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Flávio Antonio Cardoso Gil

No documento O Retábulo no Espaço Ibero-Americano (páginas 105-115)

Em todos os lugares onde se instalaram e difundiram suas práticas apostólicas, os jesuítas se empenharam em divulgar sua mensagem através da palavra e da imagem. Para tal, fizeram uso de celebrações, de música, de orações, de sermões, de retábulos, de esculturas, entre outros meios para a finalidade “salvadora” de almas. A Companhia de Jesus serviu-se de canais de expressão no auxílio da conquista espiritual para atingir os afetos, na meta de catequizar os “gentios” como os indígenas das Missões Guarani.

Sendo a talha em estudo uma produção pós tridentina, é necessário considerar as orientações dadas pela Igreja a partir do Concílio de Trento, pois interferiram nas escolhas dos veículos para os jesuítas promoverem suas devoções, já que estes fizeram parte do empenho na reformulação católica. Para a difusão e o enraizamento do cristianismo renovado em várias partes do mundo, os seguidores de Santo Inácio de Loyola usaram, entre outros recursos persuasivos, a arte e a iconografia cristã, que foi um instrumento privilegiado na elaboração de um sistema visual universal.

Foi dentro desse sistema católico reformado que a Ordem foi se estruturando e se expandindo com aumento das demandas para exercer a prática apostólica. Conforme as novas necessidades, esses religiosos foram enriquecendo sua iconografia específica. A Companhia de Jesus firmou o compromisso de seguir Cristo, como fizeram os apóstolos saindo em defesa da propagação da Fé e do progresso de almas na vida e doutrinas cristãs.

No primeiro século de existência da Ordem, houve um crescimento estrutural sem perder a essência espiritual. Alguns de seus integrantes haviam sido beatificados ou canonizados, passando a fazer parte do programa iconográfico da Companhia, ao lado de Cristo e Maria, fazendo aparição em frontispícios, retábulos e pinturas em paredes e tetos.

Henrich Pfeiffer S. J. (2003) entende que a atividade artística promovida por um grupo religioso, traz com ela uma marca de espiritualidade específica. As características particulares da Companhia de Jesus são, antes de tudo, de caráter apostólico e missionário. Inicialmente o fundador se propôs seguir a Deus como um ermitão. Através de sua experiência mística em Manresa2, compreendeu que seria necessário ordenar-se, para ter mais recursos para salvar

almas.

1Doutorando de História Social da Cultura, PUC-RJ.

2Ainda em 1522, a intenção de Santo Inácio era pregar na Terra Santa, não conseguindo embarcar para Jerusalém, pois o porto de Barcelona estava fechado devido a um surto de peste, escolheu então, instalar-se na vila de Manresa, nas proximidades. Permanecendo por quase um ano nesta localidade Inácio de Loyola aprimorou o dom da contemplação, deu

A fórmula, as Constituições e outros textos serviram de direção para a Companhia de Jesus estabelecer linhas a serem seguidas universalmente. O fundador sugeriu a redação de outras Ordenações adaptáveis aos tempos, lugares e pessoas nas diferentes casas, colégios e oficinas da Companhia, advertindo que estas Ordenações deveriam ser observadas por todos nos locais onde elas estivessem em vigor, conforme a vontade do Superior. Juan Plazaola Artola, S. J. (2003) acrescenta que era a vontade do fundador que os jesuítas seguissem o princípio estabelecido pelo apóstolo São Paulo de adaptação à diversidade de pessoas, tempos e lugares.

O êxito da fixação da iconografia jesuítica se deve ao projeto de evangelização em escala universal, favorecidos pela expansão e consolidação de monarquias e do papado. Segundo Alfonso Alfaro (2004), os jesuítas teceram um sistema de fluxos culturais, sumamente denso, que atingia as localidades mais distantes. Essa rede unia locais como Insbruck (Áustria), as Califórnias (Estados Unidos), Goa (Índia) e Tarahumara (México): seus pontos de intersecção eram os colégios. Neles confluíam e confrontavam os saberes eruditos e as descobertas dos exploradores, os matizes dos teólogos e as redes de experiências dos missioneiros. Graças aos colégios, a Ordem pode integrar a tradição e o rigor dos artistas de formação acadêmica e as soluções formais dos indígenas.

