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117 ALMEIDA, Maria Celestino. Op. Cit. p. 88.

118 ASSIS, Valéria de; GARLET, Ivori José. Análise sobre as populações

Guarani contemporâneas: demografia, espacialidade e questões fundiárias. In:

Revista de Índias: Departamento de História – Instituto de História. Vitruvio 8: Madrid. Vol. LXIV, Enero-Abril, 2004. pp. 35-66; p. 47

Guarani puderam permanecer relativamente tranquilos por vários séculos no Paraguai Oriental.119

Esse processo todo vai refletir sobremaneira na forma dos grupos indígenas da região, Kaingang e Guarani se organizarem. Entre os Guarani, se promoveu uma redução do espaço físico e uma ruptura na forma de conceber a organização social, no âmbito da estrutura espacial comprimida em lugares cada vez mais exíguos. Foi um processo que não se deu de forma pacífica e muitos grupos, especialmente os Kaingang, obtiveram o reconhecimento através da demarcação de algumas áreas, como é o caso do Toldo Chimbangue.

Segundo Clovis Antonio Brighenti, além dos indígenas que se localizavam entre os rios Chapecó e Chapecozinho, havia outras aldeias situadas em região de florestas estacional decidual, locais de mais difícil acesso e de menor interesse dos fazendeiros.

A reserva Xapecó é decretada em 1902 e localiza- se na confluência da floresta ombrófila mista com a estacional decidual e região de campos, ao passo que as demais terras indígenas no Oeste localizam- se na região próxima ao Uruguai. As terras nessa microrregião não despertaram interesse a fazendas de pecuária e, portanto, eram locais ainda possíveis de viver sem ser molestado pelos não indígenas. Essas terras serão alvo de interesse do mercado com a chegada de outro modelo de agricultura, desenvolvida pelo camponês. São as empresas colonizadoras, amparadas por acordos com os estados, que vão expulsar as famílias indígenas e assentar camponeses.120

A localização da Terra Indígena Xapecó, portanto, ocorre na região oeste catarinense compreendendo os municípios de Ipuaçu, Entre Rios e Abelardo Luz. Encontra-se homologada em praticamente toda sua extensão, tendo duas glebas, “A” e “B” declaradas, aguardando a

119 Id, ibid.

120 BRIGHENTI, Clovis Antonio. O movimento indígena no Oeste

Catarinense e sua relação com a Igreja Católica na Diocese de Chapecó/SC nas décadas de 1970 e 1980. Florianópolis, SC: UFSC, 2012, Tese de Doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em História do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, p. 121.

demarcação física.121 São 16 aldeias habitadas por indígenas Kaingang e uma aldeia habitada por indígenas Guarani. 122

A referida TI incorporou o nome Xapecó apenas em 1941 com a criação do Posto Indígena pelo SPI. O Decreto nº 7, de 18 de junho de 1902, firmado pelo governador do Paraná, Francisco Xavier da Silva, não nomina a área reservada aos Kaingang, indica apenas o local: ‘(...) acham-se estabelecidos na margem esquerda do Rio Chapecó (...).’ Coelho dos Santos, D’Angelis e Veiga indicam que não se tratava de uma única comunidade/aldeia/grupo, havia diversos grupos Kaingang vivendo na área reservada. O Toldo Formigas era o maior, e estava localizado ao lado do caminho das tropas, além de haver um toldo na periferia da atual cidade de Xanxerê.123

No mapa, figura 06, se encontra a localização da Terra Indígena no estado de Santa Catarina.

121 Id.

122 LABORATÓRIO DE HISTÓRIA INDÍGENA/LABHIN/UFSC. Projeto

Ensino, saberes e tradição: elementos a compartilhar nas escolas da Terra

Indígena Xapecó, SC. Observatório da

Educação/OBEDUC/CAPES/DEB/INEP, 1585. Instrumento de coleta de dados. Relatórios 2013 e 2014, (in mímeo).

Figura 06 – Mapa de localização da Terra Indígena Xapecó no estado de Santa Catarina

Fonte: Acervo LABHIN.

A situação de ocupação da terra ficou difícil e complicada para os Guarani, pois algumas comunidades foram obrigadas a se estabelecer em terras de predomínio Kaingang, como é o caso da comunidade de Araça’y no Toldo Chimbangue e a Comunidade de Aldeia de Linha Limeira, na Terra Indígena Xapecó.

