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Caracterização da RMC: Análise do repasse do FNDE e a agricultura na região

destoam e se assimilam ao mesmo tempo entre si. Criada em 2000, pela Lei Complementar Estadual nº 870, a RMC é uma das regiões metropolitanas mais desenvolvidas do País. Abrange 3.673 km2 e 20 municípios (Figura 7): Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d'Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo (SDE, 2013). Morungaba foi o último município anexado a RMC em março de 2014.

Figura 7. Localização da Região Metropolitana de Campinas e de seus municípios no estado de São Paulo.

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Mesmo que a Região se destaque pela atração de grandes empreendimentos, especialmente indústrias de alta tecnologia, ainda se pode encontrar uma produção diversificada nas centenas de unidades de produção agropecuária presentes em espaços rurais e peri-urbanos (Tabela 2).

Tabela2. Produção vegetal da RMC por área e unidades de produção agropecuária3

Descrição

RMC % em relação ao Estado

Área UPAs8 Área UPAs

(hectare) (unidades) (hectare) (unidades)

Florestais 10.386,0 923 1,2 2,1 Culturas Temporária1 20.693,0 2.069 0,7 1,7 Culturas Perenes2 220,8 219 0,9 2,1 Frutas Temporárias 178,3 108 0,3 1,4 Frutas Perenes 5.807,4 1.633 0,7 2,1 Café 2.946,5 278 3,7 5,8 Cana-de-açúcar 51.989,3 1.115 1,1 0,9 Citros 17.817,5 1.882 1,7 1,6 Olerícolas 8.608,2 1.021 2,0 4,9 Flores 602,7 221 2,4 2,7 Total 119.249,70 9.469,00 14,70 25,30

1Exceto Frutas, Olerícolas e Flores. 2 exceto Frutas, Café, Cana-de-açúcar e Citros. Não abrange o município de Morungaba.

Fonte: SÃO PAULO, 2008.

A maior parte da população da Região está concentrada nos municípios de Campinas, Sumaré, Hortolândia, Americana, Santa Bárbara d’Oeste e Indaiatuba. Todos apresentam elevadas taxas de urbanização (de 72,3 a 100%), e concentram 74,8% do total de população da RMC (SEADE, 2013). Apenas Campinas, o município-sede regional, concentra38% desta população. Mesmo com um elevado grau de urbanização, a Região

8 Unidade de produção agropecuária (UPA) é definida como o conjunto de propriedades agrícolas contíguas e pertencente ao(s) mesmo(s) proprietário(s) localizadas inteiramente dentro de um mesmo município inclusive dentro do perímetro urbano com área total igual ou superior a 0,1ha não destinada exclusivamente para lazer (SÃO PAULO, 2008).

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possui mais de sete mil unidades de produção agropecuária e mais da metade dessas detêm áreas menores de 10 hectares (Tabela 3).

Tabela 3. Estrutura Fundiária da RMC. Classe de Área (hectare) Área (hectare) UPAs (número) % acumulado 0-1 137,0 216 2,9 1-2 825,0 483 9,4 2-5 5.796,4 1.701 32,2 5-10 11.351,2 1.497 52,3 10-20 21.647,9 1.508 72,5 20-50 36.974,9 1.199 88,5 50-100 29.598,5 423 94,2 100-200 32.124,0 232 97,3 200-500 45.549,8 145 99,3 500-1000 28.329,4 41 99,8 1000-2000 12.470,8 10 100,0 2000-5000 4.933,6 2 100,0 5000-10000 8.009,6 1 100,0 Total 237.748,1 7.458 -

Fonte: SÃO PAULO, 2008.

A maior parte dos municípios da RMC possui um padrão de vida relativamente elevado comparado a outras regiões do estado e do País. No caso de Campinas, Nascimento (2013, p.75) aponta que “as disparidades socioeconômicas e o padrão de urbanização e de ocupação do espaço, terminaram por configurar uma metrópole com uma estrutura interna bastante desigual e segregada em relação à funcionalidade dos espaços e ao seu conteúdo social”. Na Figura 8 podemos observar o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de cada municipalidade. A RMC apresenta IDHM de 0,702 (Santo Antônio de Posse) a 0,819 (Valinhos), o que lhe configura uma média do IDHM de 0,772, alguns pontos centesimais abaixo da média do Estado de São Paulo é de 0,783 (SEADE, 2013).

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Figura 8. População e IDHM dos municípios da RMC.

Fonte: SEADE (2013). Elaboração da autora.

Na RMC, em 2013, mais de 42 milhões de reais foram repassados pelo FNDE para a compra dos gêneros alimentícios para o Pnae (Tabela 4). O repasse deste dinheiro foi feito diretamente aos municípios, com base no Censo Escolar do ano anterior.

Tabela 4. População total e valor de repasse do Pnae para cada municipalidade da RMC.

Município População1 Valor do repasse do Pnae2em 2013 (R$) 30% do repasse previsto para compra da agricultura familiar Americana 224.551 3.393.560,00 1.018.068,00 Artur Nogueira 48.420 709.940,00 212.982,00 Campinas 1.144.862 17.410.626,00 5.223.187,80

47 Cosmópolis 64.415 964.000,00 289.200,00 Engenheiro Coelho 17.681 259.520,00 77.856,00 Holambra 12.702 265.680,00 79.704,00 Hortolândia 209.139 4.100.140,00 1.230.042,00 Indaiatuba 222.042 3.480.700,00 1.044.210,00 Itatiba 109.907 1.667.508,00 500.252,40 Jaguariúna 49.497 773.400,00 232.020,00 Monte Mor 53.488 1.123.680,00 337.104,00 Morungaba 12.216 191.720,00 57.516,00 Nova Odessa 55.229 721.640,00 216.492,00 Paulínia 92.668 1.930.140,00 579.042,00 Pedreira 44.509 711.498,00 213.449,40

Santa Bárbara d'Oeste 188.302 2.940.440,00 882.132,00

Santo Antônio de Posse 21.957 271.224,00 81.367,20

Sumaré 258.556 3.695.640,00 1.108.692,00

Valinhos 116.308 1.219.720,00 365.916,00

Vinhedo 69.845 1.132.364,00 339.709,20

Total 3.004.078 46.963.140,00 14.088.942,00

Fonte: 1IBGE, 2010; 2BRASIL,[s.d]d (Dados referentes ao fechamento do dia: 06/01/2015). Elaboração: autora.

