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CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO

O grupo que participou do estudo foi composto por 31 treinadores de tênis competitivo dos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Ceará e Amazonas. A tabela 4 contempla os dados de caracterização geral dos treinadores de tênis de alto rendimento.

64 Tabela 4: Características gerais dos treinadores de tênis de alto rendimento (idade, estatura, peso, rankings dos melhores atletas treinados, tempo de prática de tênis e tempo como treinador de tênis).

N x DP Mínimo Máximo

Idade (anos) 31 36,52 9,09 23 63

Estatura (cm) 28 179 6,84 1,68 1,98

Peso (kg) 30 79,70 8,47 65 110

Melhor ranking da ATP de atleta profissional que foi treinador

10 709,60 557,07 26 1500

Melhor ranking da WTA de atleta profissional que foi treinador

3 202,67 110,82 128 330

Ano em que o atleta atingiu o melhor ranking 10 2001 7,93 1986 2010 Tempo de prática de tênis (anos) 31 25,13 11,30 8 57 Tempo de prática (anos) como treinador de tênis 30 15,30 8,90 2 40

Onde: xrepresenta a média e DP o desvio-padrão.

Todos os treinadores da amostra são adultos do sexo masculino e apresentaram bastante experiência como tenistas e como treinadores de tênis. Considerando a média de altura e peso, o índice de massa corporal (IMC) médio calculado foi de 24,9, o que mostra que os treinadores de tênis encontram-se na faixa de normalidade de peso para os padrões brasileiros (ABRANTES et al; 2003).

Devido à importância dos treinadores apresentarem maturidade, experiência e conhecimentos sobre as diversas variáveis do treinamento desportivo, a idade com que os treinadores iniciam a carreira profissional tem sido estudada por alguns autores (REZENDE, 2009 e IBAÑES et al; 1997). Neste estudo, o pico de distribuição da idade dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil está entre 30 e 40 anos, seguindo pelos de 20 a 30 anos (gráfico 1). Existe apenas um escore atípico na variável (63 anos).

65 Gráfico 1. Distribuição da idade dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil, organizadas por classes de 5 anos.

A distribuição de idade dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil mostrou-se parecida com a encontrada nos estudos de García (2001 e 2003), onde 50% correspondiam a treinadores espanhóis de tênis de alto rendimento entre 26 e 35 anos e 35% entre 36 e 45 anos, ou seja, 85% concentram-se entre 26 e 45 anos. Semelhantemente, os resultados desse estudo mostraram que 77,42% dos treinadores brasileiros de tênis de alto rendimento têm entre 20 e 40 anos, sendo 25,8% entre 20 e 30 anos, 22,58% entre 30 e 35 anos de idade e 29,03% dos treinadores entre 35 e 40 anos de idade.

A idade dos treinadores investigados está dentro de uma faixa indicada como ideal para a intervenção profissional no treinamento desportivo. Nos estudos de Rezende (2009) e Ibañes et al; (1997), que tratam sobre a idade mínima para ascender à carreira de treinador, os dados de referência são de 18 e 16 anos respectivamente. Em contraponto, neste estudo a média de idade em que os treinadores iniciaram suas carreiras foi de 21,17 anos ± 5,00, o que mostra o início de

66 carreira em uma idade mais tardia quando comparado aos treinadores investigados em outros estudos, pressupondo maior maturidade e domínio de diferentes áreas de intervenção (ISIDRO, 2009 e BERLINDER, 2000) do que os treinadores mais novos encontrados em outros estudos (REZENDE, 2009 e IBAÑES et al, 1997). A distribuição apresentada no gráfico 1, com grande parte dos treinadores nas faixas etárias mais jovens, pode estar relacionada ao impacto do fenômeno causado pelo tenista Gustavo Kuerten no Brasil entre os anos de 1997 e 2007, influenciando na tomada de decisão dos profissionais para o mercado de treinamento de tênis. Essa influência pode ser observada também no gráfico 2, que mostra uma distribuição cronológica dos anos em que os treinadores iniciaram suas carreiras no treinamento de tênis.

Gráfico 2. Distribuição cronológica dos anos em que os treinadores de tênis de alto rendimento iniciaram suas carreiras profissionais.

Mais da metade dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil (51,7%) iniciaram suas carreiras após o ano de 1997, quando Gustavo Kuerten despontou como campeão no Grand Slam de Roland

67 Garros, na França. O resultado demonstra a importância de um grande ídolo na mobilização profissional de uma área esportiva, tal qual é a percepção dos participantes I.K. e R.K. na entrevista qualitativa, onde manifestaram a importância do sucesso do Guga e do Larri Passos ao longo dos anos para a criação de um modelo de sucesso para o país. Comparativamente, basta observar a mobilização nacional causada por outros grandes ídolos como Ayrton Senna e Pelé.

