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sustentável

2.6 Responsabilidade socioambiental empresarial

Em um estudo sobre a sustentabilidade no mundo empresarial e a criação de valor em mercados emergentes, afirma-se que “ter sustentabilidade significa assegurar o sucesso do

negócio a longo prazo e, ao mesmo tempo, contribuir para o desenvolvimento econômico e social da comunidade, um meio ambiente saudável e uma sociedade estável.”

(SUSTAINABILITY LTD.; IFC; INSTITUTO ETHOS, 2003, p. 7). Esta declaração reforça a compreensão de que a sustentabilidade abrange três amplos componentes – econômicos, sociais e ambientais –, que, em outras palavras, são descritos como os lucros, as pessoas e o planeta. A necessidade de as empresas incorporarem essas três grandes dimensões na gestão de seus negócios é sumarizada no conceito da “triple bottom line”. Além disso, devem-se considerar também outros importantes elementos no caminho em busca da sustentabilidade: a responsabilidade (“accountability”), a transparência e o envolvimento com os “stakeholders” (SUSTAINABILITY LTD.; IFC; INSTITUTO ETHOS, 2003).

O termo “triple bottom line enfoca não somente o valor econômico adicionado pelas

companhias, mas também os valores sociais e ambientais que elas adicionam e destroem”.

(ELKINGTON, 1997 apud NELSON; ZOLLINGER; SINGH, 2001, p. 6). Em sentido restrito, “triple bottom line” é empregado como um modelo de referência para medir e comunicar o desempenho corporativo com base em critérios econômicos, sociais e ambientais. Em sentido amplo, o termo é utilizado para capturar todo o conjunto de valores, questões e processos que devem ser tratados pelas empresas, a fim de gerar valores econômicos, sociais e ambientais, minimizando os resultados negativos de suas atividades. Isto requer transparência sobre o propósito da empresa, a qual deve levar em consideração os interesses de todos os stakeholders (acionistas, clientes, empregados, parceiros, governos, comunidade, meio ambiente) (NELSON; ZOLLINGER; SINGH, 2001).

Nesse sentido, eles argumentam que a maneira pela qual as empresas gerenciam a agenda “triple bottom line” é determinante tanto para fortalecer quanto para fragilizar aspectos essenciais à sua sobrevivência tais como: reputação, valor de marca, competitividade, inovação, produtividade, eficiência, perfil de risco, acesso a capital, licença para operar e habilidade em atrair/reter talentos. Os autores percebem, portanto, um impacto substancial sobre o sucesso de longo prazo da organização e sobre o valor gerado em prol dos acionistas, de modo que a cúpula dirigente – Proprietários, Conselhos de Administração e de Diretores – já não têm mais condições de ignorar a agenda “triple bottom line”.

É evidente que, como em qualquer atividade empresarial, a busca pela melhoria do desempenho ambiental, social ou administrativo não oferece nenhuma garantia de sucesso. A capacidade de identificação e de gestão dos riscos e de capitalizar as oportunidades torna-se cada vez mais importante, à medida que o conceito de sustentabilidade torna-se mais disseminado. As oportunidades mais significativas proporcionadas pela busca efetiva por negócios mais sustentáveis são: redução de custos (menores impactos ambientais e maior

qualidade no relacionamento com os funcionários); incremento de receitas (favorecimento da economia local); mitigação de riscos (envolvimento das partes interessadas); ganho de imagem da empresa (eficiência ambiental); desenvolvimento do capital humano (gestão de pessoas eficaz); maior acesso ao capital (melhores práticas de governança corporativa) (SUSTAINABILITY LTD.; IFC; INSTITUTO ETHOS, 2003).

Estratégias corporativas de responsabilidade socioambiental e de desenvolvimento da sociedade merecem especial atenção das empresas, conforme constata Smeraldi (2004, p. 9):

Em termos de negócios, a busca da sustentabilidade pode ser resumida como uma estratégia ampla de gerenciamento do risco. A capacidade de prever, conter e aproveitar o risco, transformando o mesmo em oportunidade, é um diferencial que caracteriza o empreendedor bem sucedido. Eis porque, em nosso entendimento, sustentabilidade tem, sim, tudo a ver com bons negócios. Trata-se de um conceito de sustentabilidade como norteador da ação empreendedora, referência dinâmica e gerador de potenciais vantagens competitivas [...]. O aumento da produtividade dos recursos é o principal desafio para sustentabilidade no mundo dos negócios em geral e representa um crescente elemento crítico em muitos negócios específicos. Redução de desperdícios, transformação de resíduos em matéria-prima, baixa intensidade de energia, substituição de materiais, redução no transporte, redução em outros custos de transação são todos exemplos de atividades que não apenas podem contribuir para melhorar o desempenho de um negócio, mas também podem se tornar um negócio em si [...]

