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DESCRIÇÃO DO PERFIL DA FORMAÇÃO PERMANENTE DOS

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.4 DESCRIÇÃO DO PERFIL DA FORMAÇÃO PERMANENTE DOS

A importância da formação permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento, seja ela pelas vias de aprendizagem informal, não-formal ou formal (NELSON et al; 2006) reside no fenômeno de busca do treinador pelo aprimoramento na área em que atua. O foco dos resultados da pesquisa neste tópico visa descrever os meios pelos quais os treinadores de tênis de alto rendimento do Brasil buscam capacitar-se após a assumirem a condição de treinadores pelo processo de formação inicial já realizada, avaliar as oportunidades de formação permanente disponibilizadas e sugerir novas situações de capacitação.

A qualidade das atividades de formação permanente ofertada aos treinadores de tênis de alto rendimento é um fator bastante importante na construção de um panorama favorável à participação dos treinadores de tênis nessas atividades, de forma que sua avaliação se torna relevante (tabela 11).

Tabela 11. Avaliação dos treinadores sobre a qualidade das atividades de formação permanente ofertadas atualmente aos treinadores de tênis de alto rendimento.

Avaliação Frequência (n) Percentual (%)

Pode melhorar muito 2 7,7

Pode melhorar 7 26,9

Qualidade normal 7 26,9

Boa qualidade 10 38,5

93 Quanto ao processo de formação permanente dos treinadores, em especial pelos caracterizados pela aprendizagem não-formal de Nelson et al. (2006) (participação em cursos, congressos, palestras, entre outros), cerca de dois terços dos treinadores investigados aprova a qualidade das atividades de formação permanente oferecidas (65,4%), enquanto que um terço dos treinadores avaliam que ainda tem que melhorar. Os treinadores de tênis brasileiros parecem não ser tão críticos quanto os treinadores espanhóis de alto rendimento, pois 75% deles avaliaram que as atividades de formação permanente na Espanha podem melhorar de alguma forma (GARCÍA, 2001).

Os resultados quanto à qualidade das atividades de formação permanente ofertadas permite-nos traçar um paralelo com as sugestões apontadas pelos técnicos de alto rendimento, que sugeriram algumas possibilidades de tornar essas atividades mais atrativas como, por exemplo, as imersões de treinadores em programas estruturados de

mentoring (onde um mentor participa como um exemplo para o processo

de aprendizado do treinador) (3), os intercâmbios (I.K.; R.K.) e os cursos (3) (quadro 7).

94 Quadro 7. Percepção dos treinadores investigados sobre o tipo de atividades de formação permanente que estão relacionadas à atualização ou melhora do nível de competência dos treinadores de tênis de alto rendimento.

Atividades de formação permanente que estão relacionadas à atualização ou melhora do nível de competência dos treinadores de tênis de alto

rendimento

Intercâmbios (I.K; R.K).

Estágio em atividades de mentoring (3). Cursos da CBT e ITF (3).

Conferências da ITF pelo website (R.N.S). Uso da internet (R.K).

Leitura de modo geral, tanto de livros sobre tênis como livros sobre temas gerais (R.K). Presença em torneios de tênis (R.K).

A presença em torneios foi um item citado por apenas um dos participantes. Porém, todos os participantes da entrevista qualitativa manifestaram a importância da experiência que devem ter os treinadores de tênis de alto rendimento no circuito, o que classifica a presença dos treinadores nos torneios como um importante meio de formação permanente. Da mesma forma, ao uso da internet foi um dos elementos que mais surgiram nas propostas de formação dirigidas pelos treinadores participantes.

Os resultados encontrados nesse estudo vão ao encontro do exposto pelos estudos de Vargas-Tonsing (2007), Irwin et al; (2004), Weaver e Chelladurai (1999) Blomm et al; (1995), que tratam da importância do uso da internet, das clínicas, seminários e simpósios, experiência prática, observação de outros treinadores e programas estruturados de mentoring, livros e vídeos.

95 Além da qualidade das atividades de formação permanente, outro fator tem bastante importância no processo de aquisição de conhecimentos para o treinador de tênis: a frequência nas atividades de formação permanente (tabela 12).

Tabela 12. Grau de participação dos treinadores de alto rendimento em atividades de formação permanente.

