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4.9 Resultados preliminares

Com a aplicação da Análise de Correspondência Múltipla (ACM) ao conjunto de dados analisado, verificou primeiramente a adequação das variáveis disponíveis e nos possibilitou alguns resultados.

Constatou que as variáveis EJA no EF e EJA no EM apresentaram grande quantidade de missings e em ambos os casos as respostas foram concentradas em apenas uma categoria. Por dependerem de outras questões, as variáveis qual bolsa e qual matéria ficou em dependência também apresentaram grande quantidade missings e, assim como EJA no ensino fundamental e médio, a variável estímulo familiar apresentou concentração de respostas em apenas uma categoria. Devido à aos respectivos fatos, essas variáveis não foram consideradas, pois influenciariam negativamente os resultados obtidos.

Por meio das informações apresentadas no Anexo A, observou-se que algumas variáveis apresentaram baixa frequência em suas categorias. Para corrigir esse problema, criamos as seguintes variáveis:

 Estado civil (“casado”, “solteiro” e “outros”);

 Tipo de estabelecimento do ensino fundamental é público (“sim” e “não”);  Tipo de estabelecimento do ensino médio é público (“sim” e “não”);

 Escolaridade do pai (“nível fundamental”, “nível médio”, “nível superior” e “não estudou/não sabe”);

 Escolaridade da mãe (“nível fundamental”, “nível médio”, “nível superior” e “não estudou/não sabe”);

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 Mora com a família (“sim” e “não”);

 Categorias do IBGE (“branca”, “parda”, “preta” e “outras”);  Utiliza a biblioteca (“nunca/raramente”, “às vezes” e “sempre”);  Foi discriminado (“sim”, “não” e “não respondeu”);

 Ocupação do pai (“agricultura”, “aposentado”, “autônomo/chefia”, “comércio/mecânica/setor gráfico”, “funcionário público/serviço militar” e “outros”);  Ocupação da mãe (“do lar”, “autônoma/chefia”, “comércio”, “educação”, “serviços

gerais/cuidadora/doméstica” e “outros”).

O Anexo B apresenta as frequências finais das variáveis consideradas na análise. Nota-se que apenas as variáveis categorias do IBGE e curso apresentaram categoria com frequência abaixo de 5%.

Como mais de um curso apresentou frequência de observações abaixo de 5%, optamos por utilizar essa variável como suplementar. Variáveis suplementares não são usadas para construção do plano fatorial, mas podem ser posicionadas no plano com a finalidade de verificar em que posição suas categorias se localizam, permitindo a verificação da estrutura de associação com as demais. Vale ressaltar que o banco de dados final considerou informações de 373 indivíduos. Esse número foi inferior que original (438), por ser uma análise multivariada a ACM considerou indivíduos que apresentaram observações completas, ou seja, em todas as variáveis.

Os valores analisados na Tabela 71, verificamos que a primeira dimensão (ajustada) explica 46,78% da inércia total modificada, a segunda dimensão explica 18,25% e a terceira 13,45%. Portanto, as três primeiras dimensões explicaram conjuntamente 78,48% da associação (como uma medida da inércia total) que existe entre as categorias da análise. Na Tabela 72 as respectivas massas, inércia (variabilidade) e qualidade para cada categoria das variáveis ativas. Observou que os valores para massa variam entre 0,0018 e 0,0364 e para inércia entre 0,0029 e 0,0223, sendo que a categoria “outras” do IBGE apresentou o menor valor para massa e maior para inércia, fato já esperado pela menor frequência dessa categoria em relação às demais.

Dentre as medidas de qualidade das categorias das variáveis ativas, dado que temos p = 67 classes, para considerar uma categoria como bem explicada pelas três dimensões conjuntamente precisamos de, no mínimo, um valor igual a 1/67 = 0,0149. Considerando este valor base, as únicas classes que não foram muito bem explicadas foram “sim” e “não” para era o curso desejado e “outras” para as categorias do IBGE.

Os valores apresentados na Tabela 73 exibem quanto cada categoria contribuiu para a explicação da variabilidade total (inércia) de cada dimensão. Na

147 dimensão 1, os itens “não” para se o tipo de estabelecimento do ensino fundamental e do ensino médio foi público foram os que mais contribuíram. Já na dimensão 2, as categorias que mais contribuíram foram “não” para a variável se considera afro e “não respondeu” para se foi discriminado. E na dimensão 3 as categorias que mais contribuíram foram “não” para se está no primeiro semestre e “sim” para recebeu bolsa.

Além disso, verificou que as categorias “sim” e “não” para era o curso desejado e “outras” para categorias do IBGE apresentaram pouca contribuição em todas as dimensões. Como quanto maior o valor da contribuição, maior o “desvio” do ponto em relação a hipótese de independência, temos que essas categorias possivelmente não estão associadas a nenhuma outra. Ainda, como visto anteriormente na medida de qualidade, essas variáveis apresentaram baixa explicação pelas 3 dimensões analisadas.

Com relação às variáveis suplementares, aquelas que são utilizadas na análise, mas que não participam da construção do plano fatorial, observamos na Tabela 5 que se levarmos em conta o mesmo valor base para qualidade (igual a 0,0149), temos que as categorias “Biologia”, “História” e “Educação Física” para a variável curso não foram explicadas conjuntamente pelas três dimensões.