A gestão da alimentação escolar pode ocorrer de quatro formas: (1) na gestão centralizada, a prefeitura é responsável pela compra dos alimentos e os distribui para cada uma das escolas; (2) na gestão escolarizada, o poder público repassa a verba para as escolas, e estas são responsáveis pela aquisição dos alimentos; (3) na gestão mista ocorre quando o município faz uma combinação dessas duas formas segundo suas necessidades e disponibilidades de recursos humanos e ou materiais; e, (4) há também a terceirização, quando as prefeituras contratam empresas privadas para realizarem a gestão completa da alimentação escolar no município, da aquisição à distribuição dos alimentos.

Ao analisarmos, a população e o valor dos repasses do FNDE para o Pnae (Figura 9) de cada um dos 20 municípios da RCM podemos estratifica-los em:

 Municípios com até 65.000 habitantes e menos de 1 milhão de reais de repasse do FNDE (9 municípios): Morungaba, Holambra, Engenheiro Coelho, Santo Antônio de Posse, Pedreira, Artur Nogueira, Jaguariúna, Nova Odessa, Cosmópolis;

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 Municípios com população entre 50 e 200 mil habitantes e repasse do FNDE entre 1 e 3 milhões de reais (6 municípios): Monte Mor, Vinhedo, Paulínia, Itatiba, Valinhos e Santa Bárbara d'Oeste;

 Municípios com mais de 200 mil habitantes e mais de 3 milhões de reais de repasse no FNDE (5 municípios): Hortolândia, Indaiatuba, Americana, Sumaré e Campinas.

Figura 9.Valores do repasse do FNDE ao Programa Nacional de Alimentação Escolar nos municípios da RMC.

Fonte: BRASIL, [s.d]d (Dados referentes ao fechamento do dia: 06/01/2015). Elaboração da autora.

Para a aquisição direta de gêneros alimentícios da agricultura familiar uma nova modalidade de compra foi prevista, a chamada pública. Muitos municípios apresentam dificuldades para implementar a compra direta da agricultura familiar. Os desafios são inúmeros e maiores quando o município apresenta alto grau de urbanização, não possui tradição agrícola e há pouca área e pessoas dedicadas à agricultura (BACCARIN et

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al.,2011). Na figura a seguir (Figura 10) pode-se observar estratos de números de agricultores familiares em cada município da RMC, segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Figura 10.Estratos de número de agricultores familiares por município da RMC.

Fonte: BRASIL, [s.d]e. Elaboração da autora.

Para fornecer produtos ao Pnae, os agricultores devem ser portadores da DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf). No caso dos grupos formais, cooperativas e associações da agricultura familiar, a DAP Jurídica, no caso dos fornecedores individuais ou grupos informais, a DAP Física. A DAP é um documento que identifica os agricultores familiares, beneficiários do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento agrário, a RMC possui um número reduzido de agricultores e grupos de agricultores nesta condição (Figura 11) e algumas municipalidades recorrem a agricultores de outros municípios para a compra dos produtos

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da alimentação escolar. Somando a isto, há o limite máximo individual de venda do agricultor familiar para a alimentação escolar de R$ 20.000,00 por DAP por ano. Este valor é considerado baixo tanto pelos próprios agricultores como também por especialistas.

Figura 11. Quantidade de DAPs Físicas e Jurídicas na RMC em março 2013.

Fonte: BRASIL, [s.d]e. Elaboração da autora.

O artigo 30 da Resolução FNDE nº 26 de 17 de junho 2013, explicita que nas entidades (Estados, Distrito Federal, Municípios e escolas federais) onde o valor total do repasse do FNDE para o Pnae seja superior a R$ 700.000,00 por ano, a chamada pública para compra de produtos da agricultura familiar poderá prever o aceite de propostas apenas de organizações com DAP Jurídica. Na Figura 12 notamos que na RMC a maior parte dos municípios recebe mais de R$ 700.000,00 de repasse por ano (municípios em amarelo). Apenas 8 municípios não se enquadram neste caso. Como já vimos na Figura 10, na RMC

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apenas 4 organizações formais (associações ou cooperativas) são detentoras da DAP Jurídica.

Figura 12. Municípios cujo valor do repasse do FNDE é inferior (vermelho) ou superior (amarelo) a R$ 700.000,00.

Fonte: BRASIL , [s.d]d (Dados referentes ao fechamento do dia: 06/01/2015). Elaboração da autora.

A RMC apresenta um grande potencial de compras para a agricultura familiar. Só no ano de 2013, o mínimo de 14 milhões de reais deveriam ter sido gastos somente com a compra de alimentos da agricultura familiar. Todavia, esta obrigatoriedade ainda não é executada em todos os municípios. A seguir, apresenta-se uma análise da execução do Pnae do ano de 2013 em 14 municípios da RMC.

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4.2 Um, dois, feijão com arroz, três, quatro verificar os resultados: o parecer dos