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Para Bardin (1977), os critérios de categorização podem ser sintáticos, léxicos, e expressivos e finalmente semânticos (categorias temáticas). Utilizei este último critério obedecendo a sua escolha por “fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados brutos”.

Na escolhas das categorias respeitamos os critérios propostos que segundo Bardin (1977), são de exclusão mútua (O elemento não pode existir em mais de uma divisão); homogeneidade (única unidade de análise); pertinência (de acordo ao quadro teórico); objetividade e fidelidade (obedece aos mesmos critérios de codificação, adequação a grelha de categorias) e por último, produtividade (fornecer resultados férteis enquanto índice de inferências).

A análise temática foi desenvolvida em etapas, que inicialmente objetivaram uma leitura superficial, flutuante das entrevistas,acompanhada da escuta no gravador, sendo esta a primeira aproximação com os dados. Seguidamente a formulação de um corpus que nos permita uma categorização dos sentidos da falas a partir das categorias temáticas do estudo.

A análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem a comunicação cuja presença, ou freqüência de aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido (Bardin, 1977:105).

Este processo de categorização foi auxiliado através da identificação de unidade de registro nos textos (palavras, frases, tema). Estes “recortes” constituíram as unidades de registro que, segundo Bardin (1977), correspondem a ”unidade de significação a codificar”. Os núcleos de sentido se fizeram-se presente na intensidade, repetição, ausência ou presença, ordem, co-ocorrência (sentidos de associação, equivalência, oposição, recorrência, diferença) das unidades de análise identificadas do discurso. Posteriormente as categorias foram recortadas, classificadas e analisadas segundo similaridade. Por último, uma reconstrução das falas, a partir dos núcleos de sentido, representações, associações, significações e re-significacões, inferências etc.,., vigentes nas categorias que formaram o corpo teórico-empírico da tese.

Estas inferências ou deduções lógicas podem responder a dois tipos de problemas. O que o conduz, é dizer às causas ou relação de causalidade, e o que provocou, desta forma enfatizando as conseqüências e efeitos das mensagens (Bardin, 1977).

Durante o processo de análise se estabeleceu um diálogo constante com a literatura, com a finalidade de contrastar os resultados e interpretações entre o trabalho, outros trabalhos e a teoria. Este movimento entre os resultados obtidos e a comunidade científica precisou ser cuidadosamente interpretado a fim de evitar a descontextualização cultural, política, social, econômica, religiosa. Para Bibeau & Corin (1995), radica na intertextualidade os caminhos para a apropriação da verdade ou parte dela vista a intangibilidade de apreendê-la na sua plenitude. Neste sentido concordamos com Ricoeur (1975) ao afirmar sobre as raízes que prendem o símbolo ao contexto sócio-cultural. O símbolo seria para o autor de natureza obscura e ambígua expressado sobre uma analogia, que em casos de textos com extenso uso de símbolos, o trabalho do interpretador não seria fácil, visto que as conexões entre o símbolo e a inferência culturais seriam mascaradas pela recorrência das analogias.

Neste sentido, em todo momento, nos colocamos no contexto histórico e social dos pacientes entrevistados. A Aids representa uma doença de aproximadamente 20 a 25 anos de experiência. Nesse período tem emergido plurais e paradoxais formas de entendê-la, assim como também a doença tem mostrado diferentes significados na sociedade. Mais que uma doença de causa viral, lidamos com uma epidemia social. A Aids pode não estar presente em nossos corpos, mas marca profundamente nossas vidas. Entrevistamos pacientes com experiências singulares com a doença, alguns recentes, porém outros com muitos anos vivendo com Aids. Algumas questões permaneceram em

ambos os discursos, mas outros nem tanto e devíamos então nos situar no contexto para entendê-los.

Desta forma, Bibeau & Corin (1995) utilizam as afirmações de Umberto Eco a respeito da procura de uma enciclopédia, em vez de um dicionário que seria insuficiente no trabalho de aproximação com os elementos chaves de uma determinada cultura.

A enciclopédia poderá ser vista como provedora de dos códigos principais e categorias chaves que prevalecem em uma cultura, incluindo os esquemas preferenciais que determinam a arquitetura da cultura, e o tecido semântico que inter-relaciona os elementos entre si. A enciclopédia daria expressão para os princípios escondidos com criativa coerência dentro de um sistema cultural (Bibeau & Corin, 1995:10). Tradução nossa.

Para Bibeau & Corin (1995), nenhum texto constitui um reservatório ou memorial de significados. Revelar os significados ocultos dentro do texto representa um desafio para os pesquisadores uma vez que precisam atentar para a origem do contexto cultural dado no texto. Para estes autores a emergência de múltiplos significados aparece quando, deste o patamar na tradição semiótica, combinam-se a análise de domínio lingüístico (terminológica, gramática e tropológica) com uma análise etnográfica mediada pelo estudo da epistemologia e a cultura.

Ao final, compartilhamos com Bradley (1993) que o pesquisador é um interpretador da realidade. Entretanto, afirma Bardin (1977) que este precisa compreender o sentido da comunicação, mas também e, principalmente, precisa desviar o olhar para uma outra mensagem e antever através ou ao lado da mensagem primeira. Neste sentido reconhece-se a intersubjetividade explorada entre pesquisador e nativo no trabalho antropológico. O primeiro na sua procura por desvendar os sistemas e redes de sentido de uma determinada cultura traz consigo uma bagagem teórica na procura de compreender o alien world mas

também no sentido de transcrever para sua própria cultura a visão do nativo. Pesquisadores e nativos dançam no jogo por explorar uns e outros e deixar escapar nesse processo as significações contidas no confronto de mundos e culturas (Bibeau & Corin, 1995).

Segundo Bibeau & Corin (1995), seria necessário que a antropologia interpretativa combine a distancia com a proximidade afim de que apareçam harmonicamente no texto o nativo e o antropólogo. Uma boa distância deve ser garantida em todos os passos do processo interpretativo (Bibeau & Corin, 1995).

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