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5.2 – Acesso, estrutura da universidade e permanência

V. Divulgar o PIIER destinado a todos os membros da comunidade

universitária, com a finalidade de evitar ações de discriminação contra a população atendida pelo Programa;

Na opinião do Prof. Paulo Alberto, pouco se fez para cumprir os incisos da referida resolução. Em uma reportagem feita pelo Jornal Oeste94, sobre o PAA da

UFMT e da UNEMAT, cita-se uma estudante cotista, natural do Rio de Janeiro qual hoje faz Educação Física na UFMT, segundo qual: “A diretora da escola onde eu estudava, no Rio de Janeiro, foi até a sua sala e explicou sobre as cotas, mas até hoje existe muita gente que não conhece o sistema". Na oportunidade, o prof. Paulo Alberto opinou sobre o

163 programa de ação afirmativa da UNEMAT e disse que a falta de interesse por parte dos estudantes do ensino médio está associada à pouca divulgação. Reiterou: “É algo de conhecimento apenas da comunidade acadêmica. Falta divulgação. Não ficaria surpreso se o diretor de uma escola dissesse que não conhece o programa”.

Tomamos como exemplo a arte que estampou os editais (impresso e on

line) lançados semestralmente para divulgar o vestibular da instituição. Buscamos no site da instituição imagens se divulgação das respectivas edições dos vestibulares para verificar se nesses documentos visualmente fazem menção ao PIIER. Conseguimos imagens das capas do manual do candidato do primeiro vestibular 2005/02, ano de implantação do programa, 2007/1, 2007/2 e o guia do calouro de 2011.

Na figura 20, por se tratar do primeiro vestibular de implantação do programa de ação afirmativa, imaginava-se que a capa e o cartaz divulgariam tal informação. Após analisarmos a figura, constatamos a ausência de qualquer referência sobre o programa. A figura traz o lema da administração da época, “Universidade de todos” seguida do mapa do estado de Mato Grosso que sugere uma relação com a diversidade de biomas e povos.

Figura 20 - Manual do candidato de 2005/2. UNEMAT. 2005

Na figura 21, observamos o mesmo. A capa do documento traz a figura de uma sala de aula, com carteiras vazias com a seguinte frase: “Reservado para você”. O uso do substantivo “reservado” sugere uma proximidade com a palavra reserva, comumente usada na expressão reserva de vagas, atribuição também dada às ações afirmativas no ensino superior.

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Figura 21 - Manual do candidato de 2007/1. UNEMAT. 2007

Na figura 22, o manual do candidato traz a figura de canudos usados em formaturas e no lado esquerdo no canto superior menciona que a instituição tem “Políticas afirmativas” e reserva 25% de suas vagas para negros. Essa figura traz a seguinte frase: “Faça a diferença. Faça UNEMAT”.

Figura 22 - Manual do candidato de 2007/2. UNEMAT. 2007

A figura 23 traz a foto de quatro jovens cujas características (da esquerda para a direita) representam pessoas de cor preta, amarela, indígena e branca. Uma figura significativa com algumas interpretações: a primeira, da diversidade presente na universidade, a presença de diferentes povos e grupos nas diversas cidades em que a UNEMAT tem campus. A segunda, da presença do negro e do indígena serem frutos das ações afirmativas. A terceira aponta para a noção de mestiçagem que defende uma possível unidade nacional, como postulam Ortiz (1982) e Munanga (2004). Embora o documento se trata de um guia de informação para os (as) calouros (as), no conteúdo não há referência ao programa de ação afirmativa, nem sobre a existência da ouvidoria da instituição, caso algum estudante cotista queira fazer alguma denúncia.

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Figura 23 - Guia do calouro. UNEMAT. 2011

Das quatro figuras analisadas encontramos na capa de uma a informação sobre o PIIER. Nas figuras 20 e 21 utilizaram-se imagens genéricas. A figura 23 está associada à diversidade e à mestiçagem sem conter informações sobre PIIER. As imagens 20, 21 e 22 se referem a manuais do calouro com todas as informações necessárias para se inscrever no vestibular. Constatamos que nos respectivos documentos constam informações sobre o PIIER, o programa e o formulário de autodeclaração.