Tudo o que fosse para a Maior Glória de Deus, haveria de ser campo de apostolado para a Companhia de Jesus, o que fez com que as Missões entre os infiéis tenham sido uma grande preocupação para a Ordem. Pela sua Constituição a Companhia de Jesus é essencialmente missionária. A 3ª. Tomada das Constituições (parte 3, c. 2) textualmente diz: “Nossa vida é para discorrer e fazer vida em Deus e ajuda às almas”. E, a Fórmula do Instituto aprovada pelo Papa Paulo III e confirmada por Julio III diz que os jesuítas devem obedecer ao Pontífice Romano: “já nos enviem aos turcos ou a quaisquer infiéis ainda nas partes chamadas de Índias e a quaisquer hereges e cismáticos.” A Companhia é, por sua Constituição, na totalidade de seu corpo e em cada um de seus membros juridicamente missionária (FURLONG, 1942, p. 15).

Nas cidades centros do poder político e econômico, a atividade evangelizadora e educativa da Companhia ficou a compromisso das igrejas e colégios; nas áreas afastadas dos centros urbanos a ação apostólica estruturou as missões dos índios, também chamadas doutrinas ou reduções. Localizadas em regiões pouco exploradas pelos vice-reinados, os jesuítas tiveram que conquistar o território (BACHETTINI, 2002). A obra missionária dos jesuítas estabeleceu ações nos diferentes grupos nativos americanos em diversas regiões, desde o sul do Chile até o norte do continente.

Como a pintura, a escultura, a gravura ou os retábulos, boa parte da produção artística jesuíta pode e deve ser analisada como manifestações de sua própria identidade. Trata-se de uma iconografia onde o culto a cada santo e cada devoção foi promovida tendo em vista sua recepção por um público determinado. Não obstante, e considerando que a presença dos Jesuítas na América Latina se estendeu por mais de dois séculos, sua iconografia não ficou imóvel, refletindo o desenvolvimento histórico da ordem às suas novas prioridades. O que era necessário enfatizar no século XVI, nem sempre era importante no século XVII (Alcalá, 2010). A aplicação do programa iconográfico em templos das missões Jesuítico-Guarani

As Missões dos Jesuítas tiveram o perfil de adaptação à cultura do povo a quem se dirigiam. Exemplos significativos deste fenômeno são as reduções da província do Paraguai. Segundo Myriam Ribeiro, a eficiência jesuíta foi a capacidade de adaptação a condições locais de natureza e de cultura completamente diversas do mundo europeu de onde vinham (OLIVEIRA, 2000, p. 80). As primeiras missões jesuíticas tinham uma estrutura muito simples

continuidade às leituras espirituais, como o livro Exercitatorio de la Vida Espiritual do abade Cisneros de Montserrat (1455- 1510), e escreveu boa parte dos Exercícios Espirituais.

O PROGRAMA ICONOGRÁFICO JESUÍTA: APLICAÇÕES EM RETÁBULOS NAS MISSÕES GUARANI

e foram constituídas por volta de 1610 e 1630, mas os constantes ataques dos bandeirantes levaram-nas a mudar inúmeras vezes de território3.

Depois das destruições das reduções causadas pelos bandeirantes e, consequentemente, êxodos dos Guarani, houve a chamada consolidação das missões da Província do Paraguai4. A

partir da segunda metade do século XVII até a expulsão dos jesuítas do território espanhol em 1767, trinta povoados se estabeleceram.

O programa iconográfico retabular permite repensar a imagem dentro do templo a que se destinava. Os retábulos e as imagens missioneiras5 em análise, em si próprios (como

apresentados hoje), são interessantes produtos de talha. No entanto, ao analisá-las separadamente, cada peça traria respostas parciais, se não reduzidas, já que pertenciam a um projeto maior em que eram envolvidas questões funcionais, formais, litúrgicas, etc.