Quanto ao estado civil dos treinadores de tênis de alto rendimento, 46,7% é de solteiros ou separados e 53,3% de casados. Os resultados mostram uma evidente predominância da raça branca (91,3%) em relação às demais (8,7% negros), bem como da religião católica (77%) diante das outras. A predominância da etnia branca parece estar relacionada a dois fatores: o do antecedente histórico do tênis, que chegou ao Brasil por técnicos ingleses da Companhia Light and Power e da São Paulo Railway no final do século XIX (BRUSTOLIN, 1995) e pelo alto custo financeiro exigido na sua prática como atividade regular. Segundo o IBGE (2011), a despesa de famílias com a pessoa de referência de etnia branca estava 28% acima da média nacional e 89% acima das despesas das famílias com pessoa de referência de etnia negra.

Embora todos os 31 treinadores da amostra tenham treinado (ou estejam treinando) atletas competitivos no Brasil, apenas 13 deles afirmaram ter treinado atletas ranqueados na ATP (masculino) e WTA (feminino) entre os rankings 26 e 1500 do mundo. O resultado não determina, entretanto, a qualidade dos treinadores, visto que boa parte dos

68 bons tenistas infanto-juvenis ainda não marcou pontos nos rankings profissionais.

Dos 29% dos treinadores patrocinados, somente 11,1% deles tem remuneração pelo patrocínio, sendo que 77,4% de todos da amostra trabalham somente com tênis, não exercendo nenhuma outra função profissional. O restante dos profissionais (22,6%) manifestou trabalhar na área comercial ou em funções relacionadas com o tênis, atuando como empresários, professores universitários ou dirigentes de tênis.

Um importante fator de satisfação profissional é a renda média mensal do treinador de tênis de alto rendimento (gráfico 3), e seu estudo pode revelar o posicionamento aproximado do profissional no estrato sócio-demográfico brasileiro (ABEP, 2011).

Gráfico 3. Distribuição de renda pessoal mensal obtida como treinador de tênis no Brasil.

A maioria dos treinadores de tênis recebe de 3 a 10 salários mínimos (S.M.) (73,4%), ou seja, recebem entre R$1.635,00 e R$5.540,00 (valores de 23/03/2011) como treinadores de tênis, enquanto que 13,3% dos profissionais recebem ainda mais. A média da remuneração mensal

0 10 20 30 40 Até 3 salários mínimos (SM) 3 a 6 SM 7 a 10 SM Mais de 10 SM 13,3 33,4 40,0 13,3 % do s t rei n ad o res Salários Mínimos (SM)

69 dos treinadores de tênis apresentou-se consideravelmente maior que a média do rendimento mensal dos brasileiros ocupados que, segundo os estudos do IBGE (2011) é de pouco mais de um salário mínimo, com variações regionais entre R$631,20 no sudeste e de R$314,70 no nordeste. Em um resultado complementar, a renda familiar do treinador mantém-se conforme mostra o gráfico 4 a seguir.

Gráfico 4. Distribuição de renda familiar dos treinadores de tênis no Brasil.

O gráfico da renda familiar dos treinadores apontou que a maior parte das famílias (75%) apresentou rendas elevadas. Destes 75%, quase metade recebe valores de 7 a 10 salários mínimos (35,7%) e outra metade acima dos 10 salários mínimos (39,3%). Considerando a renda média mensal das famílias brasileiras divulgada pela ABEP (2011), as famílias dos treinadores de tênis de alto rendimento recebem o equivalente às classes acima de B2 (figura 4).

0 20 40 Até 3 salários mínimos (SM) 3 a 6 SM 7 a 10 SM Mais de 10 SM 7,1 17,9 35,7 39,3 % do s trei na do res Salários Mínimos (SM)

70 Figura 4: Relação entre renda mensal familiar em reais e estratos sociais no Brasil

(ABEP, 2011)2.

Comparando com os estudos estatísticos do IBGE (2011), onde os resultados revelam que a média de rendimento mensal da família brasileira é de R$ 1.789,66, a renda familiar média da maioria dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil é, no mínimo, a partir de duas vezes o valor da média nacional. Esta renda possibilita que o treinador trabalhe com maior tranqüilidade para melhorar a qualidade da sua atuação profissional sem ter que buscar novas oportunidades de emprego.

O nível de jogo dos treinadores de tênis, com base nos critérios da CBT, é um elemento muito valorizado nas suas carreiras e é importante para formar o treinador quanto à sua condição de professor. Muita importância tem sido atribuída à habilidade do treinador na prática do esporte em que intervém (ISIDRO, 2009 e BERLINDER, 2000); essa experiência prévia na modalidade é considerada um importante fator da formação de treinadores (ex: participante I.K., quadro 3). O perfil do nível

2

Alguns estudos classificam a população em A, B, C, D e E, de acordo com fatores de renda, itens de conforto no lar, posses e estudos, entre outros. A figura 4 apresenta as classes sociais classificadas pelo fator “renda familiar”, elaborado pela ABEP (2011).

