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Imagens e Metáforas de Carreira

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 Imagens e Metáforas de Carreira

Todos possuem imagens acerca de algo, imagens relacionadas a entidades governamentais, a instituições públicas e privadas, imagem formada com relação a algum partido político ou a alguma pessoa em particular. A imagem pode se relacionar a uma infinidade de organizações e figuras, pessoas físicas e jurídicas. Imagem é como alguém percebe o outro. De acordo com Marconi (1997), essa percepção pode se basear no que a pessoa conhece, como também no que ela pensa que conhece. Nesse caso, há uma mistura entre realidade e percepção. Gee (1991)

afirma que essa relação entre percepção e imagem é bastante abrangente. Para esse autor, o fato de determinado público perceber determinada empresa de uma maneira positiva, por exemplo, faz com que essa percepção se torne a realidade desse público.

O mesmo pode acontecer com as carreiras. Determinadas profissões podem ser percebidas de maneiras diferentes do que realmente são na prática. O público pode criar uma imagem que não confere com a realidade vivenciada pelo profissional. Como acontece com a política, muitas vezes os políticos constroem uma imagem de si mesmo para agradar o eleitorado, em busca de votos e de amplitude de imagem durante a campanha política. Mas nem sempre essa imagem construída durante o processo eleitoral corresponde à verdade (RIBEIRO, 2002). Caso o profissional escolha determinada profissão e/ou cargo baseado em uma imagem construída ao longo dos anos, ao ter contato com a profissão e/ou com o cargo em questão, ele pode se decepcionar e não conseguir êxito em sua carreira.

As metáforas são figuras de linguagem comparativas, que são utilizadas de maneira frequente e dão um toque criativo à maneira como as pessoas se expressam, tornando a comunicação menos monótona e estática (MORGAN, 2007). Por exemplo, ao se falar em mundo, há diversas possibilidades de descrever o mundo e não simplesmente dizer que “o mundo é um mundo” (MORGAN, 2007, p. 21). A metáfora “é uma força primária através da qual os seres humanos

criam significados usando um elemento de sua experiência para entender outro” (MORGAN,

2007, p. 21, grifos do autor).

Essas figuras de linguagem permitem às pessoas resumir qualidades complexas em palavras singulares. Por exemplo, quando se diz que o soldado era um leão, está implícito que o soldado era forte e feroz como um leão (INKSON, 2007). As metáforas também permitem que os indivíduos visualizem coisas sob uma nova perspectiva (INKSON, 2007), como se alargassem o pensamento e aprofundassem o entendimento, ou seja, permitem visualizar as coisas de uma nova maneira e agir de forma diferente das usuais (MORGAN, 2007). Todas as pessoas utilizam metáforas de forma frequente, na construção de ideias, pensamentos e frases, mesmo que não percebam ou não saibam o que são metáforas.

Na vida diária, muitas vezes, o indivíduo faz uso de metáforas sem ao menos perceber. As metáforas se encontram tão arraigadas nas falas que é preciso análise para detectá-las. De forma fluente, tanto ao falar, como ao ouvir, a maioria das pessoas não percebe que certos termos são metafóricos. Inkson (2004) afirma que o uso de metáforas é a forma mais utilizada para se comunicar e, inclusive, para pensar. As metáforas são capazes tanto de expressar os pensamentos das pessoas, como de auxiliar na estruturação desses pensamentos.

A diferença existente entre imagem e metáfora é que aquela diz respeito ao modo como o indivíduo vê o outro, ao passo que a metáfora é algo corrente na fala e no cotidiano das pessoas. É diferente o indivíduo formar uma imagem com relação à determinada profissão e utilizar uma metáfora para falar de algum cargo. Por exemplo, o indivíduo pode ter uma imagem negativa com relação aos profissionais da área do direito, ou seja, não ser a favor dessa profissão, enxergar os advogados como profissionais arrogantes. Para expressar isso, esse mesmo indivíduo poderia recorrer a alguma metáfora, como dizer que os advogados são como girafas, vivem com a cabeça em pé e pensam que podem tudo, que são os maiorais. Ou seja, uma metáfora pode servir para expressar algo sobre uma imagem.

