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4. SETOR INDUSTRIAL

4.4 SUBSETOR QUÍMICO

4.4.1 Perfil setorial

O setor industrial químico apresenta inicialmente considerável diversidade de produtos, com até 70 mil produtos em seu portfólio (WONGTSCHOWSKI, 2002), além de responder por 2,8% do PIB do país (10,5% do PIB industrial) (ABIQUIM, 2013). Contudo, um grupo diminuto de produtos da indústria química de base, isto é produtos para uso industrial (PQI), é o responsável pelas emissões de GEE do setor, conforme explicitado adiante. Os GEE relevantes para os processos industriais da indústria química são apresentados na Tabela 8.

Tabela 8 – GEE associados às emissões de processos industriais, por produto

Processos industriais CO2 CH4 N2O Ácido adípico X Ácido fosfórico X Ácido nítrico X X Acrilonitrila X X Amônia X Carbureto de cálcio X Coque de petróleo calcinado X

Dicloroetano e cloreto de vinila X X

Eteno X X

Metanol X X

Negro de fumo X X

Óxido de eteno X X

Fonte: ABDI (2012c)

Tabela 9 – Emissões de GEE de processos industriais na Indústria Química (por produto) Emissões totais de Processos Industriais Participação

relativa no setor (em 2010) Gg CO2eq 1990 1995 2000 2005 2010 Ácido Adípico 2674 4676 5429 6290 42 1,09% Ácido Fosfórico 62 86 104 124 112 2,95% Ácido Nítrico 560 634 648 693 532 13,99% Acrilonitrila 18 19 20 18 22 0,59% Amônia 1683 1785 1663 1922 1739 45,74% Caprolactama 78 98 104 92 0 0,00% Carbureto de Cálcio 0 4 51 35 42 1,10% Cloreto de Vinila 141 114 125 179 213 5,61% Eteno 97 123 171 175 229 6,03% Metanol 53 65 66 76 66 1,73%

Negro de Fumo 355 399 457 453 648 17,03%

Óxido de Eteno 71 90 143 166 157 4,12%

TOTAL 5793 8093 8981 10224 3802 100%

Fonte: MCTI (2013)

Adicionalmente, tais produtos são produzidos por um número pequeno de empresas, por exemplo, a Amônia – responsável por quase 46% das emissões de GEE do setor em 2010 – tem sua produção limitada a somente cinco grupos empresarias em seis unidades produtivas e o negro de fumo é produzido por apenas três unidades industriais (ABDI, 2012c).

4.4.2 Potencial de redução

Quanto ao potencial de redução de emissões no setor químico, convém destacar que o setor apresentou trajetória descendente de emissões de GEE, uma queda de aproximadamente 35% entre 1990 e 2010 (vide Tabela 9 – Emissões de GEE de processos industriais na Indústria Química (por produto)), em decorrência da realização de projetos de MDL nos anos 2000118, fato que limita o potencial de redução de tais emissões, ao menos para as unidades atualmente em operação (ABDI, 2012c).

Assim, os maiores potenciais para redução da intensidade carbônica no setor advêm do desenvolvimento de novas rotas tecnológicas pela substituição de matérias-primas derivadas do petróleo por derivados de etanol de primeira e segunda geração (ABDI, 2012c).

Quadro 14 – Possíveis medidas de mitigação de emissões na Indústria Química de Base

Processo Medida de mitigação Viabilidade Barreiras

Amônia

Uso de fontes renováveis de matéria- prima (etanol de primeira e segunda gerações) na produção de amônia.

Alta Disponibilidade e custo de matéria-prima

Eteno

Uso de fontes renováveis de matéria- prima (etanol de primeira e segunda gerações) na produção de polietileno.

Alta

Já em produção, sujeita somente à disponibilidade de

matéria-prima.

Propeno

Uso de fontes renováveis de matéria- prima (etanol de primeira e segunda gerações) na produção de polipropileno.

Média

Investimento alto, disponibilidade e custo de

matéria-prima.

Metanol

Uso de fontes renováveis de matéria- prima (etanol de primeira e segunda gerações) na produção de metanol.