A divulgação faz parte de toda política ou programa que venha a ser implementado pela universidade. Essas ações merecem ser divulgadas para que a comunidade local e a de fora do estado tomem conhecimento. Em se tratando do PIIER, um programa com tempo determinado para iniciar e finalizar, é importante que haja um investimento na divulgação. O não investimento em uma propaganda maciça e extensiva do programa pode estar associado a um não reconhecimento, por parte dos (as) administradores (as) da UNEMAT, uma vez que se trata de uma política institucional criada e aprovada em instâncias universitárias. Os efeitos desse comportamento acontecem em razão do pouco investimento na divulgação, por meio de documentos oficiais, sites e propagandas ligadas à divulgação do vestibular.

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Em Sinop, em relação a estrutura dos cursos, os excertos de narrativas de uma estudante de Humanas e outro das Exatas Ciências Contábeis demonstraram tratar- se de cursos com orçamentos ou tratamentos diferenciados no que concerne aos investimentos.

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Tínhamos acesso a vários recursos pedagógicos, como: data show, biblioteca, internet. A faculdade era bem amparada. Laboratório de línguas. (Panin, 26 anos, formada, Sinop)

Claro que deveria ser melhor: a estrutura, informatização, data show, laboratório, melhorar a questão da pesquisa dentro da faculdade. Isso poderia ser melhor. (Pasua, 30 anos, formado, Sinop)

Nos relatos de Panin e Pasua, deu-se a impressão de se referirem a campi distintos, mas não: fala-se do mesmo campus. Os excertos sugerem pensar que se trata de cursos com diferentes necessidades. O curso de Letras, por exemplo, por se tratar de um curso mais antigo naquele campus e no campus de Cáceres, possui um acúmulo de ganhos em termos de laboratórios para o ensino da língua estrangeira, acervo bibliográfico e equipamentos de multimídia. Já o curso de Ciências Contábeis, por ser um curso mais novo, está em processo de aprimoramento.

Para a professora Sara, a UNEMAT precisa melhorar e atendar as necessidades dos (as). É sabido que isso interfere diretamente no sucesso acadêmico. Para ela os estudantes cotistas e não-cotistas têm,

menos acesso a um monte de coisa, isso é verdade, eles andam 3 a 4 km de bicicleta, porque falta uma política de mobilidade urbana na nossa cidade, não temos ônibus, nossos estudantes moram longe, independente se são cotistas ou não. Um exemplo, os alunos que vêm de Sorriso que tem que ficar o dia todo, a universidade não tem um restaurante universitário, não tem condições de tomar um banho nesse calor, eles ficam debaixo das árvores. Imagina o que é estudar debaixo de um calor de 33º ou 40 graus o dia inteiro!? São condições mínimas que se precisa ter para que todos os estudantes tenham êxito. Outro exemplo é o principal espaço que é a biblioteca e os laboratórios de informática, nos fins de semana que poderiam ficar abertos, ficam fechados. (Professora, Sara, Pedagogia, Sinop)

Em Cáceres, além do curso de Letras, percebeu-se um maior investimento nos cursos de Geografia para aquisição de equipamentos e de Biologia para laboratórios e equipamentos. No campus, ao todo são 12 cursos em funcionamento e o que se percebeu nos relatos de alguns estudantes foi que os recursos que chegam não conseguem atender as demandas específicas de cada curso. Medicina95, por exemplo, carece de investimentos

maiores e de uma estrutura adequada para o funcionamento. O curso de Medicina, assim como Enfermagem e Agronomia, tem enfrentado sérios problemas para atender às demandas do curso.

Em 2012 e 2013, período em que a pesquisa foi realizada no campus de Cáceres e de Sinop, não havia moradia estudantil e nem restaurante universitário. Na

167 ausência dessas duas importantes medidas que favorecem a permanência, tem havido uma grande especulação imobiliária (nos arredores desses campi) devido à grande procura de estudantes de cidades vizinhas e de outros estados. Portanto, os (as) estudantes oriundos (as) de cidades vizinha e de outros estados têm um duplo desafio: primeiro, de se preocupar com um lugar para morar e, segundo, como fazer as refeições todos os dias.