As imagens de carreira dizem respeito à forma como os profissionais percebem suas profissões, suas carreiras. Inkson (2004, 2007) examina o uso extensivo das metáforas por teóricos, profissionais liberais e trabalhadores através do conceito que atribuem às carreiras e recorre ao método de múltiplas metáforas de Morgan (1986) para desenvolver uma concepção eclética sobre o estudo da carreira. De acordo com Morgan (2007), as organizações podem ser vistas como máquinas, como organismos, como cérebros, como culturas, como sistemas políticos, como prisões psíquicas, como fluxo e transformação, como instrumentos de dominação. Cada uma dessas metáforas não abarca em si todas as verdades sobre as organizações, mas, sim, revela verdades sobre as organizações de modo geral, que são estruturas complexas e multifacetadas (INKSON, 2007; MORGAN, 2007). A tese básica defendida por Morgan (2007) é a de que

[...] toda a teoria e prática da organização e da administração baseia-se em imagens, ou metáforas, que nos levam a entender situações de maneira eficaz, mas parcial. [...] reconhecemos que, como toda metáfora tem vantagens e tem limitações, precisamos estar sempre conscientes da existência de pontos cegos que prejudicam nossa eficácia (MORGAN, 2007, p. 20, grifos do autor).

No dia-a-dia, as pessoas usam correntemente metáforas para descrever os mais variados fenômenos e acontecimentos. Assim acontece também nos estudos de carreira, nas falas tanto dos profissionais, como dos teóricos, a utilização de metáforas para a descrição das carreiras é algo comum (INKSON, 2004, 2007). Esse autor acredita que, se Morgan está certo no que tange à utilização das metáforas nos estudos organizacionais, elas também podem ser utilizadas para clarear o entendimento sobre carreira.

É possível, ao analisar os diversos autores que versam sobre carreira, encontrar metáforas como jornada profissional (BARUCH, 2004), escada (EVANS, 1996) e outras que explicam o significado do termo e o andamento do processo de carreira. As metáforas têm influência significativa no que tange às reflexões acerca da carreira e da formação dos estereótipos que delineiam esse tema e ainda permitem ampliar os enfoques que levam em consideração a utilização de metáforas alternativas e também a criação de outras metáforas (INKSON, 2004). As metáforas tanto vivificam, como restringem a maneira de conceber carreira, uma vez que as palavras que as compõem frequentemente estimulam as pessoas a visualizar imagens que não podem ser evitadas (INKSON, 2004), devido à força que impelem à visualização.

Um problema nos estudos de carreira é pensar que as carreiras das pessoas começam com as experiências nas diversas ocupações e empregos. As carreiras, na verdade, recebem influência muito antes de existirem. Por exemplo, são influenciadas pela família, pelo contexto social em que o indivíduo está inserido (INKSON, 2007). Daí a importância de se pensar em diversas metáforas de carreira e de se levar em consideração várias formas de se estudar a carreira, de entender esse construto.

Dez metáforas foram escolhidas por Inkson (2007), uma vez que são possuidoras de potencial para expressar a maior parte da sabedoria referente às carreiras – a carreira como herança, prisão, ciclos, ações, encaixe, jornada, teatro, relações, recursos e histórias. Essas metáforas atuam como estruturas que abarcam grande parte da teoria sobre carreiras.

A carreira, assim como a organização, pode ser considerada complexa e até mesmo multifacetada. Cada metáfora possui determinada força e/ou fraqueza, as aplicabilidades e não-

aplicabilidades variam de acordo com as situações. É necessário considerar uma ampla gama de metáforas para se poder atingir uma verdadeira compreensão (INKSON, 2004). Assim, Inkson (2007) descreve essas dez metáforas como as principais em relação aos estudos sobre carreira.

Segundo Morgan (2007), é necessário que os administradores desenvolvam habilidade para identificar e utilizar abordagens distintas à administração e à organização. É preciso que eles aprendam a fazer uma “leitura” das organizações sob diferentes perspectivas e desenvolvam estratégias de ações compatíveis com o que foi detectado. Algumas das perspectivas e das visões obtidas com essas “leituras” serão compatíveis, outras contraditórias. Ao ampliar o domínio para lidar com as contradições e os paralelos existentes, aumenta-se a visão periférica e cria-se uma flexibilidade, que é necessária para a identificação de difíceis questões organizacionais e de quais estratégias são viáveis para as mudanças.

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