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Sobre os danos

No documento RELAÇÕES INTERPESSOAIS (páginas 96-102)

OPRESSÕES, DISCRIMINAÇÕES E PRECONCEITOS NO AMBIENTE DE TRABALHO

7.2 Organização por local de trabalho, sindicalismo e legislação

7.2.1 Sobre os danos

Inegavelmente que os maiores prejudicados são os trabalhadores em situação de discriminação. As empresas e os meios organizacionais e corporativos, quando julgados, podem perder recursos materiais em decorrência de indenizações decorrentes de sua responsabilidade diante dos atos discriminatórios. Quais são os outros possíveis danos a que podem sofrer? (Esta é uma das questões que apresentamos inicialmente e que deve ser problematizada junto ao professor ou a professora que lhes acompanha na realização desta disciplina).

É necessário, ainda, afirmar que não é preciso que um trabalhador ou trabalhadora viva diretamente uma das tantas situações de opressão, preconceito ou discriminação para que ele possa tomar consciência crítica ou solidarizar-se com quem quer que esteja na situação de desvantagem na relação hierárquica estabelecida. A ação prática depende da busca de alternativas possíveis, cabíveis e viáveis a partir do seu lugar, como a organização por local de trabalho, por exemplo.

Observamos que as organizações, de um modo geral, tendem a reproduzir uma determinada visão social de mundo que oprime em suas múltiplas formas, já que é reflexo de uma sociedade individualista, de mercado, cuja lógica preponderante é a de subalternização e coisificação do trabalhador e da trabalhadora. As opressões são obstáculos à igualdade e impedem as sociedades de organizarem-se de outra maneira.

Promover a igualdade e o trabalho digno para todos, mulheres e homens, sem distinção de raça, religião, deficiência, idade ou orientação sexual é um meio de avançar em outra direção. Essas observações parecem contraditórias às teorias organizacionais, porém podemos nos apoiar nas teorias críticas do campo da administração para identificar na autonomia dos trabalhadores e trabalhadoras a base concreta de suas experiências

de auto-organização, como meio de busca de alternativas (MISOCZKY;

ANDRADE; 2005).

Não podemos ignorar, por mais imersos que estejamos no meio corporativo e organizacional, que são estes os responsáveis legais e diretos pelas situações de preconceito e discriminação. Portanto, é seu dever aplicar as recomendações legais sobre o direito à igualdade no mundo do trabalho, a fim de combater as diferentes manifestações de imposição hierárquica de poder baseado na distinção de raça e etnia, gênero, idade, deficiência, orientação sexual, credo religioso e posicionamento político. Por outro lado, cabe também ao Estado promover a igualdade através de políticas concretas de reparação sócio-histórica e também de educação integral de cada um e cada uma.

As transformações em nossa sociedade devem ser estruturais, do mesmo modo que devem ser acompanhadas de programas nacionais de promoção do trabalho digno, tendo em consideração as necessidades específicas dos diferentes grupos. Outra forma de reparação dos danos é através do fortalecimento e do respeito às convenções coletivas de trabalho e aos códigos de conduta. Logo, a retirada de direitos não contribui para que se alcancem as igualdades desejadas.

Retomando

No início deste capítulo, apresentamos três questões que deveriam ser respondidas antes da leitura integral do texto. Sugere-se que você as responda novamente e que compare as formulações iniciais com as que fez após a leitura detida destas páginas. Como anunciado, a abordagem que realizamos sobre a temática tem embasamento sociológico e filosófico, aproximando-se das teorias críticas da administração, em alguma medida. Aprendemos um pouco mais sobre as compreensões sobre opressão (sistema de imposição e diferenciação hierárquica), preconceito e discriminação. Ainda, nos detivemos em como se sustentam as diferenças por gênero, orientação sexual, raça e etnia no mundo do trabalho e como a legislação brasileira ratifica as convenções internacionais pela erradicação das desigualdades e injustiças no mundo do trabalho. No entanto, na medida em que identificamos várias situações de discriminações (entre as que vivemos diretamente ou as que

soubemos existir ocorrências no âmbito das organizações), percebemos que as leis por si só não garantem todas as transformações necessárias.

Como reprodução de uma determinada visão social de mundo, as corporações, as empresas e as organizações tendem a reproduzir as opressões, os preconceitos e as discriminações existentes na sociedade.

Nossa argumentação problematiza a organização por local de trabalho como alternativa de superação da situação de discriminação existente, defende a livre associação dos trabalhadores/as em sindicatos na busca por justiça, apoio legal e garantia de direitos, e deixa uma lacuna em aberto: como você se portaria na condição de alguém que exerce um papel de liderança, em qualquer meio organizacional, e que tomasse conhecimento de situações discriminatórias? Quais meios buscaria, para além dos apresentados, para superar estas situações? Qual a importância, para a organização, de oferecer tratamento a estes casos?

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6 Cheron Zanini Moretti. Atualmente é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação na UNISINOS e bolsista CNPq. Integra o grupo de pesquisa “Mediações Pedagógicas e Cidadania”, no mesmo programa de pós-graduação. É Mestra em Educação (2008) e Licenciada em História (2005), pela mesma universidade. Recentemente realizou estágio de doutoramento no exterior na Facultad de Filosofía y Letras, da Universidad Nacional Autónoma de México com bolsa do programa CAPES/PDSE (2012).

7 Modo de produção é a forma de organização socioeconômica própria a uma determinada etapa de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. Segundo Marx (1982), o modo de produção capitalista é,

essencialmente, a relação entre duas classes sociais em que uma (a burguesia, dona dos meios de produção) explora a outra (a trabalhadora), que tem como propriedade, unicamente, sua força de trabalho que é vendida.

8 De acordo com Aníbal Quijano (2005), a colonialidade é entendida como um elemento que sustenta a imposição racial/étnica como padrão de poder e que opera nos planos materiais e subjetivos da existência social cotidiana e da escala societal.

9 O patriarcado é um dos espaços de exercício de poder masculino e que encontra lugar nas mais diversas formações e relações sociais, e também nos conteúdos culturais. É, propriamente, antagonismo de gênero afirmado no domínio dos homens sobre as mulheres, de acordo com seus interesses.

Conforme Lagarde (2005) o patriarcado inferioriza e discrimina as mulheres porque a sociedade de classes encontra nesta opressão a reprodução do sistema social e cultural em seu conjunto. Esta opressão se expressa e se funda nas desigualdades econômicas, políticas, sociais e culturais (LAGARDE, 2005).

10 Os campos do saber que melhor se ocupam desses conceitos são a

sociologia e a psicologia. Não faremos uma revisão bibliográfica sobre os termos, porém indicamos o capítulo intitulado O conceito de homofobia na perspectiva dos Direitos Humanos e no contexto dos estudos sobre preconceito e discriminação, de Roger Raupp Rios (2007), no livro organizado por

Fernando Pocahy (2007).

11 Para consultar dados atualizados, acesse: http://www.ibge.gov.br/home/.

12 Entidade ligada à ONU.

13 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2003, as mulheres representam 43% da População Economicamente Ativa (PEA) no Brasil e os negros (de ambos os sexos) representam 46%. Somados, correspondem a aproximadamente 70% da PEA (60 milhões de pessoas). Dados que praticamente não se alteraram na primeira década dos anos 2000.

14 “Discriminação contra a mulher significa toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto o resultado de prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou o exercício pela mulher, independente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos políticos, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo”. (Convenção da ONU de 1979, Eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher).

15 Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010.

CAPÍTULO 8

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