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Carolina Ferreira, Sofia Gomes, Glória Nascimento, Mercês Lorena, António Candeias

No documento O Retábulo no Espaço Ibero-Americano (páginas 155-167)

Introdução

O retábulo da capela-mor da Sé do Funchal (Fig. 1), foi mandado construir pelo Rei D. Manuel, como oferta à cidade para decorar a cabeceira da principal capela da nova sede episcopal.

A construção da Sé inicia-se em 1493, segundo carta de D. Manuel, ainda Duque de Aveiro, (Pita Ferreira 1963, 45), sendo a sua sagração a 18 de Outubro de 1516 (Pita Ferreira 1963, 53). Tendo em conta o período cronológico da construção e sagração da Sé e um documento de pagamento dos trabalhos do retábulo, do ano de 1512 (Teixeira 2003, 53) pode- se balizar a datação do retábulo entre o ano de 1512 e 1516.

Ao longo do tempo têm surgido diversas teorias quanto à atribuição do retábulo, quer do projeto e execução da talha, quer do conjunto pictórico. Contudo, e como já referia Pita Ferreira (Pita Ferreira 1963, 269), até hoje o retábulo nunca tinha sido alvo de um estudo aprofundado. O estado de conservação em que se encontrava e o elevado grau de escurecimento das superfícies pictóricas dificultava a observação detalhada do conjunto, não permitindo uma análise consistente da parte dos estudiosos e interessados.

1 Carolina Ferreira – Doutoranda em Belas-Artes especialidade Ciências da Arte/Conservação e Restauro pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e bolseira de investigação pelo programa doutoral HERITAS; Sofia Gomes – Mestre Conservadora-restauradora, bolseira de investigação pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia no Laboratório José de Figueiredo da Direção Geral do Património Cultural; Mercês Lorena – Doutorada em História da Arte, técnica superior no Laboratório José de Figueiredo da Direção Geral do Património Cultural; Glória Nascimento – Doutoranda em Belas-Artes especialidade Ciências da Arte pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa; António Candeias - Doutorado em Química, Diretor do Laboratório HERCULES da Universidade de Évora.

Fig. 1 - Retábulo manuelino da capela-mor

da Sé do Funchal, depois da intervenção de conservação e restauro de 2013/2014, 2014. (Fonte: Roberto Pereira, DSMPC/DRAC/SRT)

Alguns historiadores têm defendido a autoria da talha ao mestre Olivier de Gand, ou a artífices da sua oficina, pela semelhança com os retábulos do altar-mor da Sé Velha de Coimbra e da Igreja de S. Francisco de Évora (Teixeira 2003, 53). Por sua vez, ao conjunto pictórico têm sido assinalados nomes como Mestre da Lourinhã, Francisco Henriques e Jorge Afonso. Na verdade, existem reservas quanto a uma única autoria dos doze painéis pelas diferenças plásticas que se evidenciam nas doze pinturas, e que após a intervenção de conservação e restauro e do estudo científico técnico e material que se concretizou recentemente, vem confirmar que as pinturas constituem uma obra do período manuelino onde colaboraram em parceria várias oficinas lisboetas da época2.

O retábulo da Sé do Funchal constitui um legado patrimonial de elevado valor histórico e artístico, não só pela sua composição estilística e material, mas também por se tratar do único exemplar da retabulística da época manuelina que subsiste no local de origem para o qual foi concebido. Apresenta a forma de políptico, cuja estrutura compõe-se pela talha dourada onde estão inseridas doze pinturas a óleo sobre madeira de carvalho, dispostas linearmente em três fiadas, na horizontal e vertical. O programa iconográfico representado não foge dos cânones da época, sendo que cada fiada, na horizontal, representa um tema: os passos da Paixão de Cristo, na superior; cenas da Vida da Virgem, na intermédia; e temas do Antigo e Novo Testamento relacionados com a eucaristia, na inferior.

