leite

(integral, pasteurizado, em pó, esterilizado e UHT), iogurtes, bebidas lácteas e queijos finos. Essas informações revelam o potencial da atividade produtiva para dinamização de economias locais (BANCO DO BRASIL, 2006).

Apesar das adversidades climáticas ameaçarem o desenvolvimento da ovinocaprinocultura no Nordeste brasileiro, particularmente na zona semi-árida, devido afetarem negativamente a produção de forragens e, em conseqüência, o desempenho produtivo dos rebanhos, as tecnologias disponíveis e as perspectivas mercadológicas favoráveis tendem a estimular o fortalecimento da cadeia produtiva na região. Surgem, portanto, oportunidades para os ovinocaprinocultores alcançarem níveis dignos de sobrevivência, por meio da exploração da atividade com eficiência econômica (qualidade dos produtos, escalas de produção e regularidade da oferta). (BANCO DO BRASIL, 2006).

A região Nordeste brasileira concentra 90% do rebanho de caprinos (de leite e de corte), o que reflete a capacidade de adaptação dos animais ao clima, à vegetação e ao solo deste espaço geográfico. A criação de caprinos tem sido para a região, historicamente, uma atividade geradora de trabalho e renda, especialmente na zona semi-árida. O perfil socioeconômico do Nordeste também tem se revelado compatível com a ovinocaprinocultura, devido à necessidade dos baixos investimentos para explorar a atividade. A maioria dos rebanhos nordestinos é de pequeno porte, criados em regime de agropecuária familiar. A cabra identifica-se com a rusticidade do clima e da vegetação sertaneja, desempenhando um papel social importante para a sobrevivência das populações locais de baixa renda (BANCO DO BRASIL, 2006).

A figura 6 (3) apresenta as inter-relações desejáveis entre os principais elos da cadeia produtiva de caprinocultura de leite, abrangendo a indústria de insumos, a produção pecuária, o beneficiamento e o sistema de distribuição, no atacado e no varejo. O entendimento das relações entre os diversos elos da cadeia requer uma visão sistêmica de todo o processo,

envolvendo a organização da cadeia produtiva e de distribuição, as interações entre os agentes, a visão de mercado, o foco nas exigências do consumidor, os ambientes institucional e organizacional, todos direta ou indiretamente interferindo no desempenho da cadeia de valor. A idéia central é que todos os agentes se tornam co-responsáveis pelo produto final, que deve alcançar o consumidor com preço competitivo e qualidade superior. Sabe-se que a cadeia produtiva da caprinocultura brasileira apresenta uma série de dificuldades para manter- se competitiva, porém pesquisas têm sido desenvolvidas com o intuito de identificar e propor soluções para superar as fragilidades (BANCO DO BRASIL, 2006).

Figura 6 (3): Cadeia de valor da caprinocultura de leite Fonte: Banco do Brasil, 2006.

Particularmente no Estado da Paraíba, a ovinocaprinocultura é considerada hoje uma atividade econômica estratégica para o desenvolvimento sustentável do Cariri paraibano, em especial para o desenvolvimento rural da agropecuária familiar. Esta atividade destaca-se

como um dos eixos de desenvolvimento do Pacto Novo Cariri, uma estratégia articulada pelo Sebrae, a partir de 2001, em conjunto com as prefeituras, o governo do Estado e outras instituições. O Pacto Novo Cariri é um compromisso informal da sociedade civil, iniciativa privada e poder público, para promover o desenvolvimento sustentável da região do Cariri paraibano, por meio da formação de parcerias e da gestão compartilhada de atividades, num modelo em que cada parceiro mantém sua identidade institucional e programática, ao mesmo tempo em que direciona pessoas e recursos em prol de objetivos comuns (CGEE, 2004).

O programa de incentivo ao desenvolvimento da ovinocaprinocultura iniciou-se por meio de parcerias entre a Prefeitura Municipal de Monteiro, a AOCOP – Associação dos Ovinocaprinocultores do Cariri Ocidental Paraibano, a Secretaria de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba, o Banco do Nordeste do Brasil e o Sebrae, com recursos do Procariri – Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Cariri. Com a finalidade de viabilizar a implementação do programa, a Prefeitura Municipal de Monteiro criou uma autarquia municipal, o Cendov – Centro de Desenvolvimento Integrado da Ovinocaprinocultura, cuja missão é formular planos, programas e projetos para a consolidação da ovinocaprinocultura, visando a sustentabilidade e o desenvolvimento econômico da região (MDA/SDT, 2005?).

A atividade produtiva de caprinocultura está contemplada no Pacto Novo Cariri, com o objetivo de estruturar empresarialmente as cadeias produtivas da carne, do leite e de pele de caprinos (CGEE, 2004).

Em seu estágio de desenvolvimento inicial, no ano de 2000, a caprinocultura leiteira não tinha expressão econômica na região do Cariri paraibano, que é composto por 31 municípios. Não havia produção de leite de cabra em escala comercial, os produtores não tinham organização social representativa constituída (associação ou cooperativa), bem como não existia unidade de beneficiamento de leite em funcionamento. Funcionários do Sebrae, do

Banco do Brasil, do Cendov e da Aocop relatam que, em 2001, para testar os equipamentos da Usina de Beneficiamento de Leite (UBL) de Monteiro (PB) foi preciso utilizar leite bovino, pois a quantidade de cabra disponível era insignificante. No início, foi pouco expressiva a adesão de produtores, poucos acreditavam na possibilidade de sucesso da atividade produtiva, de forma que somente oito caprinocultores iniciaram a produção de leite de cabra.

Com o advento da Estratégia Negocial DRS do Banco do Brasil, em dezembro/2003, a agência de Monteiro (PB) percebeu a oportunidade de contribuir para a consolidação de parcerias capazes de estimular o desenvolvimento sustentável do Cariri paraibano. Assim, no início de 2004, em consonância com as diretrizes do Pacto Novo Cariri, as entidades parceiras escolheram, por consenso, a caprinocultura de leite como a primeira atividade produtiva a ser apoiada pela Estratégia DRS naquele município.

4 Metodologia

A metodologia para a realização do presente trabalho se baseia em COOPER; SCHINDLER (2003), LAKATOS; MARCONI (2005) e GIL (1991).