São raros registros visuais do espaço ocupado pelas peças dentro de suas respectivas igrejas. No conjunto das 30 reduções fundadas pelos jesuítas na província do Paraguai, entre o início do século XVII até o terceiro quartel do século XVIII, existem, entretanto duas fotografias de retábulos-mor (Fig. 1). Estes documentos ilustram a ocupação com imagens do período em estudo nas localidades de Santa Maria de Fé e San Ignacio Guazú. Ambas localizadas no Paraguai, considerando a geo-política atual. Os dois registros datam do início do século XX e embora tenham baixa nitidez, é possível reconhecer os santos esculpidos que na atualidade estão recolhidos em museus e igrejas nos referidos povoados e proximidades

Partindo destas informações é viável, por também serem remanescentes das missões Guarani, um entendimento de como estas esculturas de vulto funcionavam e eram destacadas em seus respectivos retábulos. Uma questão fundamental para a talha missioneira é justamente a perda de seu contexto devocional, simbólico e espacial, fatores que são determinantes na concepção de uma imagem.

Retábulo da capela-mor de Santo Inácio Guazú, Paraguai

Dez esculturas faziam parte deste retábulo6 não mais existente e apenas conhecido por

fotografia (Fig. 1). Este conjunto estava disposto em dois corpos7 e verticalmente, em cinco

panos8, um central e dois laterais. As imagens encontravam-se dentro dos nichos9.

Os nichos das extremidades no corpo inferior eram ocupados por São Domingos de Gusmão à esquerda e São Francisco de Assis à direita.

3Os Guarani dessa região encontraram nas reduções solução para os grandes problemas como o da defesa contra ataques como os que sofriam. Na época, eles foram vítimas dos bandeirantes que caçavam escravos. Também eram vulneráveis aos abusos do sistema de encomenderos (MELIÁ, 1972, p. 166) que explorava o trabalho dos índios no território espanhol. Atendendo a interesses diversos, mas confluentes, as reduções eram estimuladas e tiveram grande crescimento.

4 O fator que inibiu os sucessivos ataques dos bandeirantes foi a permissão do uso de armas para defesa dos Guarani concedida pela Coroa Espanhola somente em 1640.

5Missioneiro é a transcrição da palavra espanhola missionero, que traduzindo significa missionário em português. Para esta pesquisa, o termo refere-se aos povoados Guarani que pertenceram à Espanha e passaram para Portugal nos meados do século XVIII.

6A descrição das peças escultóricas em seus respectivos espaços começará com o corpo inferior, avaliando o primeiro nicho da extremidade esquerda, seguindo o da extremidade direita porque existe uma relação formal e simbólica entre os vultos. O mesmo caso serve para os dois nichos adjacentes ao camarim, que serão descritos a seguir, concluindo este nível com a figura central. Logo será analisado o corpo superior, que também obedecerá à mesma sequência. Os panos também serão considerados por também contribuírem na mensagem do conjunto.

7A gramática retabular identifica o alinhamento horizontal de nichos que fica acima do banco como corpo, “cuerpo” em espanhol.

8O alinhamento vertical é chamado pano, segundo a gramática retabular. 9O nicho central é identificado como camarim.

Fig. 1 – Reprodução fotográfica do retábulo da capela-mor de San Ignacio Guzú à esquerda e reprodução

fotográfica do retábulo da capela-mor de Santa Maria de Fé. (Fotografia do autor)

São Domingos de Gusmão é apresentado em atitude de marcha, vê-se o pé esquerdo à frente e o joelho direito flexionado e há sugestão de movimentação no panejamento. A cabeça estava voltada para o centro do retábulo, na mão direita carrega o estandarte e na outra mão o livro e uma maquete de igreja (atributos recorrentes do dominicano). Em correspondência com a peça descrita, São Francisco de Assis, sugere mover-se da direita para o centro, o braço direito inclinado nesta direção e sustenta na mão esquerda um livro10.

Entre São Domingos e a Imaculada estava São Pedro voltado para o centro do retábulo apresentando na mão direita, a chave, na esquerda, o livro. Em correspondência estava São Paulo que, na posição retabular, estendia seu braço direito ao centro e o joelho esquerdo ligeiramente flexionado na mesma direção. O atributo espada estava inclinado em direção ao centro sustentado pela mão esquerda que também traz o livro. O panejamento é representado com muita movimentação.

As posições das imagens do nicho inferior podem ser identificadas pelas linhas convergentes e divergentes do conjunto. A pesquisadora argentina Flavia Affani faz uma análise iconográfica do retábulo muito precisa, mas vale contribuir com seu estudo destacando um elemento que compõe a escultura revela a posição da maioria das peças que o compoem de forma mais precisa: a base. O suporte evidencia o ângulo mais preciso para a peça ser vislumbrada e encaixada no retábulo.

