• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES:

1.6 Da prática educativa à prática pedagógica

Ao falarmos sobre prática docente, como já dissemos anteriormente, estamos falando sobre o fazer do professor, sobre sua função específica. Esse fazer está inserido num campo mais amplo das práticas. Mas de que práticas estamos falando? Prática educativa ou pedagógica? Existe diferença entre as duas? Ou seja, para entendermos a prática docente é preciso localizá-la epistemicamente, é preciso que apontemos os elementos mais amplos que a abarcam.

Nos parece, então, que o fazer do professor se insere em um fazer educativo, na função de ensinar. Nesse sentido, a prática docente estaria circunscrita na prática educativa, compreendendo por prática educativa “as práticas sociais [que] só se tornarão educativas pela explicitação/ compreensão/ tomada de consciência de seus objetivos, tarefa da investigação científica na educação” (FRANCO, 2012, p. 152). Esse fazer, no entanto, é também pedagógico uma vez que tem finalidades e objetivos específicos e “realiza-se por meio de sua ação científica sobre a práxis educativa, visando compreendê-la, explicitá-la a seus protagonistas, transformá- la mediante um processo de conscientização de seus participantes” (FRANCO, 2012, p. 152). Acreditamos, portanto, que a prática docente se insere dentro dessas duas dimensões, tanto é prática educativa como pedagógica.

As práticas pedagógicas são, então, aquelas com objetivos definidos, já as práticas educativas podem não vir acompanhadas de uma finalidade clara. Dessa forma, quando um professor em sua aula diz que a criança precisa se sentar para aprender, ele está educando o corpo da criança para que seja capaz de permanecer longos períodos numa mesma posição, pois é assim que nossas escolas concebem que os sujeitos aprendem. Este não se apresenta, no entanto, como um objetivo definido da instituição escolar, é, portanto, uma prática educativa.

Por outro lado, quando esse mesmo professor constrói objetivos para que seus alunos aprendam determinados conteúdos, por exemplo, é nesse momento que nos referimos a uma prática docente que está inserida em uma prática pedagógica, esta que se caracteriza pela ação intencional coletiva de um conjunto de práticas (docente, discente, gestora, epistemológica).

Contudo, é possível perceber outros sentidos elaborados sobre o que se configuraria como prática educativa. Zabala (1998), por exemplo, conceitua que esta prática vincula-se ao papel da educação, à função social do ensino e ao conhecimento de como se aprende. Nessa direção, a prática educativa teria finalidades claras, devendo responder a duas questões básicas como nos exemplifica o autor:

Em primeiro lugar, e de maneira destacada, encontramos um referencial que está ligado ao sentido e ao papel da educação. É o que deve responder às perguntas: para que educar?; para que ensinar? Estas são perguntas capitais. Sem elas nenhuma prática educativa se justifica. As finalidades, os propósitos, os objetivos gerais ou as intenções educacionais, ou como se queira chamar, constituem o ponto de partida primordial que determina, justifica e dá sentido a intervenção pedagógica (1998, p. 21

O sentido de prática educativa inscrito nesta produção discursiva diz respeito aos diversos elementos que constituem a intervenção pedagógica, tais como: os professores e sua relação com o ensino, com a aprendizagem e com os alunos; a relação que se estabelece entre os alunos e a reconstrução ou produção de conhecimento; o conjunto de atividades propostas, bem como outros elementos que fazem parte da dinâmica da sala de aula. O que podemos, então, extrair do sentido de prática educativa proposto por Zabala é que esta é intencional e se encontra presente no trabalho do professor, ou seja, em sua prática docente.

Como já afirmamos, também nos inscrevemos no sentido em que vincula o trabalho do professor a uma prática educativa, entretanto, acreditamos que esta nem sempre vem acompanhada de intencionalidade clara. Isso significa dizer que os passos do professor não são de todo planejados e em algumas ocasiões, se não na maioria delas, ele educa, transmite valores e princípios que não estavam presentes em seu plano de aula. Pedir com constância que seus alunos se sentem traz um princípio de comportamento, do que é ser bom aluno e do que é preciso fazer para aprender que não está posto no planejamento, mas que de igual modo educa o indivíduo tanto quanto dizer para ele que a soma dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

Dessa forma, consideramos que prática educativa se articula ao conceito de Educação, esta que acontece não somente na escola, mas em diversos espaços, como nas organizações

religiosas, movimentos sociais, associações de moradores, ou seja, acontece no contexto social, na vivência em sociedade. Assim, ela está imersa em diversos ambientes inclusive na escola. Já a prática pedagógica, esta sim estaria ligada ao conceito de Pedagogia, entendida como ciência da Educação e que como ciência se refere ao estudo sistemático dos objetivos e função social dos projetos educativos construídos pelas instituições responsáveis em educar formalmente os indivíduos.

Assim, a prática educativa estaria diluída na vida em sociedade, estando presente também no trabalho do professor, se constituindo como elemento mais amplo, e dentro desta encontraríamos a prática pedagógica circunscrita ao âmbito de objetivos e finalidades da educação, tendo como um de seus elementos a prática docente. Consideramos, então, que nosso objeto de estudo é a prática docente inserida na prática educativa e especificamente na prática pedagógica, caracterizando-se como uma de suas dimensões.