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Corte de Gado e comércio de gado vacum

No documento queleningridlopes (páginas 181-192)

Propriedades urbanas: características e vinculações com o cotidiano social e econômico.

2.3 Caracterização dos bens urbanos: estruturas, funções e interações mercantis

2.3.8 Corte de Gado e comércio de gado vacum

Os estabelecimentos onde ocorria o corte do gado eram de fundamental importância para a comunidade por sua atividade diretamente ligada ao abastecimento de carne para a população. Para esses locais era enviado o gado a fim de ser abatido e ter sua carne cortada e vendida. A atividade era monitorada pela Câmara Municipal por meio da fiscalização conduzida pelos almotacés com intuito de garantir que a taxação não excedesse um máximo firmado, que os instrumentos utilizados (como a balança e seus pesos) estivessem de acordo com as exigências fixadas pela Câmara, bem como garantir a higiene no local.

Flagramos estabelecimentos de corte de gado em apenas duas escrituras para todo o período em análise. Um deles era um rancho coberto de capim localizado no arraial de São Sebastião e que contava com ―seis talhos de cortar carne, curral de gado‖, balança e pesos de uma arroba, em cuja negociação entrava dois escravos, que provavelmente trabalhavam no corte do gado.384 O outro corte de gado ficava num estabelecimento com melhores condições: funcionava em uma morada de casas próxima a um córrego da Vila do Carmo.

Nenhuma casa de corte foi encontrada nas propriedades rurais, o que reforça a sua característica urbana, muito embora o abate do gado pudesse ser realizado dentro das propriedades rurais para consumo próprio. Ainda que os cortes de gados tenham sido pouco negociados do mercado de bens urbanos de Mariana, o estabelecimento onde o corte do gado era realizado é o ponto final do comércio de um produto muito necessário à sobrevivência e fixação da população em Minas Gerais, e que estava envolto em interesses particulares que influenciavam diretamente o abastecimento da carne para a população.

O gado vacum encontrou espaço nas propriedades rurais do termo de Mariana, embora sua criação não tenha sido tão disseminada quanto em outras áreas de Minas Gerais, como, por exemplo, na Comarca do Rio das Velhas. O inventário de Mathias de Castro Porto arrolou diversas propriedades em diferentes localidades do Rio das Velhas, entre elas uma casa de corte na Vila de Sabará, com ―seus currais de matar gado‖. No entanto, são as propriedades rurais, ou a criação de gado nelas, que nos chama a atenção: 1200 cabeças de gado resultam da soma de apenas três propriedades rurais pertencentes ao inventariado. Somente na fazenda que possuía na Ribeira do Paracatu eram criadas 845 cabeças385. Em contraste, a maior quantidade de gado registrada numa compra e venda em Mariana foi de 45 cabeças.386

Em 21% das escrituras de bens rurais havia gado vacum, sendo que 67,5% delas reuniam entre 1 e 20 cabeças. A criação de gado vacum nas propriedades rurais tinha outras funções para além do fornecimento da carne, como a produção de leite, também representava uma importante força motriz no trabalho do campo e no transporte dos resultados agrícolas. Prova disso é a qualificação de parte ou total dos bois como ―de carro‖, ―de trabalho‖ ou ainda ―bois de engenho‖, que deixam claro que esse gado não tinha como destino o abate. Dada as outras finalidades que o gado recebia dentro da unidade produtiva, o consumo de carne por corte feito dentro da própria unidade produtiva seria bem reduzido. O consumo da carne de porco, como já notado pela historiografia, era a principal fonte de proteína dos moradores de Minas Gerais. A criação de porcos no meio rural registrou um pequeno percentual superior ao do gado (22,5%), no entanto, a participação per capita de porcos é superior àquela apresentada na criação do gado vacum. Em comparação com o espaço rural, não se observa uma criação de gado vacum ou de porcos representativa no meio urbano (respectivamente 3,7% e 2%).

Pelos dados expostos, fica claro que a demanda de carne, principalmente de gado vacum, pelos moradores do termo de Mariana era fundamentalmente abastecida por via externa. Bahia, Pernambuco e a comarca do Rio das Velhas foram responsáveis por grande parte do envio do gado vacum para abate nos principais centros mineradores.

