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Caracterização e introdução histórica à Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho

DE SANTO AGOSTINHO

1. Caracterização e introdução histórica à Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho

A Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho (O.E.S.A.), ou Ordo Eremitarum

Sancti Augustini, é uma ordem religiosa que nasceu através da iniciativa pontifícia

pela união de vários grupos eremíticos já existentes e observantes da Regra de Santo Agostinho, mais concretamente grupos eremíticos da Toscana (Itália), aos quais se vieram a juntar, mais tarde, outros grupos eremíticos, dos quais se desta‑ cam, por exemplo, os Guilhermitas e os Eremitas de Frei João Bom. Este processo fundacional da O.E.S.A. verificou‑se em dois momentos distintos, em 1243‑1245 e em 1255‑1256, o último dos quais conhecido como a “Grande União”.

Desde a sua fundação, a O.E.S.A. assumiu um cariz mendicante que, no entanto, apenas lhe foi formalmente reconhecido em 1567 pelo Papa Pio V, sendo ainda de destacar que eram “(…) as Constituições que, juntamente com a Regra de S.to Agostinho, constituíam o texto fundamental de toda Ordem.”2 À seme‑

lhança das restantes ordens mendicantes, a O.E.S.A. caracterizava‑se por uma estrutura organizacional bastante hierarquizada:

Papa Prior‑Geral Provincial Prior (convento)/ Reitor (colégio) Comunidade conventual/colegial Cardeal‑Protector Procurador‑Geral

Figura 1. Organigrama da O.E.S.A.

Devendo obediência direta ao Papa, o prior‑geral era coadjuvado por um procurador‑geral da Ordem e contava ainda com intermediação de um cardeal‑ ‑protetor junto do Papado, encontrando‑se a ordem religiosa sediada em Roma. Internamente, a Ordem encontra‑se organizada de acordo com províncias, cir‑ cunscrições territoriais governadas por um provincial, com necessidade de um número mínimo de casas religiosas e de religiosos para a sua constituição. Cada

2 Cristiana Lucas Silva; João Luís Inglês Fontes – Agostinhos..., p.  39. As Constituições da Ordem dos

Eremitas de Santo Agostinho são datadas de 1244 e, posteriormente, foram periodicamente revistas (1254, 1290, 1551, 1575, 1685, 1753, 1895, 1925, 1968 e 2007).

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província era constituída por conventos e colégios, sendo estes governados, res‑ petivamente, por um prior ou um reitor e constituídos por um número variável de religiosos.

A O.E.S.A. é ainda marcada pelo seu carisma: “Anima una e cor unum in

Deum”3, assente este em três pilares complementares: a via de interioridade; a

vida em comunidade; e o serviço à Igreja. Neste sentido, pode salientar‑se que “A humildade e a pobreza individual são encaradas como exigências decorrentes desta comunhão [com Deus e com os Irmãos da comunidade]. O estudo assume também, no carisma agostinho, uma importância central, quer como caminho da procura de Deus e da comunhão com Ele, quer como meio para uma adequada preparação para a actividade pastoral.”4

A O.E.S.A. encontra‑se estruturada em vários ramos. O  ramo fundado aquando da fundação da O.E.S.A. foi o ramo designado “calçado” da Ordem. No seguimento do Concílio de Trento, e à semelhança do que aconteceu com outras ordens religiosas, surgiu um ramo reformado da O.E.S.A. que visava regressar à vivência e à pureza originais da Ordem, reforma extensível a todos os seus membros, masculinos e femininos, que se veio a designar como “descalço”. Tanto o ramo calçado como o descalço possuíam conventos masculinos e femininos. Existia ainda uma Ordem Terceira associada à O.E.S.A., formada por um con‑ junto de leigos que viviam de acordo com as normas e ideais da referida Ordem.

A presença em Portugal da O.E.S.A. verificou‑se através da existência de conventos masculinos e femininos dos ramos calçado e descalço da Ordem e, também, através da sua Ordem Terceira, para a qual, contudo, só se possuem dados para um período mais tardio.

