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Carreira como ação

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.3 Metáforas de Carreira

2.3.3 Carreira como ação

A carreira como ação diz respeito à forma de agir do profissional, o que ele faz, a maneira como direciona e, muitas vezes, cria sua carreira ou as oportunidades para o seu desenvolvimento. Os pontos abordados na carreira como herança e como ciclos podem fazer com que a pessoa tenha poder de ação para sua carreira, mas alguns desses pontos, como já foi abordado, impõem limites de ação para o indivíduo (INKSON, 2007).

Inkson (2007), para mostrar que a ação do profissional faz toda a diferença, abre o capítulo que trata dessa metáfora com a história de uma profissional que contrariou vários fatores do ambiente familiar e mercadológico. Filha de pais disciplinadores perdeu a mãe quando tinha cinco anos, foi educada em um convento e resolveu seguir carreira artística. Como se sabe, a indústria de entretenimento é bastante restrita. Ainda assim, essa profissional foi na contramão do que se espera de uma pessoa que recebeu uma educação formal e com rígida disciplina e ultrapassou as barreiras mercadológicas para se tornar uma cantora de sucesso, hoje conhecida como Madonna. De acordo com o relato desse autor, Madonna é um ótimo exemplo de pessoa que fez a sua carreira acontecer devido a suas ações. Ela produziu, direcionou, criou sua carreira (INKSON, 2007).

A metáfora de carreira como ação relata como as atitudes do indivíduo fazem diferença no desenvolvimento de sua carreira. Os profissionais possuem poder para criar e direcionar suas carreiras, o que acontece é que alguns indivíduos colocam em prática esse poder, e é isso que faz toda diferença. Ter energia e exercer o poder para que as coisas aconteçam (INKSON, 2007) é que fará com que a carreira evolua de forma mais ou menos veloz.

Quando Minarelli (1995) e Bridges (1995) falam sobre o indivíduo se tornar empregável, tratam justamente da busca por formas, cursos, maneiras para melhorar sua empregabilidade, desenvolver suas habilidades e seu conhecimento, de forma que outros queiram contratá-lo. O profissional, para desenvolver essas habilidades e conhecimentos, tem que ter ação, detectar qual o melhor caminho, que tipos de cursos fazer, quais empregos buscar, quais organizações tornarão mais visível seu currículo e em quais ele mais se desenvolverá. O indivíduo precisa ter foco, saber aonde quer chegar e agir. O desenvolvimento da carreira está ligado ao exercício do poder de ação, e o indivíduo precisa assumir que é responsável por sua própria carreira e utilizar suas habilidades e seu conhecimento para obter o sucesso e a satisfação (INKSON, 2007).

Embora o conceito de empregabilidade possa ser questionado, ele é bastante utilizado para falar sobre o perfil do profissional de hoje, que precisa se manter atualizado e investir em sua profissão de forma constante. Silva (2002) afirma que o conceito de informalidade foi substituído por

empregabilidade/empreendedorismo. Esse autor aponta para novas formas de exploração capitalista, na qual a característica principal “[...] é a individualização e a subjetivação dos controles que organizam a vida social, inclusive a produção material” (SILVA, 2002, p. 101). Esse conceito de empregabilidade adquire um sentido de “[...] mecanismo de convencimento ideológico (ou, se preferir, um termo mais agressivo, de „domesticação‟) que se encaminha no sentido de reconstruir uma cultura do trabalho adaptada ao desemprego, ao risco e à insegurança [...]” (SILVA, 2002, p. 101, grifo do autor).

Nesse sentido, o profissional precisa agir por uma pressão do mercado capitalista, que o impele a ser sempre o melhor, ou porque ele está desempregado e precisa de uma recolocação de trabalho ou porque não há, de fato, mais segurança no emprego como ocorria nos moldes passados quando o profissional entrava na empresa e ascendia de cargo em cargo até se aposentar nessa mesma organização. A exigência em termos de aprendizagem constante existe, e o profissional precisa se adaptar a ela.