Outro fator importante e que está diretamente ligado ao desempenho e permanência dos (as) estudantes é uma agenda com ações que visem a permanência dos (as) estudantes. Assim, ao falar da recepção das ações afirmativas no ensino superior brasileiro, Zoninsein (2006, p. 72) alerta que, independentemente do modelo de política adotada, é indispensável assegurar no orçamento da universidade uma “quantidade significativa de recursos” para garantir a realização de diversas atividades. O autor refere- se aos,

a) Recursos acadêmicos adicionais para lidar com a qualificação incompleta dos beneficiários pobres;

b) Recursos adicionais para o processo de seleção e aconselhamento dos beneficiários das AA;

c) Auxílio financeiro para aqueles que são incapazes de arcar com as despesas da educação universitária, inclusive livros, suprimentos, habitação, alimentação e a perda eventual dos rendimentos, resultante do trabalho e do tempo anteriormente alocado para ajudar a família dos beneficiários. (p. 72)

A partir das alternativas apontadas por Zoninsein (2006) e trazê-las para o contexto das universidades, é necessário que reitores (a) e pró-reitores (as) em conjunto com os colegiados e representações acadêmicas participem sistematicamente do processo de debate, da criação e implantação desses programas. A participação desse coletivo nesses três momentos auxiliará para o reconhecimento do público a ser beneficiado, de suas as demandas e necessidades no decorrer de sua implantação e a constante avaliação para que, ao término do período previsto de funcionamento, tenham-se em mãos dados quantitativos e qualitativos do impacto da política na vida dos (as) beneficiários (as) e da própria universidade.

Nesse sentido, a estrutura da universidade somada a um conjunto de políticas de permanência faz a diferença para o sucesso dos (as) estudantes, cotistas e não- cotistas. O empenho individual é importante, porém não é suficiente. A partir das narrativas dos (as) estudantes e professores pontuamos algumas características que perpassam a experiências desses estudantes quando ingressam à universidade. Entre esses estudantes estão os (as):

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a) Nunca trabalharam fora e vivem com o auxílio da renda do pai e da mãe;

b) Ter o trabalho presente em sua vida desde a infância e ter trabalhado durante a realização do ensino médio e ensino superior;

c) Ter sido mãe ainda jovem ou na fase adulta e precisar cuidar dos filhos (as); d) Realizar os estudos sem bolsa;

e) Ter acessado algum tipo de bolsa e mesmo assim necessitar de orientação e apoio pedagógico e psicológico.

Iniciaremos pela experiência dos irmãos Candis e Thamara. Candis sempre trabalhou. Começou aos 12 anos. Quando decidiram fazer um curso superior ele trabalhava de cobrador em um mercado de sua cidade e ela de doméstica. Inscreveram-se no primeiro vestibular do PIIER, em 2005/2, e foram aprovados. No primeiro semestre, ele e a irmã se deslocavam da cidade onde moravam, para frequentar as aulas em Cáceres, cerca de duas horas e meia para ir e voltar. No segundo semestre, sua irmã pleiteou uma bolsa de iniciação científica, ofertada pelo NEGRA, e a partir desse momento se sentiram confiantes e decididos de mudar para Cáceres. O objetivo era investir nos estudos. Ele e a irmã planejaram a ida para Cáceres, com as economias que tinham e com poucas perspectivas de renda. O combinado era que sua irmã fosse à frente para pesquisar um bom local que fosse perto da universidade, onde pudesse instalar a bicicletaria. Abrir o próprio negócio foi a maneira que ele achou de trabalhar em algo que pudesse ser flexível com os horários e as atividades do curso. Candis investiu suas economias no novo empreendimento, com o agravante de, até aquele momento, nunca haver trabalhado com esse tipo de serviço. O seu relato expressou o quanto o estudo é importante na vida desses dois irmãos, explicou como se preparou para o novo trabalho.

Como nunca tinha trabalhado com conserto de bicicletas. Fiz “estágio” com um colega de 15 dias. Sabia o básico e queria aprender algumas coisas. Juntei o dinheiro do acerto no frigorífico, vendi o que eu tinha e investi em peças, máquinas. Se não desse certo ficaria por lá, pensava. Mesmo assim enfrentei esse desafio e comecei no dia 23 de março de 2006. (Candis, 28 anos, formado, Cáceres)

Quando Candis disse, “foi a primeira vez que eu trabalhei em algo que era meu. E, bem pertinho da faculdade, trabalhava e morava do lado”.

Naquele momento pensei: a determinação e atitude de montar o seu próprio negócio abalava um dos argumentos contrários às ações afirmativas. De que esses (as) estudantes não acompanhariam a turma e diminuiriam a qualidade da universidade. Candis, provou justamente o contrário, prevendo que a universidade poderia não oferecer qualquer tipo de auxílio, reorganizou a sua vida para ingressar e garantir a permanência dele e de sua irmã.

