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EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E CONSERVAÇÃO DE ENERGIA NA INDÚSTRIA

4. SETOR INDUSTRIAL

4.5 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E CONSERVAÇÃO DE ENERGIA NA INDÚSTRIA

A eficiência energética é uma das maneiras mais efetivas de reduzir custos e impactos ambientais locais e globais simultaneamente. Além disso, como medida de conservação, diminui a necessidade de subsídios governamentais para a produção de energia (GOLDEMBERG; LUCON, 2007). Alguns autores entendem que o uso de políticas de conservação energética funciona como uma usina virtual de produção de energia, pois a economia de energia contribui para a redução de gastos com energia e adiamento da necessidade de investimento na expansão de geração de eletricidade. Contudo, o potencial de possibilidades de conservação deve ser considerado em sua totalidade, ou seja, medidas de eficiência na produção, na transmissão e na distribuição de energia, e outros aspectos de mercado da energia (GRIMONI, GALVÃO e UDAETA, 2004).

Nesse contexto, é possível destacar alguns estudos cujo objetivo é investigar o potencial de conservação de energia por medidas de eficiência energética, dentre eles estudos setoriais da CNI (2010) e a nota técnica da Empresa de Pesquisa Energética sobre Avaliação da eficiência energética para os próximos dez anos (2012 - 2021) (MME, 2012). Já a Federação das Indústrias de Santa Catarina fez levantamento de uma série de medidas de combate ao desperdício de energia, classificadas nas seguintes categorias: combate a perdas em instalações elétricas e circuitos de distribuição de energia, substituição de motores e transformadores, adequação de sistemas de iluminação, entre outras (FIESC, 2014).

A EPE considera a abrangência do potencial de conservação energética em três esferas: potencial técnico, potencial econômico e de mercado. Na primeira esfera, não se consideram os custos ou quaisquer outros impedimentos de absorção da tecnologia mais eficiente disponível. O potencial econômico, por sua vez, considera a viabilidade econômica do ponto de vista de quem a analisa, buscando verificar até que ponto vale a pena investir em evitar o uso de energia antes de expandir o sistema, comparando o Custo da Energia Conservada (CEC) com o custo marginal de expansão. Já para avaliar o potencial de mercado, é preciso analisar as medidas de eficiência energética pela ótica do usuário, de modo que sejam identificadas aquelas que seriam implementadas por elas mesmas, ou seja, que trariam uma redução de custos a quem as emprega. Mesmo nessa última esfera pode haver barreiras que impeçam a difusão das medidas identificadas, barreiras estas que podem ser minimizadas por políticas públicas (MME, 2012).

Tabela 10 – Potencial de conservação em combustíveis em setores industriais selecionados

Uso da energia Potencial de conservação Subsetores com maior potencial de conservação 103 tep Bbl/dia

Aquecimento direto (fornos) 9.103,7 175.600

Siderurgia Cerâmica Cimento Aquecimento direto (secadores) 415,5 8.010 Alimentos e bebidas

Cerâmica Têxtil

Vapor de processo (caldeiras) 2.358,2 45.500

Papel e celulose Têxtil Alimentos e bebidas

Siderurgia

Outros usos 74,7 1.440 Química

Total 11.952 230.550

Fonte: CNI (2009)

O levantamento realizado pela CNI (2009) mostra que Siderurgia e Química foram os segmentos que mais se destacaram pela energia economizada: o primeiro conseguiu economizar 146.194 MWh/ano e o segundo, 128.397 MWh/ano. A pesquisa mostra que as soluções técnicas escolhidas privilegiam a economia de eletricidade, envolvendo ações como troca de motores, melhorias em sistemas de iluminação e de ar comprimido, enquanto apenas 6% delas contemplam otimização de processos térmicos, como os projetos de cogeração na siderurgia. Esses dados contrastam com a avaliação do potencial de conservação energética em combustíveis na indústria, que é mais de quatro vezes maior do que em energia elétrica: 82% das oportunidades de economia de energia no setor estão nos processos térmicos (CNI, 2009).

Segundo a EPE, esses números reforçam os dados estimados a partir dos coeficientes técnicos disponíveis no Balanço de Energia Útil, por indicarem que são nos usos térmicos que se encontra o maior potencial de eficiência energética na indústria (MME, 2009). Diante dessa constatação, argumenta-se que o foco dos programas de eficiência energética precisa ser ajustado para atingir melhores resultados.

Grimoni et al. (2004) afirmam que os principais entraves para a implantação de medidas de eficiência energética são: falta de informação, conhecimento técnico e treinamento; incerteza sobre o desempenho dos investimentos; falta de possibilidades financeiras e/ou de capital; altos investimentos iniciais para tecnologias mais eficientes (altos custos de transição); falta de incentivos à manutenção e pouco interesse dos governos em investir em ações que não trarão resultados no curto prazo.

Nesse sentido, incentivos governamentais para promover eficiência energética são observados em diversos países, envolvendo renúncia fiscal, condições especiais de financiamento, treinamento e disponibilização de informações técnicas de qualidade (CNI, 2009). No Brasil, já é possível listar algumas iniciativas governamentais para promover o uso racional de energia e eficiência energética.

A fim de promover o uso racional e a conservação de energia, foram elaborados políticas, planos e programas específicos, tais como a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia (Lei nº 10.295/2001); o Plano Nacional de Eficiência Energética; o Programa Nacional de Conservação de Energia

Elétrica (PROCEL) e o Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet), estes dois últimos associados ao Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), coordenado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Como será discutido adiante, a etiquetagem é um importante instrumento para evidenciar o atendimento a requisitos de desempenho estabelecidos em normas e regulamentos técnicos.

Em que pese sua relevância, é preciso destacar que tais medidas ainda encontram-se distantes daquelas observadas em outros países, como Reino Unido e Estados Unidos. A fim de introduzir ações de eficiência energética na indústria, o Procel tem firmado convênios com federações estaduais, porém essas iniciativas não envolvem o estabelecimento de metas regulares de economias de energia, nem mecanismos de medição e verificação do atendimento de metas (BAJAY, 2010b).