No corpo superior do retábulo, na extremidade esquerda, ficava a imagem de São Luiz Gonzaga11em um nicho menor (também a imagem numa escala um pouco menor), avançando

ligeiramente da esquerda ao centro. Seu atributo, a cruz, estava diagonalmente dirigido ao centro. Na outra extremidade do mesmo corpo ficava a imagem de Santo Estanislau Kotska em sua iconografia mais recorrente carregando o menino Jesus. Nesta composição, o sustenta no braço direito. Sua direcionalidade pendia da direita para o centro. Seu nicho e a imagem correspondiam às dimensões do outro santo noviço.

No nicho esquerdo, ladeando o central, encontrava-se o padroeiro das missões, São Francisco Xavier, em uma pose bem dinâmica, como na gravura do flamengo Gerard Edelinck 10Ver: AFFANI, Flavia Monica. “Reconstrucción hipotética de un retablo de las misiones jesuíticas de guaraníes, escenario originario, interpretación iconográfica y concepto barroco del espacio, persuación y participación”. In IV Jornadas de Teoría e Historia de las Artes. Centro Argentino de Investigaciones del Arte. F.F. y L. UBA. P.p.5-10.

11O pesquisador Darko Sustersic explica que as imagens estão expostas atualmente nas salas do museu, com exceção do San Luiz que está na igreja do mesmo nome da localidade de General Delgado, no Paraguai.

O PROGRAMA ICONOGRÁFICO JESUÍTA: APLICAÇÕES EM RETÁBULOS NAS MISSÕES GUARANI

(1649-1707) identificada como Prédication de Saint François Xavier que é a ilustração do livro

Vie de Saint François Xavier, Apôtre des Indes et du Japón, publicado em Paris em 1683 pelo Padre Dominique Bonhours (ver Fig. 2). Acabeça inclinada legeiramente contra o centro, enquanto o braço esquerdo indica para o alto, sua mão acompanha o ângulo da cabeça que também carrega o atributo da cruz, este indicando para cima e para esquerda. O movimento do panejamento é intenso, paramentado, a estola em situação de movimento. Olhar ligeiramente voltado para cima. Correspondente ao outro nicho que ladeava o central, apresentava-se São Francisco de Borja que, em solene traje litúgico dirigia-se da direita ao centro, cabeça inclinada para esta direção, seu antebraço inclinado para a direita, esta mão traz a cústodia que estava inclinada para o centro do retábulo.

Fig. 2 - Gravura Prédication de Saint François Xavier

de Gerard Edlink, 1683. (Fonte: disponível em:

http://www.statenvertaling.net/kunst/iconclass/11h/173 >. Acesso em: 10 fev. 2015)

As imagens do pano central tem expressão significativa, intensificada pelos olhares, ambos voltados para cima12. No corpo inferior, a Imaculada Nossa Senhora da Conceição (ou

Assunção como sugere Affani) com as mãos postas para cima, conduz o olhar para o alto como Santo Inácio no nicho acima com cabeça inclinada, este em expressão de êxtase.

As imagens dos santos constroem uma unidade temática: no primeiro corpo, os nichos periféricos traziam São Domingos e São Francisco de Assis, grandes referências da Idade Média para a criação da Companhia. Estes religiosos foram contemporâneos e fundadores de institutos mendicantes, e com este perfil, foram eficazes na propagação da mensagem evangélica. Ambos são modelos exemplares de santidade. Os jesuítas demonstraram com frequência que seu fundador foi, como São Francisco ou São Domingos, um grande intercessor diante de Deus, atribuindo grande importância aos seus milagres.

A atividade apostólica dos Jesuítas configurou práticas devocionais que, ditaram as diversas expressões iconográficas. Os jesuítas foram importantes agentes dos principais cultos e da iconografia católica moderna. Entre estes, deve-se mencionar os que eram de especial

interesse da Companhia na divulgação do culto Cristológico, do culto Mariano e do culto aos apóstolos Pedro e Paulo, estes comparados a Santo Inácio de Loyola e Francisco Xavier respectivamente13. Nos nichos laterais que ladeavam o central, estavam os apóstolos que

simbolizam os pilares da Igreja, São Pedro e São Paulo, este último, por ser o apóstolo dos “gentios”, trazia um significado especial em uma missão.

