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sustentável

2.5.5 Procedimentos para definição de indicadores

O procedimento consiste em abordar os seguintes aspectos: compreensão conceitual do sistema total; identificação de indicadores representativos; quantificação da satisfação dos orientadores básicos; e realização de processo participativo (BOSSEL, 1999).

Segundo o autor, a tarefa de encontrar indicadores representativos da viabilidade de sistemas e de subsistemas demanda uma compreensão conceitual do sistema total, além de saber quais os aspectos relevantes a observar, realisticamente. A impossibilidade de compreensão do sistema total não deve servir de justificativa para deixar de realizar o melhor trabalho possível para obter informações e construir um modelo conceitual abrangente (ou um modelo formal) do sistema a ser avaliado, seus componentes, subsistemas e respectivas interações. Geralmente, é possível perceber os processos essenciais e suas inter-relações, mesmo em modelos incipientes, os quais podem sempre ser aperfeiçoados com a incorporação

de novos conhecimentos sobre o sistema. Essas informações são úteis para identificar os subsistemas de capital importância e seus respectivos indicadores (BOSSEL, 1999).

Selecionar um pequeno número de indicadores representativos dos sistemas ou subsistemas significa concentrar a atenção em variáveis essenciais para a viabilidade do sistema total. Na visão de sistemas, a identificação de indicadores de desenvolvimento sustentável reduz-se a um procedimento recursivo em que as mesmas questões são repetidas para todos os componentes essenciais, da forma a seguir (BOSSEL, 1999, p. 59): “1. Que

sistemas (Yi) ou fatores ambientais (Ei) contribuem para a viabilidade do sistema X? 2. Que orientadores básicos do sistema X são afetados por determinado sistema Yi?”.

A partir desse procedimento, segundo o autor, podem-se definir indicadores para avaliar a satisfação dos orientadores básicos, aplicando-se dois conjuntos de questões – ver Quadro 4 (2) a seguir: “1. Qual é a viabilidade do affecting system Y? Em outras palavras,

qual é a satisfação de cada orientador básico daquele sistema? 2. Como cada affecting system contribui para a viabilidade (orientadores básicos) do sistema afetado (affected system)?”.

Roteiro geral para identificação de indicadores de viabilidade

Orientador básico Viabilidade do affecting system Contribuição p/ o affected system Existência O sistema é compatível e pode existir

em seu ambiente particular?

O sistema contribui para a existência do sistema afetado?

Efetividade O sistema é eficiente e efetivo? O sistema contribui para a eficiente e efetiva operação do sistema total?

Liberdade de ação O sistema tem liberdade de responder, de reagir, quando necessário?

O sistema contribui para a liberdade de ação do sistema total?

Segurança O sistema é seguro e estável? O sistema contribui para a segurança e estabilidade do sistema total?

Adaptabilidade O sistema pode adaptar-se a novos desafios?

O sistema contribui para a

flexibilidade e adaptabilidade do sistema total?

Coexistência O sistema é compatível com os subsistemas atuantes?

O sistema contribui para a

compatibilidade do sistema total com seus sistemas relacionados?

Necessidades psicológicas

O sistema é compatível com as necessidades psicológicas e com a cultura?

O sistema contribui para o bem-estar psicológico das pessoas?

Quadro 4 (2): Roteiro Geral para identificação de indicadores de viabilidade. Fonte: BOSSEL (1999, 2001).

Quanto aos outros dois orientadores básicos – reprodução (típico de seres auto- reprodutores) e responsabilidade (próprio de seres conscientes) –, Bossel (1999) considera que eles já estão contemplados no roteiro geral do quadro 4 (2) anterior. O orientador “reprodução” é abrangido por “existência”, enquanto “responsabilidade” se reflete na seleção de sistemas presentes e futuros que se pretende desenvolver (horizonte de responsabilidade).

Ao mencionar a existência de métodos sistemáticos de avaliação da viabilidade total de um sistema, Meadows (1998) refere-se aos sete orientadores básicos, enfatizando que cada um deles precisa ser satisfeito para que o sistema seja sustentável.