A intervenção de conservação e restauro das doze pinturas ocorreu no âmbito do projeto integrado do estudo, salvaguarda e preservação do conjunto retabular, em parceria com o 2Referido por Fernando António Baptista Pereira e Vítor Serrão, na conferência Seminário Conclusões do Processo

CONSERVAÇÃO E RESTAURO DAS PINTURAS DO RETÁBULO DA CAPELA-MOR DA SÉ DO FUNCHAL […]

Governo da Região Autónoma da Madeira através da Direção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC), a Diocese do Funchal e a World Monuments Fund – Portugal (WMF-P). E contou com a colaboração da Direção Geral do Património Cultural (DGPC), como organismo estatal responsável pela fomentação e dinamização de uma política de salvaguarda, estudo e preservação dos bens culturais móveis e integrados, através das competências técnicas e científicas do Laboratório José de Figueiredo (LJF), em parceria com o Laboratório HERCULES da Universidade de Évora (LH-EU), ficando os dois organismos incumbidos da realização do estudo científico, diagnóstico e da coordenação da intervenção de conservação e restauro.

Os trabalhos decorreram em duas fases distintas. A primeira fase, no ano de 2011, teve como objetivo o estudo científico e diagnóstico do retábulo (talha, escultura e doze pinturas), culminando na caracterização técnica e material, levantamento de danos e patologias e definição da metodologia de intervenção de conservação e restauro. A segunda fase decorreu entre Abril de 2013 e Maio de 2014 e pautou-se na intervenção de conservação e restauro in

situcujo objetivo principal foi conservar e restituir a unidade estilística do conjunto. Um projeto interdisciplinar, uma equipe multidisciplinar

O projeto envolveu um conjunto de trabalhos para os quais contribuíram uma equipa multidisciplinar constituída por profissionais que atuaram em diversas áreas.

Atualmente, a atitude de preservar um bem artístico de âmbito cultural deve contemplar não só ações relacionadas com a minimização e reparação da deterioração e degradação material do objeto, mas também ações relacionadas com a divulgação e fomentação da consciência social, com o envolvimento da comunidade. Sendo estas ferramentas de conhecimento e desenvolvimento que contribuem para a valorização do bem cultural.

Perante esta filosofia de salvaguarda do património, a metodologia de ação implica o conceito da interdisciplinaridade nos estudos dos bens culturais envolvendo profissionais de diversas áreas, como foi referência o projeto do retábulo da capela-mor da Sé do Funchal.

O estudo científico técnico e material e o diagnóstico, coordenado pelo Laboratório José de Figueiredo e pelo Laboratório HERCULES, consistiu na realização de exames de área3 e

exames de ponto com técnicas in situ4 (Fig. 2), e recolha de amostras para análise em

laboratório, com outras técnicas analíticas. O diagnóstico pautou-se pelo levantamento de danos, patologias e identificação e caracterização de intervenções anteriores, em testes de solubilidade para a limpeza das superfícies pictóricas e de adesividade para a fixação das mesmas, tendo em vista a definição da metodologia de intervenção.

3Exames de área realizados à talha e escultura: fotografia de luz visível. Exames de área realizados ao conjunto pictórico: fotografia com radiação de luz visível, fotografia com radiação ultravioleta, reflectografia e radiografia apenas do nível inferior do retábulo devido à restrição de acesso aos níveis superiores pelo tardoz do retábulo.

4Exames de análise química in situ: Espectrometria de infravermelhos (FTIR) e Espectrometria de fluorescência de raios X.

Fig. 2 - Realização da técnica analítica de Espectrometria de infravermelhos (FTIR) in situ, na pintura

Assunção da Virgem, 2014.

(Fonte: Roberto Pereira, DSMPC/DRAC/SRT)

Contou com uma equipa de profissionais especializados nas áreas científicas e tecnológicas, fazendo parte técnicos especializados nos métodos de exames fotográficos e de imagiologia, químicos, físicos, biólogos e conservadores-restauradores (Tabela I).

A segunda fase do projeto, a intervenção de conservação e restauro, teve início em Maio de 2013 terminando em Maio de 2014 e contou com a orientação de dois conservadores- restauradores (talha/escultura e pintura), do Laboratório José de Figueiredo da DGPC. A equipa ao todo foi constituída por nove conservadores-restauradores com formação superior especializada nas diferentes áreas de intervenção, talha/escultura e pintura (Tabela II).

Os trabalhos decorreram com a igreja em funcionamento pelo que foi necessário uma coordenação com os horários das celebrações religiosas, contando com a colaboração dos funcionários da Sé do Funchal.

