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Carreira como relacionamento

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.3 Metáforas de Carreira

2.3.7 Carreira como relacionamento

Esta metáfora diz respeito ao fato de os profissionais construírem e desenvolverem suas carreiras pautadas em relacionamentos que são construídos ao longo da vida. Esses relacionamentos podem possibilitar que o indivíduo desenvolva mais rapidamente a sua carreira. A rede de relacionamentos é um termo bastante comum na linguagem diária dos profissionais e na academia. Minarelli (2001) é um dos autores que escreveu um livro para falar sobre a importância da rede de relacionamentos na vida profissional.

A rede de relacionamentos pode também ser chamada de redes sociais, ou seja, indivíduos conectados em rede, conectados por algum tipo de ligação. Essa metáfora de rede ou tecido surgiu no Século XX e traz em si a ideia de que as relações sociais formam uma rede, que acaba por condicionar as ações das pessoas nela inseridas (MARTELETO; SILVA, 2004).

A cultura é um fator que pode interferir na forma como as pessoas se relacionam, ou seja, na facilidade de o indivíduo estar mais ou menos receptivo às diversas pessoas que cruzam seu caminho e que podem passar a fazer parte de sua rede de relacionamentos. A pesquisa de Hofstede (1980) é uma das mais amplas na área de cultura organizacional. Essa pesquisa foi desenvolvida em 64 países, onde a organização IBM possuía filiais. Hofstede pôde apontar traços culturais predominantes em cada um dos 64 países. Um dos fatores apontados como traço da cultura é o coletivismo e o individualismo1. Em sociedades coletivistas, a pessoa se vê como integrante de grupos coesos e há um senso de lealdade nesses grupos, que incluem a família. Tal autor mostra que um dos fatores que diferenciam as sociedades é o individualismo/coletivismo. A América do Sul é um dos continentes onde predomina o coletivismo. Na América do Norte, predomina o individualismo (INKSON, 2007).

Quando um indivíduo faz uma retrospectiva de sua carreira, provavelmente ele se lembrará não dos empregos em si, mas das pessoas com quem trabalhou: os colegas, gerentes, subordinados e outros que passaram por sua vida profissional e fizeram diferença de forma positiva ou negativa (INKSON, 2007). Para uma carreira inteligente, são necessários três pontos: conhecer por que, conhecer como; conhecer quem. Este último ponto é justamente voltado para a rede de contatos e relacionamentos e diz respeito ao modo como encontrar a pessoa certa (ARTHUR; CLAMAN; DePILLIPPI, 1995, apud BARUCH, 2004).

A metáfora da carreira como relacionamento se liga à metáfora da carreira como ação. A rede de relacionamentos pode receber influência da ação do indivíduo, não acontecendo unicamente devido à sociabilidade do profissional (INKSON, 2007). Ela pode ser ampliada, ficar estagnada, ou mesmo reduzir, de acordo com a ação da pessoa. Se um profissional não mantém ativos os contatos de sua rede de relacionamentos, o distanciamento acontecerá com o tempo. É necessário

1 No site http://stuwww.uvt.nl/~csmeets/PAGE3.HTM, encontram-se informações mais aprofundadas sobre a

fazer uma manutenção constante desses contatos para mantê-los ativados, pois não se sabe o momento que o indivíduo precisará do auxílio de uma dessas pessoas.

Os contatos podem ser os mais variados possíveis: amigos, colegas de trabalho, clientes e/ou familiares. O desenvolvimento e a construção desses contatos tornam a rede de relacionamentos cada vez mais forte. Os contatos podem ser desenvolvidos de forma intencional, planejada e calculada e/ou podem acontecer naturalmente, devido à sociabilidade do indivíduo (INKSON, 2007). Quando se trata de contatos adquiridos de uma maneira calculada, planejada, a ação do profissional é primordial. Outro ponto sobre os contatos abordado por Inkson (2007, p. 182) é que a “rede de relacionamentos é um processo contínuo”. O contato não é ativado quando se deseja resolver um problema, sendo descartado após sua solução. Ao contrário, os contatos são construídos por um longo período de tempo para serem ativados quando houver necessidade.

A rede social do indivíduo deve ser baseada em reciprocidade (COLEMAN, 1994). O indivíduo não apenas procura auxílio, como também oferece, o que irá depender da necessidade existente, de onde ela vem. Ora pode partir do profissional, ora pode vir dos contatos que esse indivíduo possui. Se há disposição dos membros em auxiliar, a manutenção certamente se dá mais fácil e de forma constante. A função da rede de relacionamentos não é apenas a interação entre as pessoas, entre os membros, mas é a base da reputação que o indivíduo possui. As pessoas com as quais ele se relaciona constroem uma imagem em torno dele, e a reputação é decorrente da sua rede de contatos. A vida social possibilita muitos eventos e encontros, já que todo membro da rede de relacionamentos pode trazer oportunidades de mudança (INKSON, 2007).

Outro nome para a rede de relacionamentos seria capital social, que diz respeito às normas e aos valores sociais, às práticas culturais, às instituições e aos relacionamentos compartilhados que possibilitam cooperação dentro dos diferentes grupos sociais ou entre eles (ARAÚJO, 2003; MARTELETO; SILVA, 2004). O capital social faz parte do capital da carreira (INKSON, 2007), assim como o conhecimento, a energia e a criatividade, que nos propulsionam a continuar no trabalho. Todos esses fatores são riquezas que um indivíduo possui e agrega em sua carreira e em sua vida, viabilizando oportunidades de trabalho. O empreendedor não contrata o empregado apenas por causa de suas habilidades, mas também devido ao capital social que o indivíduo

possui, às conexões que ele traz para dentro da empresa (INKSON, 2007). Para tornar essas reflexões mais claras, é possível pensar no seguinte exemplo: um gerente de banco, quando é contratado por outra empresa bancária, leva muitos clientes consigo. Quando esse profissional se encontra na nova organização, ele fará contato com seus clientes antigos, para uma possível mudança de banco.

Em determinadas carreiras, como a bancária, por exemplo, o capital social é primordial e tem que existir para que o indivíduo se desenvolva na profissão. Os contatos que o profissional possui podem tanto oferecer oportunidades de crescimento na carreira, como podem influenciar outros contatos a dar novas oportunidades para a pessoa (INKSON, 2007). No exemplo citado anteriormente, os contatos que um bancário possui podem tanto fazer com que ele amplie seus negócios atuais, abrindo novas contas e vendendo mais produtos, como podem oferecer novas oportunidades de trabalho a esse bancário, caso ele queira ou precise mudar de profissão. É preciso pensar, assim, que os contatos atuais conduzem a outras pessoas, que passarão a compor o capital social desse bancário e que podem ser responsáveis por novas oportunidades de negócios.

O valor do capital social não está nele, mas na forma como o profissional o utiliza. Até a forma de influenciar as pessoas que participam desse capital deve ser levada em consideração, pois o indivíduo tem que usar a rede de relacionamentos para se beneficiar, para se desenvolver, para seu crescimento pessoal e profissional.

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