Na concepção do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social – uma organização da sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos, criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável –, Responsabilidade Social Empresarial (INSTITUTO ETHOS, 2007, p. 78):

É a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.

A responsabilidade social empresarial vem se destacando como um tema de grande relevância nos principais mercados da economia mundial, verificando-se, a partir da década de 1980, uma tendência mundial crescente, notadamente nos Estados Unidos, por

investimentos em empresas que incorporaram o conceito da “triple bottom line” (empresas socioambientalmente responsáveis e rentáveis). Denominaram-se tais aplicações de

investimentos socialmente responsáveis (SRI), entendendo que empresas sustentáveis geram

valor para o acionista no longo prazo, pois estão mais preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais. Essa demanda vem se fortalecendo e hoje é amplamente atendida por vários instrumentos financeiros no mercado internacional (BOVESPA, 2008).

Em 1999, a Bolsa de Valores de Nova Iorque lançou o “Dow Jones Sustainability

Index (DJSI)”, que representa um grupo de mais de 300 empresas (em 23 países) selecionadas

e consideradas sustentáveis com base no critério internacional da “triple bottom line”, que avalia a performance das organizações de forma integrada, considerando as dimensões econômico-financeiras, sociais e ambientais (BOVESPA, 2008).

Um exemplo brasileiro é o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado em 2005 pela Bolsa de Valores de São Paulo e composto por ações de um grupo de empresas selecionadas e reavaliadas anualmente com base no conceito da “triple bottom line”. Este índice foi elaborado a partir da metodologia da Fundação Getúlio Vargas e do apoio financeiro do International Finance Corporation (IFC), sendo utilizado como referência para o fundo de investimento BB Ações Índice de Sustentabilidade Empresarial, que é administrado pela BBDTVM – Banco do Brasil Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (BOVESPA, 2008; BANCO DO BRASIL, 2007a).

Ao final de 2007, ao fazer a avaliação para o período 2007/2008, o Conselho Deliberativo do ISE, presidido pela Bovespa, selecionou 32 empresas entre aquelas responsáveis pelas 150 ações mais negociadas na Bovespa, para compor o Índice de Sustentabilidade Empresarial, dentre as quais Banco do Brasil, Itaubanco, Gerdau, Embraer, Bradesco e Natura (BOVESPA, 2008).

Como um dos principais agentes do desenvolvimento econômico e social do País, o Banco do Brasil impulsiona a economia e o desenvolvimento dos municípios onde atua por meio do financiamento do agronegócio, do comércio exterior, das micro e pequenas empresas, entre outros. A partir da necessidade de alinhamento das estratégias empresariais aos preceitos da “triple bottom line”, o tema responsabilidade socioambiental passou a permear as discussões institucionais de forma mais sistemática e orgânica (BANCO DO BRASIL, 2007b).

A partir de 2003, o Banco do Brasil vêm desenvolvendo diversas iniciativas voltadas para o estabelecimento de estratégias de responsabilidade socioambiental, que resultaram na revisão e aprovação, pelo Conselho de Administração, da Estratégia Corporativa 2003-2007, onde estão claramente explicitadas a Missão, as Crenças e a Direção Estratégica da Organização (BANCO DO BRASIL, 2007a, p. 37; 2007b, p. 13):

Missão: Ser a solução em serviços e intermediação financeira, atender às expectativas dos clientes e acionistas, fortalecer o compromisso entre os funcionários e a empresa e contribuir para o desenvolvimento do País. Crenças: Compromisso com o desenvolvimento das comunidades e do País; [...] Responsabilidade socioambiental e respeito à diversidade [...]

Direção Estratégica: Ser o Banco referência em: Responsabilidade socioambiental; Financiamento do desenvolvimento sustentável do País.

Naquele mesmo ano (2003), o Conselho Diretor aprovou o Conceito e a Carta de Princípios de Responsabilidade Socioambiental, atualmente em vigor na empresa. Definiu-se que, para o Banco do Brasil, Responsabilidade Socioambiental “é ter a ética como

compromisso e o respeito como atitude nas relações com funcionários, colaboradores, fornecedores, parceiros, clientes, credores, acionistas, concorrentes, comunidade, governo e meio ambiente.” (BANCO DO BRASIL, 2007a, p. 30).