Tabela I. Equipa de Profissionais na fase de estudo e diagnóstico do retábulo da capela-mor da Sé do Funchal

Conservadores- -restauradores

Técnicos de fotografia e

imagiologia Químicos Físico Biólogo

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O projeto contou também com uma equipa constituída por seis historiadores de arte, que acompanharam todo o trabalho contribuindo com informações sobre o enquadramento histórico e artístico do retábulo. O conhecimento histórico e estilístico do bem cultural é de grande relevância para o estabelecimento de uma metodologia de intervenção de conservação e restauro, logo a cooperação entre o conservador-restaurador e o historiador de arte é de extrema importância no sentido de se limitar a intervenção entre o necessário e o supérfluo. Neste sentido, nas várias fases do tratamento realizaram-se visitas dos historiadores de arte ao estaleiro com o objetivo de diálogo com os conservadores-restauradores e de se estabelecerem critérios de intervenção.

Para o sucesso de um trabalho desta envergadura é necessário o envolvimento ativo dos vários parceiros cujos papéis devem estar bem definidos de modo a que a organização de todo o projeto se desenvolva com progresso. Assim sendo, todo o trabalho de logística foi da responsabilidade da Direção de Serviços de Museus e Património da DRAC e contou com uma equipa de profissionais (Tabela III) cujos trabalhos de gestão de recursos e de equipamentos, quer antes e durante de todo o projeto, contribuíram para a execução e desenvolvimento de todas as atividades.

A divulgação foi parte importante que se fez refletir ao longo de todo o projeto, utilizada como ferramenta para a consciencialização social do público em geral. Neste sentido, para além da informação disponibilizada através dos meios de comunicação de massa (impressa regional, nacional e internacional; televisão, radio e internet), foram organizadas no decorrer dos trabalhos, comunicações e visitas ao andaime (Fig. 3) como forma de comunicação e envolvimento da população.

Tabela II. Equipa de Conservadores-restauradores

Talha/Escultura Pintura

4 5

Tabela III. Equipa de Profissionais da Direção de Serviços de Museus e Património da

DRAC, intervenientes no projeto do retábulo da capela-mor da Sé do Funchal

Arquiteto Historiador de Artes

Decorativas Fotógrafo Desenhador

Intervenção de conservação e restauro do conjunto pictórico retabular O Estado de Conservação das Doze Pinturas

O estado de conservação do conjunto retabular do ponto de vista estrutural encontrava- se estável, apesar das várias alterações de que foi alvo ao longo de 500 anos.

De acordo com o estudo e diagnóstico realizado previamente foram identificadas e caracterizadas patologias e danos inerentes ao seu estado de conservação e intervenções anteriores distintas.

Fig. 3 - Visita do público em geral ao andaime durante os trabalhos de conservação e restauro, 2013.

(Fonte: Filipa Abrantes, DSMPC/DRAC/SRT)

A maioria das patologias e danos deviam-se a fatores externos de degradação que causaram circunstâncias adversas à conservação, como por exemplo a falta de manutenção do espaço envolvente, um dos principais fatores de deterioração dos materiais constituintes da talha e pinturas retabulares.

O reboco da parede fundeira de alvenaria encontrava-se em desagregação, o que originou a acumulação de detritos sólidos e poeiras no reverso das pinturas e consequentemente nas juntas das tábuas que constituem os suportes das pinturas, promovendo o afastamento destas e consequentes deformações no suporte.

A existência de pequenos orifícios circulares permitiu detetar a presença da atividade de inseto xilófago, que se tratando de uma praga comum na região, agravou-se devido à existência na estrutura retabular de madeiras não originais, extremamente suscetíveis ao ataque xilófago, nomeadamente, no interior do nicho da escultura de Nossa Senhora da Conceição, no centro do segundo nível do retábulo. Com o exame radiográfico foi possível identificar a extensão das galerias no interior do suporte.

A utilização frequente de velas, como é habitual num local de culto religioso, proporcionou ao longo do tempo a deposição de fuligem e pingos de cera sobre as superfícies pictóricas que juntamente com a oxidação natural dos vernizes e poeiras promoveu o

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escurecimento das superfícies pictóricas, ocultando a figuração e cromatismo das composições representadas (Fig. 4). A proximidade da fonte de calor produzida pelas velas originou também queimaduras na superfície pictórica, algumas atingindo o suporte de madeira.