Grau de participação Frequência (n) Percentual (%)

Muito pouca participação 2 7,7

Pouca participação 3 11,5

Normal 11 42,3

Bastante participação 8 30,8

Muita participação 2 7,7

TOTAL 26 100,0

Grande parte dos treinadores participa continuamente de atividades de formação permanente, com freqüências de normal a muito elevadas (80,8%), enquanto que 19,2% deles manifestaram pouca ou muito pouca frequência. O resultado mostra que praticamente 1 a cada 5 treinadores pouco frequentam as atividades, o que difere da realidade espanhola, onde 70% dos treinadores espanhóis de tênis de alto rendimento manifestaram participar pouco ou muito pouco de atividades de formação permanente (GARCÍA, 2011). Os problemas gerados pela baixa frequência em eventos desta natureza são a baixa reciclagem do conhecimento de tênis e a falta de oportunidades para troca de experiência entre treinadores, que por vezes não têm tanta abertura como naquela ocasião para relacionar-se e trocar experiências com outros treinadores.

96 Alguns fatores podem estar relacionados com a impossibilidade dos treinadores de tênis de alto rendimento frequentarem atividades de formação permanente, conforme avaliação dos participantes I.K, R.N.S e R.K. (quadro 8).

Quadro 8. Percepção dos treinadores investigados sobre as principais dificuldades dos treinadores de tênis de alto rendimento na participação em atividades de formação permanente.

Principais dificuldades dos treinadores de tênis de alto rendimento na participação em atividades de formação permanente

O receio que os treinadores têm de não acompanharem tecnicamente os cursos (I.K). O receio que os treinadores têm de se expor (I.K).

O receio que os treinadores têm de serem descobertos nas suas limitações e fragilidades teóricas (I.K, R.N.S).

Não poder deixar de trabalhar para participar de atividades de formação (I.K).

Falta de tempo em razão das constantes viagens solicitadas pelo ofício de treinador de tênis de alto rendimento (R.N.S).

A falta de humildade dos treinadores para aprender (R.N.S).

A acomodação que os treinadores apresentam quando alcançam uma boa posição (R.K).

As respostas dadas pelos treinadores investigados sobre os maiores fatores limitantes da participação dos treinadores de tênis de alto rendimento em atividades de formação permanente representam uma excelente oportunidade de levantar graves problemas do processo de formação de treinadores no Brasil. Considerando a falta de estudos científicos do tênis brasileiro, em especial sobre a formação de treinadores, a identificação dos fatores intervenientes na formação do treinador

97 promove o afloramento de conhecimentos empíricos até então suprimidos na experiência de cada treinador. Tal conhecimento, embora perceptível pela grande massa de profissionais do tênis não era explorada com a devida profundidade.

Fatores como “a falta de tempo em razão das constantes viagens solicitadas pelo ofício de treinador de tênis de alto rendimento” (R.N.S) e “não poder deixar de trabalhar para participar de atividades de formação” (I.K) ainda ganham respaldo em estudos como o de García (2001), que verificou que 95% dos treinadores espanhóis de tênis de alto rendimento não podem deixar de atender aos seus trabalhos em razão de eventos de capacitação. Entretanto, fatores internos, pertencentes à individualidade e subjetividade inerentes de cada treinador foram agora observados nos relatos de alguns dos participantes. O participante R.N.S., por exemplo, resume essa “verdade” empírica reconhecida por vários dos profissionais do tênis no Brasil: “[...] o tênis é muito camuflado! Essa é uma das grandes razões de os treinadores não participarem de muitos eventos de capacitação permanente. É importante se abrir.”. Nesta perspectiva, fatores

pessoais como “o receio que os treinadores têm de não acompanharem tecnicamente os cursos (I.K)”, “o receio que os treinadores têm de se expor (I.K)”, “o receio que os treinadores têm de serem descobertos nas suas limitações e fragilidades teóricas (I.K, R.N.S)”, “a falta de humildade dos treinadores para aprender (R.N.S)” e a “acomodação que os treinadores apresentam quando alcançam uma boa posição (R.K)” são fundamentais para identificar grandes falhas no processo de formação inicial e

98 permanente dos treinadores de tênis no Brasil, dos professores de iniciação no tênis aos treinadores de tênis de alto rendimento.

Não foram achados resultados próximos a estas declarações dos treinadores deste estudo nas demais pesquisas encontradas, mas nos estudos de Vargas-Tonsing (2007), um dos fatores dificultadores observados conferem com os resultados encontrados nesta (tabela 13), onde o alto custo dos eventos é um fator limitador importante da maior frequência de técnicos nos eventos de formação permanente.

