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Critérios de seleção de indicadores para avaliação da sustentabilidade

DIMENSÕES COMPONENTES OBJETIVOS Sustentabilidade Social criação de postos de trabalho que

2.5 Critérios de seleção de indicadores para avaliação da sustentabilidade

Esta seção apresenta os critérios de seleção de indicadores propostos por Bossel (1999), que se fundamentam na teoria de sistemas.

2.5.1 Desenvolvimento sustentável e a coevolução dos sistemas

humano e natural

Numa visão sistêmica de desenvolvimento sustentável, distinguem-se seis subsistemas que constituem a sociedade ou dos quais ela precisa para sobreviver, a saber (BOSSEL, 1999):

a) desenvolvimento individual: direitos humanos e ao trabalho, eqüidade, autonomia, saúde, integração social e participação, papel da espécie e do gênero, padrão de vida, qualificação, educação, planejamento familiar, lazer etc. Esse subsistema deve ter o potencial individual para implementar ações qualificadas pela geração de possibilidades de desenvolvimento individual (tradição, cultura, condições econômicas e sociopolíticas). b) sistema social: população, composição étnica, distribuição de renda, estrutura de classes sociais, organização social, segurança, serviços médicos e previdenciários etc. O subsistema deve possuir potencial social, ou seja, habilidade de lidar construtivamente com processos sociais e potencializar suas forças (coesão social, competência, eficiência, relações de confiança, honestidade etc.) em benefício do sistema total.

c) governo: administração, finanças públicas, democracia, resolução de conflitos, política de direitos humanos, sistema legal, política econômica, tecnológica e internacional etc. A esse subsistema corresponde o potencial organizacional, que é manifestado pelo know-

É considerado de vital importância para o uso efetivo de recursos humanos e naturais, em benefício do sistema total.

d) infra-estrutura: cidades, transportes e distribuição, sistema de abastecimento (energia, água, alimentos, mercadorias e serviços), disposição do lixo, serviços de saúde, comunicação e mídia, educação, ciência, pesquisa e desenvolvimento. O potencial de infra-estrutura é a espinha dorsal da atividade econômica e social, representando o estoque de estruturas construídas (cidades, estradas, suprimento de água, energia, escolas e universidades etc.)

e) sistema econômico: produção e consumo, capital, comércio e relações de troca, trabalho e emprego, renda, mercado, comércio inter-regional. Corresponde ao potencial de produção que proporciona os meios de toda atividade econômica, incluindo o suprimento de produção, distribuição e marketing.

f) meio ambiente e recursos naturais: atmosfera e hidrosfera, ecossistemas, espécies, depleção de recursos não renováveis, regeneração de recursos renováveis, absorção de lixo, de resíduos, reciclagem de material, poluição, degradação, capacidade de carga do planeta. Esse subsistema detém o potencial natural representado pelo suprimento de recursos renováveis e não renováveis, de energia e de biossistemas, incluindo a capacidade absorção de resíduos e de regeneração.

Estes seis subsistemas, correspondentes a cada um dos potenciais vitais, precisam ser mantidos sustentavelmente e contribuir para o desenvolvimento do sistema total. Para que o sistema total seja viável, cada um desses subsistemas essenciais deve ser viável, quer dizer, a viabilidade do sistema total depende do funcionamento apropriado dos subsistemas. A difícil tarefa é encontrar indicadores que forneçam informações sobre a contribuição de cada subsistema para a viabilidade do sistema total (BOSSEL, 1999).

Com o objetivo de sintetizar o número de indicadores em um conjunto gerenciável, podem-se agregar os seis subsistemas em três, correspondentes a três categorias de capital, que são representados esquematicamente na figura 3 (2) (BOSSEL, 1999):

Sistema humano: sistema social, desenvolvimento individual e governo. É o capital humano.

Sistema de suporte: infra-estrutura e sistema econômico. É o capital estrutural. Sistema natural: recursos e meio ambiente. É o capital natural.

Figura 3 (2): Representação esquemática de sistemas Fonte: BOSSEL (1999).

Baseada na obra de H. E. Daly, Toward a Steady-State Economy, publicada em 1973, Meadows (1998) sugere a utilização do diagrama denominado “triângulo ou pirâmide de Daly” para orientar a seleção de indicadores de desenvolvimento sustentável. O triângulo de Daly ilustra, em forma piramidal, as inter-relações entre diferentes tipos de capital: o natural

(meios básicos), na base da pirâmide; o capital humano, o de infra-estrutura (suporte) e o social (meios e fins intermediários) na parte intermediária; e por, fim, o bem estar da sociedade (fins últimos), no topo da pirâmide. O esquema de Daly é uma apresentação ilustrativa e que envolve os seis subsistemas propostos por Bossel (1999). De modo diferente, a terminologia empregada subdivide o sistema humano em dois tipos de capital: o humano e o social.

2.5.2 O emprego da teoria de sistemas para identificar aspectos

vitais de desenvolvimento sustentável e indicadores

relevantes

Na evolução de sistemas complexos – biológicos, ecológicos, sociais, políticos, tecnológicos – dois princípios organizativos se estabelecem para assegurar a viabilidade dos subsistemas e do sistema total: hierarquia e “subsidiariedade”. Organização hierárquica se refere a uma seqüência de subsistemas e correspondentes responsabilidades no âmbito do sistema total, em que cada subsistema tem determinado nível de autonomia, sendo assim responsável pelo desempenho de tarefas que contribuem para a viabilidade do sistema total. “Subsidiariedade” significa que cada subsistema detém a capacidade, a responsabilidade e os instrumentos necessários para manter-se em equilíbrio. Ocorrendo situações atípicas, fora do controle do subsistema, então o suprasistema comparece para auxiliá-lo (BOSSEL, 1999).

No mundo real não há sistema que sobreviva isoladamente, pois todos os sistemas dependem de outros (sistemas ou subsistemas) que contribuem para a viabilidade do sistema total. Portanto, o desenvolvimento sustentável somente será possível se todo esse conjunto de sistemas forem viáveis. Esse raciocínio remete à necessidade de adotar uma visão sistêmica, holística, na busca por indicadores de sustentabilidade. Adotada a visão sistêmica, presentes os princípios da organização hierárquica e da “subsidiariedade”, deve-se identificar os

subsistemas essenciais para o funcionamento do sistema total e suas respectivas variáveis (indicadores) que possam fornecer informações cruciais sobre a viabilidade de cada subsistema (BOSSEL, 1999).

Diz-se que um sistema é viável se ele for saudável, capaz de sobreviver e desenvolver- se em seu ambiente. A viabilidade de um sistema está estreitamente relacionada com o próprio sistema, com o meio ambiente e suas respectivas propriedades. Como o sistema interage adaptando-se ao seu ambiente, num permanente processo de coevolução, tem-se a expectativa de que as propriedades do meio ambiente se reflitam nas propriedades do sistema. Viabilidade implica sustentabilidade e vice-versa. Por exemplo: a forma de um peixe e o seu jeito de movimentar-se refletem as leis da dinâmica do ambiente aquático; o sistema legal de uma sociedade reflete o ambiente social no qual ela se desenvolve (BOSSEL, 1999).

A escolha de indicadores representativos do sistema consiste em identificar os principais estados e taxas de mudança capazes de fornecer informações relevantes sobre a viabilidade do sistema. No contexto do desenvolvimento sustentável, são particularmente importantes aqueles indicadores que revelam possibilidades de ameaças iminentes (BOSSEL, 1999).

2.5.3 Orientadores de viabilidade, indicadores e desenvolvimento