Bossel (1999) reconhece que, para a avaliação do desenvolvimento sustentável, os indicadores selecionados devem também satisfazer a outros critérios relevantes, em especial aos Princípios de Bellagio (HARDI; ZDAN, 1997), desenvolvido pelo staff do Instituto Internacional de Desenvolvimento Sustentável e outros colaboradores.

A coleta de dados não deve necessitar de esforço complexo, caro e demorado. Idealmente, deve ser possível obter informação relevante de simples observações da vida diária. Muita informação relevante pode ser obtida de dados regularmente publicados por várias organizações e pela combinação de tais dados para construir indicadores informativos (BOSSEL, 1999). O autor declara:

A indisponibilidade de dados ou de recursos para coleta nem sempre é uma boa justificativa para não se fazer a avaliação da sustentabilidade. [...] Com freqüência, uma determinada questão pode ser respondida satisfatoriamente por um indicador simples, em vez de dados sofisticados difíceis de obter e de analisar. (BOSSEL, 1999. p. 109).

É necessário que o indicador preste informações sobre a satisfação do orientador básico, com o objetivo de concluir se a viabilidade de subsistemas ou do sistema total está ameaçada e, em caso positivo, em que magnitude. É o que Bossel (1999) denomina quantificar a satisfação do orientador básico.

As questões de avaliar a satisfação do orientador básico freqüentemente podem ser respondidas adequadamente por aqueles que têm um bom conhecimento dos sistemas

envolvidos, sem necessidade de recorrer a uma extensa base de dados de indicadores numéricos. Em muitos casos, não será necessário empreender um esforço dispendioso e demorado para a coleta de dados. Entretanto, para uma análise mais sistemática e para comparação de desenvolvimento de diferentes regiões, indicadores numéricos serão requeridos (BOSSEL, 1999).

Diferentes indicadores não podem ser representados por um único número, descrevendo o estado atual de sustentabilidade. As necessidades básicas de sistemas, representadas por seus orientadores básicos, são sempre multidimensionais. Cada orientador deve ser satisfeito separadamente. Não é possível comparar a falta de liberdade pessoal com superabundância de alimentos (BOSSEL, 1999). Este autor argumenta que as avaliações de sustentabilidade devem concentrar-se em descobrir os sistemas afetados que não são viáveis atualmente, identificar as razões e buscar soluções para os problemas existentes. Não é preciso lidar com um imenso painel de controle de indicadores o tempo todo, mas somente dedicar-se aos sinais de advertência.

Um processo participativo para seleção de indicadores, idealmente, requer amplo número de escolhas que reflitam o conhecimento e os valores das pessoas interessadas no desenvolvimento do sistema como um todo. É, portanto, fundamental reunir uma vasta gama de conhecimentos, experiências, modelos mentais, visões de mundo, preocupações sociais e ambientais para assegurar a seleção de um abrangente e representativo conjunto de indicadores (BOSSEL, 1999).

O autor afirma que normalmente não se tem conhecimento completo sobre um sistema ou problema e não há garantia de que todos os indicadores vitais estejam na lista de prováveis candidatos. Todos os processos de pesquisa, seleção e agregação demandam decisões baseadas em conhecimento, experiência e valores das pessoas envolvidas. O melhor

a fazer é aceitar a subjetividade e tornar esse processo sistemático, científico e abrangente, tanto quanto possível.

Bossel (1999) entende que não é correto incumbir um grupo de especialistas para a seleção de indicadores numa área tão complexa quanto o desenvolvimento sustentável. Provavelmente, os experts enfatizarão questões de sua expertise profissional, enquanto negligenciarão outras que podem ter um efeito significativo no sistema real. O melhor conhecimento dos sistemas e seus problemas, incluindo uma perspectiva de longo prazo, geralmente pode ser obtido com as pessoas que lidam com eles diariamente: cidadãos, pequenos negócios, desempregados, administradores, gerentes, fazendeiros, trabalhadores, políticos e educadores.