Tabela 13. Principais dificuldades dos treinadores de alto rendimento para participarem de atividades de formação permanente

Principais dificuldades Frequência (n) Percentual (%)

Dificuldades econômicas 7 25,9

Ocupações e responsabilidades familiares 10 37,0 Não poder deixar de atender ao seu trabalho 10 37,0

TOTAL 27 100,0

Embora os resultados deste estudo referentes ao alto custo tenham corroborado com os encontrados em estudos como o de Vargas-Tonsing (2007), os resultados das limitações referentes às ocupações e responsabilidades familiares (37%), e de não poderem deixar de atender ao seu trabalho (37%) representam fatores importantes a ser observado. O resultado mostra que a rotina de trabalho e as ocupações e responsabilidades familiares ocuparam a maior parte da responsabilidade em não permitir ao treinador participar de atividades de formação permanente.

No estudo de doutorado de García (2001), as ocupações e compromissos familiares não corresponderam a um problema (0%), nem

99 mesmo as dificuldades econômicas. Apesar da leve discrepância entre os resultados do fator “dificuldades econômicas” entre o atual estudo e o de García (2001) (25,9% e 0%, respectivamente), o argumento do participante R.N.S sintetiza em favor dos resultados de García (2001), quando expõe que “o valor da capacitação não importa; o interessante é O QUE se oferece. Mesmo uma passagem para os Estados Unidos ou Europa, a hospedagem, pode ser barata em consideração ao retorno que propicia. Se o curso é ruim, qualquer custo é caro.”. Este argumento encontra ainda

mais respaldo se considerarmos a média da renda familiar dos treinadores de tênis de alto rendimento encontrados neste estudo, onde a maioria dos treinadores de tênis recebe de 3 a 10 salários mínimos (S.M.) (73,4%), ou seja, recebem entre R$1.635,00 e R$5.540,00 (valores de 23/03/2011) como treinadores de tênis, enquanto que 13,3% deles recebem ainda mais. Os principais problemas das atividades de formação permanente ofertadas podem representar fatores importantes para a ausência de parte dos treinadores de tênis dessas atividades (tabela 14).

Tabela 14. Percepção dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil sobre os principais problemas das atividades de formação permanente ofertadas.

Principais problemas Frequência (n) Percentual (%) Escassa existência de atividades com rigor científico

promovidas pelos órgãos federativos 5 20,8

Escassa adaptação das atividades de índole científica às

necessidades e nível de compreensão dos treinadores 3 12,5 Atividades excessivamente estereotipadas (parecidas,

monótonas, repetição de conteúdos) 11 45,8

Atividades pouco motivantes 1 4,2

100 A rotina didática, prática e teórica dos eventos de formação permanente parecem corresponder à grande parte dos principais problemas na oferta das atividades, com 45,8% da opinião dos treinadores de tênis. Praticamente um em cada cinco treinadores considera que existem poucas atividades com rigor científico nos cursos, e um em cada dez considera que os conteúdos científicos não são passados para os treinadores de forma clara e objetiva. Este resultado pode estar relacionado ao alto percentual de treinadores sem formação no nível superior em Educação Física e, portanto, afastado da rotina de contato com termos e conhecimentos científicos. Poucos treinadores consideraram as atividades de formação permanente pouco motivantes (4,2%). Comparando estes resultados com os encontrados no estudo de García (2001), a falta de atividades com rigor científico mostrou equivalência com o atual estudo (25%), e os espanhóis mostraram mais dificuldade com as atividades de caráter científico (25%) em relação aos treinadores brasileiros. O fato pode estar relacionado com a formação dos treinadores no curso de Educação Física, que no Brasil representa 34,5% dos treinadores investigados, enquanto que na Espanha nenhum deles tem formação no nível superior em Educação Física.

Diferentemente do encontrado no estudo de García (2001), grande parte dos treinadores de tênis de alto rendimento do Brasil considerou que um dos principais problemas das atividades de formação permanente são as atividades excessivamente estereotipadas (45,8%) (parecidas, monótonas, repetição de conteúdos). Com esta avaliação, torna-se

101 importante refletir se os cursos não apresentam novidades porque os conhecimentos do tênis já estão há muito sedimentados ou se os professores não têm ensinado aos demais as novas possibilidades de intervenção que têm aprimorado na sua prática.

Com o objetivo de facilitar a leitura dos resultados gerais sobre a caracterização dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil, bem como do perfil da formação inicial e permanente dos treinadores investigados, na sequência serão apresentados os quadros-resumo dos resultados mais importantes. O perfil de caracterização geral dos treinadores de alto rendimento no Brasil resume-se no quadro 9.

Quadro 9. Perfil da caracterização geral dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil.