No nicho central do corpo encontrava-se a Virgem Imaculada Conceição. A Companhia de Jesus assumiu o compromisso da propagação do culto à Virgem, respeitando os postulados da Reforma Católica, na certeza da manifestação ardente do mistério da Imaculada Conceição que aparece centralizada pela importância dada na catequese para a difusão do dogma mariano (Martins, 2004).

No corpo superior, sustentado por devoções basilares da Igreja, estão os santos da Companhia.

A preocupação com a difusão da devoção aos santos jesuítas começou antes mesmo da canonização dos padres e noviços. Para agilizar o processo, os hagiógrafos da Companhia desenvolveram narrativas para contar os percursos espirituais destes homens, modelos de conduta para os fieis e para os próprios membros da Ordem.

Nas extremidades do corpo superior estavam os dois jovens contemplativos: Santo Estanislau Kostka, morto aos 18 anos em sua recorrente iconografia, com o Menino nos braços, e São Luiz Gonzaga com a cruz, morto aos vinte e dois. Os jesuítas investiram na vocação desses anjos revestidos da natureza humana14, como eram chamados, considerados espíritos puros que estavam além de todas as coisas terrenas. Santo Estanislau Kostka (1550-1568) e São Luis Gonzaga (1568-1591) serviram de modelo para a juventude por suas mortes precoces. Suas imagens foram multiplicadas depois das canonizações em 1726 e a nomeação conjunta como guardiões dos colégios da Companhia.

O nicho adjacente ao central à direita era ocupado por São Francisco Xavier Pregador. Luisa Elena Alcalá (2005) afirma que, na América Latina, as imagens de São Francisco Xavier (1506-1552) com maior recorrência são as que abordam sua dimensão missionária. Apesar de São Francisco Xavier ter desenvolvido seu trabalho missionário no Oriente, (Malaca, Goa, Japão etc.), por ser pioneiro, tornou-se modelo para os jesuítas na América.

No contraponto, do outro lado, um São Francisco de Borja triunfante com paramentos solenes. Como abordado anteriormente, o atributo que carrega na mão é a custódia que ratifica sua grande devoção à Eucaristia.

No centro estava Santo Inácio de Loyola vestindo a sotaina e a capa, em expressão de êxtase. O indicador da mão direita está apontando para seu peito com a inscrição IHS, o nome de Jesus.

Pfeiffer (2003) inaugura seu artigo sobre iconografia jesuíta referindo-se a seu signo, o emblema da ordem jesuítica, IHS. É o monograma constituído da abreviação das três primeiras letras do nome de Jesus em grego ou da escrita latina do nome tal como se usava na Idade Média:

Ihesus15. O autor afirma que a sigla já era conhecida no seio da Igreja desde os manuscritos dos

Evangelhos no século IV. O signo foi difundido pelas ordens mendicantes dominicana e franciscana, propagado especialmente pelo frade Bernardino de Siena no século XVI.

O monograma está inserido em dois círculos concêntricos, os elementos que compõe são as três letras, a cruz acima da trava da letra “H”. A Companhia de Jesus adotou o nome do Salvador como insígnia fazendo uso de acréscimos. A cruz pode substituir as duas primeiras

13Maria Cristina OSSWALD, sugere ver de sua autoria: Cultos y iconografías jesuíticas en Goa durante

los siglos XVI y XVII: El culto y iconografía de San Francisco Javier, in catálogo da exposição San

Francisco en las artes; el poder de la imagen, Pamplona, Gobierno de Navarra, Abril 2006, 248 e 250.

14 MÂLE, Émile. El arte religioso de la Contrarreforma: estudios sobre la iconografía del final del siglo XVI y de los

siglos XVII e XVIII.Tradução Ana Maria Guasch. Madri: Ediciones Encuentro, 2001.

15O significado das iniciais sendo de Iesum Hominum Salvator (Jesus Salvador dos Homens) é considerado uma interpretação posterior. Dicionário de símbolos Cristãos, Editora Vozes: São Paulo. P.188. 2009.

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letras “IH”. As variações podiam conter os três cravos unidos pelas pontas; a lua e estrelas; o coração; os raios do sol; o Menino Jesus no lugar da Cruz.

Inácio de Loyola resolveu dar o nome de Jesus após a visão pela qual foi surpreendido

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