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FORMAÇÃO INICIAL E PERMANENTE NO TÊNIS

A preparação para intervenção do profissional como treinador de tênis está diretamente relacionada com a formação inicial e permanente que realiza.

26 Muito tem se investigado sobre quais os conhecimentos que o professor necessita dominar para poder ensinar (GRAÇA, 1997; GROSSMAN, 1990; SHULMAN, 1987), o que Fenstermacher e Monteiro apud Ramos (2008) conceituam como “conhecimento de base”. As metas e finalidades da formação inicial de professores, por exemplo, segundo García (1999), incluem as dimensões de conhecimentos, destrezas, habilidades ou competências e atitudes ou disposições. A busca por essas aquisições é o que permite o processo de formação dos treinadores, e o fazem por alguns tipos de aprendizagens, segundo Nelson et al; (2006).

As aprendizagens capazes de formar o arsenal de conhecimento de um treinador, ou conhecimento de base, tem sido definida por Nelson et al; (2006) como aprendizagens dos tipos formal, não formal e informal. A aprendizagem do tipo formal decorre de um sistema de certificação, institucionalizado e estruturado hierarquicamente, com algum arranjo cronológico de médio e longo prazo, oferecido por entidades governamentais, federações esportivas, entre outras. O tipo de aprendizagem informal, por outro lado, é identificado como um processo na qual cada pessoa constrói conhecimentos, atitudes e discernimentos próprios a partir de experiências do cotidiano de treino. Por último, o autor acrescenta a definição de aprendizagem do tipo não formal, referindo-se a um conhecimento organizado, transmitido fora da estrutura do sistema formal e idealizado para fornecer alguns tipos de aprendizagens para grupos particulares da população em períodos de tempos mais curtos. As conferências, os seminários, os workshops e as clínicas são alguns exemplos mais comuns de aprendizagem não formal (NELSON et al; 2006).

27 A preocupação e o interesse sobre a formação de treinadores têm estimulado estudos em alguns países como Austrália, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Nova Zelândia e Inglaterra, com treinadores de sucesso na categoria principal, ressaltando um importante fenômeno da aprendizagem informal. Os resultados vêm mostrando que a construção do conhecimento profissional, ou “conhecimento de base” (FENSTERMACHER e MONTEIRO apud RAMOS, 2008), é fortemente influenciado pela experiência de prática cotidiana no esporte e decorre de um processo contínuo que se inicia ainda na etapa de jogador em formação (JIMÉNEZ e LORENZO, 2007; TRUDEL e GILBERT, 2006; JONES et al; 2004; IRWIN et al; 2004; JONES, et al; 2003; CUSHION et al; 2003; GILBERT e TRUDEL, 2001; FLEURENCE e COTTEAUX, 1999; SALMELA, 1996; SCHINKE et al; 1995 e GOULD et al; 1990).

Teorizando sobre os processos de aprendizagem, Trudel e Gilbert (2006), utilizando as metáforas de aprendizagem de Sfard (1996), conceituaram a metáfora da participação e a metáfora da aquisição. Reforçando a importância da experiência da prática cotidiana, os autores conceituam a metáfora da participação, onde a aprendizagem do treinador decorre de um processo de reflexão da sua prática pessoal e também por um processo particular de observação que realiza ao longo da sua vida e que o faz tornar-se treinador. Já com referência à aprendizagem formal e não formal, nesta perspectiva de Sfard (2008), os autores conceituaram a metáfora da

aquisição, a qual compreende a aprendizagem passiva provinda da

28 instituições formais de ensino (NELSON et al; 2006), conforme mostra a Figura 2.

Figura 2: Como se aprende a ser treinador, segundo o diagrama das metáforas da aquisição e da participação de Trudel e Gilbert (2006). Diagrama adaptado de Trudel e Gilbert (2006).

Essencialmente a diferença entre as duas metáforas é que no modelo da

aquisição a aprendizagem é marcada pela transferência direta do que os

treinadores “devem saber” e “devem fazer” da mente de um indivíduo conhecedor para outro e, na metáfora da participação a aprendizagem se evidencia em um esforço voluntário do indivíduo para interagir com outras pessoas, convertendo o processo de aprendizagem em uma atividade de proporções sociais (TRUDEL e GILBERT, 2006 e SFARD, 1998).

García (2001) em seu estudo de doutorado contextualizou a formação inicial de treinadores na Espanha que, pelos estudos anteriores de Medina e Ibañes (2000), provém de cursos para “Professorado”, para técnicos (Técnico Desportivo e Técnico Desportivo Superior), e para Licenciados em Ciências da

29 Atividade Física e do Esporte, tal qual se estabelece pela promulgação do Real Decreto de 1913/1997. Esta estrutura foi àquela adotada como base para os estudos de García (2003; 2001) e Crespo (2008 e 1996) sobre formação inicial e permanente de treinadores. Entretanto, considerando a realidade legal brasileira (CONFEF, 2011), esta estrutura não pode ser adotada exatamente como foi nos estudos anteriormente citados sendo, para tanto, necessária uma adaptação.