169 O ingresso em um curso superior foi desejado e planejado por esses dois irmãos. O depoimento dos dois foi emocionante pois, quando falavam, mostravam o quanto foram unidos e solidários para superar as dificuldades que viessem a enfrentar. O companheirismo de sua irmã deu a ele ainda mais confiança para seguir em frente. A bolsa de R$ 350,00 que ela recebia, ajudou-os a se manterem nos estudos e foi com esse dinheiro que seu irmão complementou o valor do aluguel. A bolsa durou um ano e “aí ela parou de me ajudar, porque a bicicletaria estava bem encaminhada”. Um dos objetivos quando abriu a bicicletaria, era de “não era ganhar dinheiro, e sim me manter estudando. Graças a Deus aconteceu como planejamos e superou nossas expectativas”.

Em sala de aula, Candis percebeu que os colegas que dispunham de um tempo maior para participar de grupos de estudos e de um projeto remunerado ou não, tinham mais desenvoltura e um bom desempenho. Logo, esses estudantes,

Aprendiam mais além de terem mais oportunidade, ao contrário de mim que tinha que trabalhar. Os professores eram acessíveis, a maioria tinha dedicação exclusiva, ficava nos laboratórios. Eu tinha que trabalhar e, quando marcavam prova em dia de semana, fechava a bicicletaria e fazia a prova no horário marcado. Tinha que vir. Graças a Deus eu passei e sem prova final em todas as disciplinas. (Candis, 28 anos, formado, Cáceres)

Thamara relatou os desafios enfrentados para a realização do curso,

Dificuldades? Foram muitas. Quando eu comecei o curso, morava em Quatro Marcos e trabalhava de doméstica em dois serviços para pagar a mensalidade do ônibus. Chegávamos tarde em casa e, no outro, dia tinha que levantar cedo. Então foi uma luta muito grande, muita força de vontade nesses quatro anos. (Thamara, 27 anos, formada, Cáceres)

Relatou que ter conseguido a bolsa do Negra foi muito importante, porque lhe deu um fôlego para estudar e dedicar-se para os estudos.

Em ambas as narrativas é evidente que o trabalho foi uma constante na trajetória desses dois irmãos, principalmente durante a realização dos estudos. Mesmo assim conseguiram dedicar e ser excelentes alunos (as), o que sempre foram desde o ensino fundamental, palavras de Candis e Thamara. São trajetórias de vida marcadas por desafios. Sempre buscaram o melhor para suas vidas.

Na experiência desses dois irmãos podemos pensar com Brah (2006) e Scott (1998), quando dizem que somos “sujeitos de nossas experiências”. A experiência que Candis e Thamara, mostra justamente esse movimento, rompem e desestabilizam o modelo ideal de acadêmico que se espera encontrar na universidade. Como Bhabha (2007) chama de desconstrução do fixo, estes por sua vez, são negros, trabalhadores, estudantes e empreendedores. O ato de montar a bicicletaria pode ser lido como uma

170 resposta à universidade, com bolsa ou sem bolsa vão voltar para casa com o diploma de biólogo e letrada.

Assim como Thamara, Abah também teve sua primeira experiência como bolsista por meio do Negra. Falou da importância de ter sido bolsista e do acúmulo de experiência para a trajetória de vida e acadêmica. Disse que, mesmo com o auxílio da bolsa, passou por desafios, entre os quais, manter-se no curso sem reprovação. Além da bolsa ter contribuído para a permanência na universidade e ter tido êxito nos estudos, destacou que vivenciou solidariedade entre os colegas cotistas.