385 Museu do Ouro – Casa Borba Gato, Inventário post-mortem, Cartório do Primeiro Ofício, cx. 2, doc.

19. Apud. SILVA, Flávio Marcus da. Subsistência e Poder: a política do abastecimento alimentar nas Minas setecentistas. Tese (Doutorado em História). Belo Horizonte: UFMG, 2002. p. 82.

386 Embora sejam dados originados em diferentes tipos documentais, inventários post-mortem e escrituras

de compra e venda, podemos afirmar que as informações coletadas nas escrituras de compra e venda não destoam das que observamos por meio dos inventários a que tivemos acesso- não obstante nosso interesse nessa fonte é mais qualitativa que quantitativa.

Infelizmente, os Livros de Notas não são a fonte apropriada para flagrar o mercado do gado vacum de Mariana. Encontramos apenas três escrituras de compra e venda de gado vacum, mas nenhuma delas explicita a quantidade de gado ou a finalidade do mesmo, embora acreditemos que fosse para o abate. Isso se deve ao preço envolvido nas negociações, especialmente numa delas envolvia um grande lote de cabeças de gado. Uma das negociações dizia respeito a ―vários lotes de gado vacum‖ vendidas por Antônio Antunes Ribeiro a Inácio Barbosa de Freitas pelo preço de 3:000$000. Tomando como referência o inventário de Mathias de Castro Porto, da comarca do Rio das Velhas, no qual foram avaliadas 845 cabeças de gado no valor de 3:880$000, acreditamos que a quantidade de cabeças de gado nos lotes comprados por Inácio Barbosa de Freitas fosse entre 700 e 750 cabeças.387

Segundo Avanete Pereira Sousa, ―o direito de vender carne à população era um monopólio real, mas a sua execução competia às Câmaras‖ às quais cabia a fonte da renda obtida através desse comércio, de cuja renda a ―terça parte devia ser repassada à Coroa portuguesa‖.388 No século XVIII o abastecimento de carne na cidade de Salvador e suas freguesias envolvia uma série de agentes interessados nesse comércio, dos criadores aos marchantes, além de toda uma estrutura que viabilizava o comércio do gado e o seu corte. A Câmara de Salvador instalara diversos açougues públicos pela cidade e seu termo, onde o corte era feito pelos marchantes mediante arrematação da atividade- muito concorrida, devido à rentabilidade do negócio. A compra do gado, organizada em feiras próximas à cidade, era realizada sob a inspeção e administração de um superintendente, sendo as boiadas registradas, com soldados acompanhando o percurso do gado e o ―cumprimento dos regulamentos, tudo pelas custas do Senado da Câmara. E mesmo com toda a infra-estrutura e diligências da Câmara de Salvador ocorria falta da carne bovina, a qual se acentuou com o advento da exploração aurífera e o povoamento das Minas.389

Em Mariana o corte do gado e a comercialização da carne era uma atividade urbana feita em local próprio, nas chamadas casas de corte que, pelo que nos sugerem as fontes, ao menos parte eram de propriedades de particulares- se não o fossem não veríamos casa de corte sendo negociada entre os bens urbanos. O corte do gado e a

387 A quantidade apontada é apenas uma aproximação, deve ser levado em consideração que as condições

do gado, o preço da carne no momento da negociação e até mesmo fatores climáticos (que influem nas pastagens) podem ter sido significativas para alteridade do preço dos bois.

388 SOUSA, Avanete Pereira. Poder local, cidade, e atividades econômicas. (Bahia, século XVIII). Tese

(Doutorado em História). São Paulo: USP. PPGHIS, 2003. p. 148.

comercialização da carne verde podiam ser realizados de duas formas: através da arrematação de um contrato de corte concedido pela Câmara Municipal ou, na ausência de um contrato vigente, requerendo-se licença para o funcionamento do corte a qual era retirada junto às Câmaras.

