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CAPÍTULO 2 CAMINHO TEÓRICO-METODOLÓGICO PARA A CONSTRUÇÃO DOS

2.4 A Análise de Discurso como método

2.4.2 Caracterização do campo de pesquisa

Para a concretização dos objetivos desta pesquisa, elencamos como campo de pesquisa duas instituições de ensino superior (IES) localizadas no agreste pernambucano, na cidade de Caruaru. As duas IES oferecem o curso de Pedagogia, sendo que na IES A este curso existe desde 1961, enquanto que na IES B existe desde 2006.

A formação do pedagogo e o estágio na IES A

Analisando o Projeto Curricular do curso de Pedagogia da instituição, vemos que desde 2004 ela vem apresentando uma nova configuração curricular resultado de construção coletiva e de exigências legais ao extinguir as habilitações e unir o curso de Pedagogia tendo por foco a docência contemplando conteúdos de gestão escolar.

Nessa direção é que o egresso do curso tem como base da identidade profissional a docência, sendo a missão institucional do curso formar sujeitos tecnicamente competentes, socialmente críticos e humanamente solidários. Contudo, embora a docência seja a base identitária do pedagogo, o projeto curricular da IES A prevê a participação desse profissional na “gestão da instituição educativa onde atua planejando, elaborando, implementando, coordenando, acompanhando e avaliando propostas pedagógicas e programas educacionais” (PPC IES A, 2007, p. 30). Assim, o perfil de formação é baseado na docência, sendo a gestão o gérmen que perpassa todo o processo formativo. Por essa razão, os estágios na instituição são voltados para esse olhar na docência e na gestão escolar.

Contudo, o estágio que se materializa na IES A assume o formato de Prática de Ensino com caráter processual e integralizador da formação, onde a Central de Estágio (CE) coordena a dimensão prática das licenciaturas intencionando a corresponsabilidade da faculdade e das escolas campo de estágio pela formação dos professores. Dessa maneira, o estágio se processa desde o 3º período no curso de Pedagogia e só termina no 8º, último período, com momentos que intercalam pesquisa e intervenção pedagógica, tendo como orientações gerais:

- Compreensão da escola como uma organização que é historicamente estruturada, de forma a favorecer a construção de saberes e a humanização dos sujeitos: inicialmente, os alunos são orientados para pesquisarem sobre a organização escolar, a partir de questões específicas tais como: a instituição escolar, os profissionais da escola e as relações sociais na escola, a gestão escolar, a função social da escola.

- Análise crítica das contribuições teórico-práticas a respeito da Gestão Escolar, buscando conhecimentos que permitam iluminar a compreensão do cotidiano, com vistas a nele intervir de forma qualitativa, como forma de ação a partir da reflexão.

- Exercício da intervenção pedagógica na perspectiva do contexto político e social no qual a escola se insere, objetivando a melhoria das relações educativas, das interações texto e contexto e da efetivação das políticas educacionais que, em última instância, focalizam o aluno e o seu sucesso ao longo do processo de aprendizagem.

- Análise crítica do cotidiano vivenciado na escola campo de estágio e elaboração de projetos de intervenção voltados para a melhoria do processo gestor da instituição escolar. Esses projetos devem resultar de um trabalho

investigativo e analítico, desenvolvido processualmente a partir do 3º período, até a sua implementação e avaliação nos últimos períodos do curso.

- Estudo do processo ensino-aprendizagem, enfatizando a sala de aula como espaço onde ocorrem de forma sistemática e intencional as situações didático- pedagógicas que propiciam a construção do conhecimento, numa constante interação com a realidade, através do relacionamento dos sujeitos da prática pedagógica (PPC IES A, 2007, pp. 40-41).

O estágio nessa instituição apresenta, portanto, o sentido de articulação entre teoria e prática, segundo a qual nem a teoria se sobrepõe à prática e nem esta, num sentido pragmatista e utilitarista, tem prevalência sobre a teoria. Além disso, compreende que a escola é produzida historicamente não sendo possível concebê-la somente a partir de sua constituição atual. Assim, percebê-la dentro desse movimento histórico determinou como se dá a atuação dos profissionais da educação com e sobre ela. Vê ainda que a ação dos estágios só pode se desenvolver fundamentada na reflexão, tendo por objetivo contribuir com os processos educacionais elaborados em diálogo com a escola.

Caracterizando os sujeitos discursivos da IES A

Na perspectiva da Análise de Discurso, o lugar que o sujeito ocupa na hierarquia social influencia sobremaneira a forma como este enuncia seus discursos e produz sentidos. Nessa direção, demarcamos aqui os sujeitos que participaram da investigação bem como o lugar de onde falam, o que nos ajudou a entender o porquê dizem x e não dizem y, compreendendo, portanto, “que a língua não se limita a uma estrutura fechada, mas se constitui um acontecimento que considera em sua análise os elementos presentes na estrutura histórica na qual o discurso acontece, uma vez que este sujeito é afetado, mas também afeta a história” (CARMO, 2013, p. 66).

Assim, conscientes de que estes afetam e são afetados pela história construímos inicialmente um questionário sócio-profissional11 que nos permitiu visualizar os sujeitos que já detinham cinco anos ou mais de experiência na docência, tendo em vista que nosso objeto de pesquisa pedia a análise dos discursos sobre as mudanças na prática docente do professor em formação a partir da vivência com o Estágio Supervisionado. Para tanto, eles também teriam que já ter vivenciado os estágios em educação infantil e no ensino fundamental. Por essa razão escolhemos aplicar o questionário no último período (8º) do curso de Pedagogia da instituição.