Ao longo dos séculos, o conjunto retabular foi alvo de várias “campanhas de beneficiação”, nas quais foram introduzidos elementos de talha de outras épocas, redouramento e “limpeza” das pinturas.

Fig. 4 - Tratamento da superfície pictórica, remoção da camada de poeira e fuligem, 2013.

(Fonte: Roberto Pereira, DSMPC/DRAC/SRT)

A intervenção mais recente nas pinturas data do ano de 1940 e incidiu apenas em quatro das doze pinturas: Oração de Cristo no Horto (1ª pintura, 3º nível), Anunciação (1ª pintura, 2º nível), Encontro entre Abraão e Melquisedeque (1ª pintura, 1º nível) e Apanha do Maná (4ª pintura, 1º nível). Estas foram removidas da estrutura retabular e levadas para Lisboa para integrarem a 1ª Exposição dos Primitivos Portugueses que decorreu nesse mesmo ano, tendo sido restauradas pelo pintor-restaurador Fernando Mardel, no antigo Instituto José de Figueiredo. A intervenção de Mardel envolveu o tratamento do suporte e da superfície pictórica. Como foi constatado na fase de diagnóstico, ao nível do suporte verificou-se a retificação das tábuas através de reforço com caudas de andorinha e o preenchimento das juntas das tábuas com uma massa vermelha. Ao nível da superfície pictórica, e com o auxílio das fotografias de radiação ultravioleta, foram detetadas zonas de retoque com a aplicação de novas massas brancas e, consequentemente, a aplicação de uma camada de verniz recente. No topo superior das pinturas existe uma barra com policromia azul reservada para a sobreposição dos baldaquinos em talha. Nestas quatro pinturas em questão, e ainda nesta intervenção de 1940, essa barra azul foi dourada em forma de arco. Esta recente intervenção proporcionou diferentes níveis de limpeza e de diferenças plásticas, gerando distúrbios na leitura global do conjunto pictórico.

Foram também detetadas intervenções mais antigas ao longo do tratamento, mais concretamente, após a limpeza das superfícies pictóricas, cujo escurecimento dificultava uma análise mais fidedigna. As várias “limpezas” das superfícies pictóricas com produtos inadequados, de métodos efetuados na época, resultaram na fragilização das várias camadas constituintes da superfície pictórica, promovendo lacunas pontuais e zonas de destacamento.

Dessas intervenções mais antigas ainda resultaram repintes motivados por alterações de gosto e atualização de representações iconográficas ou pelo estado de degradação das pinturas. Na fase de diagnóstico e com a informação do exame radiográfico e da reflectografia, confirmou-se a existência de repintes totais nas pinturas Última Ceia (2ª pintura, 1º nível) e

Missa de S. Gregório(3ª pintura, 1º nível). Os repintes apresentavam características estéticas e materiais diferentes do restante conjunto e a confirmação da existência de pintura original subjacente com alterações na composição. Na pintura Descida da Cruz (3ª pintura, 3º nível), com a observação à vista desarmada já se suspeitava de um repinte parcial de alteração iconográfica, que se confirmou com a reflectografia de infravermelho e com os testes de limpeza no decorrer da intervenção. As características técnicas e materiais de pinceladas mais espessas e encorpadas contrastavam com a técnica da restante pintura, composta por camadas finas e lisas. Seguindo o rigor dos novos cânones impostos pelo Concílio de Trento, a Virgem Maria de joelhos, controlando a dor, cobria a figura de uma Virgem desmaiada que se confirmou com o levantamento do repinte.

O Tratamento de Conservação das Doze Pinturas

Uma intervenção de conservação e restauro de um bem móvel cultural deve seguir uma metodologia científica de investigação durante o estudo técnico e material e o diagnóstico para determinação da metodologia de tratamento mais adequado.

Antes do início do tratamento do conjunto retabular foi necessário eliminar alguns fatores externos que fomentavam a degradação dos materiais constituintes do retábulo. Assim, foi efetuada no tardoz do retábulo a limpeza e consolidação do reboco da parede em alvenaria pela DRAC.

