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LISTA DE SIGLAS

Mapa 3- Justaposição das comunidades indígenas, quilombolas e pantaneiras do estado de Mato Grosso com os campi, polos de ensino a distância e núcleos pedagógicos da UNEMAT

2.2.3 Caso não ocorra preenchimento das vagas oferecidas ao PIIER, estas

serão preenchidas pelos candidatos optantes às vagas de ampla concorrência, classificados por curso em ordem decrescente. (COVEST, 2012, p. 2)

55 Alterado pela Resolução 032/2007-CONEPE. 56 Consta no anexo.

91 É importante registrar que, anterior ao PIIER, a instituição já praticava a cota social nos seus vestibulares. Sob o respaldo da Lei 7.244/00, destinava 50% de suas vagas para estudantes de escolas públicas, fato que influenciou positivamente na elaboração da resolução do PIIER. Segundo o prof. Paulo Alberto, presidente da CEPICS, programas como Licenciatura Plenas Parceladas, 3º grau indígena e Pedagogia da Terra, são experiências de ação afirmativa que antecedem à discussão do PIIER, ou seja, discutir ação afirmativa na UNEMAT não era algo desconhecido. O que teve de novo no debate foi o seu caráter étnico racial destinado à população negra. Assim, o debate para a implementação do programa se intensificou em 2004, por ocasião da criação da comissão para elaboração da CEPICS, em 1ºde março do mesmo ano. A comissão foi formada com participação de todos os segmentos acadêmicos: professores, técnicos e estudantes e, no período de nove meses, a comissão participou e promoveu debates sobre a proposta de políticas de cotas nas universidades. O presidente da Comissão, prof. Paulo Alberto dos Santos Vieira, destacou, em entrevista, que o fato de ocupar a função de coordenador de um Instituto naquele período incentivou o debate em vários espaços da universidade. Afirmou:

Sempre que passavam para mim ofícios e coisas do gênero eu os respondia e indagava se aquela coordenação, se aquela supervisão, se aquele conjunto de professores, pesquisadores não topariam inserir na programação um tema, uma palestra, uma mesa redonda, alguma atividade que contribuísse para o debate das cotas. Com isso nós realizamos 14 eventos. Quando eu digo nós, é a CEPICS. Desses 14 eventos, 3 ou 4 foram fora de Cáceres e um foi em São Luiz do Maranhão. (Paulo Alberto, professor e ex-presidente da CEPICs)

O professor Taisir Karim, reitor à época, relatou que participou de alguns debates nacionais bem tensos. Contou que,

Todos os grandes eventos que a gente participava enquanto reitores das universidades brasileiras era um debate caloroso. Uma coisa tensa que precisava de alguma forma você provar que a proposta não estava voltada para isso, muito pelo contrário, estava apresentando a possibilidade de formar pessoas que não tinham a oportunidade de estarem nas universidades públicas brasileiras. Essa foi uma coisa muito interessante, passamos a discutir a proposta num grupo muito pequeno aqui na universidade. Paulo Alberto foi uma das pessoas que estavam ligadas diretamente à discussão. (Taisir Karim, professor e ex-reitor)

Contou que a visita da Ministra Matilde em Mato Grosso, próximo à data da discussão para decidir sobre o PIIER, foi muito importante para a aprovação. A ministra tinha uma agenda em Vila Bela da Santíssima Trindade e o reitor foi recepcioná- la em nome do estado de MT. Na oportunidade,

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Fomos conversando muito sobre essas questões e tínhamos clareza do que fazer na universidade, isso nós não tínhamos dúvida que íamos implementar o sistema de cotas na universidade, o problema era como fazer isso e qual era o percentual, qual eram as formas não só de abrir a vagas, mas como iríamos manter... (Taisir Karim, professor e ex-reitor)

Além das dúvidas destacadas pelo professor Taisir, o prof. Paulo Alberto, contou que o debate para a adoção do PIIER não foi fácil, nem entre os acadêmicos, tampouco entre o corpo docente. Recordou de alguns momentos marcantes no período de trabalho da comissão.