11 Conforme Apêndice 1.

Como neste momento a IES A contava com dois 8º períodos, decidimos que o questionário seria aplicado em ambos.

Deste modo, contabilizando 61 estudantes (34 no 8º A e 27 no 8º B), chegamos a um total de 5 estudantes com cinco anos ou mais de experiência na docência, se configurando desse modo não mais como professores em início de carreira. Abaixo é possível identificar o nome dos sujeitos12 o tempo de atuação como professor, sexo, bem como suas idades.

Quadro 1 - Do perfil sócio-profissional dos sujeitos entrevistados da IES A

NOME TEMPO DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL SEXO IDADE

Professora IES A1 6 anos Feminino 42 anos

Professora IES A2 12 anos Feminino 30 anos

Professora IES A3 11 anos Feminino 33 anos

Professora IES A4 7 anos Feminino 40 anos

Professora IES A5 8 anos Feminino 26 anos

A formação do pedagogo e o estágio na IES B

A formação do pedagogo nesta instituição tem por base a construção de um perfil com ênfase na docência, na pesquisa e na gestão educacional, tendo como demanda associar no curso atividades de ensino, pesquisa e extensão. Sem embargo, a concepção de currículo que permeia o projeto do curso visa assegurar a articulação entre teoria e prática, a criticidade epistemológica, a metodologia e as estratégias imediatas, a relação pedagógica dialogal e a relação entre aprendizagem e avaliação.

Dessa maneira, a IES B tem como objetivo formar professores para atuar na docência em educação infantil, nos anos iniciais do ensino fundamental, no ensino médio na modalidade Normal, “na Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimento pedagógico. Além disso, o curso propicia uma formação com ênfase nas áreas de Gestão e Práticas Educativas nos Movimentos Sociais” (PPC IES B, 2010, p. 15).

Por essa razão é que o estágio na instituição tem como foco a prática docente, a gestão e as práticas educativas em movimentos sociais, sendo vivenciado a partir do 5º período e terminando no 8º período, penúltimo do curso. Sua materialização é, portanto, diferente do corporificado na IES A. Embora parta também da compreensão de estágio como prática de

ensino que se torna eixo articulador da formação, esse sentido de estágio é vivenciado de outra maneira. Nos primeiros períodos do curso existem os momentos de aproximação à experiência de pesquisa com as disciplinas Pesquisa e Prática Pedagógica iniciando no 2º período e terminando no 4º, onde a partir de estudos teóricos e observação de um campo de pesquisa se constrói um artigo científico. Posteriormente, como já o dissemos, vem o estágio no 5º período com o momento de intervenção pedagógica propriamente dita.

Por conseguinte, o estágio na IES B carrega também o sentido de articulação teoria e prática, compreendendo a prática como possibilidade de construção do conhecimento que não deve circunscrever-se apenas no último ano do curso, reconhecendo seu caráter processual e possibilitando ao pedagogo uma visão ampla de sua prática docente.

Caracterizando os sujeitos discursivos da IES B

No que diz respeito à escolha dos sujeitos de pesquisa na IES B, assim como na IES A, também recorremos ao questionário sócio-profissional com a intenção de selecionar os professores em formação que já tinham pelo menos cinco anos de experiência na docência, tendo em vista que nosso objeto, como já dissemos anteriormente, pede a análise dos discursos sobre as mudanças na prática docente do professor experiente em formação a partir da vivência com o Estágio Supervisionado.

Escolhemos ainda os dois últimos períodos do curso da IES B, uma vez que nesta universidade há nove períodos e não oito como no curso de Pedagogia da IES A. Apresentando como outra diferença em relação à IES A uma turma de cada período e intencionando ter uma amostra relativamente grande de sujeitos, decidimos optar pelos dois últimos períodos, balizados também no critério de que estes sujeitos teriam que ter passado pelos estágios em educação infantil e no ensino fundamental.

Deste modo, contabilizando 34 estudantes ao todo (19 alunos no 8º período e 15 alunos no 9º período) chegamos a um total de 4 estudantes com cinco anos e seis de experiência na docência, se configurando desse modo não mais como professores em início de carreira. Abaixo é possível identificar o nome dos sujeitos, o tempo de atuação profissional, sexo, bem como suas idades e o período a que pertencem (essa última categoria difere da tabela de caracterização de sujeitos da IES A, tendo em vista que lá todos pertencem ao 8º período).

Quadro 2 - Do perfil sócio-profissional dos sujeitos entrevistados IES B

NOME TEMPO DE EXERCÍCIO

PROFISSIONAL

SEXO IDADE PERÍODO

Professora IES B1 6 anos Feminino 26 anos 9º

Professora IES B2 5 anos Feminino 24 anos 8º

Professora IES B3 5 anos Feminino 25 anos 9º

Professora IES B4 6 anos Feminino 24 anos 9º

Dessa forma, chegamos a um total de nove professoras em formação tendo entre cinco a 12 anos de experiência na docência como um dos grupos de produção de discursos analisados nesta investigação. Os dizeres por elas produzidos sobre estágio foram, por conseguinte, submetidos à análise em movimento discursivo com os nossos dois outros grupos de produção de discursos: as publicações científicas e os projetos curriculares.

CAPÍTULO 3 A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS SOBRE ESTÁGIO