A Carta de Princípios de Responsabilidade Socioambiental manifesta, por meio dos seus 14 compromissos, o interesse do Banco do Brasil em contribuir para o desenvolvimento de um novo sistema de valores para a sociedade, que tem como referencial maior o respeito à vida humana e ao meio ambiente, condição indispensável à sustentabilidade da empresa e da

humanidade. A responsabilidade socioambiental vem sendo incorporada aos instrumentos de avaliação e controle e aos processos administrativos e negociais, de tal forma que os esforços de gerenciamento dos impactos sociais e ambientais da atuação do Banco do Brasil sejam reconhecidos tanto pelo público interno da Organização quanto pela sociedade (BANCO DO BRASIL, 2007b). Particularmente, assim se expressam dois dos citados princípios: “O Banco

do Brasil se compromete a: [...] 4. Fortalecer a visão da Responsabilidade Socioambiental como investimento permanente e necessário para o futuro da humanidade [...] 8. Estimular e difundir práticas de desenvolvimento sustentável.” (BANCO DO BRASIL, 2007a, p.30).

Em 2007, o Banco do Brasil divulgou o documento intitulado Agenda 21 Empresarial, traduzindo o seu compromisso público com a sustentabilidade, estruturada em três dimensões estratégicas e pragmáticas, assim denominadas (BANCO DO BRASIL, 2007a, 2007b):

a) Negócios com foco no desenvolvimento sustentável.

b) Práticas administrativas e negociais com responsabilidade socioambiental. c) Investimento Social Privado.

Para consolidar o papel de empresa socioambientalmente responsável, o Banco do Brasil firmou diversos outros compromissos públicos, que visam garantir sinergia entre as ações ambientais, sociais e econômicas. Os principais compromissos estabelecidos são (BANCO DO BRASIL, 2007a, 2007b):

Pacto Global das Nações Unidas: é uma iniciativa da Organização das Nações

Unidas, lançada em 2000, que tem o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, trabalho e meio ambiente. Propõe-se ainda a ajudar as organizações a redefinirem suas estratégias e ações, a fim de que todas as pessoas possam compartilhar dos benefícios da globalização. Em novembro/2003, o Conselho de Administração autorizou a adesão do Banco

do Brasil ao Pacto Global e a partir de então os executivos da empresa vêm participando de diversos eventos, fóruns e debates ligados ao tema.

Princípios do Equador: são políticas e diretrizes, chamadas de salvaguardas, a serem

observadas na análise de projetos de investimentos na modalidade Project Finance (projeto é o centro de gravidade das negociações) de valor igual ou superior a US$ 10 milhões. Com base nos critérios estabelecidos pela International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial, as salvaguardas versam sobre avaliações ambientais, proteção a habitats naturais, gerenciamento de pragas, segurança de barragens, populações indígenas, reassentamento involuntário de populações, propriedade cultural, trabalho infantil, forçado ou escravo, projetos em águas internacionais, e saúde e segurança no trabalho. O Banco do Brasil, em fevereiro de 2005, foi o primeiro banco oficial em nível mundial a integrar o grupo de instituições financeiras que aderiu aos Princípios do Equador. Em julho de 2006, formalizou sua readesão ao Pacto que foi atualizado após longo processo de consultas e debates entre bancos, clientes e organizações da sociedade civil.

Pacto pelo combate ao trabalho escravo: em maio/2005, o Banco do Brasil,

juntamente com outras 54 empresas, aderiu ao Pacto pelo Combate ao Trabalho Escravo, proposto pelo Instituto Ethos, em que os signatários acordam em incrementar esforços visando dignificar e modernizar as relações de trabalho nas cadeias produtivas dos setores comprometidos no “Cadastro de Empregadores – Portaria Ministério do Trabalho e Emprego 540/2004”, que tenham mantido trabalhadores em condições análogas à escravidão.

Protocolo Verde: é uma carta de princípios para o desenvolvimento sustentável

firmada em 1995 por bancos oficiais (Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia, BNDES, Caixa Econômica Federal e Banco Central do Brasil), na qual se comprometem a empreender políticas e práticas que estejam sempre e cada vez mais em

harmonia com a promoção de um desenvolvimento que não prejudique as necessidades das gerações futuras.

Relatório de informações sobre emissão de carbono: em março/2005, Banco do

Brasil, a Brasilprev e a Previ – Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, juntamente com os principais investidores institucionais no mundo, manifestaram formalmente apoio ao pedido de abertura de informações sobre a emissão de gases de efeito estufa – Carbon Disclosure Project –, enviado às 500 maiores empresas do mundo. O pedido de informações é resultado de projeto administrado pela Rockefeller Philanthropy Advisers, com a maior parte dos recursos provenientes do Fundo de Carbono do Governo da Grã- Bretanha.

Índice de Sustentabilidade Empresarial Bovespa: o Banco do Brasil faz parte do

grupo de empresas selecionadas para compor o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo, que reúne empresas que se pautam pelo respeito ao meio- ambiente, responsabilidade social e indicadores financeiros saudáveis. A participação de ações do Banco do Brasil e de outras empresas na composição do índice representa um significativo reconhecimento do mercado, que percebe as organizações que geram valor para seus acionistas de uma forma social e ambientalmente responsável.

2.7 Estratégia negocial de desenvolvimento regional