A adaptação para a realidade brasileira da definição de formação inicial seguiu a legislação nacional, definida pela promulgação da lei nacional n 9696/98 (ANEXO K), que define como treinadores de tênis aqueles profissionais em Educação Física ou provisionados em tênis de campo pelo sistema Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) e Conselho Regional de educação Física (CREF). Esta definição completa a teoria de formação inicial no Brasil, que além dela, pressupõe a aquisição de conhecimento profissional, ou “conhecimento de base” (FENSTERMACHER e MONTEIRO apud RAMOS, 2008) por aprendizagem do tipo formal (NELSON et al; 2006), que decorre de um sistema de certificação, institucionalizado e estruturado hierarquicamente, com algum arranjo cronológico de médio e longo prazo, oferecido por entidades governamentais, federações esportivas, entre outras. Portanto, formação inicial de treinadores de tênis provém dos cursos de Educação Física (em especial pelo bacharelado) ou de sua experiência pessoal e profissional com o tênis (TRUDEL e GILBERT, 2008), desde que tenha comprovado por, pelo menos três anos antes da promulgação da lei 9696/98, atividades profissionais com a modalidade de tênis (CONFEF, 2011). Observa- se, para tanto, a possibilidade de um técnico de tênis no Brasil estar legalmente

30 em atividade e, simultaneamente, não possuir formação inicial do tipo formal (NELSON et al; 2006) para a intervenção no tênis. Estes são os denominados provisionados em tênis, que conduzem a sua prática pela formação baseada em aprendizagem do tipo não formal e/ou informal (NELSON et al; 2006) e pela metáfora de participação ou aquisição de Trudel e Gilbert (2008).

Considerando os perfis possíveis dos treinadores de tênis no Brasil com relação às suas formações iniciais temos, segundo a regulamentação da profissão de Educação Física - lei 9696/98, os profissionais em Educação Física e os profissionais provisionados (ANEXO K). Os profissionais com nível superior naturalmente passaram por todas as etapas prévias do ensino formal. Para estes, a formação pode ter sido realizada na área da Educação Física e Esportes, para outras áreas afins e/ou para áreas não afins, independente da intervenção como treinador de tênis. Os provisionados, entretanto, podem caracterizar-se por terem ou não cursado qualquer nível do ensino formal regular, de forma que suas formações iniciais podem ter sido oriundas somente pelas aprendizagens não formais ou informais (CONFEF, 2011).

A formação permanente segue a orientação de estudos anteriores (CRESPO, 2008 e 1996; GARCÍA, 2003 e 2001; MEDINA e IBAÑES, 2000) e a teoria dos tipos de aprendizagens de Nelson et al; (2006) e Trudel e Gilbert (2008) pelas metáforas de aprendizagem de Sfard (1996); assim adapta-se para a realidade brasileira definindo-se pela aquisição de conhecimento profissional, ou “conhecimento de base” (FENSTERMACHER e MONTEIRO apud RAMOS, 2008) por aprendizagem do tipo não formal e informal, suportados também pela metáfora de aquisição e participação. No Brasil, boa parte das oportunidades de formação permanente não formal provém de

31 cursos e demais eventos outorgados pela Confederação Brasileira de Tênis, pelas confederações de outros países ou mesmo pela International Tennis

Federation (ITF) – órgão que regula o tênis mundial.

2.5.1 Formação promovida pela Confederação Brasileira de Tênis

A Confederação Brasileira de Tênis (CBT), com a meta de valorizar os profissionais capacitados e incentivar a todos os treinadores do Brasil a buscar formação e atualização constante, criou o Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP). A confederação expede, atualmente, os títulos de Instrutor, Treinador, Treinador Nacional, Técnico Nacional e Técnico Master (CBT, 2010), respectivamente da menor para a maior graduação, conforme pode ser observado na Figura 3.

32 A CBT considera que alguns aspectos são importantes e diferenciais na formação de um profissional bem preparado e atualizado. Para tanto, não só os cursos realizados pelos profissionais na CBT são contabilizados pelo SNGP, mas também a história do treinador como jogador e técnico, além da experiência de trabalho e formação escolar e universitária. A entendimento da Confederação é de que, com a ampla divulgação deste sistema, os profissionais que atingirem graduações superiores serão naturalmente selecionados pelo mercado do tênis (CBT, 2010).

Os requisitos básicos e normas de funcionamento para ingressar no sistema podem ser observados no ANEXO I.