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Casas de venda

No documento queleningridlopes (páginas 163-174)

Propriedades urbanas: características e vinculações com o cotidiano social e econômico.

2.3 Caracterização dos bens urbanos: estruturas, funções e interações mercantis

2.3.6 Casas de venda

As casas de venda, ou simplesmente venda, encontravam-se espalhadas por todo a região: no meio urbano, nas áreas de extração de ouro, como também são encontradas funcionando como benfeitoria anexa a uma propriedade rural junto a sua entrada, nas proximidades ou mesmo dentro da propriedade. Portanto, as vendas fazem parte tanto do universo dos tipos de bens urbanos como daqueles negociados conjuntamente com bens rurais e bens extrativos.

Pouco é informado sobre o que havia nas casas de venda. A descrição dos seus produtos, apetrechos e móveis é muito concisa se limitando a termos como: ―seus aviamentos necessários‖, ―seus trastes de venda‖, ―medidas e preparos para a venda‖ etc. Dos ―apetrechos‖ necessários a uma casa de venda são comuns as ―medidas de venda‖, quarta de medir, vara de medir e balanças. Instrumentos que o comerciante deveria manter segundo os padrões da Câmara, pois a qualquer momento o almotacé poderia requerer o comprovante de aferição dos pesos e medidas que era concedido ao comerciante por aquela instituição.349

Embora não sejam detalhados os produtos vendidos com as casas de venda, algumas pistas indicam o tipo de comércio feito por seus proprietários: duas delas mencionam ―trastes de uma venda de molhados‖ e na outra existiam ―várias cargas de molhado umas em ser outras já abertas, frascos, balanças de pesar ouro e grande, de folha de Flandres, medidas, vara e tudo o mais que se achar‖.350 Em uma das

349 Segundo Thiago Enes o almotacé ―era um oficial local que tinha como função precípua assegurar o

abastecimento e regular as atividades comerciais de vilas e cidades, através da inspeção de feiras, vendas e lojas, cobranças dos devidos impostos, aferição de pesos e medidas e inspeção das condições das mercadorias levadas a público‖. De modo efetivo, era quem fiscalizava e punia transgressões ocorridas no comércio. ENES, Thiago. Op. Cit., 2010, p. 64.

350 AHCSM, 1o Ofício, Livro de Nota 48, datado de 18/04/1738 e 1o Ofício, Livro de Nota 62, datado de

negociações desse tipo de bem urbano foi desfeita uma sociedade em torno de uma ―venda de molhados‖, um sócio vendeu a parte que lhe cabia ao outro sócio.351 Nenhuma das negociações fez referência a presença de fazenda seca entre as pertenças da venda. Do mesmo modo, em nenhuma das 53 escrituras de propriedades rurais que negociaram casas de venda entre seus bens fizeram referência a fazendas secas.

Flávio Puff, em concordância com a historiografia mais recente, identifica a diferenciação muito mais pela localização das vendas e das lojas do que estritamente pelos produtos que comercializavam, além de observar diferenças a partir do referencial hierárquico dos pequenos comerciantes fixos. Para o autor, os donos das lojas de fazenda seca estariam no cume da hierarquia dos comerciantes locais, pois seu comércio requereria um maior investimento em virtude da ―natureza dos produtos que eram comercializados neste tipo de estabelecimento- produtos do Reino, de armarinhos, ferramentas, perfumarias, indumentárias, etc.‖.352 Apesar dos produtos importados e de maior monta se identificarem com o comércio feito nas lojas, a diferenciação, como dito, também se relacionava com a localização geográfica:

Em geral recebiam tal denominação por terem grandes dimensões e por estarem situadas no centro das vilas. As vendas, por sua vez, tinham menor porte e localizavam-se na periferia comercializando principalmente alimentos e bebidas alcoólicas, quase sempre para escravos.353

Enquanto as lojas se fixavam nos núcleos urbanos, nos arraiais e em Mariana, as vendas estariam mais identificadas aos espaços periféricos que circundavam aqueles. De fato, tal lógica também faz muito sentido de acordo com o mercado de bens imóveis de Mariana. Por volta de 62% das casas de venda negociadas conjuntamente com as propriedades rurais se situavam dentro do limite da propriedade rural. Somando aquelas que ficavam na estrada, ou caminho, que levava à propriedade o percentual chega a 94%, enquanto o restante se situava fora dos seus limites ou proximidades. Um dado importante: mais da metade dessas propriedades rurais com casas de venda também vinculavam serviços de mineração entre seus bens. Acreditamos que estas casas de vendas seriam freqüentadas pelos vizinhos próximos, por aqueles que estivessem se