71 de jogo dos treinadores de tênis de alto rendimento pode ser observado no gráfico 5, que discrimina a distribuição dos treinadores conforme a classe a que pertencem, de acordo com a classificação na CBT: da primeira classe (para o melhor nível de jogo) até a sexta classe (iniciante).

Gráfico 5. Nível de jogo dos treinadores de tênis investigados de acordo com a classificação na Confederação Brasileira de Tênis3.

Nos resultados encontrados com relação à qualidade técnica na prática de jogo do treinador, observou-se que a maior parte dos treinadores de alto rendimento (77,4%) jogou torneios nos mais altos níveis federativos do país e, ainda, 12,9% tiveram experiência na segunda e terceira classe, que representa um bom nível de experiência prática para o treinador. Resultado semelhante foi encontrado no estudo de García (2001), que apresentou 70% dos treinadores espanhóis nos mais altos níveis de jogo. Porém, houve uma inversão na quantidade de treinadores com experiência

3

A classificação da Confederação Brasileira de Tênis para ordenar a qualidade técnica dos tenistas em torneios por classes parte da sexta (iniciantes) para a primeira classe (para os tenistas mais qualificados). Naturalmente, tenistas com pontuação nos rankings da ATP ou WTA possuem qualidade de jogo aprimorada igual ou mais que atletas da primeira classe.

0 20 40 60 80 Profissional (pontos na ATP ou WTA) Primeira

classe Segunda classe Terceira classe Nenhuma

12,9 64,5 3,2 9,7 9,7 Nível de jogo % do s t rei n ad o res

72 de jogo na categoria profissional, onde no estudo de García (2001) 65% deles jogaram no profissional contra 12,9% dos treinadores brasileiros; por outro lado, 64,5% destes manifestaram jogar na primeira classe, enquanto que somente 5% dos treinadores espanhóis mostraram jogar nesse nível. O perfil geral do nível de jogo dos treinadores aponta para uma ampla experiência com a prática dos fundamentos técnicos e táticos do jogo, o que vai ao encontro do estudo de Bloom, Salmela e Schinke (1995), que revelou que a experiência do treinador com a prática do esporte é um dos critérios elencados por atletas para qualificar um treinador. O resultado também concorda com os resultados de Isidro (2009), Berlinder (2000), Lyle (2002), Salmela (1996) e Schinke et al; (1995), quando revelaram que ter bastante conhecimento sobre o esporte por ter sido ex-atleta parece ser um fator determinante para entrar na carreira de treinador e contribui para se alcançar o sucesso profissional. Em contraponto à importância do nível de jogo, observa-se o comentário do participante R.K.: “O próprio Larri (Passos) não foi um grande jogador, mas teve uma boa experiência de quadra.” (quadro 3). O estudo de Resende et al; (2009) também encontrou

resultados que contrapõe a importância da necessidade de alto nível de jogo dos treinadores. Pesquisando sobre a avaliação dos treinadores sobre a formação dos treinadores em Portugal, observaram que ter sido ex-atleta não foi considerado um fator fundamental na decisão do treinador buscar formação.

A percepção dos treinadores investigados sobre nível de jogo que deveriam apresentar os bons treinadores de tênis de alto rendimento

73 encontra-se discriminada no quadro-resumo a seguir, que identifica e destaca os micro discursos dos participantes I.K, R.N.S e R.K. (quadro 3).

Quadro 3. Percepção dos treinadores investigados sobre nível de jogo que deveriam apresentar os bons treinadores de tênis de alto rendimento.

Nível de jogo que deveriam apresentar os bons treinadores de tênis de alto rendimento

Os treinadores de tênis de alto rendimento precisam ter passado pela experiência de todas as etapas de ensino (I.K).

Os treinadores de tênis de alto rendimento precisam ter experiência no circuito profissional de tênis (3).

Os treinadores de tênis de alto rendimento precisam ter experiência em viagens (3). O nível de jogo depende; o que precisa é ter uma boa experiência de quadra (R.K).

Os comentários dos participantes na entrevista qualitativa sobre o nível de jogo que deveriam apresentar os bons treinadores de tênis de alto rendimento mostraram que, embora o nível de jogo seja um elemento bastante valorizado entre os treinadores, o conhecimento do circuito profissional de tênis e a experiência vivenciada nele são variáveis muito importantes na percepção de qualidade de um treinador de tênis de alto rendimento.

4.3 DESCRIÇÃO DO PERFIL DA FORMAÇÃO INICIAL DOS