Uma forma de exercer essa ação na carreira é expressar sentimentos, pensamentos. Seria uma maneira de o profissional se expressar no trabalho que realiza. Quando se trata de carreiras ligadas à arte, como a da cantora Madonna ou a carreira de um artista plástico, é mais fácil entender essa forma de se expressar. Profissionais como Madonna deixam sua marca em seu trabalho, uma individualidade, algo que a torna única (INKSON, 2007). Esse autor também cita um relato de um artista plástico, que diz que a projeção de si mesmo em suas esculturas está por trás da filosofia de seu trabalho. É possível ouvir pessoas envolvidas com a arte afirmarem isto: uma música que expressa o sentimento do momento em que o compositor a escreveu, pintores que têm vários estilos, de acordo com o que se passa em seu interior, poemas que imprimem a alma de quem os compôs, etc.

Existem forças externas que limitam a expressão de si mesmo. Mesmo os artistas precisam encontrar a dosagem certa entre a sua expressão e as realidades de um mundo competitivo (INKSON, 2007). Essa autoexpressão pode ser limitada pelas pressões comerciais, mesmo para os artistas (INKSON, 1987 apud INKSON, 2007). As pessoas não podem, muitas vezes, expressar quem realmente são no trabalho, mas para outras o mundo de trabalho propicia

oportunidades de expressar sua identidade. Cada indivíduo deve descobrir uma forma de conciliar as suas preferências, quem ele é, com o papel que a sociedade espera que ele realize (INKSON, 2007). Se essa limitação existe no meio artístico, que é um lugar mais propício para haver uma expressão da sensibilidade dos profissionais, ela também existe no mercado de trabalho, nas organizações.

A metáfora da ação tem ligação com as outras metáforas já apresentadas. Com relação à carreira como herança, pode-se pensar que a educação que o indivíduo recebe influencia em sua maneira de agir, inclusive com relação à sua carreira. A pessoa pode ter mais ou menos desenvoltura, criatividade, ousadia, dependendo da educação que recebeu. Da mesma forma que o profissional pode contrariar a educação recebida e, por meio de sua ação, desenvolver a carreira que deseja, como no caso da cantora Madonna, a educação, o meio social, as oportunidades que o indivíduo têm podem facilitar suas ações para torná-lo um profissional empregável.

A ligação com a metáfora dos ciclos é que a experiência adquirida nos diversos ciclos de vida e de carreira pode influenciar, positiva ou negativamente, a carreira de um indivíduo. Vários teóricos falam sobre o desenvolvimento da carreira, sobre uma construção da carreira, termos que designam uma continuidade no desenrolar da vida profissional do indivíduo. De acordo com Inkson (2007), o construir nada mais é do que uma forma de ação. O termo desenvolvimento da carreira é ambíguo, uma vez que não deixa claro se o desenvolvimento se dá por fatores externos ou pela ação das pessoas. Assim, esse termo é usado para designar o desenvolvimento que é ativado pelo lado individual das pessoas, pelas suas ações na carreira.

A metáfora da ação tem ligação também com a metáfora da construção, que será posteriormente abordada nesta pesquisa. O resultado da construção da carreira se dá pelas ações individuais. Essa metáfora também possui relação com a metáfora do encaixe, porque, à medida que o indivíduo desenvolve sua carreira, ele encaixa suas habilidades nas oportunidades que surgem (INKSON, 2007).

As teorias que falam sobre planejamento e gerenciamento de carreira, sucesso na carreira e as teorias de aprendizagem, de construção e de desenvolvimento da carreira estão ligadas à metáfora

da carreira como ação (INKSON, 2007). O conceito de carreira proteana, instituído por Hall (1996), também possui ligação com a metáfora da ação, uma vez que cabe ao profissional atuar como o deus grego Proteu, que podia alterar sua forma quando desejasse. Também o profissional necessita mudar de carreira algumas vezes, mudar de trabalho, mudar de organização, etc (HALL, 1996).

O indivíduo é responsável pelo gerenciamento de sua carreira, o que não mais está a cargo das organizações. Se antes o indivíduo confiava à empresa sua carreira, nos dias de hoje ele sabe que a empregabilidade e o investimento no seu crescimento profissional cabem principalmente a ele. E a necessidade de mudança é constante. Daí a importância do conceito de carreira proteana. A ação na carreira proteana deve existir, mas o profissional precisa ter o poder de agir para que as mudanças aconteçam. Para direcionar a carreira, o indivíduo precisa de uma “bússola”, que vem com um senso individual de identidade. Ele precisa conhecer seus valores, suas necessidades, seus objetivos e seus interesses (HALL, 2002 apud INKSON, 2007).

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