351 AHCSM, 1o Ofício, Livro de Nota 41, datado de 09/07/1732.

352 PUFF, Flávio Rocha. Os Pequenos Agentes Mercantis em Minas Gerais no século XVIII: Perfil,

Atuação e Hierarquia (1776-1755). Dissertação. (Mestrado em História). Juiz de Fora: UFJF, 2007. p. 55.

353 FURTADO, Júnia Ferreira & VENÂNCIO, Renato Pinto. Comerciantes, tratantes e mascates. In:

PRIORE, Mary Del (org.). Revisão do Paraíso: os brasileiros e o Estado nos 500 anos de história. Rio de Janeiro, 2000, p.103. Apud. PUFF, Flávio. Op. Cit., p. 58.

deslocando por entre as freguesias e pelos escravos de outros senhores, em busca de comestíveis e bebidas.

As autoridades buscaram proibir através de diversos bandos que as negras de tabuleiro circulassem pelos morros e entorno de ribeiros de exploração aurífera. Tentativas que não sucederam positivamente- a própria repetição da proibição é um sinal disso. Mulheres pobres, forras ou escravas, buscavam sua sobrevivência, melhoria de condições (como a aquisição de bens, por parte das forras) ou viabilizar suas alforrias através da venda ambulante dos seus produtos. Embora o olhar das autoridades sobre o comércio ambulante realizado por essas mulheres refletisse receio, quando feito dentro da legalidade, ou seja, com as devidas licenças e não transpassando o limite das vilas e arraiais para as áreas de mineração não era coibido.354 As negras de tabuleiro eram livres para venderem aguardente, doces, bolos e outros quitutes desde que não os levassem até os locais de mineração, para não exporem os escravos mineradores às tentações do álcool, que ocasionava distúrbios e acidentes nas zonas mineradoras além do descaminho do ouro extraído- prejudicando-se assim tanto seus senhores quanto o direito régio.355

Certas proibições também atingiam as vendas fixas, casas ou ranchos construídos nos morros. Sendo uma área de livre exploração do ouro, a construção de uma casa ou rancho de venda nesses locais poderia render o direito de explorar a área adjacente a ela. Desatentos com a proibição ou indiferentes a ela, benfeitorias que serviam de venda nos morros auríferos continuaram a ser construídas. Flagramos poucas vendas dentre as benfeitorias negociadas junto com serviços de mineração, nenhuma delas se situava nos morros auríferos, mas nos arredores de áreas auríferas trabalhadas com o sistema da exploração feita com o auxílio de águas.

O que observamos através do mercado é que as vendas fixas (casa ou rancho de venda) estavam localizadas em áreas mais afastadas dos núcleos urbanos, o que não

354 Dejanira Ferreira de Resende observa que durante grande parte do século XVIII houve publicação de

consecutivas ordens proibitivas acerca do comércio das negras de tabuleiro. O objetivo principal, segundo a autora, era proibir seu acesso principalmente aos morros auríferos onde os escravos mineradores transitavam com certa liberdade. ―Não estando constantemente sob a vigilância de um feitor ou senhor‖, estes temiam que seus escravos ―gastassem seus jornais em comestíveis e aguardente‖. REZENDE, Dejanira. Op. Cit., p. 53.

355 Sobre a forma como se dava o comércio das negras de tabuleiro, as dificuldades e possibilidades do

seu cotidiano Cf. REIS, Liana Maria. ―Mulheres de ouro. As Negras de tabuleiro nas Minas Gerais do século XVIII.‖ In: Revista do Departamento de História, n. 8, Belo Horizonte, UFMG, 1989. p. 72-85;

Cf. FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida & MAGALDI, Ana Maria Bandeira de Mello.

―Quitandas e Quitutes: um estudo sobre rebeldia e transgressões femininas numa sociedade colonial‖.

significa a sua ausência nesses locais apenas uma preponderância. As lojas, no entanto, demonstram uma fixação mais incisiva no meio urbano.

