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4. SETOR INDUSTRIAL

4.7 CARACTERIZAÇÃO TRIBUTÁRIA

Sobre o setor industrial incidem diversos tributos, cujas aplicações têm regimes variados, em termos de base de cálculo, alíquotas e cumulatividade. Dentre os tributos federais, têm-se, além do Imposto de Renda (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), as contribuições previdenciárias, a Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) / Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que será avaliado com maior profundidade neste relatório.

O aumento da carga de tributos incidentes sobre bens e serviços, explicado principalmente pelo crescimento da carga de impostos cumulativos, tem sido a principal causa da tendência à elevação da carga tributária ao longo das duas últimas décadas. A fim de priorizar a tributação sobre valor agregado em contraposição à incidência em “cascata”, foi concebida uma proposta de não cumulatividade para IPI e ICMS, por meio da técnica de compensação de débitos com créditos (GIAMBIAGI e ALÉM, 2011).

Contudo, permanecem críticas com relação a esse aspecto do sistema tributário brasileiro, que consideram tributos de “má qualidade” aqueles que possuem incidência cumulativa, por prejudicar o desempenho do setor produtivo. De acordo com estudo conduzido pela FIESP considerando dados de 2005 a 2009, na indústria de transformação, a carga tributária chegava a 40,3% do preço dos produtos. Os tributos sobre o consumo e a produção (IPI, ICMS, PIS e COFINS) eram responsáveis por 20,8% do preço dos bens industriais. Desse modo, dos 40,3% de participação da tributação nos preços da indústria, 51,6% decorriam da ação direta e indireta de tributos sobre o consumo e a produção. Dentre as razões para a elevada carga tributária no setor está o fato de que a cadeia produtiva na indústria é mais longa, fazendo com que esta esteja submetida a todos os tributos existentes na economia (FIESP, 2010).

Pesquisa conduzida pela CNI em 2011139, indicou que os tributos que causam maior impacto negativo sobre a competitividade das empresas na percepção de representante do setor industrial são o ICMS, as contribuições previdenciárias e a Cofins (CNI, 2011a). O IPI figura em sexto lugar, conforme mostra o gráfico a seguir.

139 O perfil da amostra contou com 1.692 empresas, sendo 915 pequenas, 535 médias e 242 grandes das indústrias extrativa e da transformação.

Figura 23 – Tributos que causam maior impacto negativo sobre a competitividade (percentual de respostas)

Fonte: CNI (2011a)

A contribuição para o PIS/Pasep e a Cofins possuem regras bastante similares, variando conforme seus contribuintes (pessoas jurídicas de direito privado, público ou contribuintes especiais, tais como instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos, sindicatos e templos). Ambos os tributos apresentam três hipóteses de incidência distintas:

 O auferimento de receitas, para pessoas jurídicas de direito privado;

 O pagamento da folha de salários, para entidades de relevância social determinadas em lei;

 A arrecadação mensal de receitas correntes e o recebimento mensal de recursos, para entidades de direito público.

Para ambas as contribuições, há diferentes regimes de incidência: cumulativa, não cumulativa e especial. O regime de incidência cumulativa aplica-se a empresas tributadas pelo lucro presumido, ao passo que as tributadas pelo lucro real estão sujeitas ao regime cumulativo. Os regimes têm alíquotas distintas.

Cabe mencionar também que as contribuições para o PIS/Pasep e da Cofins são utilizadas como instrumento de política de incentivo de exportações de segmentos específicos, a exemplo do Regime Especial de Tributação para a Plataforma de Exportação de Serviços de Tecnologia da Informação (REPES), que suspende a exigência das contribuições mencionadas incidentes sobre receita bruta auferida ou serviços importados diretamente por empresa prestadora de serviços beneficiária do Repes.