Para a determinação da metodologia de intervenção no conjunto pictórico foi necessário compreender as pinturas como um todo. Respeitando o princípio da integridade física, a metodologia teve como principais linhas orientadoras a sua conservação física e a restituição da unidade pictórica, proporcionando uma leitura global do programa iconográfico.

As técnicas e materiais empregues seguiram os princípios éticos em que se rege a disciplina de conservação e restauro. Procurou-se otimizar a eficácia e estabilidade destes, tendo em vista a sua compatibilidade e durabilidade em relação aos materiais e técnicas originais constituintes das pinturas. Do mesmo modo procurou-se que os tratamentos aplicados não limitassem intervenções futuras, partindo do princípio da reversibilidade.

Uma intervenção de conservação e restauro de pintura in situ, neste caso de um conjunto de pinturas, tem as suas vantagens e desvantagens. Se por um lado o trabalho prático encontra- se condicionado às características do espaço requerendo da parte dos profissionais uma adaptação às suas especificações, por outro, a possibilidade de intervir nas pinturas no local onde vão continuar expostas proporciona uma visão global imediata do resultado de cada tratamento, sendo possível uma avaliação fiel do seu impacto.

CONSERVAÇÃO E RESTAURO DAS PINTURAS DO RETÁBULO DA CAPELA-MOR DA SÉ DO FUNCHAL […]

O tratamento das pinturas teve início após a finalização do tratamento da talha sendo necessário uma coordenação de ambas as equipas de conservadores-restauradores quanto aos prazos a cumprir.

As doze pinturas foram distribuídas pelos quatro conservadores-restauradores, com formação superior especializada em pintura. Cada conservador-restaurador teve a seu cargo o tratamento de uma pintura de cada nível do retábulo, em diferente estado de conservação, para que tivessem um conhecimento global de todo o conjunto. A intervenção teve início nas quatro pinturas que foram intervencionadas em 1940 como adaptação para as restantes.

A partir da metodologia de intervenção pré-estabelecida, a intervenção de conservação e restauro das pinturas incidiu no tratamento ao nível do suporte de madeira e ao nível da superfície pictórica (Tabela IV). Incidindo nos tratamentos de minimização da degradação dos materiais constituintes e no restauro visando a reparação de danos e a restituição do efeito estético e da sua leitura mais próxima da original.

Tabela IV. Tratamentos de conservação e restauro das doze pinturas do retábulo da capela-mor da Sé do Funchal

Tratamentos ao nível do suporte

de madeira

 Limpeza mecânica por aspiração;

 União das tábuas e retificação de deformações;  Tratamento de elementos metálicos;

 Preenchimento dos orifícios e galerias causados pelo inseto xilófago.

Tratamentos ao nível da superfície

pictórica

 Limpeza via solventes e mecânica;

 Fixação das camadas de preparação e cromática;  Preenchimento ao nível da camada de preparação;

Levantamento dos repintes nas pinturas Última Ceia, Missa de

S. Gregórioe Descida da Cruz;

 Levantamento das barras douradas nas quatro pinturas intervencionadas em 1940 no antigo IJF;

 Reintegração cromática;

 Aplicação da camada de proteção.

O levantamento de um repinte pressupõe problemáticas estéticas e históricas, visto que se trata de uma ação irreversível. A decisão de levantamento (Fig. 5) obedece a critérios que têm de ser analisados justificando de forma clara a decisão de o manter ou eliminá-lo. No caso dos repintes integrais e parcial nas pinturas do retábulo, foi necessário compreender a sua relevância no que diz respeito à história. A má qualidade técnica, a identificação de original subjacente com alterações compositivas, a viabilidade do levantamento do repinte, a falta de unidade pictórica, e a possibilidade de recuperação da leitura original do programa iconográfico das pinturas e do conjunto retabular, foram fatores que contribuíram para a decisão favorável ao seu levantamento. Após a análise e avaliação da parte da equipa de conservadores- restauradores, a decisão final foi tomada por todos os responsáveis das instituições parceiras no projeto.

Conclusão: o papel e contributo do conservador-restaurador

O conservador-restaurador atualmente apresenta uma carreira profissional com formação superior, cada vez mais especializada na sua área de atuação, adquirindo conhecimentos e competências baseados nos propósitos básicos e princípios éticos estabelecidos à sua profissão

Com as suas capacidades técnicas e científicas, o papel do conservador-restaurador no

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