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Fonte: Acervo Helena Alpini Rosa, jun. 2015.

No estado de Santa Catarina algumas pesquisas arqueológicas evidenciam a presença dos Guarani em diversas regiões tanto no litoral, quanto no oeste do estado, lugar da comunidade objeto desta pesquisa – a Aldeia de Linha Limeira. As evidências encontradas dizem respeito ao tipo de sítio formado e especialmente aos artefatos cerâmicos encontrados relacionados à tradição Tupi Guarani.

Segundo Noelli, a ocupação Guarani no Estado de Santa Catarina se deu no médio curso do Rio Uruguai e parte do médio Rio Iguaçu, além do litoral que apresenta sítios em toda sua extensão, principalmente na Ilha de Santa Catarina, cuja data mais antiga é de 900 anos A.P. e há áreas não estudadas como as bacias do Rio Peperi-Guaçu e Peperi Mirim na fronteira com a Argentina que, segundo dados históricos, apresentaram ocupação de populações Guarani. Artefatos expostos no Museu São Jorge, no município de Guaraciaba, SC, certificam a presença dos Guarani na fronteira com a Argentina, próximo ao Rio Peperi-Guaçu. São pontas de flechas, cuias, machados e outros instrumentos de pedra, além das cerâmicas corrugadas, que são encontradas no acervo deste Museu e também no acervo do Centro de Memória do Oeste de Santa

Catarina/CEOM. A presença Guarani também se fez presente nas partes mais baixas dos vales cobertos com Mata Atlântica.107

Figura 04 – Artefatos de cerâmica corrugada

Fonte: Acervo Museu São Jorge, Linha Olímpio, Guaraciaba, SC. Foto de Helena Alpini Rosa, Jun. 2015.

As pesquisas a respeito dos Guarani do Extremo Oeste catarinense são tímidas se relacionadas às pesquisas realizadas com os Kaingang, pois é uma região de predominância do povo Kaingang do tronco

107 NOELLI. Francisco Silva. La distribucion geográfica de las evidencias

arqueológicas Guarani. In: Revista de Índias: Departamento de História –

linguístico Jê. A ocupação por luso-brasileiros no Oeste Catarinense se deu quando os portugueses decidiram ocupar os campos de Guarapuava e Palmas, no século XIX. A predominância era de indígenas Kaingang, enquanto os Guarani eram encontrados nos bosques e faxinais próximos ao Rio Uruguai. Destaca-se a pesquisa de Mirian Carbonera (2008) que em sua Dissertação de Mestrado faz um levantamento das pesquisas arqueológicas realizadas no oeste do estado, mencionando entre outros, os trabalhos de Pedro Schmitz, João Alfredo Rohr e Walter Piazza. Faz uma análise do mapeamento realizado pela arqueóloga Marilandi Goulart ao longo das margens do Rio Uruguai. Segundo as pesquisas, os Guarani ocupavam preferencialmente as margens do Rio Uruguai.108

Estudos semelhantes realizou Mariano Bonomo, que abrangeu toda Bacia do Rio da Prata, na região chamada de Entre Rios, província da Argentina. A partir de estudos arqueológicos, etnográficos e etnohistóricos, Bonomo realiza uma história de longa duração a respeito das populações indígenas que ocupavam a região do Entre Rios em tempos pretéritos. A respeito dos Guarani constata que tiveram sua ocupação em uma ampla faixa territorial, que vai da Amazônia até as ilhas Martin Garcia e Punta Lara, no rio da Prata.109

A mais antiga evidência inequívoca de assentamentos Guarani aparece na bacia do Prata entre o ano 0 e 300 D. C. A data vem da área de confluência dos rios Paraná e Iguaçu. Por volta de 200 D.C a presença do Guarani é registrada ao longo do Rio Paraná, cerca de 100 km ao sul de sua confluência com o Rio Verde, no Rio de Itararé da bacia do Paranapanema.110

Nesse sentido, na perspectiva da longa duração, os costumes, tradições, modo de vida e a presença Guarani no sul do Brasil e no oeste de Santa Catarina, são considerados milenares.

Bonomo ressalta a relevância da história milenar do território tradicional Guarani, remetendo às terras baixas da América do Sul, abrangendo a bacia hidrográfica do Rio da Prata e a bacia Amazônica,

108 CARBONERA, Mirian. A tradição Tupiguarani no Alto Uruguai:

estudando o “acervo Marilandi Goulart”. São Leopoldo, RS: 2008. Dissertação de Mestrado da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. pp. 36-37.

109 BONOMO, Mariano. Historia Prehispánica de Entre Ríos. Buenos Aires:

Fundación de Historia Natural Félix de Azara/Universidad Maimónides, 2012, pp. 27-42.

110 BONOMO et all. A model for the Guaraní expansion in the La Plata Basin and

litoral zone of southern Brazil. IN: El Sevier Jornal Quaternary International. Journal homepage: www.elsevier.com/locate/quaint (pp. 55-71), p. 64.

considerando que, “o ambiente é produto de uma larga história de manejo e sucessão de construções humanas que foram impressas sobre a paisagem. Deste modo, a paisagem moderna não é só resultado de processos naturais, mas também sociais e históricos”.111

Em geral, o modelo de expansão gerado no trabalho de Bonomo et all, coincide com a proposta do Brochado na dispersão do povo Guarani, embora há que se considerar que existam algumas divergências no que diz respeito às rotas seguidas e sua cronologia. Os resultados obtidos a partir das ideias de Brochado e de Noelli, que este fenômeno consistia de uma expansão da população, ao invés de uma migração.112

Para evidenciar melhor isso, se compartilha neste espaço o fenomeno de expansão territorial percebida por Bonomo et all, o que facilita a compreensão da presença Guarani nesta parte meridional da América do Sul, incluindo os estados do sul e sudeste do Brasil.