Outro ponto a destacar quanto ao PIS/Pasep e Cofins diz respeito à arrecadação, que em 2013 atingiu quase R$ 260 bilhões. Os dados divulgados pela Secretaria da Receita Federal indicam que a fabricação de veículos automotores é o segmento da indústria que mais contribui para a arrecadação dos tributos mencionados (Tabela 11). 70,1 62,5 58,2 25,6 25,3 24 14,8 7,7 4,7 ICMS Contribuições previdenciárias Cofins PIS IRPJ IPI CSLL ISS Outros

Tabela 11 – Arrecadação de PIS/Pasep e Cofins (2012 e 2013)

Arrecadação da Cofins / PIS-Pasep por divisão econômica

Divisão econômica (CNAE) Arrecadação (R$ milhões)

Jan - Dez / 2013 Jan - Dez - 2012

Entidades financeiras 17.999 16.473 Serviços de escritório, apoio administrativo e outros serviços 5.024 4.088

Fabricação de veículos automotores 14.747 13.903 Fabricação de bebidas 2.182 1.447

Metalurgia 3.656 3.077

Fabricação de máquinas e equipamentos 4.926 4.403

Telecomunicações 6.050 5.618

Fabricação de equip. de informática e eletrônicos 5.353 4.972 Seguros e previdência complementar 3.210 2.903 Atividades imobiliárias 2.234 1.948 Subtotal [A] 65.381 58.832

Demais [B] 194.300 181.549 Total [C] = [A] + [B] 259.681 240.381 Fonte: RFB (2013)

Em que pese a relevância das contribuições para o PIS/Pasep e Cofins em termos de carga tributária para a atividade industrial no País, o foco deste relatório, considerando o escopo do plano de trabalho previamente estabelecido, voltar-se-á para o IPI, que será analisado em detalhe na seção seguinte. Contudo, cabem algumas considerações quanto às diferentes características que marcam estes tributos.

Primeiro, a base econômica do IPI é a submissão do produto a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo. A base econômica das contribuições sociais depende da incidência. Emprego de funcionários, venda de produtos ou serviços, geração de lucros são bases de incidência para essas contribuições.

O fato de as contribuições para o PIS/Pasep e Cofins incidirem sobre o faturamento das empresas (auferimento de receita por pessoa jurídica de direito privado), independentemente de atividade exercida e de classificação contábil adotada para a escrituração das receitas, amplia o alcance do incentivo, quando comparadas ao IPI, porém possivelmente requererá regras mais abrangentes para definição dos critérios de elegibilidade a incentivos tributários de caráter ambiental. Assim, a incidência das contribuições para o PIS/Pasep e Cofins favoreceria a concessão de incentivos com base no desempenho de emissões da empresa (por CNPJ).

O IPI, por seu turno, como já define alíquotas em função da essencialidade dos produtos, e pode alterá-las com o objetivo de corrigir distorções, apresenta um perfil que favorece o desenho de incentivos que prevejam a redução de alíquotas em função das emissões de GEE, seja durante sua produção, seja durante sua utilização. Como é estabelecida uma alíquota para cada produto, a redução desta pode ser diretamente associada às emissões em fases predefinidas do ciclo de vida do produto. Essas diferenças, no entanto, não impedem que incentivos de IPI sejam dados com base em emissões diretas totais de uma empresa, ou que isenções de PIS/Pasep e Cofins possam ser feitas a empresas que produzem produtos com baixa emissão de GEE.

Quanto à diferenciação de tratamento tributário entre produtos nacionais e importados, cabe mencionar que tanto IPI como as contribuições especiais mencionadas teriam condições de diferenciar produtos semelhantes com diferentes contribuições em termos de emissões de GEE, já que o IPI incide sobre os bens de procedência estrangeira e as contribuições para o PIS/Pasep e Cofins também incidem sobre receita auferida da comercialização de produtos importados. Entretanto, é importante enfatizar que tal tratamento não deve ir de encontro às regras de não discriminação contidas no GATT ou GATS, isto é, ser uma restrição disfarçada ao comércio internacional (RODRIGUES e BUENO, 2010).

Por fim, o fato de o IPI ter menor arrecadação, por um lado pode ser uma desvantagem do ponto de vista da atratividade do incentivo, porém implica menor gasto tributário para a União quando utilizado para desoneração fiscal.