As Figuras C1, C2 e C3 apresentam o cruzamento entre as três dimensões analisadas, considerando variáveis ativas e suplementares. Esses gráficos mostraram a proximidade entre as categorias presentes na análise quando olhamos cada plano individualmente. Como quis-se categorias próximas nas 3 dimensões ao mesmo tempo, uma vez que quanto mais próximas as classes estão, maior a presença de associação, deve- se analisar os três gráficos conjuntamente. As coordenadas de cada ponto são apresentadas nas Tabelas 74 (variáveis ativas) e 75 (variáveis suplementares).

A análise conjunta das 3 dimensões selecionando as categorias mais próximas em cada plano fatorial, verificamos associação entre as seguintes categorias:

- Sexo masculino, cor parda, mora com a família, está no primeiro semestre, trabalhou no ensino superior, pais com outras ocupações, utiliza a biblioteca nunca ou raramente, não possui dependência em disciplina, não fez cursinho, não foi discriminado e não recebeu bolsa.

- Nível fundamental para escolaridade dos pais, faixa etária entre 25 e 29 anos, mãe trabalha no lar, pai na agricultura, ensino fundamental e médio em escola pública, possui dependência em disciplina e não está no primeiro semestre.

- Cotista, cor preta, foi discriminado, se considera afro e mãe atua na área de serviços geais, cuidadora ou doméstica.

- Estado civil casado ou outros, faixa etária acima de 30 anos, trabalhou no ensino fundamental e ensino médio.

- Cor branca, não se considera afro, não respondeu se foi discriminado, mãe atua no comércio ou é autônoma/chefia e pai aposentado.

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- Sexo feminino, solteiro, faixa etária entre 20 e 24 anos, não cotista, não mora com a família, nível médio para escolaridade dos pais, frequenta a biblioteca às vezes ou sempre, tem computador em casa, pai possui ocupação do tipo autônomo/chefia, comércio/mecânica/setor gráfico ou funcionário público/serviço militar, fez cursinho, não trabalhou no ensino médio, fundamental e ensino superior.

- Nível superior para escolaridade dos pais, faixa etária entre 15 e 19 anos, mãe atua na área da educação e não cursou o ensino fundamental e médio em escola pública.

- Não sabe ou os pais não estudaram e não possui computador em casa. Com relação aos cursos, observamos as seguintes características:

- Enfermagem: não cotista, sexo feminino, solteiro, nível médio para escolaridade dos pais, autônomo/chefia ou funcionário público/serviço militar para ocupação do pai, fez cursinho, tem computador em casa, utiliza a biblioteca sempre, ausência de dependência em disciplina, não foi discriminado, não trabalhou no ensino fundamental, médio e superior e não mora com a família.

- Direito: nível superior para escolaridade dos pais, faixa etária entre 15 e 19 anos, ocupação da mãe na área da educação.

- Ciência Contábeis e Matemática: sexo masculino, cor parda, idade entre 25 e 29 anos, nível fundamental para escolaridade dos pais, pai atua no comércio/mecânica/setor gráfico e mãe do lar, utiliza a biblioteca às vezes, mora com a família, fez o ensino fundamental e médio em escola pública, trabalhou no ensino superior, não fez cursinho e não recebeu bolsa.

- Computação e Geografia: faixa etária entre 20 e 24 anos, recebeu bolsa e tem dependência em disciplina, não está no primeiro semestre e a ocupação do pai pertence à agricultura.

- Letras e Pedagogia: pais sem estudo ou o aluno não sabe a escolaridade, ocupação do pai e a da mãe do tipo outros, está no primeiro semestre, não tem computador em casa, trabalhou no ensino médio e nunca ou raramente utiliza a biblioteca.

Vale ressaltar que as categorias “sim” e “não” para era o curso desejado e “outras” para as categorias do IBGE não foram associadas com às demais, visto que estão próximas ao centro do gráfico, não foram explicadas pelas três dimensões e que apresentaram baixa contribuição à inércia nas três dimensões consideradas. O mesmo fato ocorreu com os cursos Biologia, História e Educação Física. Além disso, a categoria “sim” para recebeu bolsa se distanciou das demais, indicando que não apresenta associação aparente com nenhuma categoria. Um aspecto importante dessa análise foi que outras interpretações podem ser feitas, desde que os grupos sejam construídos de acordo com a proximidade das categorias no gráfico. No anexo C apresentamos os gráficos com os nomes das categorias centralizados em cima de cada ponto do gráfico.

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Anexo C

Figura C 1 - Cruzamento entre primeira e segunda dimensão da análise de correspondência

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Figura C 2 - Cruzamento entre primeira e terceira dimensão da análise de correspondência

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Figura C 2 – Cruzamento entre segunda e terceira dimensão da análise de correspondência

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5. Corpo, Epiderme e Experiência

Oh, meu corpo, faça sempre de mim um homem que interroga! (Fanon)

Compreender o acesso de estudantes negros via o programa de ação afirmativa da UNEMAT nos remeteu a um exercício de pensar algumas questões, entre as quais: serem pessoas com trajetórias de vida e experiências distintas uma das outras do ponto de vista da cor, raça, classe e gênero, o lugar de enunciação, a corporeidade negra em um espaço de brancos, a produção de conhecimento e a alteração da paisagem social da universidade.

Neste capítulo serão analisados excertos de narrativas disponibilizados em forma de entrevista e sistematizadas a partir dos seguintes temas:

1) Lembranças que antecederam o ingresso à universidade; 2) Acesso, estrutura da universidade e permanência; 3) Chegada à universidade;

4) A experiência de ser cotista;

5) A relação com os colegas e professores; 6) “Desistir do curso”: Motivações; 7) A produção do conhecimento;

5.1 – Lembranças e experiências que antecederam o ingresso à