Mesmo com a cessão das obrigações e direitos relativos ao abastecimento da carne a particulares, a Câmara, por seus agentes, era responsável pela ordenação e fiscalização do comércio da carne. As casas de corte e o comércio da carne cortada eram fiscalizados pelos almotacés da mesma forma que outros estabelecimentos comerciais, tais como vendas, lojas e boticas. Thiago Enes destaca o cuidado com as condições sanitárias desses locais pela Câmara municipal que zelava ―pelo adequado funcionamento e manutenção da cidade‖, de forma que além da fiscalização sobre os pesos e medidas, ―as ações da Câmara, e dos almotacés‖ também se pautavam ―por um princípio de higiene urbana‖.390

O livre comércio da carne bovina era foco de interesse dos pequenos comerciantes de Mariana. Para se manter um corte de gado e nele comercializar a carne era necessária a retirada de licença junto à Câmara, bem como a apresentação de um fiador que tinha por função garantir o pagamento de eventuais coimas (multas) aplicadas por infrações às normas estabelecidas aos comerciantes. Flávio Rocha Puff observou uma incidência mais significativa de comerciantes afiançados para as casas de corte de gado em Mariana em detrimento da freguesia de Camagos. Sua explicação para os dados é que nessa última região o acesso se daria também pela produção própria dos moradores- criação e abate.

Como gênero de primeira necessidade, o abastecimento da carne em Minas Gerais era uma das preocupações das autoridades locais e metropolitanas. Por vezes o abastecimento da carne bovina sofria revezes e a falta do produto preocupava as autoridades locais que buscavam meios de regularizar o seu abastecimento. De acordo com Flávio Marcus da Silva para assegurar o fornecimento de carne à população, os camaristas de Vila Rica, em 1714, se viram obrigados a promover a arrematação dos cortes de gado acreditando ―que tudo correria de acordo com o estabelecido nos termos de arrematação e que os povos tirariam inúmeras utilidades do monopólio‖. Porém, dois meses após a arrematação, o governador D. Brás Baltazar da Silveira lhes ordenou a

390 ENES, Thiago. Op.cit. 2010. p. 90-91.

suspensão do contrato em virtude das muitas queixas que contra ele faziam ―os povos‖.391

Não eram apenas as autoridades locais que encontravam dificuldade em dar regularidade ao abastecimento da carne em Minas Gerais, aqueles que arrematavam monopólios ligados ao comércio do gado vacum também o enfrentavam, especialmente por interferirem, de algum modo, em interesses particulares. Foi isso o que ocorreu com o Coronel Manoel de Mendonça e Lima Corte Real após arrematar o contrato dos quintos dos gados em março de 1711. Em carta ao Rei Corte Real relata que ao contrato ―se opuseram pessoas particulares e malévolas contra a [sua] estabilidade‖. Afirmava que em janeiro de 1712 José de Queirós, Manoel de Queirós, João Jorge Rangel, Francisco Simões de Avelar, entre outros, utilizando dos seus escravos, impediram a continuidade do contrato ―com tanto excesso que proibiram as entradas dos gados matando a Ignácio da Rocha e destruindo-lhe 292 cabeças de gado para se não introduzirem nas Minas‖. Além de assassinato e destruição de bens, seus opositores intimidaram condutores de gado para que não os passassem às minas durante o tempo do seu contrato. Como tudo isso lhe resultou grande prejuízo, o Coronel Manoel de Mendonça e Lima Corte Real se viu obrigado a requerer que se tirasse devassa sobre suas perdas para que se pudesse ―proceder contra quem se opusesse às Reais ordens. O Governador Antônio de Albuquerque ordenou que fosse feita uma devassa sobre o caso, que de fato foi iniciada, porém logo ―por interesses, e respeitos particulares, se ocultou‖ a devassa impedindo ao queixoso ―os meios do seu recurso‖. Requeria ao Rei, de tal forma, que mandasse se iniciar uma nova devassa para que pudesse conhecer os ―compreendidos‖ na primeira devassa e assim lhes exigir ressarcimento pelas ―perdas e danos que lhe causaram‖.392

O Capitão Mor João Jorge Rangel, um dos denunciados pelo Coronel Manoel de Mendonça e Lima Corte Real, era diretamente interessado no comércio da carne em Mariana. Segundo Flávio Puff ele fora afiançado em mais de uma casa de corte por mais de uma vez num único ano, situação não muito recorrente e que denota fixação na atividade.393 O interesse do Capitão Mor João Jorge Rangel no comércio do gado e da sua carne foi compartilhado por muitos anos com o Sargento Mor Luís Tenório de

391 Em Sabará, no ano de 1719, um contrato dos cortes também foi anulado pela Câmara, atitude elogiada

pelo próprio governador, Conde de Assumar. SILVA, Flávio Marcus da. Op. Cit., p. 120-121.