Os relatos a respeito da presença dos Guarani na área da TI Xapecó são escassos. Há poucos estudos a respeito deste grupo naquele espaço específico, o que também contribui para o silenciamento das fontes conforme mencionado anteriormente.124 Silvio Coelho dos Santos constatou que:

124 O silenciamento de fontes, ou a escassez delas, diz respeito à comunidade

Guarani na Terra Indígena Xapecó, SC. Conforme afirmado anteriormente, no entanto, há muitas pesquisas arqueológicas a respeito da presença Guarani no Oeste de Santa Catarina.

É comum também entre os chefes de postos sobre a contínua mobilidade desses índios. Dizem: “os Guarani não usam muito o posto. Ficam sempre localizados nos fundos da área. Ali fazem uma rocinha; caçam, vez ou outra, aparecem na sede para vender algum balaio. E quando a gente menos espera desaparecem...” - os postos geralmente foram criados para atender aos Xokleng e aos Kaingáng, não existe posto criado para atender aos Guarani.125

O senhor Júlio ao falar sobre o posto, relata que no tempo em que os Guarani moravam no local onde é hoje a comunidade Paiol de Barro, “o SPI126 chegava até o Posto, mas na aldeia Guarani não chegava”.127 Ainda hoje é difícil o deslocamento até a sede da TI Xapecó. Ocorre por ocasião de reuniões de professores envolvendo as escolas e na semana dedicada à história e cultura indígena, correspondente ao dia do índio em abril.

Os registros etnológicos de Egon Schaden informam a presença dos Guarani no Oeste do estado e na TI Xapecó, “ ainda em meados de 1947 encontrei no oeste catarinense, na região de Xapecó, várias famílias Mbüá, que manifestavam intento de vir até o litoral, a fim de se reunirem a parentes e amigos”.128 Provavelmente estava se referindo às muitas famílias que viviam em pequenas aldeias ao longo do Rio Uruguai e próximo ao Rio Saudades, em Araça’y.

Schaden relata ainda a presença da Aldeia de Linha Limeira, na TI Xapecó, com a presença de famílias Mbyá: “Limeira no Xapecó, oeste de

125 SANTOS, Sílvio Coelho dos. Educação e sociedades tribais. Porto

Alegre/RS: Editora Movimento, 1977, p. 24.

126 Trata-se da primeira metade do século XX, quando a atuação nos postos era

ainda do SPI: Serviço de Proteção aos Índios, criado em 20 de julho de 1910 através do Decreto n. 8072, como Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (7 de setembro do mesmo ano) que tinha como objetivo aldear os índios junto com caboclos em núcleos agrícolas. O regulamento de criação do SPI foi confirmado pelo Decreto n. 9214, de 15 de dezembro de 1911, sendo assim, a partir de 1914, o órgão passa a tratar somente da questão indígena. In: RIBEIRO, Darci. Os índios e a civilização, a integração das populações indígenas no Brasil moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, pp.157 e158.

127 BENITE. Júlio. Depoimento. [19.01.2016]. Helena Alpini Rosa. Caderno de

campo. Aldeia de Linha Limeira, TIX, SC.

Santa Catarina, igualmente índios Mbüá vindos do território de Misiones (...). A aldeia – Toldo, como aí se diz –, formada de umas 15 casas, fica entre os Rios Xapecó e Xapecozinho, perto da confluência”.129

Segundo os relatos dos entrevistados, as famílias que migraram e constituíram a Aldeia de Linha Limeira vieram da Região de Guaíra, caso da família de João da Silva130 que hoje mora na Aldeia Sapukai, Angra dos Reis, RJ; as famílias Antunes e Martins. Outras são provenientes do noroeste do estado do Rio Grande do Sul, caso da família de Júlio Benites e Avelino Mariano:

Eu nasci lá por (Tenente Portela), que passa o Rio Grande do Sul. Aí lá morreu meu pai, morreu mamãe, morreu uma família também do meu irmão, minha irmã também foi morto. E aí caminhando, caminhando tudo mundo tem que seguir até Itapiranga, em Santa Catarina. E aí se achemo com a mulher (risos) (...), num temo, num temo casamento assim num, na igreja nada. Viemo assim como companheiro né, companheiro e companheira, dai nóis passamo e a mulher nasceu aqui em o Rio Pequeno, é pra lá do posto.131

No estado de Santa Catarina, particularmente, vivem aproximadamente 1.250 indivíduos Guarani divididos entre Nhandeva e Mbya. Vivem em 21 aldeias distribuídas ao longo do litoral e no interior do estado. Na tabela a seguir identifica-se as aldeias com o nome, localização e número de habitantes.