Caracterização geral

Variável Características

Idade Adultos com média de idade de 36,5 anos ± 9,09. Tempo de experiência como atleta Bastante experiência com a prática de jogo (25,13 anos ± 11,30). Tempo de experiência como treinador Bastante tempo de experiência (25,13 anos ± 11,30). Patrocínio Poucos são patrocinados (29%) e tão pouco são remunerados pelo patrocínio (11,1%). Trabalho extra tênis A maioria trabalha exclusivamente com tênis (77,4%). Renda média mensal A maioria recebe de 3 a 10 salários mínimos (SM)

(73,4%) e 13,3% recebem mais de 10 SM. Nível de jogo A maioria (77,4%) foi profissional ou joga primeira

classe e 12,9% joga 2ª ou 3ª classe.

Os resultados sobre o perfil de formação inicial dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil encontram-se resumidos no quadro 10.

102 Quadro 10. Perfil da formação inicial dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil.

Formação Inicial

Variável Características

Graduação no ensino formal

Cerca de um terço dos treinadores de tênis de alto rendimento (34,5%) apresentou formação no curso de Educação Física. Os treinadores provisionados (não formados em Educação Física) correspondem a 65,5% e realizaram suas formações iniciais

predominantemente pelas vias informais e não formais (NELSON et al; 2006). 23,3% dos treinadores tem ensino médio.

Certificação no Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) da CBT

Mais da metade dos treinadores são certificados pelo SNGP (58,1%).

Participação dos treinadores em disciplinas de tênis ou disciplinas com conteúdos de tênis em Instituição de Ensino Superior em Ciências do Esporte/Educação Física

A maioria dos treinadores (71%) nunca participou de disciplinas de tênis ou disciplinas com conteúdos de tênis em Instituição de Ensino Superior em Ciências do Esporte/Educação Física.

O perfil da formação permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil encontra-se, resumidamente, no quadro 11.

Quadro 11. Perfil da formação permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil.

Formação Permanente

Variável Características

Atividades de formação permanente mais indicadas pelos treinadores

Participação em intercâmbios, estágios em atividades de mentoring, cursos da CBT ou ITF, uso da internet, conferências da ITF pelo website, leitura de livros sobre tênis ou gerais e presença em torneios de tênis. Participação em atividades de

formação permanente Grande parte dos treinadores participa continuamente de atividades de formação permanente (80,8%).

Fatores dificuldades na participação em atividades de formação

permanente

A rotina de trabalho e as ocupações e

responsabilidades familiares e o receio de serem descobertos nas suas limitações e fragilidades teóricas ocuparam a maior parte da responsabilidade em não permitir ao treinador participar de atividades de formação permanente.

Percepção dos treinadores sobre os principais problemas das atividades de formação permanente ofertadas no Brasil

45,8% dos treinadores concordam que sejam as atividades excessivamente estereotipadas (parecidas, monótonas, repetição de conteúdos); um em cada cinco treinadores considera que existem poucas atividades com rigor científico nos cursos, e um em cada dez considera que os conteúdos científicos não são passados para os treinadores de forma clara e objetiva.

103 De forma geral, a formação inicial dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil não está diferente dos treinadores de tênis espanhóis (GARCÍA, 2001) em várias das variáveis, apresentando a base da sua formação inicial nas aprendizagens no tipo informal e não-formal (NELSON et al; 2006). Há de se considerar a importância que estes processos de aprendizagem têm na formação profissional dos treinadores, especialmente observando a performance dos tenistas espanhóis no circuito mundial de tênis. É evidente que outros fatores podem ser responsáveis pelo sucesso de um atleta no circuito, como por exemplo, o acesso das equipes de treinamento a laboratórios, a participação de uma equipe interdisciplinar de apoio, a abertura dos treinadores à intervenção dos demais profissionais das ciências do esporte, entre outros. Embora a literatura (CASSIDY et al; 2009 e ISIDRO, 2009), os treinadores (I.K; R.N.S) e os próprios atletas (Gustavo Kuerten) considerem a importância da formação dos treinadores no nível superior em Educação Física, a prática mostra que em uma das maiores potências do tênis no mundo todos os 20 treinadores da amostra do estudo de García (2001) não têm essa formação. Pelos resultados sobre a formação permanente, o que se evidencia para o Brasil é a necessidade de um replanejamento pessoal (seja pela organização familiar, de trabalho e de abertura para novos aprendizados) e da reorganização do sistema de formação de treinadores de tênis, a fim de organizar melhor as atividades desenvolvidas para os treinadores e de planejar a formação dos treinadores de tênis em uma ação conjunta entre a Confederação Brasileira de Tênis e as instituições de ensino superior.