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É notório que a democracia é um regime político que garante os direitos da pessoa humana. Outro regime não tem o condão nem o propósito de promover o desenvolvimento integral do ser humano. Nas linhas anteriores se verificou que um sistema regional de proteção dos direito humanos aglutina-se perfeitamente ao sistema mundial. O desenvolvimento de um sistema jurídico regional torna eficazes as normas internacionais de direito humanos, adicionando as peculiaridades regionais. Os compromissos assumidos pelos Estados em âmbito global devem ser ratificados em âmbito regional, constituindo, como já afirmamos, uma unidade substancial em defesa da democracia.

Nesse espírito foi firmado nas Américas um pacto denominado “Carta Democrática Interamericana”, em 11 de setembro de 2001, por 34 Ministros das Relações Exteriores da OEA reunidos no 31º Período Ordinário de Sessões da Assembléia Geral em São José, Costa Rica.

Reconhece a Carta que a democracia é indispensável para assegurar o respeito aos direitos humanos, e que um sistema judicial independente é fundamental para a preservação e a vigência da democracia.

O antecedente da Carta em âmbito internacional foram a adoção, pelos Chefes de Estado e de Governo das Américas reunidos na 3a Cúpula das Américas, celebrada de 20 a 22 de abril de 2001 na cidade de Quebec, de uma cláusula democrática que estabelece que a alteração ou ruptura institucional da ordem democrática de um Estado constitui obstáculo insuperável para a participação do referido Estado no processo de Cúpula das Américas.

realizadas por sufrágio universal e igualitária e por voto secreto, que garantam a livre expressão da vontade dos eleitores; e c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seus país”.

Ainda a Declaração Americana sobre Direitos e Deveres do Homem e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos contêm os valores e princípios da liberdade, igualdade e justiça social, intrínsecos à democracia.

Ao adotar a Carta, a Assembléia Geral reafirmou que o caráter participativo da democracia nos diferentes âmbitos da atividade pública contribui para a consolidação da democracia, da liberdade e da solidariedade. A luta contra a pobreza crítica e sua eliminação é essencial para a promoção e a consolidação da democracia, consistindo em responsabilidade compartilhada pelos Estados americanos. Além disso, a promoção dos direitos humanos é condição fundamental para o exercício de uma sociedade democrática.

Adicionalmente, a Declaração de Nassau de 1992 pactuou a criação de mecanismos para proporcionar aos Estados-membros a assistência, quando solicitada, para promover, fortalecer e preservar a democracia representativa.

Por sua vez, a Declaração de Manágua para a Promoção da Democracia e do Desenvolvimento admite que a necessidade de consolidar, no contexto da identidade cultural de cada uma das nações do hemisfério, estruturas e sistemas democráticos que incentivem a liberdade e a justiça social, salvaguardem os direitos humanos e promovam o progresso. Expressa o convencimento de que a democracia, a paz e o desenvolvimento são partes inseparáveis e indivisíveis de uma visão renovada e integral da solidariedade americana, e que a implementação de uma estratégia inspirada na interdependência e complementaridade desses valores dependerá da capacidade de Organização dos Estados Americanos para contribuir, preservar e fortalecer as estruturas democráticas do hemisfério. Por fim, a Declaração de Manágua não apenas atribui a missão à OEA a defesa da democracia nos casos de rompimento de seus valores e princípios fundamentais, mas também exige um trabalho permanente e criativo destinado a consolidá-la, bem como um esforço permanente para antever e prevenir as causas intrínsecas dos problemas que afetam o sistema democrático de governo. Com esses antecedentes é que os Ministros das Relações Exteriores das Américas celebraram a “Carta Democrática Interamericana”.

A Carta define, no artigo 1º, que a democracia é um direito dos povos e que os governantes têm a obrigação de promovê-la e defendê-la. Reconhece, no mesmo artigo,

que a democracia é essencial para o desenvolvimento social, político e econômico. Essa obrigação coletiva, assumida pelos Estados americanos, para a defesa da democracia é a resposta dada pelo Estado Democrático.

É interessante salientar que, caso ocorra interrupção ou ruptura na ordem constitucional que afete a democracia, qualquer Estado-parte poderá solicitar a convocação do Conselho Permanente para avaliar a situação e adotar as medidas convenientes. Note-se que todos os Estados-partes são co-responsáveis pela efetivação da democracia na região.

A democracia referendada na Carta é a representativa (artigo 2º), atribuindo-lhe a sustentação do Estado de Direito. Porém, para seu aprofundamento e aperfeiçoamento, admite que a participação permanente do cidadão é condição fundamental, observada a legalidade e a ordem constitucional de cada país. Implicitamente, refere-se aos métodos de participação direta, como referendo, plebiscito e iniciativa, além de outros que os ordenamentos nacionais podem criar.

Como características essenciais da democracia representativa, (artigo 3º), os governos devem respeitar os direitos fundamentais, e para o cidadão devem ser criados mecanismos de acesso ao poder e seu exercício com sujeição ao Estado de Direito. Em relação aos direitos políticos, a Carta prevê a realização de eleições periódicas, livres, justas e baseadas no sufrágio universal e secreto como expressão da soberania do povo. O regime deve ser pluralista de partidos e organizações políticas, reconhecendo-se que seu fortalecimento é prioritário para a democracia (artigos 3º e 5º). Note-se mais uma vez que os direitos políticos extrapolam um direito individual e comutam-se em direito coletivo na medida que é reconhecido às organizações da sociedade civil papel preponderante quando imbuídas de influenciar as decisões governamentais. Ainda, no mesmo artigo 3º, adota-se o sistema de separação e independência entre os Poderes.

Em nosso trabalho afirmamos que os direitos humanos somente poderão desenvolver-se num ambiente democrático. A Carta Democrática é taxativa nesse sentido: “Artigo 7º: A democracia é indispensável para o exercício efetivo das liberdades fundamentais e dos direitos humanos, em seu caráter universal, indivisível e

interdependente, consagrados nas respectivas Constituições dos Estados e nos instrumentos interamericanos e internacionais de direitos humanos”.

Vê-se que o respeito aos direitos fundamentais e aos direitos humanos depende, para sua efetivação, da democracia. No entanto, o artigo 8 da Carta reconhece o fortalecimento do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos como condição para a consolidação na democracia no hemisfério. Isso torna indissociável o sistema democrático e os direitos humanos. Coloca-os numa mesma dimensão axiológica, ou seja, dá à democracia valor universal, tal qual ocorre com o direito à autodeterminação e ao desenvolvimento.

Parte II

OS DIREITOS POLÍTICOS NOS PAÍSES MEMBROS DO

MERCOSUL

Capítulo I

OS DIREITOS POLÍTICOS NAS CONSTITUIÇÕES DO

MERCOSUL