• Nenhum resultado encontrado

3. SETOR ENERGÉTICO

3.2 SUBSETOR TRANSPORTES

3.2.6 Caracterização tributária

Esta seção busca identificar os principais tributos federais que incidem sobre o subsetor dos Transportes Rodoviários. Conforme mencionado anteriormente, foco será dado à caracterização de tributos que incidem sobre a produção e consumo de combustíveis, com maior atenção para a Cide-Combustíveis.

Cide-Combustíveis

A Cide-Combustíveis61 foi instituída pela Lei 10.336/2001, com base no par. 4 do art. 177 da CF. A Contribuição incide sobre a importação e a comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico combustível62. São contribuintes deste tributo o produtor, o formulador63 e o importador dos seguintes combustíveis líquidos: gasolina, diesel, querosene, óleos combustíveis, GLP e álcool etílico combustível64. Sua base de cálculo é a quantidade de combustível comercializada (em m3 ou litros), e a alíquota é variável.

No mercado interno, a Cide deve ser apurada mensalmente e paga até o último dia útil da primeira quinzena do mês subsequente ao da ocorrência do fato gerador. Já na importação, o Tributo deve ser pago no momento de registro da DI (Declaração de Importação)65.

O produto da arrecadação da Cide deverá ser destinado ao pagamento de subsídios ao etanol, gás natural e derivados do petróleo; a programas de infraestrutura de transportes66 e ao financiamento de projetos ambientais relacionados à indústria do petróleo e do gás62, tais como:

 Fiscalização de atividade potencialmente poluidoras;

61 “Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre a importação e a comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico combustível”.

62 Art. 1, Lei nº 10.336/2001.

63 O Formulador é o agente responsável pela atividade de formulação de combustíveis líquidos para a obtenção de óleo diesel, gasolina A, gasolina comum e gasolina Premium, através da mistura de hidrocarbonetos (Fonte: Portaria ANP nº 316/2011).

64 Art. 3, Lei nº 10.336/2001.

65 Fonte: http://www.receita.fazenda.gov.br/PessoaJuridica/CIDEComb/ (acessado dia 22/07/2014).

66 Programas de infraestrutura de transportes devem ter como objetivos “a redução do consumo de combustíveis automotivos, o atendimento mais econômico da demanda de transporte de pessoas e bens, a segurança e o conforto dos usuários, a diminuição do tempo de deslocamento dos usuários do transporte público coletivo, a melhoria da qualidade de vida da população, a redução das deseconomias dos centros urbanos e a menor participação dos fretes e dos custos portuários e de outros terminais na composição final dos preços dos produtos de consumo interno e de exportação”. (Art. 6, Lei nº 10.636/2002).

 Estudos, diagnósticos e ações de educação ambiental;  Proteção de unidades de conservação;

 Recuperação ambiental e;  Produção de biocombustíveis67.

Do produto da arrecadação, 29% deve ser repassado aos Estados e o Distrito Federal68. Por sua vez, os estados devem repassar 25% do montante recebido aos seus municípios. O repasse aos estados é feito com base em critérios de repartição, que consideram questões como: malha viária existente, população e consumo de combustível da UF (MF, 2012). A Figura 7 apresenta o fluxo de arrecadação e repasse da Cide.

Figura 7 – Fluxo de recursos das transferências CIDE-Combustíveis

Fonte: Ministério da Fazenda (2012). Legenda: CTU: Conta Única do Tesouro Nacional; RFB: Receita Federal do Brasil; SIAFI: Sistema Integrado de Administração Financeira; STN: Secretaria do Tesouro Nacional; BB: Banco do Brasil. E/DF: Estados e Distrito Federal; M: Municípios.

As alíquotas da Cide, que são variáveis e específicas por combustível, foram definidas pela Lei 10.336/2001 e alteradas pela Lei nº 10.636/2002. Desde então, as alíquotas foram sendo reduzidas por meio de decretos, “com o objetivo de amortecer as flutuações dos preços internacionais do petróleo e manter a estabilidade dos preços dos combustíveis, em nome do controle da inflação” (SINDICOM, 2013). Em 2012, por meio do Decreto 7764/2012, as alíquotas dos combustíveis incluídos na Cide foram reduzidas a zero.

67 Art. 4, Lei nº 10.636/2002. 68 Art. 159 (III) CF.

Quadro 10 – Variações das alíquotas da Cide-Combustíveis para Gasolina A, Diesel e Etanol, entre 2002-2012

Legislação Início da Vigência R$/m3 Gasolina A Diesel Etanol Lei 10.336 01/01/02 501,1 157,8 29,2 Decreto 4.066 01/01/02 501,1 157,8 22,54 Lei 10.636 31/12/02 590 220 0 Decreto 4.565 01/01/03 280 70 0 Decreto 5.060 30/04/04 280 70 0 Decreto 6.446 02/05/08 180 30 0 Decreto 6.875 09/06/09 230 70 0 Decreto 7.095 05/02/10 150 70 0 Decreto 7.095 01/05/10 230 70 0 Decreto 7.570 27/09/11 192,6 70 0 Decreto 7.591 01/11/11 91 47 0 Decreto 7.764 25/06/12 0 0 0 Fonte: (SINDICOM, 2013).