A loja negociada em maio de 1722 se situava na Rua Direita da vila, núcleo central da sua área urbana, e era fruto de uma sociedade mantida há um ano entre o comprador, Cipriano Monteiro, e o vendedor, Manoel Rodrigues. Funcionava como ―loja de fazenda seca‖ e alfaiataria, ofício que o vendedor praticava.356 Na data da negociação, com as contas da loja ajustadas, o vendedor se desfazia da metade da casa onde ficava a loja, da ―fazenda‖ que se achava dentro dela e da metade das dívidas que se deviam à sociedade. Apenas mais uma loja foi identificada nesse mercado, porém ela foi negociada conjuntamente com uma propriedade rural (um ―sítio de engenho‖). Enquanto o sítio era situado na paragem de Miguel Garcia na freguesia do Furquim, a ―loja de fazenda seca‖ funcionava numa morada de casas no arraial da mesma freguesia, um núcleo urbano.357 A loja estava localizada em área urbana e também era identificada como ―de fazenda seca‖, o que aponta para uma diferenciação do tipo de mercadoria comercializada nesta e nas vendas, as quais eram identificadas como sendo de ―molhados‖.

Flávio Puff observa que tanto na vila do Carmo quanto na freguesia de Camargos os proprietários das lojas apresentavam maior estabilidade frente aos vendeiros. Sua afirmação se baseia nos registros anuais das lojas e vendas para cada uma das localidades citadas. A estabilidade dos lojistas é mais incisiva na freguesia de Camargos onde o percentual daqueles que se registraram por duas vezes ou mais chegou a 82,2%. Segundo o autor, a estabilidade dos lojistas reflete, principalmente, dois fatores:

em primeiro lugar a natureza da própria atividade, ou seja, a loja é um estabelecimento fixo o que já denota estabilidade, que não é o caso das vendas de molhados que na maioria dos casas é feita de forma volante. Em segundo lugar, pelas características dos donos desse tipo de estabelecimento, normalmente de origem portuguesa, mais abastados, tinham maior capacidade de investimento em estoques de mercadorias e de diversificação em outras atividades.358

A estabilidade nesse ramo no pequeno comércio local é um fator importante, pois explica o fato de apenas uma loja ter sido negociada no segmento de mercado de

356 AHCSM, 1o Ofício, Livro de Nota 18, datado de 25/05/1722. 357 AHCSM, 1o Ofício, Livro de Nota 59, datado de 29/08/1742. 358 PUFF, Flávio Rocha. Op. cit. 2007. p. 89.

bens urbanos no período que abrange essa pesquisa- além da loja que foi negociada conjuntamente com uma propriedade rural.

Concordamos que as lojas de secos exigiriam uma capacidade maior de investimento inicial e de manutenção do que as vendas de molhados, estas sendo mais acessíveis aos forros e escravos, especialmente às ―negras de tabuleiro‖ cujo comércio era volante não havendo fixação de um estabelecimento. Vejamos alguns dados das escrituras que negociaram carregações de fazenda seca para termos uma idéia dos valores envolvidos quando o foco são esses produtos. Foram registradas seis escrituras de compra e venda de fazenda seca, em alguns casos, carregações inteiras. A média geral do preço desses bens foi de 7:957$900 sendo o valor de 3:023$534 o mais baixo e 11:328$000 o mais alto359. Não foram descritos os tipos de fazendas secas vendidos, com exceção da venda de ―várias fazendas secas como sedas panos baetas e o mais que consta de duas receitas‖ que fez Felipe da Costa Chaves a Manoel Gomes Duque pelo valor de 4:864$964 no tempo de cinco anos, um pagamento por ano.360 O tempo médio de pagamento foi de três anos, sendo o prazo mais curto de 1 ano e o mais longo de 5 anos. O tempo acertado para o pagamento não necessariamente teve por influência o preço total da mercadoria: as ―várias fazendas secas‖ compradas por Manoel Gomes Duque pode ser paga em cinco anos, perfazendo menos de 1 conto de réis cada pagamento anual; a compra que o Capitão Antônio de Oliveira Pais fez ao Capitão Caetano Álvares Rodrigues de ―uma carregação com vários gêneros de fazendas‖ pertencentes ao governador da Capitania de São Paulo e Minas Gerais361 Dom Brás Baltasar da Silveira, por preço de 10:500$000, deveria ser paga ―em um pagamento preciso‖ dali a quinze meses.362

Fazendas secas, carregações inteiras ou mesmo ―uma pouca‖ delas realmente exigiriam um alto investimento para os donos de lojas. Ainda que o prazo de pagamento oferecesse uma margem de tempo para se recuperar o investimento inicial ou, pelo menos, condições de se arcar com o primeiro pagamento. O negócio envolvia algum risco, não obstante nas Minas Gerais os mais abastados vivessem com luxo e consumissem muitos produtos importados.