No território português, e anteriormente à fundação da O.E.S.A., existiam já comunidades eremíticas que viviam segundo a Regra de Santo Agostinho, tais como a comunidade eremítica do Monte de São Gens, em Lisboa, ou a comu‑ nidade eremítica existente em Penafirme. Estas comunidades integraram‑se na O.E.S.A. após a Grande União, em 1256. Contudo, deve referir‑se que

“As origens da presença dos Eremitas de Santo Agostinho em território portu‑ guês, permanecem, em larga medida, por esclarecer, dada a falta quase total de dados que recenseiem, a partir da documentação existente, os dados seguros sobre as datas e circunstâncias da fundação das primeiras comunidades agosti‑ nhas. As informações facultadas pelos cronistas da Ordem devem, aqui, ser lidas com particular cuidado, dada a tendência para ligar os conventos mais antigos a

3 Este traduz‑se como “Uma só alma e um só coração orientados para Deus”. 4 Cristiana Lucas Silva; João Luís Inglês Fontes – Agostinhos..., p. 39.

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feitos do passado particularmente exaltantes (…) ou a figuras prestigiantes que, na historiografia da Ordem, desde cedo foram associadas às suas fileiras (…)”.5

Ao longo dos séculos XIII e XIV assistiu‑se a uma série de fundações con‑ ventuais masculinas da O.E.S.A., que culminaram na sua autonomização face à Província de Espanha de 1387, também ela justificada pela conjuntura política de conflito com Castela existente neste período. Esta autonomização concretizou‑se na criação de um Vicariato Provincial sob a direta dependência do Prior‑Geral da Ordem e, a partir de 1476, na criação de uma autónoma Província de Portugal da O.E.S.A. Neste contexto assistiu‑se a um novo período de fundações conventuais, masculinas e femininas, em território português.

Em 1535, no seguimento de um pedido feito por D. João III ao Prior‑Geral da Ordem, os Padres Frei Francisco de Villafranca e Frei Luis de Montoya des‑ locaram‑se a Portugal para reformar a Província de Portugal tendo esta vários objetivos bem definidos:

“(…) na normalização e defesa da vida comunitária, no cuidado com a formação e renovação espiritual e cultural dos religiosos, na vigilância sobre a admissão e formação dos candidatos à Ordem, na realização regular de visitas canónicas aos diversos conventos, na escolha criteriosa dos priores e outros religiosos para cargos de direcção e governo das casas, na promoção de uma correcta gestão dos bens conventuais (…) e na própria realização de importantes obras com vista à adequação das estruturas conventuais às necessidades de vida das comunidades.”6

Este período de reforma da Província prolongou‑se até 1569 e foi acom‑ panhado de novas fundações conventuais, masculinas e femininas, que se pro‑ longaram até 1630. Neste período destacaram‑se ainda as visitas à Província de Portugal por parte de três dos seus superiores gerais, a saber: Jerónimo Seripando em 1541, Tadeu Guidelli (ou Tadeu Perusino) em 1573 e Gregório Petrocchini (ou Gregório de Montelparo) em 1589.

Em meados do século XVI teve também origem o início da atividade mis‑ sionária dos Agostinhos no Golfo da Guiné e na Índia Oriental, tendo sido neste último território que a mesma teve um maior destaque. Aliás, a atividade mis‑ sionária na Índia Oriental originou a Congregação da Índia Oriental, sendo esta “(…) governada como se de uma província se tratasse, mas sempre dependente da Província de Portugal, com a ‘casa‑mãe’ sediada em Goa.”7

5 Cristiana Lucas Silva; João Luís Inglês Fontes – Agostinhos..., p. 39. 6 Cristiana Lucas Silva; João Luís Inglês Fontes – Agostinhos..., p. 41. 7 Cristiana Lucas Silva; João Luís Inglês Fontes – Agostinhos..., p. 43.

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Mais tarde, já em 1834, as ordens religiosas foram extintas em Portugal e os seus bens nacionalizados por decreto de Joaquim António de Aguiar, ministro da Justiça; em consequência, à extinção imediata dos conventos masculinos seguiu‑ ‑se a longa agonia dos femininos, proibidos de admitirem novas candidatas e, por isso, extintos à data da morte da última religiosa.”8

2. O  Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa como convento e