A possibilidade de adotar alíquotas diferenciadas por produto ou uso faz com que a Cide se torne um importante indutor de mudança de comportamento dos agentes econômicos do setor energético, principalmente quando se objetiva incentivar a produção e uso de determinados combustíveis. Neste

contexto, é relevante mencionar um estudo do IPAM (2013), que ressalta a forte correlação69 entre a renúncia fiscal da Cide (renúncia de oito bilhões somente em 2012) e o crescimento do consumo de combustíveis. O estudo aponta as reduções das alíquotas da Cide como um dos fatores fundamentais para o aumento das emissões no setor de energia70.

É importante frisar que, conforme previsto no art. 177 da CF, a alíquota da Cide-Combustíveis poderá ser: (1) diferenciada por produto ou uso e (2) reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo. Tais características fazem com que o Tributo seja adequado para atender a propósitos extrafiscais com funções ambientais. A Cide, por definição, possui qualidades especificamente extrafiscais, já que objetiva a intervenção no domínio econômico, buscando influenciar a oferta de bens e serviços, de acordo com o interesse público. Em outras palavras, sua função é regulatória e não arrecadatória (LUDOVINO LOPES ADVOGADOS, CLIMATE FOCUS, WAYCARBON, 2014a).

Demais tributos

PIS/COFINS

A Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o financiamento da Seguridade Social (Cofins) estão previstos na CF nos arts. 239 e 195 e foram unificados pela Lei 9.718/1998. Os tributos incidem, em termos gerais, sobre o faturamento ou auferimento de receitas por pessoas jurídicas71. Deste modo, PIS/Cofins incidem também sobre a comercialização de combustíveis importados ou produzidos no Brasil. Nestes casos, o contribuinte é a pessoa jurídica que realiza a comercialização. Existem duas opções para a base de cálculo: Em princípio, a base de cálculo é a receita bruta obtida na venda de gasolina (exceto aviação), óleo diesel, GLP, e álcool para fins carburantes. Em alguns casos, a base de cálculo é o peso ou volume destes combustíveis comercializados. As alíquotas são diferenciadas de acordo com o regime de apuração (cumulativo ou não cumulativo) e variam de acordo com a pessoa jurídica envolvida (produtores, importadores, refinarias e distribuidores). É importante salientar que as alíquotas aplicadas sobre a receita auferida com as vendas efetuadas por distribuidores e comerciantes varejistas foram reduzidas a zero72.

69 Correlação não é sinônimo de relação direta de causa e efeito.

70 A análise aponta também uma forte correlação entre o gasto tributário do IPI sobre a venda de automóveis e o aumento das emissões de GEE. No entanto, o estudo conclui que O IPI‐ veicular não seria suficiente para impulsionar o crescimento do consumo de combustíveis conforme observado nos últimos anos.

71 PIS/COFINS incidem também sobre: “o pagamento da folha de salários, para entidades de relevância social determinadas em lei, e a arrecadação mensal de receitas correntes e o recebimento mensal de recursos, para entidades de direito público”. Fonte: http://www.receita.fazenda.gov.br/pessoajuridica/pispasepcofins/ (acessado dia 22/05/2014). 72 Fonte: http://www.receita.fazenda.gov.br/pessoajuridica/pispasepcofins/RegIncidencia.htm (acessado dia 21/05/2014).

Para a gasolina e o diesel, a tributação encontra-se concentrada nas refinarias e no importador. Já para o etanol hidratado, o tributo não é concentrado e incide sobre a produção e distribuição. A tributação sobre o etanol anidro também é concentrada e é paga somente pelo produtor. De acordo com a Lei 11.116/2005, as alíquotas do PIS/Cofins sobre o biodiesel são definidas de acordo com a origem da matéria-prima, do produtor-vendedor e da região de produção da matéria-prima.

Quadro 11 – Variações das alíquotas dos tributos PIS e Cofins para Gasolina A, Diesel e Etanol, entre 2004-2013

Legislação Início da Vigência R$/m

3

Gasolina A Diesel Etanol Hidratado

Leis Produtor Distribuidor

Lei 10.865 30/04/2004 792,50 461,50 Lei 11.727 23/06/2008 130,90 196,35 MP 613 07/05/2013 0,00 0,00 Decretos Decreto 5.059 01/05/2004 261,60 148,60 Decreto 6.573 01/10/2008 48,00 72,00 Decreto 7.997 08/05/2013 0,00 0,00 Fonte: (SINDICOM, 2013). Imposto de importação

O Imposto tem como base de cálculo o valor aduaneiro, denominado CIF73, que inclui os custos com seguro e frete. Uma alteração de alíquota pode ser feita por decreto, conforme estabelecido pela CF em seu art. 153. A alíquota é indicada por meio da Tarifa Externa Comum (TEC). Para combustíveis, tais como gasolina, óleo diesel e gás natural, o Imposto de Importação atual está zerado, como pode ser observado nos percentuais descriminados abaixo:

 Gasolina: 0%  Óleo Diesel: 0%  Gás Natural: 0%  Etanol: 0%74  Biodiesel (B70+): 14% Fonte: (MDIC, 2014). 73 Em inglês: Cost, Insurance and Freight.

74 Alíquota de 20%, no entanto, o álcool anidro (com um teor de água igual ou inferior a 1 % vol) tem atualmente uma tarifa de 0%, por estar incluído na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum, atualizada até a resolução CAMEX nº 54, de 04/07/2014.

3.3 OPÇÕES PARA A ESTRUTURAÇÃO DE INCENTIVOS POSITIVOS E PROGRAMAS DE RELATO