359 Os valores são referentes a cinco escrituras, pois uma delas não houve declaração do preço dos bens

nem mesmo na forma de pagamento (quando se dizia como seria pago o bem negociado)

360 AHCSM, 1o Ofício, Livro de Nota 59, datado de 16/07/1742. Grifo nosso.

361 Durante o período compreendido entre Junho de 1710 e Agosto de 1721 os sertões das minas foram

anexados ao território da Capitania de São Paulo formando uma nova jurisdição, a Capitania de São Paulo e Minas Gerais.

Algumas moradas de casas foram vendidas com fazendas secas e ―trastes de venda‖.363 Para o caso destes últimos encontramos três registros e para as fazendas secas seis. Embora seja um pequeno referencial quantitativo é importante lembrar, como já foi dito, que não houve nenhuma menção a presença de fazenda seca nas propriedades rurais e que a loja de fazenda seca vendida junto com uma propriedade rural se localizava distante desta, no núcleo urbano. De todo modo, não houve detalhamento das fazendas secas vendidas junto com as moradas de casas na fonte, mas os compradores receberam róis ou receitas assinadas pelos vendedores onde constariam todos os gêneros vendidos. A negociação de uma morada de casas de sobrado nos oferece um pouco mais de informação com que refletir. Francisco Coelho dos Reis a vendeu a Manoel Álvares da Neiva com ―uma pouca de fazenda seca que (constava) de uma receita assinada por ele outorgante escrita em quatro meias folhas‖, todas rubricadas pelo Tabelião das Notas. O vendedor, Francisco Coelho também declarou que havia entregado uma parte da fazenda seca descrita na receita a um sujeito chamado André Soares ―para a mascatear por conta dele outorgante (vendedor)‖. Os produtos entregues a André Soares faziam a conta de 531$797, um valor bem considerável, que Francisco Coelho abateria ao comprador no caso do mascate não retornar ou não dar conta da importância que carregou em produtos, e que o comprador só pagaria ―o que liquidamente da dita parcela‖ recebesse do mascate.364

Retomemos ao caso das casas de venda. Como dissemos, acreditamos que um fator importante era a fixação deste tipo de estabelecimento nas áreas mais afastadas dos núcleos urbanos- no geral, mas não de modo determinante. Das 53 escrituras de bens rurais que tiveram casas de venda negociadas conjuntamente com as propriedades rurais apenas duas estavam situadas em áreas urbanas (arraiais). No entanto, nenhuma delas fez qualquer menção a serem ―de molhados‖. Este termo foi encontrado para as escrituras de compra e venda do tipo de bem urbano denominado ―casa de venda‖.

Através dos inventários post-mortem dos pequenos comerciantes de Mariana e da freguesia de Camargos, Flávio Puff apontou a diversificação de atividades daqueles.

363 Um esclarecimento metodológico: a presença de fazenda seca ou ―trastes de venda‖ dentro de uma

morada de casas no momento da venda do imóvel não foi tomado como correlato imediato de que nesse imóvel havia atividade comercial. É possível que em algum momento tais casas possam ter servido ao propósito comercial, seja como venda ou como loja, porém as ―fazendas secas‖ e os ―trastes de venda‖ também podem ter sido apenas armazenados nestas casas. Em algumas das negociações também não fica claro se os produtos estavam dentro das casas ou se apenas foram vendidos na mesma negociação. Diante da incerteza do funcionamento ou não de um estabelecimento comercial em suas dependências, tais imóveis não entraram para a contagem dos tipos ―casas de vendas‖ e ―lojas‖.

Muitos mantinham ligação com o campo. Aponta que o comerciante que ampliava seu raio de ação para as atividades agropastoris buscava mercantilizar sua produção através do comércio. Já a ligação com a mineração se mostrou pífia com apenas um comerciante atuando nessa atividade, embora Flávio Puff ressalte que essa ausência de vínculo foi percebida através dos inventários. Esse tipo documental é muito rico, porém flagra o momento final da trajetória dos sujeitos históricos.