392 AHU_CU_011, Cx. 2, Doc. 40.

Molina. Ambos se associaram com objetivo de criar gado vacum e algum cavalar nas propriedades que possuíam e que foram adquirindo no Rio das Velhas.394

Em fevereiro de 1723 o Capitão Mor João Jorge Rangel vendeu parte de uma fazenda de gados no lugar chamado ―a Garça nas [bicas] do Rio das Velhas‖ ao Sargento-Mor Luís Tenório de Molina. A fazenda, que divisava por um lado com a estrada geral dos currais e por outro com o Caminho Novo, ficava estrategicamente situada pelos principais caminhos de Minas Gerais, o que era especialmente importante devido ao interesse que tinham na propriedade: a criação de gado para abastecimento das Minas. Funcionando como um entreposto particular, a propriedade estava no caminho de onde vinham as boiadas possivelmente compradas nos currais do sertão, no Rio São Francisco ou da Bahia, por outro lado estava ―à saída‖ do caminho por onde os sócios encaminhavam o gado para os núcleos mineradores, entre eles o termo de Mariana. Entre os bens da fazenda estavam 7 escravos, roças de mandioca e 565 cabeças de gado vacum. A quantidade de escravos condiz com a atividade pecuarista que não demandava grande inversão de trabalho para sua manutenção e o mesmo pode ser dito a respeito da plantação de mandioca que, entre o plantio e a colheita, não requeria maior serviço na terra plantada.395

Na mesma negociação também faziam sociedade numa ―fazenda de gados e éguas‖ pertencente ao Sargento Mor Luís Tenório de Molina, a qual ―povoara‖ junto com o Capitão Mor Rangel, ambos concorrendo igualmente ―para a ereção dela‖. Esta propriedade divisava com outra fazenda de João Jorge Rangel e por outro lado com ―o gentio bravo‖, local onde o avanço da conquista do território encontrava a barreira indígena e com eles disputava o espaço.

Dois anos depois, em janeiro de 1725, os sócios desfizeram a sociedade. Nesta ocasião que Luís Tenório de Molina vendeu a João Jorge Rangel as duas fazendas de gado vacum e cavalar declaradas acima, bem como a metade que lhe cabia nos sete escravos. Somente a parte que lhe pertencia e vendia nos bens foi avaliada em 40.000 cruzados (16:000$000).396 O negócio do gado era bem lucrativo. Tanto o Sargento Mor Luís Tenório de Molina quanto o Capitão Mor João Jorge Rangel possuíam casas de

394 As duas escrituras de compra e venda analisadas a seguir não fazem parte da análise de conjunto do

mercado de Mariana, exatamente por não estarem localizadas no seu termo. São utilizadas aqui como auxílio na análise sobre o comércio do gado de corte.

395 AHCSM, 2o Ofício, Livro de Nota 1, datado de 05/02/1723. 396 AHCSM, 1o Ofício, Livro de Nota 23, datado de 30/01/1725.

corte de gado na Vila do Carmo , cujo local era o ponto final de toda sua empresa: eles mantinham fazendas de gados numa região de Minas Gerais propícia para criação extensiva de gado, para onde levavam as boiadas adquiridas de outros criadouros e onde podiam deixar o gado na engorda até o momento de serem conduzidos para a Vila do Carmo. Deste local o gado seguia para a casa de corte e na sequência sua carne era vendida. Em suma, eles prescindiam de atravessadores de gado, pois compravam o gado diretamente dos criadores nucleares, os deixavam em suas fazendas no Rio das Velhas enquanto esperavam pelo momento de serem redirecionados ao abastecimento em estabelecimentos de corte de sua posse.