Alta Disponibilidade e custo de matéria prima

Éter etil-terc- Uso de fontes renováveis de matéria- Alta Já em produção, sujeita

Processo Medida de mitigação Viabilidade Barreiras

butílico - ETBE

prima (etanol de primeira e segunda gerações) na produção de ETBE.

somente à disponibilidade de matéria-prima.

Diversos

Introdução de álcool de segunda geração

e outros produtos (biorrefinarias). Alta

Tecnologia, disponibilidade e custo de transporte de

matéria-prima.

Uso de lixo urbano como fonte de carbono

para matérias-primas. Média

Disponibilidade de lixo em qualidade e quantidade e

logística. Uso de dióxido de carbono como matéria-

prima. Média Disponibilidade e logística.

Uso de glicerina derivada de produção de

biodiesel de ácidos graxos. Baixa

Tecnologia, disponibilidade e qualidade da matéria-prima,

custo de transporte e logística. Fonte: ABDI (2012c)

4.4.3 Tributos que incidem sobre o setor químico

De acordo com a ABIQUIM, há dois grandes temas a serem aprimorados quanto à tributação incidente sobre a indústria química, sendo o primeiro a redução da carga tributária e complexidade do sistema tributário, que afeta toda a indústria, porém uma reivindicação mais específica aborda distorções do sistema tributário que dificultam o estabelecimento de padrões competitivos baseados em eficiência, em boas práticas de gestão, em desenvolvimento de tecnologias e de soluções inovadoras (ABIQUIM, 2010).

No que diz respeito ao potencial de utilização de mecanismos tributários como forma de promover reduções de emissões no setor, é, todavia, relevante notar que, atualmente, todos os produtos listados acima possuem alíquota zero de IPI (ou não são tributáveis) (Quadro 18).

Além das alíquotas reduzidas de IPI, o setor é contemplado pelo REPENEC119, programa de incentivo do governo federal que beneficia os setores “petroquímico, de refino de petróleo e de produção de amônia e ureia a partir do gás natural”, instalados nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, concedendo

119 Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de Infraestrutura da Indústria Petrolífera nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (REPENEC).

desonerações de PIS/COFINS e IPI tanto na saída do estabelecimento industrial quanto para importação de equipamentos120 (BRASIL, 2010a).

Produtores de alguns petroquímicos, dentre os quais o eteno121, recebem um crédito de 9,25% de PIS/COFINS122, com o qual podem pagar outros tributos. A partir de 2013, tais produtos foram beneficiados com redução das alíquotas de PIS/COFINS (incidentes sobre a receita bruta decorrente de sua venda) para 1% até 2015, com o valor retornando ao seu patamar original de 5,6% gradativamente até 2018, fazendo com que na prática o crédito seja de 8,25% até 2015 e retorne a 3,65% em 2018 (BRASIL, 2013) (MDIC, 2013) (RESENDE, PEREZ e SIMÃO, 2013).

Desta forma, a promoção de práticas de baixo carbono no setor está possivelmente melhor relacionada com a utilização/criação de incentivos de cunho creditício que permitam o desenvolvimento da chamada “Química Verde”, baseada na utilização de fontes renováveis em sua cadeia produtiva, em particular o etanol de cana-de-açúcar (ABIQUIM, 2010). Tais incentivos são discutidos no capítulo 6.

120 O benefício se aplica a “pessoa jurídica que tenha projeto aprovado para implantação de obras de infraestrutura nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, nos setores petroquímico, de refino de petróleo e de produção de amônia e uréia a partir do gás natural, para incorporação ao seu ativo imobilizado” (MDIC; SDP; RENAI, 2012).

121Os produtos contemplados, tanto para venda quanto para importação, são: “etano, propano e butano, destinados à produção de eteno e propeno; de nafta petroquímica e de condensado destinado a centrais petroquímicas”; e “eteno, propeno, buteno, butadieno, orto-xileno, benzeno, tolueno, isopreno e paraxileno, quando efetuada por indústrias químicas” (BRASIL, 2013).

122 “Na apuração da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins no regime de não-cumulatividade, a central petroquímica poderá descontar créditos calculados às alíquotas de 1,65% e 7,6%, respectivamente, decorrentes de aquisição ou importação de nafta petroquímica” (Medida Provisória nº 613, de 7 de maio de 2013).