Partindo do viés inverso, ou seja, observando o pequeno comércio através da estrutura agrária e por outro tipo documental, as escrituras de compra e venda, pretendemos a seguir acrescentar algumas informações ao assunto.

Primeiramente, entre as compras e vendas de bens rurais que incluíam casa de venda nas negociações nenhum teve a participação de homens ou mulheres com condição social de forros. Entre as casas de venda enquadradas enquanto tipo de bem urbano (vendidas isoladamente e inseridas em espaços urbanos) somente uma compra foi realizada por uma mulher forra. Moradora no arraial da Passagem, Rosa Maria de Araújo comprou uma morada de casas cobertas de telhas localizada na Rua [Panhuacanga] do mesmo arraial. O vendedor, Antônio de Araújo Braga, declarou que por estar de partida para Portugal lhe vendia a casa ―com todos os trastes (...) da porta para dentro e sua venda com o sortimento‖ que nela se achasse.365 Flávio Puff encontrou a presença das forras no pequeno comércio urbano, especialmente o dedicado às casas de vendas.

Entre os compradores e vendedores de propriedades rurais negociadas com casas de venda encontramos um perfil social diferente: nas 53 negociações constam homens com patentes militares, eclesiásticos e licenciados entre vendedores (22) e compradores (19).366 Destaca-se que nenhuma dessas negociações envolveu forros, nem como compradores nem como vendedores.

O Gráfico 16 apresenta as escrituras de bens rurais que registraram casas de venda incluídas entre os bens negociados distribuídas por faixas de valores, com a indicação da presença ou não de escravos e serviços minerais entre os bens. A primeira faixa de valor, abaixo de um conto de réis, corresponde às propriedades rurais menos diversificadas e que não vinculavam escravos dentre os bens. A mão de obra escrava esteve presente nas propriedades com valor acima de um conto de réis, havendo concentração deles entre as duas últimas faixas de valores. O que é absolutamente

365 AHCSM, 1o Ofício, Livro de Nota 35, datado de 20/06/1731.

compreensível uma vez que os escravos são importantes elementos na formação dos preços dessas propriedades. Outro fator importante na formação dos preços são os serviços minerais, os quais acompanham uma tendência de presença crescente conforme se avança nos valores das faixas de preços.

Gráfico 16

Faixas de valores dos bens rurais com casa de venda, com ou sem mineração e escravos (1711-1779)367

Fonte: AHCSM, 1o e 2o Ofícios, Livro de Notas, escrituras de compra e venda (1711-1779)

As propriedades rurais inseridas nas últimas três faixas de valor possuíam uma estrutura produtiva que contava com a mão de obra escrava utilizada tanto para a atividade agrícola quanto para a mineração, sendo essa cada vez mais expressiva conforme os valores das propriedades aumentavam. Acreditamos que as casas de venda incluídas nestas propriedades funcionavam como uma atividade comercial fruto da construção do processo produtivo que, uma vez que contavam com a força de trabalho escrava, resultaria numa maior capacidade de comercialização. Nestes casos a disponibilização da produção com a consecutiva construção de uma benfeitoria (a casa de venda) foi um caminho natural para as propriedades rurais que tinham bons índices produtivos e não somente a entrada em cena de um comerciante que transfere seus recursos para aquisição de um bem rural. O que de qualquer forma não invalida a via

367 Os números absolutos devem ser interpretados pelas fórmulas: propriedades rurais sem mineração +

com mineração = total; propriedades rurais sem escravos + com escravos = total.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Abaixo de 1:000$000 1:000$000 até 5:999$999 6:000$000 até 9:999$999 Acima de 10:000$000 2 7 9 14 3 10 5 3 14 12 17 5 3 2 Sem escravos Com escravos Sem Mineração Com Mineração

comércio → aquisição de bem rural, mas a complexidade estrutural, produtiva e social envolvida nessas propriedades rurais não responde a lógicas dadas a priori e pouco flexíveis. Estamos frente a sujeitos históricos que diversificavam ao máximo suas atividades econômicas, aproveitando as oportunidades e investindo naquelas que pudessem corresponder positivamente.368

As casas de venda funcionavam, principalmente, como meio de escoamento da

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