Quando falo da importância de se ter uma bolsa é no sentido financeiro mesmo, de se manter. Lembro que quando eu comecei, o valor da bolsa era R$ 400,00, depois ela caiu para R$ 300,00. Ainda assim, você não sabe o pontapé inicial que foi para eu me manter durante a graduação. A gente olhando, era pouco, mas esse pouco foi tão significativo para eu concluir, para adquirir as apostilas... para questão do transporte.... Aqui nós usamos muito a bicicleta, tínhamos um grupo que descia e que subia esse morro. Mas, aqui você entra e a universidade não está preocupada com o cotista que está lá dentro, se você vai conseguir ou não. E, eu falo porque eu tive colegas cotistas até de outros cursos que, a partir do momento que eu me identifiquei, foi que alguns deles que passavam por constrangimento, sempre me procuravam para conversar, para desabafar e assim... dizendo que não queriam a identidade revelada e eu presenciei muitas dificuldades com alunos cotistas que vieram de fora e que já não tinham mais condições de pagar a passagem do ônibus que os traziam, que já ficou na casa de outro cotista, então assim... por fora nós tentávamos... tecíamos uma rede de um apoiar um ao outro. Teve quatro que eu ajudei, tirava cópia dos textos para quem não podia pagar e que passava para outra. Ia lá e ajudava a pagar. E, quando eu adquiri um computador, um tanto já ultrapassado, instalei aqui na sala de casa, os nossos encontros eram aqui aos finais de semana. Tentando levar... (Abah, 41 anos, formada, Cáceres).

Observou-se que, nos excertos da narrativa de Candis, Thamara e Abah fica evidente a importância que o Negra teve em suas vidas e na vida de muitos (as) estudantes cotistas. Em relação a esse apoio, Abah recordou que,

O Negra ofereceu esse apoio como computador, impressora, papel e internet. Eu sei que muitos estudantes precisavam tirar xerox, mas tinham medo de ir no Núcleo e ser identificado como cotista. Eu não sei como está agora, como está a aceitação desses cotistas, mas essa primeira turma sofreu muito com relação a isso e a universidade, em momento algum, nos chamou para discutir ou fez uma discussão sobre, a não ser o Negra que trouxe para dentro da UNEMAT os eventos, seminários que discutiam essa questão. (Abah, 41 anos, formada, Cáceres)

Os Neabs desempenham um papel importante nas universidades brasileiras, principalmente onde há programas de ação afirmativa. Na narrativa de Abah perceberam-se duas ações desenvolvidas pela Negra, a primeira demonstrou que funcionou como um ponto de referência e de apoio aos estudantes cotistas do campus de

171 Cáceres, segunda, tematizou a Lei 10.639/03 com a realização de seminários e com oferta de bolsas de pesquisa tendo como público estudantes cotistas.

Com Gomes (2011) podemos pensar que as políticas de ação afirmativa têm possibilitado chegar até à universidade “sujeitos sociais concretos”, “com outros saberes, outra forma de construir o conhecimento acadêmico e com outra trajetória de vida, bem diferentes do tipo ideal de estudantes universitário hegemônico e idealizado em nosso país. (p. 56). Desse modo, há que se pensar uma “agenda positiva” com ações para esse público,

Pensamos com Prestes (2013) o conceito de resiliência para entender o comportamento de Candis, Thamara e Abah frente à busca pelos estudos e como reagiram aos desafios e pode ser comparada à garra, persistência e resiliência. A autora usa o “bambu” como metáfora para conceituar resiliência, em trajetórias de vidas de mulheres negras em São Paulo. Segundo Prestes, o bambu é perfeito para mostrar como os (as) negros (as) encaram os desafios impostos pela difícil condição em diversas fases de suas vidas. Soria (2007, p.1) opera o conceito como sendo a “capacidade - física, biológica, política, social e psicológica -, para enfrentar, vencer e ser fortalecida ou transformada por experiências de adversidades”.

Banny relatou a ausência de uma política de permanência durante a realização do seu curso que era integral. Isso lhe trouxe muitas dificuldades que, segundo ela, foram grandes e duplicadas,

A dificuldade de sair de casa e ir morar sozinha, eu ainda não trabalhava e vivia do dinheiro que meus pais me mandavam. Naquele momento eu comecei a participar do NEGRA e conheci pessoas de outras áreas. Isso foi muito válido, foi muito importante durante a graduação. Em relação à questão financeira, ficava muito preocupada como eu ia fazer para pagar minhas contas. Isso atrapalhou um pouco nas provas e me prejudicou bastante. Mesmo com todos esses problemas eu não fiquei de dependência, mas o meu desempenho poderia ter sido, ser melhor aproveitado se não fossem os problemas financeiros. (Banny, 27 anos, formada, Cáceres)

O curso de Éfia é noturno e, segundo ela, a grande dificuldade foi conciliar estudo e trabalho,

Minha maior dificuldade foi ter que trabalhar durante o curso. É o que me