Outras sociedades interessadas na criação e comércio de gado foram formadas, principalmente na primeira metade do século XVIII.398 O próprio Sargento-Mor Luís Tenório de Molina mantivera outra sociedade com o Brigadeiro Antônio Francisco da Silva numa ―fazenda de criar gados‖ no Rio das Velhas.399

Uma sociedade em especial revela os pormenores da administração de uma empresa interessada no comércio do gado e na venda da carne. Formada pelo Coronel Caetano Álvares Rodrigues, pelo Guarda Mor Maximiano de Oliveira Leite, Manoel Cardoso de Almeida e pelo Capitão Francisco de Souza Matos, a ―sociedade e companhia‖ tinha por objetivo comprar e vender ―gados de açougue‖. Firmada em 11 de janeiro de 1726 a sociedade teria duração de quatro anos, cujo tempo começaria a correr apenas no dia 17 do mesmo mês. Ao Capitão Francisco Matos cabia toda a administração da ―Companhia‖: era responsável por comprar ―os gados que a ele lhe parecer terem conta‖, pelo preço e tempo de pagamento ―conforme o estado da terra‖, ou seja, dentro do que no momento se andasse valendo e correndo na praça local. A companhia já começava com 230 cabeças de gado e com as terras arrendadas ao Tenente General Manoel da Borba Gato, onde alocariam o gado. Conforme comprasse o gado o Capitão Matos os gerenciaria a partir de duas formas: ou os enviaria aos cortes que a sociedade detinha ou os venderia ―em pé‖, contanto que enviasse gado toda semana aos três cortes da sociedade- dois em Antônio Dias e um na Passagem. Os cortes de Antônio Dias eram responsabilidade de Manoel Cardoso de Almeida, recebendo o gado e dando conta do que lucrasse; o Coronel Caetano Álvares Rodrigues

397 O Sargento Mor Luís Tenório de Molina é citado como possuidor de uma casa de corte vizinha a de

João Ferreira Tavares Gouvêa, já citada. AHCSM, 1o Ofício, Livro de Nota 17, datada de 18/07/1721.

398 A implicação das sociedades no mercado será tratada na segunda parte deste trabalho, mas convém

aqui desenvolver o assunto sob a perspectiva do abastecimento da carne para que fique mais clara essa opção de investimento no quadro da economia mineira.

e o Guarda Mor Maximiano de Oliveira Leite responsabilizavam-se pelo corte da Passagem e por toda a cobrança referente à venda do gado em pé.

Os cortes de gado, os escravos necessários, além de 50 cabeças de gado eram de propriedade do Capitão Francisco de Souza Matos que os vendia à Companhia. A administração da sociedade, naquilo que era de mais fundamental para sua manutenção e sucesso que era a aquisição do gado e qual o destino se daria a ele, venda em pé ou envio aos cortes, lhe cabia exatamente por ele já estar nesse ramo de negócios. Os outros sócios, principalmente Caetano Álvares Rodrigues e Maximiano de Oliveira, eram importantes para a expansão do negócio especialmente pela sociedade. Além da venda da carne nos cortes eram responsáveis por negociar gado em pé e gerir a todo tempo o que era mais lucrativo em cada momento: o corte do gado ou a venda das cabeças a outros negociantes. Inserida dentro da principal forma de transação presente na região, o crédito, a venda do gado em pé significava a formação de dívidas que outros comerciantes ao comprarem suas cabeças de gado adquiririam com a companhia em questão. Neste aspecto específico, a cobrança das dívidas seria mais facilmente realizada por dois sócios, principalmente sendo eles homens de grande poder de mando e prestígio400.

A posição social e o prestígio que ocupavam alguns daqueles que se dedicavam ao negócio do gado eram usados para se inserir na atividade e, por vezes, buscar o monopólio do comércio da carne sem tomar a via de um contrato. O contratador dos Diamantes João Fernandes de Oliveira tencionava o monopólio do comércio e corte do gado na Vila de Pitangui. Escreveu ao Rei informando que os bons gados das suas fazendas não eram fruto de atravessadores e que por isso já não havia falta de carne, também afirmava que os cortes que possuía na Vila de Pitangui e seus distritos eram os únicos com licença da Câmara. Pelo que expunha, solicitava que pudesse ―só ele e não outrem‖ dispor os gados nos cortes da região conservando, assim, a

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