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Case 2: Pessoas comprometidas em uma empresa descomprometida

No documento RELAÇÕES INTERPESSOAIS (páginas 104-110)

CASOS REAIS

8.2 Case 2: Pessoas comprometidas em uma empresa descomprometida

Cristina Rabello de Oliveira17

Durante minha experiência de treze anos na área de recursos humanos, transitando entre os mais variados subsistemas, tive o prazer de aprender a administrar diversas situações que ocorrem no dia a dia do profissional da área. Uma delas, a qual se pode chamar de maior repercussão, se deu no ano de 2012, quando, ao ser admitida para

administrar a regional de uma suposta grande rede de callcenter, foi-me repassada a necessidade de contratação e administração de pessoal em um ramo de atuação onde a rotatividade era altíssima. Minhas metas eram contratar trezentas pessoas no menor curso de tempo e mantê-las ativas na organização pelo maior período possível. Até aqui, nada novo, não é? O novo veio na sequência, quando absorvi uma equipe de apoio nas contratações com dezoito componentes. Esta equipe de apoio, num segundo momento, seriam os gestores das equipes de tele-atendimento.

Todos engajados, preocupados com o bem estar dos seus pares, comprometidos com a empresa, zelosos com seu grupo. Uma verdadeira equipe de trabalho com sentimento de família.

Ao final do primeiro mês de trabalho árduo, com pessoas laborando por até vinte horas diárias em prol do projeto de instalação da unidade regional, identificamos o início dos problemas que enfrentaríamos durante toda a permanência da equipe de coordenação na unidade, pois o pagamento de vale transporte em espécie não fora cumprido conforme o prometido pela matriz, já que enviavam verba para apenas 1/10 do efetivamente contratado. A alimentação ofertada não condizia com o que houvera sido proposto nas contratações, a qual era chamada pelos multiplicadores que iniciaram o projeto de ‘peso de porta’. Além disso, o salário não fora depositado na conta dos colaboradores na data prevista em legislação, dentre outros problemas como o envio dos cadastros para a matriz efetuar a regularização da documentação admissional, devido ao grande fluxo de contratações, pois em 45 dias concluímos o processo de recrutamento e seleção de quinhentas pessoas, tendo perdido 150 pessoas no decorrer deste tempo em razão dos problemas expostos, além da reestruturação da regional, aumentando para quinhentas posições disponíveis nas estações de trabalho com consequente aumento da necessidade de efetivo.

Ao final de cinquenta dias de trabalho, os colaboradores revoltosos com a situação, reuniram-se em massa enfrente à sala do setor de Recursos Humanos para reivindicar seus direitos ora prometidos e descumpridos desde sua admissão, ameaçando invadir e cobrar satisfações da equipe. Alguns, mais estressados, incitavam os demais a fazerem o mesmo, pois segundo eles, os colaboradores estariam sendo tratados com desprezo em detrimento da contrapartida dos serviços

prestados. Os gestores locais, por conhecerem todas as dificuldades e lutas da equipe de recursos humanos, saíram em defesa dos colegas de setor, formando uma barreira de isolamento que impediu a invasão massiva. Esse evento perdurou por aproximadamente duas horas até que os ânimos se acalmaram e todos foram para seus locais de trabalho com a promessa de que receberiam ao menos o vale transporte. Após apascentar suas ovelhas, os gestores locais se dirigiram aos bancos onde tinham contas bancárias, sacaram as reservas econômicas de suas contas pessoais e pagaram o vale transporte a todos. Os colaboradores então se organizaram para receber o benefício legal e se dirigiram às suas casas. Os gestores, no entanto, iniciaram uma nova batalha, que era providenciar com a matriz o pagamento dos demais benefícios aos colaboradores e reaver suas economias pessoais, fruto de trabalhos anteriormente realizados. Alguns tiveram sucesso nessa empreitada, e outros perderam altas quantias.

Ao final de oitenta dias, os gestores começaram a desmotivar-se e manifestar vontade de se desligarem, por não conseguirem mais conviver com tal situação humilhante em que se encontravam, ao passo em que eram novamente motivados e incitados a enfrentarem as adversidades, pois essas seriam motivo de crescimento pessoal e profissional. De fato, eles estavam certos, mas essa motivação durava pouco, e os gestores foram um a um se desligando. Após o pedido de desligamento do administrador da unidade e da gestora de RH. então, esta empreitada tornou-se ainda mais difícil, pois os colaboradores tomaram ciência de que a empresa estava com suas contas no vermelho em razão de o empresário ter dado início a uma seita religiosa, que desviava os lucros da empresa para esse novo ‘fundo de investimento’, enquanto que os colaboradores permaneciam com seus salários atrasados e sem o pagamento dos benefícios previstos em lei. Uma lástima, pois o projeto, se bem estruturado, seria de grandes perspectivas de evolução e contava com uma equipe modelo.

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16 Mariana Azev edo Webster. Profissional com formação em Administração (UNISINOS), especialização em Gestão Empresarial (UFRGS) e mestrado em Administração (UNISINOS), atuante em docência do ensino superior e em

curso técnico com foco em disciplinas voltadas ao desenvolvimento humano organizacional e treinamentos. Possui experiência em gestão de pessoas em indústria e serviço.

17 Cristina Rabello de Oliv eira. Gestora Financeira (Ulbra), com MBA em Gestão de Talentos e Clima Organizacional (Ftec) e atualmente cursa Direito (Unilasalle). Ao longo de treze anos de experiência, atuou em empresas de prestação de serviços, comércio e indústrias (metalúrgica, têxtil, construção civil e logística), e atualmente é palestrante em eventos e empreendedora em uma Consultoria de Recursos Humanos, da qual é também sócia administradora.

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R382 Relações interpessoais / Ana Cláudia Bilhão Gomes ... [et al.];

Talita Raquel de Oliveira (org.) – São Leopoldo : Ed.

UNISINOS, 2014.

(EAD)

Disponível apenas em versão e-book.

ISBN 978-85-7431-619-2

1. Relações interpessoais. 2. Relações humanas. I.

Gomes, Ana Cláudia Bilhão. II. Oliveira, Talita Raquel. III. Série.

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