Fomos motivo de chacota para várias pessoas. Pesquisadora: Quem foram essas pessoas? Professores, principalmente colegas. Entrevistado: Alguns deles faziam chacota, riam do nome da comissão e diziam: “Onde já se viu uma comissão que vai discutir mais pretos na universidade?” Coisas dessa natureza. Então o ambiente entre os docentes, além de contrário em larga medida, também tinha alguns elementos de hostilidade à própria comissão. (Paulo Alberto, professor e ex-presidente da CEPICs)

Esse ambiente hostil refletia-se também na articulação das reuniões para discutir o Programa. Prof. Paulo Alberto lembrou que, na ocasião em que se discutia o reconhecimento de cursos do campus de SINOP (700 km de Cáceres), tentou articular reunião nos momentos vagos, mas as tentativas não foram exitosas. Outro momento foi em um debate promovido pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), no campus de Cáceres. Segundo ele, após a intervenção de uma aluna do campus de Tangará da Serra, contrária às cotas, desafiou-a a promover o debate naquela cidade, o que foi aceito pela dirigente do movimento estudantil. Relatou que no debate havia muitas pessoas, mas o clima não era favorável. Disse com alegria que, a partir desse dia, o campus de Tangará da Serra foi um dos campi que contribuíram para os debates que antecederam a criação do PIIER. Destacou ainda a colaboração de organizações da sociedade civil nos trabalhos da CEPICS, em especial a do Centro de Direitos Humanos Dom Máximo Biennès (CDDH) que haviam incorporado a temática no calendário de atividades da entidade desde 1998. Sobre isso afirmou,

Contamos com a presença e parceria do Centro de Direitos Humanos Dom Máximo Biennès, em várias reuniões. Em Cáceres foi a parceria que deu fôlego para a comissão para que o tema das cotas pudesse se fazer presente na comissão. (Paulo Alberto, professor e ex-presidente da CEPICs)

A CEPICS teve duração de nove meses e, de acordo com o prof. Paulo Alberto, todos os procedimentos administrativos haviam sido tomados e a minuta seria apreciada na última reunião do conselho no ano de 2004. No dia anterior à reunião do conselho, houve uma solenidade na cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade (300 km de Cáceres) com a participação da Ministra Matilde Ribeiro da Secretaria de Políticas de

93 Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Nessa solenidade, o prof. Paulo Alberto conseguiu que a ministra se comprometesse designar um de seus assessores para participar da reunião ordinária do CONEPE que tinha como ponto de pauta a apreciação do PIIER. Relatou que o dia da reunião, como era de se esperar, foi marcado por muita tensão, pois um grupo de professores tentou transferir o debate para outra data. Segundo o prof. Paulo Alberto, os professores alegaram que a CEPICS não havia feito todos os procedimentos administrativos. Superada essa fase, o debate centrou-se na essência do PAA que estava sendo proposto naquele momento. A primeira proposta de resolução previa uma vaga adicional (não cumulativa) para povos indígenas. Essa proposta foi alterada após resposta de uma consulta formal à lideranças e professores da do 3º Grau Indígena que solicitaram a retirar da vaga destinada aos indígenas. Segundo o prof. Paulo Alberto, o momento de votação da proposta de resolução foi, em sua opinião, o mais emblemático vivido por todos (as) que defendiam a proposta da comissão. Diante da insegurança da possível rejeição da proposta, um grupo de professores e apoiadores presentes pensou em retirá-la da pauta, pois, caso fosse derrotada, a proposta não voltaria a ser discutida tão cedo por aquele colegiado. A situação ficou mais tensa até o momento em que o presidente do DCE se dirigiu a ele e afirmou que, se fosse para votação, a proposta não seria aprovada, naquele momento. O Prof. Paulo Alberto, que estava na mesa auxiliando a coordenar o debate, se dirigiu ao representante da SEPPIR e este o aconselhou que mantivesse a proposta na pauta de votação. E, mesmo com incerteza da aprovação, a proposta foi mantida e aprovada pelos membros do CONEPE. Houve abstenções, mas não se registrou nenhum voto contrário, o que, para o presidente da CEPICS, foi uma surpresa. Segundo o Prof. Paulo Alberto, a aprovação do PIIER foi um grande passo para a implementação das cotas na UNEMAT “e a ausência de votos contrários à proposta não significou apoio massivo” (Paulo Alberto, professor e ex- presidente da CEPICs).

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2. Delineamento da pesquisa